Mulher, inteligente, empoderada. Ela é mãe, Jornalista, linda e guerreira. Dá a cara pra bater e não tem o menor medo de apanhar. Criou um canal no Youtube onde expõe as suas opiniões e conta com uma legião de seguidores, são os sobrinhos que escutam os conselhos da Tia Má, sempre cheia de assunto. E é com ela, Maíra Azevedo, a nossa “Tia Má” que conversamos agora. Confira, porque tia ama!
NJ: Como surgiu a ideia de criar um canal no Youtube?
Tia Má: Primeiro eu criei a fanpage no Facebook, porque tudo começou com o Facebook pessoal de Maíra Azevedo, onde eu sempre escrevi as coisas que pensava e colocava lá “dica da Tia”. Aí um dia, por coincidência, dois amigos pediram conselho sobre o mesmo assunto, um amigo gay e uma amiga hétero. Brincando, eu falei pra eles que iria gravar um vídeo pra não perder tempo respondendo a mesma coisa duas vezes (risos). Eu pensei que esse vídeo iria ter repercussão somente entre os meus amigos, mas no mesmo dia, já tinha mais de 500 visualizações e eu achei esse número enorme. Hoje em dia, nenhum vídeo meu tem menos de 50 mil visualizações. Inclusive já tem vídeo que passa de 2 milhões de visualizações.
NJ: Por que Tia Má?
Tia Má: O “tia” foi um tom jacoso porque a gente geralmente costuma ouvir mais conselho de tia do que de pai e mãe. A tia sempre é aquela amiga legal, aquela pessoa que a gente ouve. E “Má”, não é de “Malvada” como as pessoas pensam. É de “Maíra”, meu nome. É meu apelido, como a minha família me chama.
NJ: De onde busca inspiração para os seus vídeos?
Tia Má: Gata, qualquer coisa me serve de inspiração. São situações que eu já vivenciei, situações que eu vejo amigas e amigos vivenciando. E às vezes até uma música na rua. Outro dia vi um casal brigando e fiquei imaginando o motivo pelo qual aquela mulher estava se submetendo a aquilo. Qualquer coisa pode servir de inspiração pra mim (risos).
NJ: Como funciona o processo? Costuma preparar roteiro antes de gravar?
Tia Má: Não existe roteiro (risos). Os vídeos são super amadores, eu gravo com meu celular. Eu penso no tema e desenvolvo sobre ele. Inclusive, se eu falar errado, vai ficar no vídeo errado. Eu acho que essa naturalidade acaba aproximando e as pessoas se identificam. Não dá pra roteirizar porque os vídeos começaram de forma bem espontânea mesmo. Eu tento até criar uma regularidade, mas a ideia vem na hora. Outro dia eu ouvi uma canção que a música dizia “Eu não posso viver sem você…” aí eu pensei, é oxigênio, cara..? (risos). Dali eu tive a ideia de fazer um dos vídeos que mais tem visualizações que é “Você pode viver sem ele ou ela”. Não tem roteiro, eu crio na hora. Só preciso ter a ideia.
Fica esse recado para as empresas que comumente não contratam negros e negras para fazer as suas propagandas. Nós queremos nos ver e somos a maioria da população. Fica a dica, é uma questão matemática. Se nós somos a maioria, nós devemos ser também a maioria nas campanhas publicitárias porque assim reproduziria a realidade da sociedade.
NJ: Existe um limite para as colocações da Tia Má nos vídeos ou você fala sobre tudo?
Tia Má: Eu falo sobre tudo que eu penso. Tem coisas que as pessoas me pedem para emitir opinião, mas eu evito. Eu sou Jornalista de formação e procuro relativizar sempre. Se eu não tiver uma opinião formada sobre um assunto, não vou falar só porque as pessoas estão me pressionando, vou ter cuidado. Então, algumas coisas Tia Má não vai falar porque Maíra não fala. Se eu não tiver conhecimento, não vou falar. É o problema de ser Jornalista.
NJ: Você foi eleita pelo “Blogueiras Negras” uma das 25 negras mais influentes do país. Esperava toda essa repercussão?
