Gabriella Vergani

Gabriella Vergani

Ela sempre foi fascinada por interpretação e considera a atuação um estímulo de vida e de felicidade. Confira nosso bate papo com a atriz Gabriella Vergani  sobre sua carreira, cinema independente e paixão pela profissão.

SNJ: Gabi, você sempre quis ser atriz ou em algum momento teve outros planos?

Gabriella: Minha mãe me diz que já nasci atuando. Quando eu era criança, fazia drama e contava mentiras tão verdadeiramente que até eu mesma me confundia com as minhas próprias histórias; não me lembrava se eram reais ou imaginárias (até hoje me confundo [risos]). Não me vejo completamente feliz sem uma personagem à vista. Me sinto uma viciada em personagens. Atuar é um estímulo de vida e de felicidade.

SNJ: Quem são as suas referências na dramaturgia?

Gabriella: O teatro foi bem importante para mim, pois estudá-lo me deu repertório. Mas hoje, as minhas principais referências estão no cinema. Gosto do conjunto da obra destes ícones: Charlie Chaplin, Ingmar Bergman e David Lynch. Já como atriz, minhas maiores inspirações são Liv Ullmann e Helena Ignêz. Aliás, há alguns dias, quando Cacaya foi exibido, Hernani Heffner, ex presidente da ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual) me comparou com ela. Quando ele disse que eu era “a Helena Ignêz da nova geração”, quase tive um treco no palco! Não sabia nem o que falar. É uma honra ser comparada a ela por quem entende tanto de cinema.

SNJ: Você protagoniza dois longas esse ano. Conte-nos um pouco sobre os projetos e as personagens que interpreta em cada um.

Gabriella:  Cacaya e Tais & Taiane falam sobre relações. Sobre relacionar-se afetivamente. Em Cacaya, assistimos ao final de um relacionamento tóxico, no qual é preciso alcançar o inóspito para conseguir seguir em frente. O filme se passa em Nova York, num ambiente ocultamente hostil para uma imigrante que mal fala inglês. O desconforto a persegue, e é intensificado pelo fracasso de seu namoro e por uma gravidez indesejada.

Já Tais & Taiane se passa em um ambiente onde não há nada além de estrada, para ambas as personagens. Mas é exatamente a partir da estrada e da sensação de não ter ninguém, que uma amizade é construída. Tais é uma jovem cheia de vida, que sai com a mochila nas costas, atrás de seu sonho. Não foi difícil interpretá-la, já que, como fiel sagitariana, eu amo uma mochila e uma estrada.

SNJ: Como foi a experiência de gravar nos cenários paradisíacos da Chapada dos Veadeiros?

Gabriella:  A oportunidade de poder filmar exatamente onde a história se passa nos proporcionou um mergulho intenso e uma entrega ainda maior para com o filme e as personagens. Nós acordávamos praticamente de madrugada e passávamos o dia na estrada. De dia, o sol quente, e de noite, frio. Foram dois meses filmando intensamente. Fomos abençoados pela natureza ao redor e também castigados pelo cansaço do clima quase desértico. A Chapada tem algo místico, que pode ser explicado pela enorme plataforma de cristal que há debaixo daquela terra. O lugar é magia e filmar lá foi assim: mágico. Tanto é que, este ano, voltei lá e levei minha família para ser “batizada” pela força da natureza.

SNJ: Como você lida com os processos de metamorfose internos e externos que a profissão exige?

Gabriella:  Amo as probabilidades de Gabriella. Estar em conflitos diferentes dos meus é estimulante. Quero cortar o cabelo, pintar, engordar e emagrecer. Gosto do processo de metamorfose que cada texto me proporciona. Não acredito mais em fazer um “personagem”; sou eu sempre, vivendo em diferentes circunstâncias, e reagindo ao que cada uma delas causa em mim.

SNJ: Qual foi o maior desafio que enfrentou até hoje na sua profissão?

Gabriella:  Eu nunca havia feito um longa até então. No primeiro que fiz, (Tais & Taiane – dir. Augusto Sevá), interpretei, logo de cara, a protagonista. Eu não fazia ideia da montanha russa de emoções que seria protagonizar um longa metragem. Fazer curtas era moleza, pois o número de cenas não se compara às de um longa.

