SNJ: Priscila, Qual foi o seu primeiro contato com o teatro? Como tudo começou?
Priscila: Eu tinha 8 anos e fui com meu pai assistir “Pluft”, uma peça da Maria Clara Machado. Lembro que fiquei encantada com aquele universo e despertou a vontade de estar ali. Aí o meu pai me levou para o Tablado, uma escola de teatro tradicional aqui do Rio de Janeiro, mas eu era muito nova para iniciar o curso, eles pediram para voltar no ano seguinte. Eu voltei, entrei no Tablado com 9 anos e fiquei até os 18. Só parei porque fui morar um ano em Israel. Quando voltei, entrei na faculdade de teatro.
SNJ: Concluiu?
Priscila: Conclui sim. Sou bacharelada em Interpretação, consegui bolsa de estudos pelo Enem. Mas sempre gostei muito de escrever, queria fazer algo ligado a roteiro e fiz cinema na PUC. Me formei em dois cursos: Teatro e Cinema.
SNJ: Qual foi o melhor conselho que recebeu em sua profissão e de onde ele veio?
Priscila: Já recebi vários conselhos. Um que considero muito bom veio da Rosane Svartman. Ela disse o seguinte: “ Depois que você fizer tudo que poderá ser feito por alguma coisa, vá para a praia”. Fui importante porque eu sou muito ansiosa e na minha profissão é comum a gente esperar respostas, aguardar resultados de testes, mas essa parte não depende de mim. O importante é ter a consciência tranquila de ter feito o seu melhor e depois relaxar porque ninguém tem como controlar o que vem de fora. Você planta, planta, planta. Mas tem que esperar brotarem os frutos.
SNJ: Como foi a reação da família quando você disse que realmente queria seguir a carreira e viver da arte?
Priscila: Isso é uma coisa muito louca porque eu sempre quis ser atriz, sempre desejei viver da profissão. Eu lembro que na época de escolha do curso da faculdade até pensei em fazer Psicologia porque eu adoro psicanálise. Mas quando eu voltei de Israel, fiz a oficina de atores da Globo e pensei: “Cara, não tem outra opção pra mim. Tenho que fazer teatro”. É muito comum um ator fazer outra faculdade, mas pra mim tinha que ser teatro mesmo. Eu adoro estudar, quero fazer uma pós. É uma profissão de busca de conhecimento, não dá para parar de estudar nunca.
SNJ: Em algum momento pensou em desistir?
Priscila: Sem dúvidas é uma profissão muito difícil, muito inconstante. E tem personagens muito intensos, que abalam. Mas eu nunca pensei em desistir. Parece que quanto mais difícil, com mais vontade eu fico. Gosto de ser desafiada, gosto de me superar.
SNJ: Pra você, como artista, como educar uma população a valorizar mais a arte?
Priscila: Eu consigo associar todas as questões da nossa sociedade com a educação. Acho que todos os problemas que a gente passa: Corrupção, desigualdade social, violência, tudo está associado a educação. Se a gente tivesse uma educação melhor, teria melhores cidadãos, melhores profissionais, melhores líderes. E a arte é um veículo importantíssimo dentro da educação. Grande parte da população, por exemplo, não tem o hábito de ir ao teatro. E o teatro tem o poder de informação, de expandir conhecimento. Acredito que uma das melhores formas de comunicar é através do teatro. Se algum dia eu tiver tempo e dinheiro, penso em fundar uma ONG de “Teatro para Todos” e levar o teatro para as escolas públicas. Trabalhei muito com educação quando fiz parte de um movimento juvenil judaico socialista. Eu era monitora de várias crianças e através desse movimento fui morar um ano em Israel. Acho que a gente teria indivíduos melhores se houvesse um investimento mais abrangente e incisivo na educação e na arte.
SNJ: Quem são as suas referências na dramaturgia?
Priscila: No Brasil gosto muito da Debora Bloch, da Fernanda Torres, da Drica Moraes. Temos ótimas referências.
SNJ: Em qualquer profissão, sempre existe os que estão lá para elogiar e os que estão para criticar. Na arte, pelo trabalho ser mais visível, é natural que tenha muita gente opinando. Como você lida com isso?
Priscila: Cara, tem críticas e críticas. Quando a crítica é construtiva é super válida. Eu gosto de escutar crítica construtiva. Particularmente, nunca tive nenhuma experiência traumatizante com nenhuma crítica recebida até hoje. E olha que já tive peça criticada pela Barbara Heliodora que foi uma crítica super exigente.
SNJ: E a autocrítica? Você consegue se assistir enquanto grava?