Tia Má: Engraçado porque quando fui eleita uma das 25 negras mais influentes da internet, a fanpage tinha apenas dois meses e apenas um mês que havia começado a gravar os vídeos. Isso demonstra como nós somos carentes de representatividade, para em tão pouco tempo uma mulher negra conseguir destaque. Isso acontece, justamente, porque as pessoas gostam de se ver. Inclusive fica esse recado para as empresas que comumente não contratam negros e negras para fazer as suas propagandas. Nós queremos nos ver e somos a maioria da população. Fica a dica, é uma questão matemática. Se nós somos a maioria, nós devemos ser também a maioria nas campanhas publicitárias porque assim reproduziria a realidade da sociedade. Essa eleição me deixou muito feliz, foi um orgulho, porque na lista tinham 4 baianas: Eu, mãe Stella, Carol Pinho e Mônica Santana. Me senti extremamente orgulhosa de estar na mesma lista de mãe Stella, que é um referencial, uma sumidade. Não é aquela vaidade pela vaidade, sabe? É aquela vaidade positiva, que faz com que eu tenha ainda mais responsabilidade com as coisas que eu posto. E eu procuro ser bem criteriosa. Eu brinco muito, mas é sempre falando sério. É o humor como ferramenta pra quebrar preconceitos, é o riso com possibilidade de reflexão.
NJ: Essa linguagem divertida vem da Maíra ou restringe-se a Tia Má?
Tia Má: Tia Má e Maíra são a mesma pessoa. Algumas pessoas acham que Tia Má é uma personagem, mas não é. Eu não sou atriz. Esse jeito divertido e irreverente de falar, é meu. E tia Má tem ele justamente porque eu tenho. Eu sempre falo que na minha família a carga genética mais acentuada é o senso de humor, já que todo mundo é engraçado: Minha mãe, minha irmã. Minha Vó era uma das pessoas mais engraçadas que eu conheço e ficar perto dela era ter síncopes nervosas de riso. Ela fazia piada com tudo.
Eu fico muito feliz porque hoje me acham uma pessoa super segura, empoderada. Mas nem sempre fui assim. Eu brinco que aquela pessoa “descompreendida”, que tanto falo nos vídeos, aquela sem vergonha na cara, um dia já fui eu.
NJ: Como lida com as críticas? Já foi confrontada por causa dos vídeos?
Tia Má: Eu recebo várias críticas, tem as pessoas que entram na minha página só pra me criticar. Me chamam de preta, de feia e isso só me fortalece, porque eu percebo o quanto preciso falar. Eu sou uma exceção sabe, Lu? Eu sempre estudei em escola particular, eu fiz faculdade particular por opção dos meus pais que não queriam que eu fizesse uma faculdade pública para não ter que me submeter aos processos de greves constantes. Eu moro em bairro popular, mas tenho carro. E só isso, morando na periferia, já me dá outra condição porque eu não preciso me submeter ao transporte público que é caótico. Uma coisa é você criticar, dizer que discorda e me mostrar porque eu estou errada. Outra coisa é quando a pessoa faz a crítica pela crítica, tentando me depreciar.
NJ: Você parece ser uma mulher extremamente segura e bem resolvida. Espera contribuir para melhorar a auto estima “dos sobrinhos”?
Tia Má: Propagar o amor, o respeito e o amor próprio é hoje um dos maiores objetivos da Tia Má. Lu, eu fico muito feliz porque hoje me acham uma pessoa super segura, empoderada. Mas nem sempre fui assim. Eu brinco que aquela pessoa “descompreendida”, que tanto falo nos vídeos, aquela sem vergonha na cara, um dia já fui eu. Eu já fui aquela mulher que chorava por homem, que pegava o celular dele pra olhar… mas você vai aprendendo com os erros. Hoje eu digo que sou uma “tia” e não quero que os “meus sobrinhos” e “minhas sobrinhas” passem pelas coisas dolorosas que eu passei. E assim eu me sinto muito feliz, isso me emociona. De fato, criei amor pelas pessoas que seguem a página, me preocupo com elas. Elas fazem parte da minha vida hoje e eu não quero que elas se machuquem, não quero que passem por momentos de dor, fico muito atenta com isso. Que bom que elas têm a mim como referência, mas não sei se sou modelo a ser seguido e também não sei se quero ser esse modelo. Eu sei que sou fruto de várias pessoas, eu tive muitos exemplos. Tive minha vó que criou os filhos sozinha porque ficou viúva muito cedo e percebia que a educação era a principal ferramenta pra se transformar. Ela saiu da casa dela enorme em Simões Filho pra morar em Salvador em uma casa muito menor porque sabia que aqui o acesso à educação era mais fácil. Isso pra mim é primeiro grau de lição. Tive minha mãe que sempre foi independente, nunca foi submissa a homem nenhum. Isso é uma grande referência. Eu tento passar essas lições para os meus seguidores através do meu jeito irreverente.
