Zéu Britto iniciou a carreira compondo músicas na escola, de brincadeira. Cantor, compositor e ator, vive em constante movimento. Mas é o simples que o encanta. Está de volta a Salvador com “Delírios da Madrugada” todos os sábados no Teatro Jorge Amado. Confira nosso bate-papo, recheado de gargalhadas sobre o espetáculo, a carreira, o disco “Amor de Montar” e seus novos projetos.
SNJ: Zéu, conte-nos um pouco sobre o espetáculo Delírios da Madrugada. A ideia da peça veio por causa do canal?
Zéu: Foi. Quando comecei com o canal, tinha um programa que chamava “Delírios da Madrugada”e comecei a me divertir tanto com os vídeos que veio a ideia de montar o espetáculo. Chamei Caio Bucker para dirigir porque ele adorava ouvir as histórias e já estava dentro daquele contexto comigo. E o programa começou porque eu queria gravar as minhas insônias produtivas. Aí, fiz o que fazia sozinho e gravei pra ver. Depois passei a gravar e colocar no ar. Nessa brincadeira, surgiu o espetáculo. Nele, conto também histórias do passado, coisas minhas, associando com as madrugadas do passado e a internet de hoje, que tem os prós e os contras, né? É uma loucura total. E é um espetáculo que me dá muita alegria. Agora em novembro vamos fazer um mês no Teatro Café Pequeno, aqui no Rio. Já fizemos lá e foi um sucesso. Vamos voltar em novembro a pedidos. Dias 20 e 21 de outubro estaremos em Salvador. Será a nossa terceira vez lá, o povo adora.. O espetáculo é uma maravilha, eu adoro. E enquanto tiver gente querendo, estarei fazendo.
A intenção do programa é pirar a cabeça da pessoa . É fazer o povo rir ao perceber o quanto é complicado definir as coisas (risos).
SNJ: Mas agora você tem um outro programa na internet. Não é mais “Delírios da Madrugada”. Agora é “Delírios de Zéu”.
Zéu: Isso! É um programa novo, do youtube. Ele é diferente do “Delírios da Madrugada” porque não acontece somente durante as insônias, acontece na vida: de dia, de casa, na rua, resolvendo coisas…é sempre tentando explicar às pessoas como fazer tal coisa. É uma espécie de almanaque. Na verdade eu não explico,né? porque como diz Tom Zé, “para que explicar se a gente pode complicar? ” (risos). Então, a intenção do programa é pirar a cabeça da pessoa . É fazer o povo rir ao perceber o quanto é complicado definir as coisas (risos).
SNJ: Como surgem os temas?
Zéu: Os temas dos programas surgem espontaneamente. Eu já tinha uma lista de temas que queria abordar. Eu já queria falar de feijoada, porque é o meu prato predileto, queria falar de problemas do clima, da falta de paciência do povo. Então, fiz uma lista para começar os trabalhos e depois os temas começaram a surgir naturalmente. Tem também as sugestões das pessoas. E a gente vai tentando explicar o inexplicável (risos). O programa vai ao ar todas terças e quintas.
SNJ: Por que montou a Brittolândia? A lojinha é muito fofa!
Zéu: É muito bonitinha,né? bem feita! Foi por causa do trabalho “Amor de Montar”, que foi o primeiro trabalho da minha editora. Quando lancei o disco, não tinha selo nem distribuidora oficial. Então pensei em uma forma de distribuir com praticidade e a lojinha virtual foi a solução. Tem apenas um funcionário que cuida, é maravilhosa. Ela foi inventada pra isso, pra centralizar tudo relacionado a esse disco. Tem camisetas, canecas… como minha vida é muito corrida, eu não teria tempo para vender esses mimos.
SNJ: Você continua morando em São Paulo?
Zéu: Continuo, sim. Fui pra lá justamente fazer o disco “Amor de Montar” em 2016 e descobri que São Paulo é uma cidade fértil. Tenho muitos amigos em Sampa e fico animadíssimo lá. Mas venho para o Rio quase toda semana e gosto muito daqui.
SNJ: Como é a sua relação com a Bahia?
Zéu: Ah.. eu amo… a Bahia está presente em tudo da minha vida. A arte desse disco, inclusive, foi feita por Davi Caramelo que é um super parceiro!
SNJ: Eu sou baiana também, sabia?
Zéu: Claro que eu sei! (gargalhada)
SNJ: Como é a sua relação com as redes sociais?
