Marcos Barretto nunca teve dúvidas que queria ser ator e orgulha-se por fazer parte da Cia Baiana de Patifaria, referência no teatro baiano e brasileiro. Seus olhos brilham de gratidão e saudade quando se refere a avó, de quem recebeu tanto carinho, apoio e incentivo para seguir a profissão. Foi com uma energia solar contagiante que o ator nos recebeu no Teatro Isba, onde segue em cartaz com o espetáculo “A Bofetada”. Confira na íntegra, o nosso bate-papo.
SNJ: Marcos, Você sempre quis ser ator? Quando decidiu seguir a profissão?
Marcos: Sempre! Desde criança. Era algo sempre certo para mim. Venho de uma família rica artisticamente falando. Um tio avô palhaço ( o palhaço Pinduca), prima cantora (Aila Menezes ) e tantos outros, artistas em diversas áreas… ou seja… tá no sangue. (Risos)
SNJ: Qual é a importância de “A Bofetada” para a sua carreira?
Marcos: Uau, muita! Mesmo antes de entrar para a Cia Baiana de Patifaria. Acho que para muitos atores, principalmente baianos. A Bofetada, sempre foi aquela peça que me fazia brilhar os olhos, reforçando meu desejo pela profissão. Ela me ensinou quão difícil é, fazer comédia. É entender sobre a tal “matemática do riso” sabe? É maravilhoso. Um divisor de águas mesmo. Hoje, tenho ainda mais admiração por essa profissão. E esse espetáculo em especial e a Cia são muito responsáveis por isso também.
SNJ: A que você atribui o sucesso do espetáculo que já dura mais de 30 anos?
Marcos: Sem sombra de dúvidas, a irreverência da Cia como um todo, dos atores talentosos que passaram por ela, a peça, e pela capacidade de atualizar e comunicar tanto com o hoje, o agora. Além de óbvio, pela inquietude de Lelo (Lelo Filho) como o cabeça da coisa e também artisticamente falando.
SNJ: Como é a sua relação com os demais integrantes do grupo? Costumam se divertir muito por trás das cortinas?
Marcos: É ótima! Nos divertimos MUITOOOOO juntos! (Gargalhada) Somos todos muito criativos ! Juntos então, aí você já pode imaginar né? Ferve! (Risos)
SNJ: Como surgiu o convite para a trupe participar do clip de Daniela Mercury? Como foi a experiência?
Marcos: Uau. O convite surgiu de uma ida ao estúdio dela. E aí veio o convite para fazer o coro da música “Banzeiro”. Em seguida outro convite: Participar do clip e desfilar dois dias no trio dela no carnaval daqui de Salvador. Só posso dizer q foi algo inesquecível! Ela ( Daniela) é uma artista gigantesca! Que eu particularmente admiro desde que me entendo por gente. E estar com ela, em todos esses momentos e em especial no trio, foi simplesmente FANTÁSTICO! Você vê que estou aqui buscando palavras pra tentar descrever, mas ainda não consigo, tamanha foi a importância pra mim. E certamente para meus colegas de Cia.
SNJ: Você integrou o elenco do espetáculo “Toda Forma de Amor”. Como enxerga o crescimento do teatro musical no Brasil?
Marcos: Cresceu e vem crescendo muito. Acho que Salvador menos. Não é um formato muito consumido pelo público soteropolitano. Mas ainda assim, também vem ganhando seu espaço. Falo pela própria experiência com Noviças Rebeldes. Toda Forma de Amor foi um trabalho que tenho muito carinho e gratidão por ter participado. De lá pra cá já sinto uma enorme diferença, na aceitação do público para musicais. Espero verdadeiramente que cresça muito! Porque se fazer teatro já é difícil, nos dias atuais, imagine um musical? Como é o caso de Noviças. Torço para que cresça em todos os sentidos, inclusive em relação a apoios e patrocínios.