Mulheres negras são a maioria da população brasileira, mas elas não estão nos espaços de poder e é por isso que eu tento empoderar través dos meus vídeos. Tento falar pra essas pessoas que elas precisam reverter a ordem do sistema, nós precisamos ocupar esses espaços. Eu sei que a comunicação é um espaço de poder
NJ: A Revista Veja publicou uma matéria cujo título era “Bela, Recatada e do Lar”, e reacendeu o debate sobre o papel feminino na sociedade. Qual é a sua opinião sobre o tema?
Tia Má: Eu acho que o lugar da mulher é aonde ela quiser estar, inclusive no lar. O problema é quando você cria um padrão que as mulheres só devem ocupar esse espaço. E nessa matéria da Veja, era justamente isso, ela queria mostrar como é a mulher ideal. Eu me acho bela, nem sempre sou recatada e não tenho tempo pra ser do lar. Mas também acho essencial a existência das mulheres do lar porque se elas não existissem, talvez muitas de nós não pudéssemos ser quem nós somos. É importante que tenha as que querem cuidar da casa, até porque muitas querem e não podem.
NJ: Você acredita que sendo formadora de opinião e bastante conhecida na rede, tem o dever de educar “os sobrinhos” e gravar vídeos sobre o emponderamento, seja ele de mulheres, negros, gays, lésbicas ou PCD?
Tia Má: Falar de empoderamento pra mim é fundamental e algo que está no cerne da questão. A gente tem que tentar reverter essa história e promover uma realidade mais igualitária. E quem são essas ditas minorias? Porque na realidade as minorias são a maioria. Mulheres negras são a maioria da população brasileira, mas elas não estão nos espaços de poder e é por isso que eu tento empoderar través dos meus vídeos. Tento falar pra essas pessoas que elas precisam reverter a ordem do sistema, nós precisamos ocupar esses espaços. Eu sei que a comunicação é um espaço de poder. Hoje eu tenho mais de 85.000 seguidores. São pessoas que me ouvem, que querem saber do que eu falo. Acho que é fundamental que as pessoas ao menos reflitam sobre essas questões.
NJ: A fraude no sistema de cotas foi tema de audiência pública. Qual é a sua posição sobre o assunto?
Tia Má: O sistema de cotas, e é importante que fique nítido, sempre existiu. Sempre teve cotas para os filhos de fazendeiros, com a “lei do boi”. Eles tinham acesso diferenciado nos cursos de agronomia e todos os cursos relacionados a fazenda. E isso nunca foi discutido. Tem as cotas também para as mulheres. Mas por que as cotas que são direcionadas a população negra, sempre é associada ao vitimismo ou como uma medida que divide o país entre negros e brancos, como se isso já não acontecesse independente das cotas? Justamente por causa do racismo que é intrínseco a nossa sociedade, a nossa formação. É importante destacar que a cota não facilita o acesso, ela assegura e garante a entrada. O negro ou negra tem que fazer a mesma prova que as outras pessoas. E o que faz com que ela entre ou não na universidade ou concurso público é a nota que ela obteve. A cota garante apenas um número mínimo que antes não tinha. O que acontecia antes, era uma exceção. Para um negro conseguir passar no vestibular de medicina, tinha que conseguir burlar todas as dificuldades. E não dá pra a gente ficar vivendo de exceção. A meritocracia só vale a pena quando todas as pessoas tiverem as mesmas chances. Eu sou uma pessoa que nunca tive acesso a cota, sempre estudei em escola particular e cursei faculdade particular. Mas eu compreendo a importância dela existir porque até hoje, quando chego em determinados lugares e digo que sou Jornalista, sou olhada de forma assombrada. Para essas pessoas, não é natural ver uma mulher negra, empoderada e dona das suas próprias opiniões. E esse olhar assustado só faz reafirmar a necessidade da existência de uma política de ação afirmativa que assegure a nossa entrada nesses espaços. As pessoas vão ter que se acostumar a ver o negro doutor, o negro com anel, o negro alisando o banco da ciência.