Priscila: Assisto. Ainda mais obra aberta porque eu tenho que ver o que funciona. Eu sou muito autocrítica, muito exigente comigo. Realmente procuro fazer o meu melhor, entro de cabeça nos personagens que faço. Cinema não dá pra fazer isso, mas televisão dá. Já no teatro, a comunicação com o público é imediata.
SNJ: Pra você, qual foi a maior dificuldade de encenar um texto de Shakespeare no teatro?
Priscila: Eu fiz duas peças de Shakespeare. “Como A Gente Gosta” e fiz “Tempestade” Pra mim a maior dificuldade foi que a Rosalinda tinha uma ironia constante e muitas transições. Era uma comédia Shakespeariana cheia de artimanhas. E tinha muito texto também.
SNJ: A peça tratava de uma montagem “contemporânea” do texto de Shakespeare. Como você enxerga essas modernizações dos clássicos?
Priscila: Acho válido desde que a essência da dramaturgia seja respeitada.
SNJ: Existe algum outro personagem de Shakespeare que sonha interpretar?
Priscila: Ah, vários. Eu quero fazer Shakespeare a vida inteira! rsrs
SNJ: Por que começou a produzir?
Priscila: Para poder atuar. Eu não tenho pretensão de ser uma grande produtora, mas tenho o desejo de atuar e não acho saudável você ficar parada só esperando o telefone tocar. Eu não gosto de ficar esperando que as coisas aconteçam e venham até mim. Por isso, eu produzo.
SNJ: O que você tem a dizer sobre a Lei Rouanet?
Priscila: Sou totalmente a favor. A Lei é um investimento na cultura brasileira, um investimento na educação, investimento em artistas. É equivocado e de certa forma até ignorante por parte das pessoas que criticam a lei porque é só se aprofundar para perceber que que trata-se de uma lei de incentivo a cultura e não pega dinheiro de ninguém. Não é um dinheiro físico, é um dinheiro que vem da sociedade e retorna para a sociedade. A quantidade de empregos gerados através da Lei Rouanet é enorme e as pessoas precisam de emprego.
SNJ: A amiga da sua personagem em Justiça teve a vida exposta na internet através de um vídeo gravado sem autorização. Como você enxerga a era digital?
Priscila: O Pierre Lévy tem um texto que diz que a tecnologia virou a extensão do mundo moderno. Eu acho que não adianta lutar contra e todo veículo depende de sabermos utiliza-lo. Eu tenho instagram, tenho twitter, tenho Face e pesquiso muito através das minhas redes sociais. Mas sou reservada com minha vida pessoal porque acho que não tenho motivo para expor coisas que são minhas. Gosto de utilizar as redes sociais para divulgar trabalhos e me colocar. A tecnologia serve para muita coisa, inclusive estreitar relações. Eu vejo as redes sociais como uma possibilidade a mais. e não como substituta.
SNJ: É verdade que você foi fazer laboratório em Recife por conta própria pra fazer Justiça?
Priscila: Fui, sim. Porque quando começaram a fazer o laboratório de “Justiça” eu ainda estava gravando “Totalmente Demais”. Mas quando vi que a minha personagem era do Recife, pensei logo em ir pra lá. Acabei as gravações da novela e na semana seguinte fui passar uma semana lá. E foi fundamental porque la é outro tempo, outro clima, o sotaque é bem diferente, é lindo. Minha personagem era estudante de jornalismo e eu fui na Faculdade Federal de Recife, conversei com a coordenadora do curso e peguei uma lista de lugares que os alunos costumavam frequentar. Fiz umas amigas em Olinda e sempre ficava com o celular ligado, gravando as nossas conversas. Eu ficava falando com o sotaque e elas iam me corrigindo porque eu sou “mega carioca” rsrs.
SNJ: Para viver a Sara, você pintou o cabelo de loiro e colocou mega hair. Como lida com essas mudanças no visual que a profissão exige?
Priscila: Eu sou desapegada. Porque não estou fazendo a Priscila na cena, estou fazendo a personagem. E a personagem tem seu próprio cabelo, seu próprio jeito, seu temperamento, seu ritmo, suas roupas, seus acessórios. Eu acho que faz parte. Se vai acrescentar, se está contando uma boa história, realmente não me importo de mudar.
SNJ: A trama da Sofia/ Nina foi muito julgada antes mesmo de entrar no ar (pois as pessoas não entendiam como a personagem iria voltar). Como lidar com isso? Esperava tanto sucesso da personagem?