SNJ: Como avalia o papel da arte como ferramenta para quebrar preconceitos e tabus?
Marcos: Fundamental! A arte tem esse poder de transformar… então é fundamental para a sociedade. Por isso acredito tanto que quanto mais se investe em arte e cultura, mais estaremos dando oportunidade a nossa sociedade de crescer e melhorar. Defendo sempre a necessidade do teatro dentro das escolas, para que as crianças cresçam consumindo algo relacionado a arte. É ela que por muitas vezes vai liberta-las de possíveis dores, medos, preconceitos e afins. A arte tem de fato esse poder. E ainda nos ensina a sonhar.
SNJ: Quem são as suas referências na dramaturgia?
Marcos: Caramba! Tantas! Tenho muita sorte de ter tanta gente bacana como referência. E não só referências distantes de mim. Tenho muitos amigos artistas, que acabam sendo referências pra mim também. Mas hoje, vou citar apenas um, que pra mim vai sintetizar muitas gerações. E ele, também tenho a sorte de ter por perto, que é o grande mestre Harildo Deda. A ele toda minha reverência e reconhecimento.
SNJ: Quais são os principais cuidados que é preciso ter, hoje, quando se trabalha com humor?
Marcos: Muitos. O principal deles é sair do lugar comum, daquela piada das minorias, sabe? Piadas que ofendam, oprimam. É descobrir um novo caminho para arrancar o riso, sem precisar utilizar nada que seja ofensivo, como durante muito tempo foi consumido por todos nós. Eu gosto dessa nova fase que estamos vivendo, onde nada ofensivo passa mais tão despercebido como antes. Então acho que esse é o principal cuidado.
SNJ: Qual foi o melhor conselho que recebeu em sua profissão e de onde ele veio?
Marcos: Recebo muitos, graças a Deus. Constantemente. Mas um que me ocorre agora é: “menos é mais.” Do próprio Harildo Deda. ( risos) mas tem um outro muito bom, que George, (George Vladimir) sempre diz, algo do tipo: “por mais que lhe digam o quanto é bom no que faz. Não acredite.” ( risos) Forte essa né? Mas acho incrível. E leio como um aviso pra não cair nas ciladas do ego.
SNJ: Quais são as principais dificuldades enfrentadas por quem quer fazer teatro no Brasil?
Marcos: Tantas. A falta de apoio, patrocínio. A diminuição do consumo de teatro pela nova geração. E acho que tudo vem meio que embutido sabe? Na falta de atenção que essa área vem sofrendo pelos governantes etc. E óbvio se você não insere e valoriza isso no dia a dia dadas pessoas, naturalmente esse descaso vai reverberar de alguma maneira, em alguma escala.
SNJ: Qual foi o seu maior desafio como ator até aqui?
Marcos: Muitos! ( gargalhada) .Mas creio que meu maior desafio e de qualquer colega de profissão é o de permanecer vivendo desse ofício nos dias que vivemos, atualmente.
SNJ: O que é e como funciona o plantão da felicidade?
Marcos: É um grupo de trabalho voluntário de representações artísticas, solidárias a saúde emocional . Levamos espetáculos com tudo que se tem direito pra dentro de hospitais e abrigos de Salvador .
SNJ: Como é a sua relação com a religião?
Marcos: Minha religião é minha base enquanto ser.
SNJ: Como lida com as redes sociais?
Marcos: Muito bem! E me amarro nesse contato direto que essas redes nos proporcionam.
SNJ: Você tem algum arrependimento?
Marcos: Tantos. ( gargalha). Mas todas voltadas pra situações na qual posso ter magoado pessoas que eu amo sabe? Não tenho nenhum grande arrependimento específico.
SNJ: Quais são os seus planos profissionais para este ano de 2018?
Marcos: Além de A Bofetada que volta no próximo final de semana ao Teatro Isba, sábado e domingo, às 20h, tenho muitos!!! Eu posso ouvir um amém?! ( gargalhada) a maioria ainda não posso divulgar. Mas garanto que vem muita coisa boa por aí.