NJ: Para alguns, o racismo é parte da história. Mas nós, negros, sentimos isso na pele em vários momentos da nossa trajetória. Como você compara a representatividade na sua infância com a representatividade de hoj ?
Tia Má: Essa pergunta é muito marcante pra mim porque eu fui criança entre as décadas de 80 e 90 e eu queria ser Paquita. Não tinha apresentador infantil negro, quer dizer, não tem até hoje. Mas nessa época, era muito perverso porque não tinha acesso a TV por assinatura e não tinha internet. De personagens negros a gente tinha Mussum, que era o bêbado dos Trapalhões e o idiota que nunca entendia nada, o Saci-Pererê que era o deficiente, um esperto demais, quase um mau caráter. E ninguém quer ser comparado ao que é ruim. A minha sorte é que eu fiz aulas de teatro e tive muito acesso à literatura. Inclusive é por isso que sou Jornalista, a literatura te dá asas. Eu criava todos os personagens na minha mente e todos tinham a minha cara (risos). Eu mesma fiz a minha representatividade, a minha ação afirmativa, através da minha imaginação. Isso me salvou, mas se fosse só pela televisão, seria complicado. Hoje em dia é diferente. Meu filho, por exemplo, usa um cabelo rasta por iniciativa dele porque tem acesso a internet, a TV Fechada, assiste filmes, assistiu a regravação de Karatê Kid com o filho de Will Smith e ficou um tempo usando o cabelo dele trançado. Isso só faz demostrar o quanto a representatividade é importante.
Quando eu fiz o canal de Tia Má, nunca imaginei que fosse ter tanta repercussão e hoje em dia recebo várias mensagens de pessoas agradecendo. Eu participei do programa “Saia Justa” com apenas um vídeo e a menina mandou depoimento muito lindo dizendo que a filha dela saiu correndo e dizendo “Mamãe, tem uma moça de nossa cor na televisão”. Isso pra mim é muito importante, sabe? Eu percebo que quando estou ali naquele espaço, não represento só a mim, represento até aquelas pessoas que não querem ser representadas por mim. O racismo continua presente, ele é muito perverso, mas a gente consegue mudar e essa conquista é fruto do movimento negro com a lei 10.639 que você tem que estudar nas escolas, tem que falar sobre isso. Antes a gente estudava que os negros foram apenas escravos. Hoje as nossas crianças estudam negros que participaram da nossa ciência, da nossa cultura, da nossa gastronomia (e não apenas com vatapá e acarajé). É fundamental ressaltar as várias contribuições dos negros, até mesmo pra nossa autoestima. Mas por outro lado, é triste o genocídio da juventude negra. Nós perdemos todos os dias milhares de “Miltons Santos” que nem sabiam que tinham talento pra ser grandes pensadores, pesquisadores, porque os meninos morrem até mesmo antes de completar 18 anos.
NJ: Na sua opinião, quando uma pessoa branca se apropria efetivamente de um elemento da cultura afro? Insistir na ideia de apropriação reforça uma separação de raças?