Priscila: As pessoas criticaram muito que a Sofia iria voltar viva porque elas compraram a dor dos pais que sofriam muito com a falta da filha que havia morrido e acharam um absurdo ela fazer aquilo com a família. Mas quando as cenas foram ao ar,, perceberam que a volta da Sofia trouxe ingredientes para a trama que até então não estavam tão presentes. E o texto foi maravilhoso, fez todo o sentido. Realmente a volta da Sofia foi muito julgada, mas depois que as pessoas viram tudo acontecendo, compraram a ideia. A cena da morte da Sofia foi a cena de maior audiência da novela.
SNJ: Esperava que a personagem fosse voltar?
Priscila: Não esperava mesmo. Inclusive eu nem sabia que isso ia acontecer, eu soube dez dias antes que a personagem iria voltar. Aí eu fui ler as cenas e pensei “Caramba” é outro personagem!” rsrs. Mas eu não esperava mesmo, inclusive, quando fiz o teste da novela falaram que a Sofia apareceria somente através de flashback. No meio da novela chegou a informação que ela iria voltar e eu já gravaria na semana seguinte.
SNJ: No filme “O Pequeno Dicionário Amoroso” você interpretou a Ju, que beijou a personagem da atriz Fernanda Vasconcellos. Você acredita que abordar cada vez mais temas como homossexualismo no cinema, no teatro e na TV, ajuda a chamar a atenção do público contra o preconceito?
Priscila: Com certeza! Eu acho que a arte tem a função de educar, de entreter, de informar.
SNJ: Como foi a experiência de morar em Israel?
Priscila: Ah! foi o melhor ano da minha vida até hoje! rsrs E fiquei seis meses em uma cidade igualitária trabalhando como jardineira e aprendendo hebraico. Inclusive foi lá que eu escrevi minha primeira peça inteira em hebraico. Depois morei dois meses em uma comuna que é um tipo de socialismo urbano. Em seguida morei em Jerusalém em um campos de universidade. Estudei educação, história do oriente médio, história do holocausto e muitas matérias interessantes. Foi um ano muito especial.
SNJ: Como é a sua relação com o judaísmo?
Priscila: É forte, minha essência é bem judaica. Eu rezo em hebraico. Inclusive antes de entrar no palco. Rezo muito agradecendo, nunca pedindo nada. E minha família vem de um judaísmo muito tradicionalista. A gente faz as festas, os ritos. Eu estou sempre questionando as coisas, sempre buscando conhecimento. E sinto que essa busca constante está muito presente no judaísmo.
SNJ: Quais são os seus planos profissionais para o segundo semestre de 2018?
Priscila: Eu estou desenvolvendo alguns projetos como autora na Globo e como atriz, gravei um episódio da série “Sob Pressão”. Minha personagem chama Luiza e é filha do personagem interpretado pelo Xando Graça. A gente faz parte de uma das histórias contadas e foi um prazer gravar. Eu li o livro e me interessei muito, acho que a causa é muito nobre.
SNJ: A série aborda o dia a dia de um hospital público no subúrbio do Rio de Janeiro. Infelizmente a saúde pública, assim como a educação, segurança e muitos outros setores, estão cada dia piores no nosso país. Você acredita que “Sob Pressão” pode ajudar de alguma forma a modificar essa realidade e trazer mudanças necessárias?
Priscila: Acho que os médicos de hospitais públicos não deveriam, mas por conta de toda essa situação caótica da saúde, são considerados heróis. Espero que “Sob Pressão” venha como uma possibilidade de questionamentos, pensamentos e até novas ideias de políticas públicas para revitalizar, reestruturar, reorganizar e tornar a saúde eficiente ao invés de deficiente.
SNJ: Uma frase
Priscila: O Sheakspeare diz uma coisa que eu gosto muito: “Estar pronto é tudo”
SNJ: Um lugar
Priscila: Machu Pichu. Ainda nem fui, mas quero ir
SNJ: Uma música
Priscila: “Como Nossos Pais” da Elis
SNJ: Um sonho
Priscila: Ter um espaço cultural
SNJ: Uma mania
Priscila: Mexer na unha
SNJ:Como agora rsrs
Priscila: Viu que eu disse? rsrs
SNJ: Priscila Steinman por Priscila Steinman
Priscila: Uma pessoa muito espontânea.
Galeria
SNJ: Obrigada, Pri! Adorei!
Priscila: Eu também, Lu! Que bom que deu certo!
2 Comments
Lucia Lima
30 de julho de 2018 at 17:00Uma atriz muito determinada e com muitos focos no âmbito social. Sua performance nos incentiva a conhecer melhor o seu trabalho artístico, dentro das perspectivas de possíveis mudanças no comportamento da sociedade.
Dalia Leal
3 de setembro de 2018 at 13:00Priscilla Steinman, atriz linda, politizada, competente! e excelente entrevista de Luciana Leal! 👏👏❤☀️🌜🌟