Zéu: De uns anos pra cá, experimentei intensamente tudo que está acontecendo no mundo, toda a facilidade que a internet proporciona. Mas não era muito de postar e meu irmão sempre reclamava disso, dizendo que eu era um artista que não abria minha vida. Eu não quero postar toda hora, postar coisas como meu look, por exemplo. Eu não tenho nem look, eu saio nu (gargalhada). Mas eu não postava porque queria falar de coisas que realmente são interessantes pra mim, sabe? coisas do mundo da arte. Aí, comecei a postar mais. Mas posto coisas procedentes, por exemplo “dia tal vou estrear no Rio”, aí eu posto uma foto segurando o cartaz (risos). É bom utilizar esses artifícios da internet pra poder divulgar.
SNJ: Você é poeta, ator e músico. Como tudo começou?
Zéu: Meu prazer era tocar piano. Minha mãe era professora de piano e eu adorava ficar ali quietinho, tocando escondido. Aí meu irmão me deu um violão e tudo começou espontaneamente.
SNJ: Quando você começou a compor? Qual foi a sua primeira música?
Zéu: Foi com 12, 13 anos. Começou com raspadinha. Eu vi a Playboy de Claudia Ohana e isso me inspirou tanto que veio o verso inteiro dessa música. Eu cantava no pátio do Sartre (colégio que estudei em Salvador) e virou fenômeno. Aí na sala de aula eu cantava para ganhar nota, para ganhar décimos. E foi por isso que comecei a compor, por necessidade pra passar de ano (gargalhada) . E o Sartre era uma escola muito difícil. Depois disso fui criando gosto, só andava com o violão embaixo do braço. Antes de vir para o Rio, já tinha feito Raspadinha, Buraco Fundo, Caboclo Amador… repare o nome das músicas! (risos). E isso virou uma coisa muito boa pra mim porque eu era muito tímido, muito distraído e a música ajudou no meu relacionamento com todos. Me tornei um aluno melhor e virei até líder de sala depois disso.
SNJ: Uma das suas músicas mais polêmicas é justamente “Raspadinha”. Como foi a repercussão? Claudia Ohana ficou chateada?
Zéu: Não ficou chateada, mas também não adorou (risos). Ela foi assistir ao meu show em Ipanema há muitos anos atrás.
SNJ: Mas ela já sabia quando foi assistir?
Zéu: Já, sim. Contaram a ela e ela foi assistir. Ficou um pouco envergonhada, perguntou porque eu falei disso. Eu respondi que fiz a música porque aquilo marcou minha infância e ela riu.. virou aquela pessoa amiga, querida. Ela gosta. Não liga, não.
SNJ: Que bom, né?
Zéu: Que bom! Porque a gente faz pra exaltar e não para entristecer a pessoa. E Claudia é uma querida.
SNJ: E como nasceu esse disco?
Zéu: Esse disco veio para celebrar o final de uma relação de muitos anos, uma história de vida. Eu queria fazer uma coisa voltada para o humor e não para a tragédia. Quando acabou o relacionamento, fui para São Paulo e meu cachorrinho foi meu grande companheiro lá. Ele não tem essa consciência, mas ficou ao meu lado o tempo todo e por isso, está na capa.Tudo tem uma razão de ser. O disco não é pra chorar mas também não tem aquele humor de “Soraia Queimada”, de “Raspadinha”. É uma coisa elaborada, tem uma pegada diferente.
SNJ: Como o Destino de Miguel chegou em sua vida? (risos)
Zéu: Oh povo ruim! Você acredita que tiraram da internet? O vídeo já estava com mais de 4 milhões de acessos. Eu nunca tinha falado sobre o destino de Miguel, falei quando fui para o Jô e dois dias depois tiraram do ar…
SNJ: Uma pena porque marcou uma época. Vários grupos de amigos se reuniam para assistir…
Zéu: Assistiam mais de dez vezes e não cansavam. Eu vou contar…tudo começou na casa de André Moraes, meu grande parceiro, diretor musical, premiadíssimo. Quando cheguei no Rio, morei um tempo na casa dele, a gente dividia apartamento. Somos muito amigos, somos como irmãos. Como ele entende tudo de som, a gente “brincava” de coisas profissionais. Um dia ele ficou até de madrugada no computador e no dia seguinte disse “ Zéu, eu fiz uma compilação de imagens de Shakespeare Apaixonado. Aí eu disse, daquele filme ruim, André? E ele disse: “Você vai ver, vai ficar muito bom!” E ficou mesmo! Teve até Luiz Caldas envolvido. “Eu queria ser uma abelha…” (risos). Foi uma grande brincadeira com André Moraes. Eu gravei todas as falas de Miguel. Em seguida gravou Lázaro Ramos, Wagner…tudo em tom de brincadeira. Sidney Magal também gravou uma fala no final. Aí um dia, Caetano, estava de bobeira, e pôde gravar também. Sorte nossa. Chamamos o máximo de artistas possíveis e fizemos o “Destino de Miguel”. Hoje ainda se acha alguns pedaços, mas não tem mais completo. A dublagem ficou bem feita, o áudio também. Parece que você está ouvindo no cinema, é muito bem feito. Aquilo facilitou muito minha vida pra comer gente (gargalhada).