Tia Má: Esse discurso sobre apropriação é extremamente polêmico. A música é uma coisa que me incomoda muito. Por exemplo, um ritmo só começa a fazer sucesso quando algum branco começa a cantar. Os negros inventaram o Rock in Roll, era música de gueto. E quando Elvis Presley entra com o rebolado, se torna o Rei do Rock. A Axé Music começou com Margareth Menezes, mas a rainha da Axé é Daniela Mercury cantando “A Cor dessa Cidade sou Eu”. A cor dessa cidade não é a dela, é a minha. Quem começou a fazer sucesso foram as irmãs Janete e Jaciara da Banda Mel. Foi Marcia Short, Alobêned, Will Caravalho, Marinês na Banda Reflexus. Mas de repente, todas essas mulheres foram apagadas. Se você olha em cima dos trios no Carnaval, você pensa que está na Suécia. Não tem uma mulher preta, puxando um grande trio. O Arrocha começou lá em Candeias, como música de brega e era super ridicularizado. Quando o ritmo começou a despontar, a dar dinheiro, embranqueceram o Arrocha. E aí ele começou a ser tocado de forma repetida lá no sul. A gente nem vê mais tanta gente na Bahia cantando Arrocha. Esse tipo de apropriação me incomoda muito mais. Já essa questão de roupa, não me incomoda. Do mesmo jeito que eu posso usar, eles também podem. Mas eu quero até estudar mais sobre isso, me aprofundar, porque eu sei que muita gente se incomoda com essa questão de apropriação cultural.
Nós vivemos em um mundo onde as pessoas podem, sim, ter várias opiniões. Acho que tem coisa errada do lado da direita e tem coisa errada do lado da esquerda também. E a gente tem que ter entendimento sobre isso.
NJ: Recentemente o cantor e compositor Chico Buarque foi xingado no Leblon por questões políticas. Você sente a sociedade mais agressiva e conservadora?
Tia Má: A gente está vivendo um momento reacionário, de uma dicotomia muito grande. Se você não é a favor, você é contra. As pessoas não querem nem imaginar que possa existir uma terceira opinião. Imagina alguém ser execrado, tratado mal, só porque discorda do seu posicionamento? Aconteceu comigo também, fui chamada de macaca e as pessoas nem sabem o que eu penso sobre o cenário político. Me incomoda esse momento maniqueista, onde só há duas opções. Eu acho que não pode ser assim, nós vivemos em um mundo onde as pessoas podem, sim, ter várias opiniões. Acho que tem coisa errada do lado da direita e tem coisa errada do lado da esquerda também. E a gente tem que ter entendimento sobre isso.
O aborto masculino também tem que ser levado em consideração. O filho não é só da mãe e quando o homem não assume a sua responsabilidade de pai, ele também aborta. Apenas a mulher é criminalizada, mas é preciso entender o motivo que a leva abortar. Às vezes é o desespero, às vezes é a falta de apoio do companheiro.
NJ: Como enxerga hoje o cenário político brasileiro?
Tia Má: Hoje em dia você não pode falar nada que ou você é coxinha ou você é petralha. Eu brinco que eu sou “coxaralha” , uma “coxinha petralha” e tenho o posicionamento muito firme em relação aos dois lados. Eu não posso ser a favor de uma volta no tempo, não posso ser a favor da ditadura, eu sei o que os meus sofreram pra eu estar aqui hoje conversando bonito. Eu não posso permitir que um golpe seja instalado agora. Mas entendo também que isso deve servir de alerta para o pessoal da esquerda repensar como eles estão administrando o país. A gente tem uma segurança pública horrível e quando chego no supermercado, me sinto assaltada. Essa situação não é justa com os brasileiros.
NJ: O médico Dráuzio Varela afirmou que “o aborto já é livre no Brasil. Proibir é punir quem não tem dinheiro” . Qual é a sua opinião a respeito da descriminalização?
Tia Má: Essa questão é super polêmica porque todo mundo sabe aonde se faz aborto, né? Se você perguntar, sempre tem alguém que sabe ou que conhece alguém que sabe aonde faz. O aborto é ilegal, mas tem muita gente que consegue fazer um aborto seguro aqui no Brasil, basta você ter dinheiro. E outra coisa, o aborto só é culpabilizado quando é realizado pela mulher. Mas homens fazem abortos todos os dias, quando não assumem a paternidade dos filhos, quando não assumem as suas obrigações. O aborto masculino também tem que ser levado em consideração. O filho não é só da mãe e quando o homem não assume a sua responsabilidade de pai, ele também aborta. Apenas a mulher é criminalizada, mas é preciso entender o motivo que a leva abortar. Às vezes é o desespero, às vezes é a falta de apoio do companheiro.
