Bate-Papo com o ator Marcos Breda

Bate-Papo com o ator Marcos Breda

Com carreira consagrada e colecionando personagens marcantes  ao longo de seus  35 anos profissão, Marcos Breda é o nosso convidado de hoje para um bate-papo super descontraído. Confira:

DMJ: Marcos,  você era estudante de Letras quando iniciou a carreira de ator. Como se deu essa mudança?

Marcos: Essa mudança fez parte de um longo processo pessoal. Passei no vestibular para Engenharia Mecânica na UFRGS em 1977 e fiz dois anos do curso (1978 / 1979), para depois mudar para Engenharia de Minas na mesma universidade. Cursei mais dois anos (1980 / 1981) e finalmente mudei para Letras em 1982, obtendo a graduação somente bem mais tarde, em 1990, sempre na UFRGS. Já morando no Rio de Janeiro, acabei cursando pós-graduação na UNI-RIO, defendendo minha tese de mestrado “A Capoeira na Preparação Corporal do Ator” em 1998.

DMJ: Chegou a dar aulas?

Marcos: Sim, muitas vezes e em vários lugares. A melhor dessas experiências foi como professor de Interpretação durante dois anos (2005 / 2006) no curso de Graduação em Direção Teatral da UFRJ.

DMJ: Não é fácil viver de arte no Brasil. Pensou em desistir em algum momento?

Marcos: Muitas vezes, nesses meus 35 anos de trabalho. Mas não tem jeito, gosto demais da profissão e acredito que – como dizia meu saudoso pai – “quem faz aquilo que gosta, rende o dobro e cansa a metade”,

DMJ: O que considera fundamental para a sua qualidade de vida?

Marcos: Esportes, boa alimentação, psicanálise, minha profissão, uma graninha no banco, uma consciência tranquila, amor & sexo com minha companheira Lumi Kin e, sobretudo, a paternidade. Sou louco por meus dois moleques Jonas (13) e Daniel (8).

DMJ: Quais são os esportes que pratica ou já praticou?

Marcos: Pratiquei vários durante toda minha vida. Judô, Natação, Karatê, Capoeira, Corrida a Pé e Kartismo. Hoje faço musculação, corrida a pé, alongamento e, claro, kartismo.

DMJ: Você foi campeão do Kart dos Artistas. De onde vem a paixão pela velocidade?

Marcos: Acho que herdei do meu amado e finado pai Siro Breda. Ele era bom mecânico, bom piloto e me ensinou a dirigir muito cedo, com menos de 10 anos de idade. Sou piloto amador de Kart há mais de vinte anos e sou também Bi-Campeão (2013 / 2014) do Torneio Kart dos Artistas. Curto muito Automobilismo e assisto a quase tudo de Fórmula 1, Fórmula Indy, Stock Car etc.

DMJ: Qual é a sua relação com o esoterismo?

Marcos: Bem intensa, desde sempre. Catolicismo, Umbanda, Candomblé, Santo Daime, Búzios, Numerologia, Tarô, I Ching e, sobretudo, Astrologia. Hoje não frequento mais nenhum tipo de culto porque descobri que Deus não é Internet e, portanto, não precisa de provedor. Como cantava Gilberto Gil, “Se eu quiser falar com Deus / tenho que ficar a sós / tenho que apagar a luz / tenho que calar a voz”…

DMJ: O que a paternidade mudou na sua vida?

Marcos: Mudou simplesmente TUDO, minha visão de mundo e de mim mesmo. Fiquei menos egoísta e autocentrado. mais humano. Sou separado da mãe deles, mas temos uma relação ótima. Somos amigos e temos guarda compartilhada dos meninos. Ficam 60% do tempo com ela e 40% do tempo comigo. E os meninos crescem sabendo que são amados igualmente por seu pai e sua mãe, desde sempre e para sempre. Sou louco pelos dois e tenho certeza de que eles são a melhor coisa que já aconteceu em minha vida.

