Última semana: Casa Vazia encerra temporada no Teatro Augusta falando sobre o amor entre duas mulheres

Última semana: Casa Vazia encerra temporada no Teatro Augusta falando sobre o amor entre duas mulheres

Foto: Ronaldo Gutierrez

Peça busca inspirações em filmes e em Bauman para contar a história de um relacionamento entre duas mulheres. A montagem marca a estreia de Carolina Barres na direção e dramaturgia teatral
Como um amor pode sobreviver ao tempo e à rotina? O que acontece entre quatro paredes? Será que as pessoas são realmente felizes como elas demonstram ser? Essas perguntas que aparecem na cabeça de muitas pessoas acabam por nortear a criação do espetáculo CASA VAZIA, que parte para nova temporada no Teatro Augusta no próximo dia 2 de novembro, sexta, às 21 horas.
Carolina Barres escreveu o texto em 2016 e se inspirou no livro Amor Líquido, de Zygmunt Bauman, e também em duas trilogias do cinema – Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite, de Richard Linklater, e na Trilogia da Incomunicabilidade (composta pelos filmes A Aventura, A Noite e O Eclipse), de Michelangelo Antonioni – para escrever o texto. “Queria fazer um texto de amor que mostrasse fases de uma relação e falasse sobre coisas que nem sempre são tratadas quando o assunto é um relacionamento a dois, como qual o limite entre um casal e o indivíduo”, explica a diretora e dramaturga.
Carolina ainda completa que a história das personagens também traz um pouco de um antigo relacionamento seu. “Quando terminamos, depois de um período conflituoso, ela me disse que preferia que nós nunca tivéssemos nos conhecido. Aquilo foi muito forte para mim e fiquei me perguntando até que limite um casal pode ir em nome de um relacionamento. Até que ponto abandonamos o que somos (como casal ou pessoa) a ponto de querer esquecer o que aconteceu um dia?”, questiona.
Carolina e as atrizes Angelina Trevisan e Samya Peruchi se conheceram quando a dupla foi convidada para fazer a primeira leitura do texto, a convite de Alexandra da Matta, que assina a co-direção e preparação de elenco da CASA VAZIA. A sintonia foi tão grande que o quarteto resolveu que iria levar o projeto para frente e montar a peça. Ensaiaram durante todo 2017 enquanto tentavam conseguir uma pauta ou serem selecionadas em algum edital para estrear a montagem. Agora, em 2018, com a ajuda de uma campanha de financiamento coletivo, estreiam o espetáculo.
Um amor universal
CASA VAZIA conta a história de Ana e Veri, duas mulheres que se amaram, brigaram e se amaram de novo no período de dez anos. A peça se passa em uma casa cheia de memórias e, diante do público, o casal vai relembrando seu passado, falando sobre o seu presente e também compartilhando reflexões, fazendo com que a narração tenha três planos distintos.
“Apesar de falar sobre um casal homoafetivo, essa é uma história que poderia se passar com qualquer um. CASA VAZIA não é uma peça que tem como intuito levantar uma bandeira; o objetivo principal é falar sobre relações humanas, mas sabemos que por se tratar de um casal de mulheres, acabamos trazendo à tona também temas pertinentes, como, por exemplo, tirar as lésbicas de uma local de fetiche do imaginário das pessoas”, explica Alexandra da Matta.
Carolina Barres diz que a bandeira LGBTQ levantada ficou ainda mais forte durante a primeira temporada do espetáculo, no Teatro Alfredo Mesquita. “Após as apresentações, a gente sempre tinha uma conversa com o público. Falar sobre homossexualidade num cenário de avanço de conservadorismo na política foi algo muito forte para nós. Esse não era o nosso intuito principal no primeiro momento, mas vimos que a peça é um alento e de extrema importância para uma parcela enorme da população”, afirma.
Para a encenação, Carolina apostou no naturalismo, deixando que o texto guiasse Angelina e Samya em cena. “Toda a parte de cenário, luz e trilha sonora tem um papel muito simbólico na peça. Eles ajudam a contar a história com as atrizes e a fazer com o que o público se localize entre os três tempos/ planos da peça. Porém, elas também me ajudam a potencializar o caos que o texto apresenta e a mostrar que, na vida, muitas vezes, as pessoas só enxergam o superficial. Por fora, mostramos o belo, mas dentro de nós existe uma bagunça enorme e uma série de problemas que nem todos vêem. Quem vai projetar todos esse caos escondido em cena serão as atrizes. Elas irão mostrar essa realidade que nem sempre vemos”, conta Carolina.

 

SERVIÇO
CASA VAZIA – Reestreia dia 2 de novembro, sexta-feira, no Teatro Augusta (Sala Paulo Goulart). Dramaturgia e direção – Carolina Barres. Co-direção e preparação de elenco – Alexandra da Matta. Elenco – Angelina Trevisan e Samya Peruchi. Iluminação – Igor Sane. Cenário – Massa3d e Carolina Barres. Figurino – Felipe Samorano. Trilha sonora original – Hayeska Somerlatte. Produção – Samya Peruchi e Clube do Mecenas. Realização – Nossa Companhia Temporada – até 30 de novembro, sextas, às 21 horas. Duração – 55 minutos. Recomendados para maiores de 14 anos. Ingressos – R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia-entrada)
Teatro Augusta – R. Augusta, 943. Telefone – (11) 3231-2042. Capacidade – 302 pessoas.
Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

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