Maria Clara Gueiros

Maria Clara Gueiros

Ela é atriz, bailarina e mestre na arte de fazer rir. Recentemente teve a oportunidade de homenagear dois ícones da comédia brasileira: Os Trapalhões, participando da gravação dos Saltimbancos e Chico Anysio, vivendo a Dona Cândida na Escolinha do Professor Raimundo. Adora comer brigadeiro quente e tenta levar o humor até para os momentos chatos da sua vida. É com Maria Clara Gueiros que conversamos agora.

NJ: Maria Clara, você sempre quis ser atriz ou tinha outros planos?

Maria Clara: Na verdade, não tinha planos de ser atriz, sempre fui bailarina e sapateadora. Me formei em Psicologia e fiz mestrado em Psicanálise. Achava que iria trabalhar com Psicanálise e dançar como hobbie. Mas nunca fui uma ótima bailarina… Sempre fui excelente sapateadora, modéstia à parte, mas quando descobri o teatro aos 22 anos, minha vida mudou!

NJ: É verdade que o Eri Johnson te liberou da dança? Como foi essa história? Rsrs

Maria Clara: Isso é totalmente verdade. Eu fazia uma peça com ele em 1990. Participava basicamente como bailarina e fazia uns mini papéis. Era um espetáculo de sketches. Um belo dia, ele me pegou na coxia, ao final de um número musical, e me disse: “Clarinha, você dança muito mal. Investe na carreira de atriz, que você é ótima!” Isso me libertou. Parei de fazer aula de dança e me dediquei à carreira atriz, em que já trabalhava há 3 anos, sem me assumir propriamente como atriz.

NJ: Qual foi o maior mico que você já pagou pela profissão?

Maria Clara: Micos a gente paga o tempo todo rsrs! É uma profissão em que estamos muito expostos. O mico que mais me marcou foi um evento em que fui mestre de cerimônias em Belém e ninguém ria de nada do que eu falava. Queriam que eu contasse piadas e eu tinha um stand up engraçado, mas não o suficiente pra fazer ninguém rir.

NJ: Quando você estreou na TV, já fazia teatro há muitos anos. Houve algum medo ou dificuldade?

Maria Clara: Eu ficava muito nervosa pra fazer TV quando comecei a fazer participações em novelas e séries, pois não tinha nenhuma experiência nesse veículo. TV é bem diferente de teatro, que é a minha casa. Aos poucos fui me familiarizando com a TV, e hoje em dia amo fazer.

NJ: Você esteve em cartaz no Rio recentemente  com o espetáculo “A Invenção do Amor”.  Como foi a experiência?

 Maria Clara: “A Invenção do Amor ” é uma comédia deliciosa, com um texto muito inteligente, com uma direção genial do Marcelo Valle e o melhor de tudo foi poder estar em cena com um ator como o Guilherme Piva, que além de talentosíssimo e um comediante excelente é um amigo queridíssimo. A peça trata com muita inteligência e bom humor de um assunto que todos se identificam, que são as relações amorosas. O fato dela ser ambientada na Idade da Pedra e se utilizar de ficções de casais emblemáticos da história são a prova de que esse assunto é universal e sempre atual.

NJ: Você acha que a forma como as pessoas lidam com o amor mudou ao longo do tempo? 

Maria Clara: Acho que os comportamentos mudaram, com todos os processos de liberação sexual, com certeza. Mas acho que os sentimentos mudaram menos, ainda são primitivos. Ainda existe muito ciúme, sentimento de posse, machismo.

NJ: Você fez teatro para crianças, né? Como é a sua relação com o público infantil?

 Maria Clara: Fiz muito teatro infantil. Amo o público infantil e sempre fiz espetáculos que dialogavam com os adultos também. Quando a história é bem contada, ela agrada a todas as idades.

NJ: Você acredita que com a onda do “politicamente correto”, as produções de hoje estão menos ousadas?

Maria Clara: Talvez um pouco, sim. Mas é a evolução das coisas. Não temos como questionar isso. Acho que o politicamente veio para o bem da sociedade e existem formas de se fazer humor sem ser racista, homofóbico, preconceituoso. Essas piadas hoje em dia nem têm mais graça. O público não ri mais disso.

NJ:  Como excelente comediante que você é, como descreveria o papel do ator na comicidade?

Maria Clara: Ser comediante é um prazer indescritível. Fazer humor no teatro é um prazer diário. A gente descobre coisas novas todas as noites, abandona piadas que não funcionam. É como lapidar um diamante em busca da piada perfeita. Para mim, fazer humor é seguir uma partitura musical. O comediante escolhe as palavras que têm uma sonoridade e um ritmo que fazem o humor aparecer. Isso é praticamente música, além de ser muito específico. Cada ator tem uma embocadura própria. Não tem como imitar as pessoas; tudo tem que ser filtrado pela nossa maneira de fazer humor.

NJ: Na sua opinião, humoristas são mais cobrados pelo público?

 Maria Clara: O que percebo é que as pessoas cobram que você seja engraçado 24hs por dia. Na fila do banco, no supermercado, na portaria do prédio. As pessoas não aceitam que a gente possa ser normal. Acho muito chato quem só faz piada o tempo inteiro, e não consegue falar a sério na vida real.