DMJ: Quais são as suas principais lembranças do Rio Grande do Sul?

Marcos: Nasci em Porto Alegre e morei por lá durante meus primeiros 25 anos. Lembro com muito carinho da minha infância e adolescência, minha família, meus amigos, a escola, a universidade, meus primeiros anos na profissão, meus primeiros amores…e, claro, meu time do coração, o Internacional-RS.

DMJ: Quem são as suas referências na dramaturgia?

Marcos: São muitas e variadas, nacionais e estrangeiras. Gente como William Shakespeare, Nélson Rodrigues, Peter Weiss, Anton Tchekhov, Carlo Goldoni, Henrik Ibsen, David Mamet, Harold Pinter, Miguel de Cervantes, Martins Pena, Luigi Pirandello, Yasmina Reza, Jean Moliére, Arthur Azevedo e Caio Fernando Abreu são nomes que dispensam comentários.

DMJ: Qual personagem mais lhe deixou saudade? Por quê?

Marcos: Acho que o “Arlequim” da peça de Carlo Goldoni “Arlequim, Servidor de Dois Patrões”, sem dúvida. Um dos maiores personagens da dramaturgia ocidental, numa produção inesquecível que reuniu um time de grandes profissionais e que rodou pelo Brasil durante dois anos. Foi o personagem mais desejado, mais difícil, mais exigente e, ao mesmo tempo, mais gratificante de todos que já fiz em Teatro.

DMJ: Em 1986 Você foi protagonista do filme “Feliz Ano Velho” e recebeu o prêmio de melhor ator. Como foi essa experiência?

Marcos: Uma das experiências mais ricas e transformadoras da minha trajetória profissional. Foi o trabalho que me fez mudar de Porto Alegre para São Paulo e que acabou dando um rumo inteiramente diferente para minha carreira e minha vida. Sem falar que era um personagem protagonista, complexo e fascinante, num filme de grande repercussão e com uma equipe de primeira linha. Numa palavra: sensacional.

DMJ: “Vamp”, “Mandala” e “Que Rei Sou Eu?” são sucessos clássicos da teledramaturgia. O que elas representaram na sua carreira?

Marcos: “Mandala” (1988), “Que Rei sou eu?”(1989) e “Vamp” (1991) foram alguns dos meus primeiros trabalhos na TV Globo e são novelas que marcaram época, especialmente “Que Rei sou Eu?”.

Em “Mandala” fiz o personagem “Hans Wagner”, um jovem junkie e desajustado, papel exigente e prazeroso de fazer.

Já em “Que Rei sou Eu?” meu personagem era “Pimpim “, um dos três mosqueteiros rebeldes numa aventura de capa/espada muito divertida e original.

Finalmente em “Vamp” eu fazia o personagem “Rafael”, o anjo da guarda da vampira-protagonista Natasha, interpretada pela querida Cláudia Ohana.

Foram três novelas com imensa audiência (num tempo em que não existia TV a cabo ou Internet) e que deixaram saudades em todos que delas participaram.

DMJ: Você é conhecido pela sua versatilidade. Tem algum papel que ainda gostaria de interpretar?

Marcos: Esse é um dos grandes baratos da profissão de ator: existem inúmeros personagens fascinantes, de todas as idades. Tenho muitos personagens desafiadores pela frente e muito tesão & energia para trabalhar. Aposentadoria? Depois de completar cem anos, talvez…

DMJ: O que significou pra você o Kikito de Melhor Ator em Gramado 2000 pela atuação como o Sargento Garcia?

Marcos: Um reconhecimento justo e bem-vindo por um trabalho feito com imenso carinho e dedicação. Gosto imensamente da obra de Caio Fernando Abreu e ter interpretado este personagem no cinema foi um privilégio.

DMJ: Sua atuação mais recente na TV foi como o Bicheiro Alaor de “Sexo e As Negas”. Como você avalia a polêmica em torno da série?

