A Vila das Cores e a importância da diversidade – Confira entrevista exclusiva com o autor Bruno Magina

A Vila das Cores e a importância da diversidade – Confira entrevista exclusiva com o autor Bruno Magina

“Os preconceitos são as cadeias inventadas pela ignorância para separar os homens” (L. Blessington)

Não há dúvidas que a importância da diversidade sexual  deve ser discutida de forma delicada e sensível.  Afinal, a homossexualidade ainda é um tabu. Em casa ou na escola, o assunto deve ser abordado com muito respeito.

As questões de sexualidade transcendem as relações sociais, aos padrões de representação de gênero e de organizações familiares. Observa-se que quando a família e a escola apresentam dificuldade quanto a abordagem dessas questões, geralmente optam pelo silêncio. Assim, muitas lacunas se instalam e podem gerar vários desvios de comportamento, interferindo diretamente no psicológico da criança.

Disposto a combater o preconceito desde cedo, o escritor português Bruno Magina lançou o livro infantil “A Vila das Cores”, pela editora Escritório, abordando a temática LGBT. A obra  é uma excelente opção para quem deseja abordar o assunto com linguagem específica para crianças.

Confira entrevista com o autor:

DMJ: Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre diversidade voltado para crianças?

Bruno: A ideia partiu da Associação ILGA Portugal, que lançou um desafio chamado “Um Conto Arco-Íris”. O objetivo era precisamente incentivar a criação de histórias ilustradas, dirigidas à infância, baseadas nos princípios da não discriminação em função da orientação sexual e da identidade de gênero. Decidi, de imediato, participar – até porque sempre gostei de escrever e achei que seria uma excelente oportunidade de retomar algo que há tanto tempo não fazia.

DMJ: Do que trata a história do livro?

Bruno: O livro conta a história da Família Violeta (cujas crianças estão na capa), que vai morar numa vila muito bela mas muito pequenina, onde só vivem seis famílias. A princípio, os moradores d’ ”A Vila das Cores” – assim se chama a vila – vão estranhar a cor desta nova família (violeta, claro está!), até que o inesperado acontece…

DMJ: Como se deu o trabalho de pesquisa para desenvolvimento do livro?

Bruno: Não houve trabalho de pesquisa ou, melhor dizendo, esse trabalho foi feito ao longo de toda a minha vida. O que houve foi uma série de colaborações muito especiais: o prefácio do Paulo Côrte-Real (Vice-presidente da ILGA Portugal) e a revisão dos conteúdos por parte de várias associações portuguesas que fazem um trabalho brilhante em prol da comunidade LGBT. Também contribuíram, de forma incontornável, a Carolina Figueira (ilustração), a Laís Lopes (design) e o Gian B. Lima, que colaboraram comigo neste projeto. Por fim, “pesquisei” por uma editora e encontrei a Escritório Editora, que se revelou ser a escolha acertada.

DMJ: Como você lida com a homofobia?

Bruno: Hoje em dia, sinto-a cada vez menos presente na minha vida, mas sei que existe. Lido com ela de forma positiva, cantando num coro de intervenção e participando em iniciativas e projetos, desde peças de teatro a campanhas de fotografia, visando sensibilizar a sociedade contra o preconceito, a discriminação e, mais especificamente, o bullying.

DMJ: No Brasil, há uma discussão sobre a “cura gay” e a terapia de reorientação, principalmente em relação as crianças. O que você tem a dizer sobre isso?

Bruno: Acho isso muito perigoso e triste, daí a importância do meu trabalho – é o meu pequeno contributo para a mudança de mentalidades.

 DMJ: Qual foi a reação da sua família, quando você assumiu?

Bruno: Não foi, realmente, muito boa. Já lá vão mais de 10 anos. Na altura, os meus pais disseram que seria “uma fase”, que eu estava “confuso” e que devia “sair mais e conhecer pessoas”.

DMJ: Como é o seu relacionamento com eles hoje?

Bruno: O meu relacionamento com os meus pais é saudável. Não se fala muito sobre a minha orientação sexual, mas isso é, sobretudo, porque não tenho um namorado ou um noivo para apresentar. Não será tema de conversa, mas também não constitui mais um “problema”.

 DMJ: Depois de escrever o livro, mudou algo no seu relacionamento com seus pais?

