Conversamos com o Dr. Alexandre Silva e Silva para explorar detalhes sobre os miomas uterinos, desde sua origem até as opções de tratamento. Discutimos a importância da detecção precoce, os fatores de risco e como as mulheres podem preservar sua saúde uterina. O conhecimento é a chave na busca do melhor tratamento e de uma melhor qualidade de vida.
Lu: Dr. Alexandre, pode nos explicar de forma mais detalhada o que são miomas e como eles se desenvolvem no útero?
Dr. Alexandre: Os miomas são tumores benignos do útero que crescem a partir do tecido de junção das fibras musculares uterinas. Eles se desenvolvem devido a alterações nas células-tronco do útero, que formam nódulos entre as fibras musculares uterinas e crescem estimulados pelo estrogênio.
Lu: Como os miomas são diagnosticados e qual é a importância dos exames de rotina nesse processo?
Dr. Alexandre: Os miomas são normalmente diagnosticados por meio de exames de ultrassom pélvico e transvaginal de rotina. Realizar ultrassonografia pélvica e transvaginal anualmente é uma excelente medida para diagnosticar miomas, bem como outras doenças ginecológicas em seus estágios iniciais.
Lu: Como os miomas afetam a qualidade de vida das mulheres e quais são os sintomas mais comuns associados a eles?
Dr. Alexandre: O aumento do fluxo menstrual, levando a anemia profunda e fadiga, são sintomas comuns e bastante incapacitantes para as mulheres que têm miomas. As dores abdominais em cólicas também são sintomas frequentes que afetam diretamente a qualidade de vida e a produtividade das pacientes portadoras da doença. Nas situações mais avançadas, o aumento do volume abdominal é visível e, na maioria dos casos, afeta a autoestima dessas mulheres.
Lu: Existem fatores de risco específicos que aumentam a probabilidade de uma mulher desenvolver miomas uterinos?
Dr. Alexandre: As mulheres afrodescendentes apresentam uma maior incidência de miomas uterinos, que pode estar relacionada aos níveis mais elevados de hormônios esteróides circulantes do que em outras etnias. O contato com substâncias químicas, como o dietilestilbestrol, presente em plásticos e em medicamentos aplicados no gado bovino, também está relacionado ao crescimento desses nódulos. Alterações genéticas do cromossomo 12 estão relacionadas com a presença de múltiplos nódulos de mioma, e a herança genética também está relacionada com sua incidência. Uma dieta rica em soja pode ser um fator predisponente para o crescimento dos miomas. Mas todas as mulheres devem passar por avaliação ginecológica de rotina anualmente, permitindo o diagnóstico precoce de miomas ou qualquer outra patologia ginecológica, o que possibilita um tratamento mais eficaz.
Lu: Quais são as principais causas das alterações nas células-tronco da musculatura uterina que levam ao desenvolvimento de miomas?
Dr. Alexandre: O retardo na gravidez parece ter influência direta no surgimento dos miomas. Quando a mulher engravida mais cedo, ocorrem alterações metabólicas que agem diretamente nas células-tronco, diminuindo a incidência de miomas. Quando a gestação é adiada para uma fase mais madura da vida, a mulher não sofre essas alterações metabólicas, e as células-tronco sofrem alterações capazes de desenvolver miomas uterinos.
Lu: Você poderia explicar em detalhes como um aumento no fluxo menstrual e no volume de sangue pode indicar a presença de miomas?
Dr. Alexandre: A presença de miomas uterinos não apenas aumenta o tamanho da área da camada que reveste a cavidade uterina internamente (o endométrio), o que aumenta a área de descamação e, consequentemente, o volume de sangue que é eliminado, mas também aumenta a vascularização local e o calibre dos vasos sanguíneos na região do mioma. Isso faz com que o volume de sangramento menstrual fique maior.
Lu: Existem medidas preventivas que as mulheres podem adotar para reduzir o risco de desenvolver miomas uterinos?
Dr. Alexandre: A gravidez precoce pode ser considerada uma medida preventiva, mas nem sempre é possível devido a diversos motivos. A diminuição da ingestão de carne vermelha e de frango também pode ser considerada uma medida preventiva. A ingestão de carne de peixe, legumes, verduras e frutas também pode ajudar. Evitar o consumo de bebidas e alimentos acondicionados em recipientes plásticos, bem como o contato com substâncias químicas, como o dietilestilbestrol, também é importante.
Lu: Quais são as opções de tratamento disponíveis para miomas uterinos, e como é decidido qual tratamento é mais adequado para cada paciente?