NJ: Qual é a motivação que a faz seguir em frente?
Tia Má: Meu filho. É querer que ele viva em um mundo melhor, que ele tenha acesso a coisas que eu não tive.
NJ: Uma frase
Tia Má: (risos) Vá, se jogue! É a frase que me move!
NJ: Um medo
Tia Má: De não terminar as coisas que eu comecei e principalmente que não ocorra o ciclo natural da vida e meu filho vá embora antes de mim. Esse é o maior de todos os meus medos.
NJ: Um sonho
Tia Má: Que todas as mães possam seguir o ciclo natural da vida e ver seus filhos crescerem e atingir seus objetivos. Eu sei que pode parecer frase de efeito, mas não é. Depois que me tornei mãe, passei a me preocupar muito com isso. Em relação a sonho material, gostaria de poder oferecer uma vida mais confortável para minha mãe e meu filho.
NJ: Um lugar
Tia Má: Eu gosto muito da minha casa. Mas gosto mais ainda do local que eu estiver. O agora, o lugar que eu estou, sempre será o melhor.
NJ: Uma mania
Tia Má: De ir ao banheiro lendo (risos).
NJ: Uma música
Tia Má: Escolher uma música é difícil pra mim, mas vou falar de hoje. Tem duas músicas de Emicida que gosto muito que são: “Mãe “ e “Mandume” que, inclusive, canto muito com meu filho. Mas eu sou de época. São várias músicas que marcam a minha história. Tem também a música do nascimento do meu filho, que quando eu estava na maternidade, começou a tocar “Canções de Rei” do filho de Djavan. São várias canções que falam de mim.
NJ: Tia Má por Tia Má
Tia Má: Uma mulher preta, decidida, que não tem medo de dizer o que pensa. Que aprendeu que pode viver sozinha, mas que descobriu que acompanhada é mais gostoso. É aquela mulher que tem certeza que precisa fazer a diferença porque eu sei que não sou só eu. Sou milhões.
Galeria:
DMJ: Tia Má, muito obrigada! Estamos juntas!!! Sobrinha ama Rsrs Sucesso e beijo de luz!
23 Comments
Maíra Azevedo
6 de junho de 2016 at 09:56Sabe aquelas entrevistas que vc se orgulha de ter dado? ? Essa foi uma delas…Ainda é novo pra mim sair da condição de repórter para me tornar fonte. ..mas acho que tô dando conta. Adorei, Lu. Você arrasou!!!
Rosana Paz
6 de junho de 2016 at 09:57Parabéns, amiga! Sempre soube que tia Má existia dentro de vc!
Lucival França
6 de junho de 2016 at 09:57É bem estranho ser do lado de lá e estar do lado de cá. Mas você está tirando de letra esse trânsito entre os 2 mundos. Rs
Graziele Pereira
6 de junho de 2016 at 10:18Você merece! Parabéns! Por mais mulheres empoderadas. Você nos representa! Sobrinha ama
Marcia
6 de junho de 2016 at 10:19Não poderia ser menos que essas palavras pra te apresentar, tia!
Lelê Sobral
6 de junho de 2016 at 10:22Você merece todos os elogios, minha linda! Você nos representa.
Melyssa Loyola
6 de junho de 2016 at 10:24Desde o primeiro momento que vi a Tia Má saquei o grande conteúdo que havia por detrás de todo aquele humor e simpatia. Um talento desse não poderia passar em “branco” pela vida. Muito sucesso pra ela, sempre! Parabens pela entrevista.
Nalva Brandão
6 de junho de 2016 at 10:38Minha amada e querida Tia Má. Após ler essa sua entrevista grandona, tenho q dizer o seguinte : Se já admirava vc hj estou apaixonada demais da conta, viu sua descompreendida? Bj
Geilson Silva
6 de junho de 2016 at 10:56Tia é estouro na condição de entrevistar e ser entrevistada!
Mimi Gomes
6 de junho de 2016 at 11:28Tia, vc broca o sistema nega!!! te amo
Ramon Margiolle
6 de junho de 2016 at 14:44Gostei do conteúdo e das fotos. Vale ressaltar também o site, que é bem bacana. Virei leitor! Abs!
arygil
6 de junho de 2016 at 16:38Me representa adoro
Jurailda Sacramento
6 de junho de 2016 at 21:42Excelente! !! ! Muito boa a entrevista Parabéns.