SNJ: “Soraya Queimada” também fez muito sucesso. A história da música foi criada para o filme?
Zéu: Não, já tinha. Um dia, Caetano foi assistir ao meu show aqui no Rio e no final sugeriu que colocássemos a música no filme porque ele estava ajudando na seleção musical. Aí mudaram o nome da personagem que seria Fátima para Soraya. O filme fez um sucesso indescritível no Brasil todo e foi muito bom pra mim. Achei aquilo surpreendente.
O papel do humorista deveria ser juntar o máximo de coisas inteligentes e criativas possíveis para melhorar o mundo.
SNJ: Muito se tem falado sobre o papel social do humorista. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
Zéu: Eu acho que tem uma razão de ser. Não vou citar nomes mas tem um humorista que fez um stand up falando mal de idosos. Aí eu penso, gente, isso não edifica o mundo, não melhora em nada, muito pelo contrário. Tem gente que tem o prazer de denegrir e pior, tem público para isso. É isso que me deixa chocado. Desde que eu comecei a fazer humor, nunca falei nada que pudesse denegrir alguém. Eu acho que o certo é enaltecer e não derrubar. Pode até ter uma brincadeirinha leve, gostosa, desde que não arranhe. O papel do humorista deveria ser juntar o máximo de coisas inteligentes e criativas possíveis para melhorar o mundo.
SNJ: Você acredita que uma determinada piada acerca de uma minoria, pode ajudar a aumentar ou diminuir o preconceito?
Zéu: Claro! O humor é o canal mais fácil para se transmitir uma mensagem. Esse idiota que fala dos idosos, por exemplo, tem milhões de seguidores. Por outro lado, tem tanta gente que fala coisas edificantes e não consegue visibilidade. Isso é muito triste. Por isso que trabalhar com humor é tão perigoso. Eu penso muito no que vou falar. Mas infelizmente, o mundo tem uma tendência a negatividade, a esculhambar as minorias. Muito triste essa realidade. Tem um outro humorista que tem prazer de falar de homossexuais de forma pejorativa. O preconceito, infelizmente, já é tão grande e ainda chega um humorista para derrubar a pessoa e incentivar a discriminação. Agora me diga, qual é a necessidade disso? Nenhuma!!!
SNJ: O que você costuma fazer em momentos de folga? É verdade que você gosta de cozinhar?
Zéu: Amo! Mas eu sou lerdo! Preciso do dia inteiro para cozinhar, mas faço uma feijoada maravilhosa. Adoro cozinhar para os amigos.
SNJ: Então me convide pra almoçar na sua casa que eu vou! ( risos).
Zéu: Oxente menina, claro que já está convidada!!! (gargalhada)
SNJ: Você prefere a vida vivida ou a vida pensada?
Zéu: Vivida! Real! Cada palavra do que eu falo é vivida, eu não falo de nada que eu não sei.
SNJ: Eu não consigo te imaginar verdadeiramente de mau humor. Tem alguma coisa que o deixa mau humorado?
Zéu: Algumas. Por exemplo, uma condução que me menospreze ou menospreze quem está perto de mim. Se eu sentir a linha de raciocínio indo pra esse lado, fico muito mau humorado. Outra coisa que me deixa de mau humor é não ser ouvido.
SNJ: Você gosta de futebol?
Zéu: Não gosto, mas também não odeio (risos).
SNJ: E torce para algum time?
Zéu: Aqui eu sou Fluminense e na Bahia sou Vitória por causa de meu pai.
SNJ: O que é super contraditório…
Zéu: Pois é! (gargalhando). Sou tricolor aqui e rubro negro lá
SNJ: Eu acho que você deveria ser tricolor lá também (risos)
Zéu: Eu sabia que você ia falar isso (gargalhando) mas eu gosto do Bahia também. Viu como eu sou descarado? No fundo eu torço para os dois, sou Ba xVi. Só digo que sou Vitória por causa de meu pai.
SNJ: Uma frase
Zéu: Relaxe. O mundo já acabou, isso aqui é o bagaço.