Bruno: O livro serviu para perceber como os meus pais já estão pacificados com a minha orientação sexual. Por outro lado, é gratificante ver como outras pessoas usam o livro para dizer à família ou aos amigos que são gays ou lésbicas ou bissexuais…

DMJ: Como você interpreta a grande quantidade de personagens gays nas novelas ultimamente?

Bruno: Em Portugal verifica-se o mesmo fenômeno. Acho ótimo que as novelas reflitam a vida real – e a orientação sexual faz parte dessa realidade –, mas é evidente que há um fator “moda” e uma busca pelas audiências, o que pode tornar-se perverso. Ainda assim, obviamente, é positivo dar visibilidade à comunidade LGBT, desmistificando preconceitos e rompendo com estereótipos.

DMJ: Muito se tem discutido sobre a adoção em relações homoafetivas. Você acha que a orientação sexual dos pais pode influenciar na orientação sexual da criança?

Bruno: Os meus pais são heterossexuais.

DMJ: Qual é a importância da literatura na sua vida?

Bruno: Leio muito, desde criança, e fui incentivado, pelos meus pais e pelos meus avós, a escrever. Aos 12 anos já tinha escrito contos, novelas, letras de canções. Sempre quis publicar um livro antes dos 30 anos – e consegui concretizar esse sonho!

DMJ: Qual é a sua maior fonte de inspiração?

Bruno: Curiosamente, as minhas referências e inspirações vêm da música. Madonna, George Michael, Spice Girls, juntamente com artistas portugueses, são alguns dos nomes que me servem de inspiração e referência, pelo seu caminho e pela sua obra notáveis. Quando escrevo, tento muitas vezes imaginá-los no seu próprio processo criativo.

DMJ: Quais são os seus projetos para 2015?

Bruno: Este ano vou estar muito focado no livro “A Vila das Cores”. Vou fazer uma série de apresentações em bibliotecas, escolas e livrarias. Gostaríamos de publicar este livro no Brasil, e talvez um segundo livro em Portugal, na segunda metade do ano.

DMJ: Bruno Magina por Bruno Magina?

Bruno: Bruno Magina é um eterno sonhador com os pés bem assentes na terra – gosta de dar grandes passos, mas um de cada vez.

DMJ: Bruno, parabéns pela iniciativa. Como diz o poeta, “Qualquer maneira de amor vale a pena”. Precisamos realmente ensinar desde cedo as nossas crianças a conviver e respeitar as diferenças. Beijo de luz!

SERVIÇO: 

Livro: A VILA DAS CORES

Autor: Bruno Magina

Ilustrações: Carolina Figueira

Design: Laís Lopes

Colaboração : Gian B. Lima

Edição: Escritório Editora

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

7 Comments

  1. Avatar
    Pedro Valdez
    9 de janeiro de 2015 at 07:03 Reply

    Muy bello eso en realidad y comparto mucho la opinión al respecto del tema, en la actualidad es muy necesario desmitificar y promover la tolerancia hacia otras formas de pensar y de ser en la vida

  2. Avatar
    Carol Guedes
    9 de janeiro de 2015 at 07:05 Reply

    Excelente entrevista e maravilhoso o trabalho do Bruno!

  3. Avatar
    Mila Oliveira
    9 de janeiro de 2015 at 07:05 Reply

    Super importante esse tipo de iniciativa! Precisamos educar as novas gerações!

  4. Avatar
    Fabiana Leal
    9 de janeiro de 2015 at 07:12 Reply

    Muito boa entrevista! ! Todo preconceito deve ser combatido sempre. .. e a leitura é uma ótima aliada!!

  5. Avatar
    Bruno Magina
    9 de janeiro de 2015 at 07:28 Reply

    Obrigado pelos feedbacks!
    Podem contactar-me para saber mais informações:
    maginabruno@gmail.com
    Beijos de Portugal!

  6. Avatar
    Dalia Leal
    9 de janeiro de 2015 at 16:05 Reply

    Excelente entrevista de Luciana Leal! parabéns ao escritor Bruno Magina pelo livro A Vila das Cores! desejo-lhe mto sucesso!!! À vc meu carinho sempre! e um forte abraço brasileiro e cheio de sol e mar da Bahia!!!

  7. Avatar
    Dalia Leal
    9 de janeiro de 2015 at 16:05 Reply

    Excelente entrevista de Luciana Leal! parabéns ao escritor Bruno Magina pelo livro A Vila das Cores! desejo-lhe mto sucesso!!! À vc meu carinho sempre! e um forte abraço brasileiro e cheio de sol e mar da Bahia!!!

Leave a Reply