Dália Leal
7 de junho de 2016 at 01:46Parabéns p tia Má, essa mulher guerreira, poderosa e jornalista competente!
Q linda sua missão de “propagar o amor” “reverter a ordem do sistema”, tentando ocupar espaços através da comunicação.
Mulher inteligente q usa seu trabalho ajudando às pessoas c seus vídeos, tirando dúvidas, orientando, etc.
P mim a tia Má é mais q uma jornalista; trata-se de uma excelente psicóloga. É formadora de opiniões, segura e empoderada! se faz importante salientar q não tem medo de dizer o q pensa. Parabéns pelo seu trabalho e p tdo q representa para nós mulheres!
Luciana Leal, perfeita matéria! belas fotos!
Debora Retzlaff
7 de junho de 2016 at 09:11Amei a matéria… Uma mulher esclarecida, autêntica, realista, linda e inteligente … Tenho orgulho de ter encontrado você no face… Obrigada, por dedicar seus pensamentos, sua opinião, seus conselhos e seu tempo com seus sobrinhos malucos…kkkkk
Karla Cardoso
7 de junho de 2016 at 09:12Tia Má, que orgulho de vc. Uma mulher que buscou o empoderamento, negra, nordestina, sem papas na língua, linda e inteligente. Vc me representa!
Joana Angélica Barbosa
7 de junho de 2016 at 09:13Vc é uma mulher empoderada, guerreira que está lutando pelos seus sonhos e merece tudo de melhor. Adoroooo, me sinto orgulhosa de vc
Viviane Matos
7 de junho de 2016 at 09:14Você com certeza é uma grande mulher, nos enche de orgulho.
Em uma sociedade hipócrita, quando só nos deparamos com pessoas cheias de falsas opiniões, ouvir uma mulher que sabe o que fala e que não tem medo de dar a sua opinião. Tia Má vc é um exemplo para todos nós!
Tai Oliveira
7 de junho de 2016 at 09:16Tia, acabei de ler Sua entrevista TODA agora…Sabia que tínhamos muito em comum…Mas o seu MEDO é o meu Medo…E olha…simplesmente realmente me representa…Em TUDO…Até no…Até no “acompanhada é mais gostoso” ?…Q venham mais conselhos e continue brocando nos seus vídeos baiana retada da Poha ??
Lúcio
7 de junho de 2016 at 10:22“Mas homens fazem abortos todos os dias, quando não assumem a paternidade dos filhos, quando não assumem as suas obrigações” Genial!! Parabéns a Luciana pela entrevista e Um grande parabéns a Tia má por compartilhar essa sabedoria.
Fabiana Leal
7 de junho de 2016 at 10:35Duas lindas!!! Amei a entrevista! Parabéns!! ????????
lucia Leal
12 de junho de 2016 at 15:54Maíra, jornalista, com muita garra e criatividade na elaboração de seus vídeos, mesmo com as críticas que as vezes recebe, não abala sua coragem de dar continuidade à esse trabalho magnífico. Sucesso tia Má – Que Negra linda!!???
Denize Oliveira
30 de janeiro de 2020 at 12:31Amei!!!!! Por mais tias Más na vida ! Aqui, lá e acolá!!! Duas lindas que fazem a diferença na vida de muita gente.”Fica esse recado para as empresas que comumente não contratam negros e negras para fazer as suas propagandas. Nós queremos nos ver e somos a maioria da população. Fica a dica, é uma questão matemática. Se nós somos a maioria, nós devemos ser também a maioria nas campanhas publicitárias porque assim reproduziria a realidade da sociedade.” Minha Lu linda e tia Má, muito obrigada por tudo que já fizeram, fazem e ainda farão ❣🙏✌🏳💪✊❤🤘Milhões de beijos pra vocês suas lindas, inteligentes, mulheres empoderadas, mães e fodásticas!!! 🤗🤗😍😍😘😘😘😘😘🌻🕊🌻🕊