SNJ: Amem!!!! Mas agora fiquei curiosa (risos). Pelo menos uma dica..
Marcos: São novidades em diversas áreas da profissão. Na própria Cia, vem coisa nova aí… ( risos) Mas tem bastante coisa chegando, inclusive não vinculado à cia. TV, teatro, música… Vamos agora falar de futebol! ( gargalhada) Prometo que assim que puder te conto! ( gargalhada)
SNJ: O que o deixa verdadeiramente emocionado?
Marcos: Ver bondade e gentileza nas pessoas. Isso me comove verdadeiramente.
SNJ: Uma frase
Marcos: A maior necessidade do ser humano é a de se sentir valorizado.
SNJ: Um lugar
Marcos: O teatro.
SNJ: O que o deixa indignado?
Marcos: Os preconceitos de nossa sociedade. Seja qual for. Sendo preconceito me tira do sério.
SNJ: É possível escolher a trilha sonora da sua vida?
Marcos: Poderia ser um CD? (gargalhada)
SNJ: Uma mania.
Marcos: Almoçar com banana ou goiabada.
SNJ: Um sonho.
Marcos: Poder ajudar muita gente com a profissão que eu escolhi.
SNJ: Uma saudade
Marcos: Da minha avó. Ela foi minha grande incentivadora a seguir o meu sonho de ser ator.
SNJ: Defina teatro em uma palavra
Marcos: Vida
SNJ: Marcos Barretto por Marcos Barretto
Marcos: Vixe! ( risos) Sou uma pessoa em constante transformação e muito aberta para o novo. Um homem moleque cheio de sonhos. Alguém que acorda todos os dias se dizendo: Precisamos fazer valer a pena. Acho que é isso. ( risos)
SNJ: Marcos, meu querido! Muito obrigada! Que você siga trilhando seu caminho sempre com essa energia contagiante! E que os sorrisos sejam contantes em tudo que você fizer. Tenho certeza que a sua vozinha está lá no céu, em um camarote especial, te aplaudindo de pé. Fica com Deus.
Sobre a Cia Baiana de Patifaria
A democratização do teatro através do riso, do humor, para um público cada vez mais amplo e diversificado, essa sempre foi a meta da Cia Baiana de Patifaria. A comédia desde sua origem sempre teve o caráter de aproximar plateias, ao ironizar os dilemas do cotidiano e propor reflexão. Desde 1987, quando surgiu, a Cia Baiana vem tentando manter seu repertório em cartaz, sempre prezando pela qualidade de suas montagens, gerando empregos e ampliando seu público em todo país.
SERVIÇO
A BOFETADA
Local: Teatro Isba (Ondina)
Sábados e domingos às 20:00
6 Comments
Ana Cristina Silva
10 de abril de 2018 at 16:53Parabéns belíssima entrevista!!!!
Ameiiiii
Sucesso para vcs!
Cheiro
Maria De Loures
10 de abril de 2018 at 19:57Lindo, está certíssimo na profissão ator/cantor/dançarino etc um belo artista! Maravilhoso!
Marcela Teles
10 de abril de 2018 at 19:58Eu simplesmente amei essa entrevista! Parabéns!!
Fabiana
10 de abril de 2018 at 20:45Ótima entrevista! Parabéns por persistir na profissão de ator apesar das dificuldades citadas! Nem só de glamour vive a profissão!
Estamos aguardando as novidades!!!! Rsrs
Pai de Nina
11 de abril de 2018 at 09:52Excelente entrevista!! Ator genial!
Dalia Leal
10 de julho de 2018 at 00:04Concordo c Marcos Barreto, realmente, bondade e gentileza são qualidades importantíssimas!!!a entrevista bem como a galeria de fotos estão perfeitas!🌞🌛🌟