Marcos: A tal polêmica foi de uma estupidez atroz, inacreditável. O seriado nada tinha de racista, muito pelo contrário. Era bem escrito, bem dirigido e as protagonistas eram personagens íntegras, vencedoras, talentosas, batalhadoras e sem um pingo de auto-piedade. Lamento demais o final precoce da série e o apedrejamento público injusto ao qual Miguel Falabella, Cininha de Paula & equipe foram submetidos.

DMJ: Como surgiu a ideia de montar um grupo  de produção teatral?

Marcos: Chegou o dia em que desejei realizar as peças que eu julgava pertinentes naquele determinado momento de minha carreira e minha vida e só teria esta oportunidade se eu mesmo assumisse a função de produtor. Me associei à saudosa produtora Maria Helena Alvarez e à atriz Camila Pitanga e, juntos, produzimos “Arlequim, Servidor de Dois Patrões”, “A Maldição do Vale Negro” e logo em seguida ( já na ausência de Camila, que estava tomada pelas gravações de uma novela) “Farsa”. Foi um processo imensamente absorvente, trabalhoso e apaixonante.

DMJ: Você fez parte da novela “Amor & Revolução” do SBT, onde viveu um comunista revolucionário. Como você enxerga hoje o cenário político brasileiro e o que acha das manifestações que estão acontecendo?

Marcos: Vejo todas essas manifestações com apreensão e, confesso, uma certa desesperança. Fico sempre com a impressão de que nós, eleitores e contribuintes, não sabemos da missa a metade. Mas seremos sempre nós que vamos arcar com o prejuízo, seja quem for o Governo ou a Oposição. E o nível do debate…céus…tem horas que acho que o Brasil ainda está na Idade Média.

DMJ: Quais são os seus planos profissionais  para este segundo semestre?

Marcos: Estréio BEIJO NO ASFALTO DIA 31 de julho no Rio de Janeiro. A peça ficará em cartaz no Teatro Solar Botafogo até final de agosto.

OLEANNA no Porto Alegre em Cena no início de setembro.

BEIJO NO ASFALTO estréia então em São Paulo (Teatro Augusta) dia 11 de setembro, ficando em cartaz até final de outubro.

Ensaio IRMÃOZINHO QUERIDO (autor e diretor Flávio Marinho) durante setembro e outubro, com estréia prevista para a primeira semana de novembro no Rio de Janeiro. A peça ficará em cartaz pelo menos até o início de março de 2016.

DMJ: Como recebeu a indicação para o prêmio APCA de teatro?

Marcos: A indicação para o Prêmio APCA foi uma grata surpresa para mim. OLEANNA é um espetáculo de grande qualidade – que mereceria outras indicações de “Melhor Direção” e “Melhor Atriz”, por exemplo – e esse reconhecimento é merecido por toda nossa equipe.

DMJ: Uma frase

Marcos: Fazer da paixão um ganha-pão; mais do que uma rima, uma suprema solução.

DMJ: Uma música

Marcos: The Great Gig in the Sky (Pink Floyd)

DMJ: Um lugar

Marcos: Porto Alegre

DMJ: Uma palavra

Marcos: Querer

DMJ: Marcos Breda por Marcos Breda (Como você se define)

Marcos: Ainda não sei bem o que quero, mas acho que já sei bem o que NÃO quero.

DMJ: Marcos,  muito obrigada! Espero poder contar com a sua participação outras vezes na nossa Janela Beijo grande!

Marcos: O prazer foi meu & beijão

Galeria:

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

2 Comments

  1. Avatar
    Mila Oliveira
    30 de outubro de 2015 at 23:05 Reply

    Excelente entrevista!

  2. Avatar
    alice fernandes
    30 de outubro de 2015 at 23:17 Reply

    Adorei a entrevista com o eterno “Pelópidas” de Caras & Bocas! rsrsrs Parabéns, Lu!

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