NJ: Quais lembranças guarda da Laura do Zorra e do seu bordão “Vem cá, te conheço?”

Maria Clara: A Laura me projetou na televisão. Sou eternamente grata ao Mauricio Sherman, que me deu essa oportunidade, depois de 17 anos de carreira. Tenho um carinho especial por esses personagens que fiz no Zorra Total.

NJ: E tiveram outros bordões…

Maria Clara: Muitos! “E eu sou fraca?” da Lili de Caras & Bocas, o “Chupa essa manga” do Zorra. É muito bom escutar nas ruas as pessoas repetindo um bordão do seu personagem. É sinal que o público está gostando e aprovando.

NJ:  Você viveu a Lourdinha de A Grande Família. Como foi a experiência de participar de uma série que fez tanto sucesso que foi a  produção mais longa da TV Brasileira?

Maria Clara: Eu aproveitei cada segundo dessa experiência. Eu era feliz e sabia. Eu costumo dizer que ali era o Olimpo do humor. Um programa que ao mesmo tempo era programa de humor, série, novela e com uma linguagem super moderna. Foi um privilégio fazer parte desse time.

NJ: Como foi viver a Bibi Castelani e ser neta da Nathália Timberg em Insensato Coração?

Maria Clara: A Bibi também foi outro trampolim pra mim. Fazer uma novela das 9 com um personagem gostoso como era a Bibi, leva a carreira da gente pra um lugar de mais respeito. O Gilberto Braga me ligou 2 anos antes da estreia da novela, me dizendo que escreveu essa personagem pra mim. Tudo isso parecia um sonho. Trabalhar com a Nathália foi um prazer. Nos demos muito bem artística e pessoalmente. Somos amigas até hoje.

NJ: Seu papel mais recente na TV foi a Karen de Babilônia. Qual foi o maior desafio enfrentado nesse trabalho? Você estava buscando uma personagem mais séria?

Maria Clara: Sempre faço o que está escrito e o que o diretor me pede e é super importante para um ator mostrar vários lados de seu trabalho.  A Karen era uma personagem mais séria num núcleo mais leve da novela. Foi uma experiência muito importante. Adorei fazer. Gosto muito de exercitar o meu lado dramático, apesar do público ter me visto poucas vezes fazendo personagens mais sérios.

NJ: Você declarou que sempre admirou muito o humor leve de Os Trapalhões. Como foi participar do clássico Saltimbancos no cinema e  contracenar com Renato Aragão e Dedé Santana?

Maria Clara: Eu sempre fui fã dos Trapalhões e ter a oportunidade de contracenar com o Renato e o Dedé é um sonho! O filme ficou muito bem feito, bem produzido, bem dirigido. Tudo muito bem encaixado, muito bem feito.

NJ: A Escolinha do Professor Raimundo é uma unamidade. Como está sendo a experiência de viver a dona Cândida e como funciona a integração do elenco da Escolinha?

Maria Clara: Fazer a Cândida e homenagear o Chico é um prazer que não tem nem como explicar, é um privilégio. E a Escolinha faz parte da história da televisão brasileira. Toda equipe está super integrada, muito feliz com o resultado. A gente se diverte muito durante as gravações.

NJ: Vc tem algum arrependimento?

Maria Clara: Não. Sinceramente. Sempre corro atrás de tudo o que quero e tudo que ganho de volta é um bônus.

NJ: O que você gostaria de fazer como artista que ainda não fez?

Maria Clara: Quero fazer bons papéis, com bons textos, bons atores e bons diretores. Isso é o que me faz feliz.

NJ:  Qual foi o momento mais desafiador que enfrentou até hoje na sua profissão?

Maria Clara: Passamos por desafios o tempo todo. Talvez fazer meu primeiro musical dirigida pelo Claudio Botelho e o Charles Möeller. É uma linguagem muito diferente e precisa.

NJ: Você se considera uma pessoa engraçada no dia a dia?

Maria Clara: Acho que sim. Consigo dosar bom humor com seriedade e concentração.

NJ: O que a faz rir fora de cena?

Maria Clara: Gente inteligente. Tudo fica pertinente.

NJ: Como foi a experiência de morar nos USA durante a infância?

Maria Clara: Foi importantíssimo. Aprendi inglês como se fosse português e nunca me esqueci. 

NJ: O que mais a atrai na Psicologia?

Maria Clara: Amo observar as pessoas, ver os diferentes tipos de gente, seus problemas, seus hábitos, suas histórias. Observar tudo isso e poder usar num personagem, é uma delícia.

NJ: Uma frase 

Maria Clara: “Temos a Arte para não morrer da verdade” Nietzche

NJ: Um lugar

Maria Clara: Minha casa

NJ: Um sonho

Maria Clara: Trabalhar sempre como atriz

NJ:  Uma mania

Maria Clara: Comer brigadeiro quente 

NJ: Maria Clara por Maria Clara 

Maria Clara: Simplesmente Maria Clara

Galeria:

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

1 Comment

  1. Avatar
    Son Izabel
    3 de julho de 2017 at 12:28 Reply

    Lu…amo o seu trabalho, adorei a intrevista com a Maria Clara.Um abraço cheio de carinho,sou sua fã.

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