Dr. Alexandre: Os tratamentos medicamentosos, como anti-inflamatórios e anti-fibrinolíticos, que visam diminuir o volume de sangramento, assim como os tratamentos hormonais que têm como objetivo reduzir o tamanho ou impedir o crescimento dos nódulos, atuam principalmente nos sintomas, mas não na causa do problema. Após um estudo de cada caso por meio de consulta médica, exame físico ginecológico e ressonância nuclear magnética pélvica com contraste, é possível identificar a localização, o tamanho e as relações dos nódulos com o útero, compreender os desejos e objetivos de cada paciente e definir o tratamento. O tratamento mais eficaz ainda é a cirurgia, que pode ser realizada por meio de técnicas de histeroscopia (endoscopia do útero), laparoscopia, robótica e, em último caso, cirurgia aberta.
Lu: Qual é a importância da busca precoce por assistência especializada no caso de miomas uterinos, e como isso pode impactar o tratamento e a preservação do órgão?
Dr. Alexandre: Um útero com miomas menores ainda não sofreu tantas alterações anatômicas que possam incapacitá-lo de gestar. Conforme o tempo passa e os miomas crescem, fica cada vez mais difícil realizar a cirurgia de remoção dos nódulos para preservação e restauro uterino.
Lu: Quais são os indicadores e os momentos em que se deve considerar a intervenção cirúrgica no tratamento dos miomas uterinos?
Dr. Alexandre: A alteração do padrão do fluxo menstrual e o surgimento de dores abdominais em cólicas são indicadores importantes para as pacientes que já têm o diagnóstico de miomas. O crescimento dos nódulos detectado de um exame para outro também é um indicador que deve ser levado em consideração. Quanto mais cedo a mulher procurar atendimento especializado, maiores são as chances de um tratamento mais eficaz e de preservação uterina.
Lu: Como a cirurgia minimamente invasiva e a cirurgia robótica podem desempenhar um papel importante no tratamento de miomas uterinos?
Dr. Alexandre: A cirurgia minimamente invasiva e a cirurgia robótica apresentam um menor tempo de recuperação, menor tempo de internação hospitalar e menor necessidade de uso de analgésicos, com resultados bastante eficazes.
Lu: Há alguma conexão ou interação específica entre endometriose e os miomas que merece ser discutida?
Dr. Alexandre: A concomitância das duas patologias não é infrequente, e os sintomas podem se confundir ou ser mal interpretados. A ação do estrogênio como fator de piora das duas patologias é clara e deve ser levada em consideração.
Lu: Pode nos fornecer um exemplo de um mito comum relacionado aos miomas que precisa ser desmistificado urgentemente?
Dr. Alexandre: Quem tem mioma precisa retirar o útero!
Lu: Pode nos contar mais sobre o projeto Mioma&Você e como ele busca ajudar mulheres diagnosticadas com miomas uterinos?
Dr. Alexandre: O Mioma&Você surgiu com o objetivo de conscientizar as mulheres que recebem o diagnóstico de miomas pela primeira vez a procurar atendimento especializado o quanto antes. Não é incomum que recebam o diagnóstico seguido de uma sentença da necessidade de remoção do órgão. Isso faz com que muitas, que não desejam remover o útero, evitem o tratamento proposto e não procurem a opinião de um especialista que poderia oferecer outra opção de tratamento. Quanto mais cedo elas conseguirem atendimento especializado, maiores são as chances de preservação do útero.
Lu: Além das diretrizes de prevenção, que orientações o Dr. Alexandre gostaria de compartilhar com os pacientes que enfrentam os impactos dos miomas em sua qualidade de vida diária?
Dr. Alexandre: Os miomas uterinos são um importante problema de saúde pública, que afeta e impacta na qualidade de vida de um grande número de mulheres, cerca de 80% das mulheres têm miomas. Os avanços na medicina e na tecnologia aplicada a essa área permitem hoje que esse problema possa ser tratado com eficácia, por meio de cirurgias minimamente invasivas com menor agressão ao organismo e retorno precoce às atividades habituais. Não diminua suas possibilidades de tratamento, procure atendimento especializado assim que receber o diagnóstico da doença.
Lu: Dr. Alexandre, gostaria de agradecer pela disponibilidade e por sua contribuição no esclarecimento de dúvidas comuns sobre miomas uterinos. Suas palavras serão de grande benefício para nosso público-alvo, que não é da área de saúde, mas busca informação precisa e acessível.
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