Quando estávamos filmando, lidávamos com todas as dificuldades de gravar cenas externas: clima, temperatura, cansaço físico e emocional. O filme ficou lindo e a experiência foi fantástica, mas a cada dia, era uma nova superação. A equipe de filmagem passava por tudo isso conosco, e estar na frente das câmeras era mais do que fazer “uma boa cena”, era representá-los com carinho.

SNJ: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por quem decide fazer cinema independente no país?

Gabriella: A falta de visibilidade que esses projetos acabando tendo faz com que muitas obras maravilhosas e significativas não cheguem até o público. Muitas coisas necessárias são ditas por meio do cinema independente, mas elas acabam não alcançando o público, pela falta de investimento financeiro e cultural. Escutamos coisas como “o cinema brasileiro é ruim”, mas eu questiono: “Qual é o cinema brasileiro que você assiste?”.

SNJ: Quais são as principais lembranças e aprendizados que guarda do tempo que passou em Nova York?

Gabriella: Sinto que eu saí de Nova York, mas Nova York não saiu de mim. A cidade da oportunidade não tem como ser esquecida. No momento certo, quero voltar para morar lá. Nunca pensei que NY me daria tantos presentes: o inglês, a chance de estudar com Harold Guskin, de filmar Cacaya e, é claro, não posso me esquecer dos milhares de incríveis amigos imigrantes que fiz e que ainda vivem nessa cidade que não para.

SNJ: Qual é a importância de Harold Guskin para você?

Gabriella: Deixar, respirar, viver e estar. Harold fala sobre o encontro com aquilo que não se premedita; não se estuda. Em cena, só se reage. No momento em que eu estava procurando algo externo, para amadurecer enquanto atriz, Harold me mostrou o contrário: era preciso me encontrar, me conectar e me amar, apenas sendo. Ele faleceu este ano, mas em meu coração ele será sempre uma lenda do estudo da encenação. E lendas são imortais.

SNJ: Qual é a sua maior fonte de inspiração?

Gabriella: Nasci em uma família de mulheres guerreiras, fortes e Yang’s, que passaram por dificuldades e tiveram que dar um jeito de se reinventar, trabalhando e educando os filhos. Apesar das dificuldades, nunca faltaram amor e atenção para com o próximo. Esses valores me inspiram não só enquanto atriz, mas como pessoa.

SNJ: Como foi deixar São Sebastião e mudar-se para São Paulo aos 17 anos?

Gabriella: Gosto de adrenalina, então tudo que seja uma aventura me estimula. Quando terminei a escola e me vi sozinha em São Paulo, indo para escola de teatro, me sentia uma borboleta livre, leve e solta. Sentia medo, mas ao mesmo tempo, eu gostava da sensação de ter que me virar.

SNJ: O que toca na sua playlist?

Gabriella: Sou uma constante metamorfose, até com relação ao meu gosto musical [risos]. Há sempre os clássicos: bossa nova e MPB. Mas hoje, meu top list é composto por rap nacional e gringo.

SNJ: Para você, qual é a receita da felicidade?

Gabriella: Gratidão. É um dos estados mais felizes, e quando alcançamos, sentimos que não há nada que supere.

SNJ: Uma frase

Gabriella: Just be yourself.

SNJ: Um lugar

Gabriella: Os inabitáveis são os melhores.

SNJ: Uma mania

Gabriella: Comer chocolate (o mais doce possível).

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

3 Comments

  1. Avatar
    Eva Pacheco
    9 de agosto de 2018 at 14:44 Reply

    Muito bacana!

  2. Avatar
    Acácio do Sacramento
    9 de agosto de 2018 at 20:32 Reply

    Gostei da entrevista e da entrevistada. Mulher aventureira e amante da imensa e receptiva Nova York.
    Parabéns Luciana!

  3. Avatar
    Dalia Leal
    3 de setembro de 2018 at 12:49 Reply

    Gabriella Vergani, gosto de vê-la atuando! conhecendo um pouco sobre ela e percebendo quão grandiosa, falando da gratidão! perfeita entrevista de Luciana Leal!👍👏👏👏❤☀️🌜🌟

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