SNJ: (gargalhada)
Zéu :(gargalhada) Eu falo isso há anos! Adoro essa frase! Isso aqui é o bagaço porque o mundo puro não existe mais. Use da melhor forma os artifícios para poder viver.
SNJ: Um lugar
Zéu: É muito difícil falar porque são muitos lugares que tocam na memória e me emocionam. Jequié me emociona, Salvador me emociona, Ilha de Itaparica me emociona. São Paulo também me emociona muito, meu coração bate mais forte quando chego na Paulista. A gente vai sempre mudando, mas acho que meu lugar hoje é São Paulo.
SNJ: Uma mania
Zéu: Sem dúvidas, me antecipar demais para as coisas. Puxei isso da minha família. Minha mãe é antecipada, tudo nosso é feito antes. Eu não consigo fazer uma compra normal de mercado, eu só faço de mês. Porque não suporto a ideia que alguma coisa pode faltar e eu vou ter que sair para comprar de última hora. Se vou viajar, dias antes já estou com tudo pronto. E cada dia que passa fico ainda mais antecipado.
SNJ: Um sonho
Zéu: São tantos, são muitos. Mas um sonho grande é uma sociedade sem minorias ou maiorias. Eu sei que é careta e que todo mundo diz isso. Mas eu sonho muito com isso,sim!
SNJ: Conte-nos sobre seus novos projetos
Zéu: Ah! 2018 está um ano maravilhoso, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Tô preparando um espetáculo com Virgínia Cavendish, minha grande amiga. Ela dirige o espetáculo, eu declamo poetas nordestinos e canto clássicos como Geraldo Azevedo, Belchior, Zé Ramalho. Só gênios. Declamo poemas de João Cabral de Melo Neto, de Manoel Bandeira…tanta gente maravilhosa! Esse projeto é lindo!! Tem também um texto que está sendo escrito para mim, tem a estreia de um longa maravilhoso que acabei de rodar chamado “ Compro likes”. A história é super legal e fala sobre a internet. 30 de setembro estreei no Rio um show de Julieta Di Serra. É um show diferente e que pode virar disco. Tem ainda minha participação no “Vai que Cola” que foi muito legal, muito engraçada. E tem alguns outros projetos, mas ainda não posso falar.
SNJ: Zéu Britto por Zéu Britto
Zéu: Um interiorano, de Jequié, de vida muito simples. Quanto mais simples, mais me emociona. Eu me emociono, de chorar, com coisas simples. Se for muito pomposo, me angustia. Tenho gosto simples, amigos simples.
SNJ: Para completar, você já conseguiu descobrir o que é Açaí Guardiã? Rsrs
Zéu: (gargalhadas). Não! E você?
SNJ: Também não!
Zéu: Eu sei o que é Acaí e o que é guardiã. Mas açai guardiã não tenho a menor ideia! Acho que nem Djavan sabe! (Gargalhadas). Não, brincadeira! Djavan é um gênio e com certeza sabe! Isso encaixou direitinho na peça (referindo-se a peça “Não vamos Pagar” ), mas fui eu que coloquei, não tinha no texto.
SNJ: Quando eu assisti, comentei logo que aquilo era arte sua! rsrsr. A peça aguçou minha curiosidade! Quando eu tiver oportunidade de entrevistar Djavan, essa será minha primeira pergunta!
Zéu: Aí você me conta,viu? Não esqueça não.
SNJ: Claro que conto! rsrs Obrigada, Zeu ! Amei!!!
Zéu: Eu também, Lu adorei!!! Vamos fazer logo a próxima entrevista em breve! rsrsrs Você está morando aqui no Rio agora,né?
SNJ: Eu não. Tô lá e cá.
Zéu: Menina, eu jurava que você já estava aqui direto! Só encontro você aqui. Nunca te vejo em Salvador! (risos). Amei nossa entrevista e nossas gargalhadas. Quero mais (risos)
SNJ: Eu também. E logo!
3 Comments
Dalia Leal
18 de outubro de 2018 at 14:32Excelente a entrevista c Zéu Britto!!!
Estou encantada c suas colocações: ” O papel do humorista deveria ser juntar o máximo de coisas inteligentes e criativas possíveis para melhorar o mundo”, q bom se todos pensassem assim!
Luciana Leal parabéns pela entrevista! 👏👏👏💋❤
Marcela Teles
5 de dezembro de 2018 at 12:23Amo Zéu Brito!! Hilário!!!!
Pedro Aguiar
5 de dezembro de 2018 at 12:24Adorei a matéria da baiana arretado com o baiano arretado! hehehe Vida longa!