Patricya Travassos

Patricya Travassos

Patricya Travassos começou a fazer teatro na década de 70, mas iniciou a carreira na televisão como autora escrevendo a série Armação Ilimitada, grande sucesso dos anos 80. Como atriz, fez inúmeros papéis marcantes, incluindo a  Mary Matoso de “Vamp”  e a recente a Edméia/ Grace na novela “Espelho da Vida”, ambas da Rede Globo.  Está em cartaz no Rio de Janeiro com o espetáculo Aérea, com texto autoral que explora o universo das aeromoças com humor. Atriz, apresentadora, escritora, roteirista, produtora e compositora, é a versatilidade em pessoa.

SNJ: Pat, quando a dramaturgia entrou em sua vida?

Patricya: Eu comecei a fazer teatro desde pequena, fazia aulas no Tablado, aulas particulares de teatro. Mas eu comecei profissionalmente no Asdrúbal Trouxe o Trombone, na década de 70.

SNJ: Você está em cartaz no teatro com “Aérea”, no Teatro dos Quatro. Quais são as questões levantadas no texto?

Patricya: Aérea se passa supostamente dentro de um avião e fala de uma comissária de bordo apaixonada por um comandante da mesma companhia. Fala basicamente de uma enorme paixão, de uma pessoa obcecada por outra e que precisa de tratamento. Na verdade ela deveria estar participando dos grupos de apoio às pessoas que amam demais. Mas é uma comédia e tudo isso é tratado de uma forma um pouco exagerada. É uma comédia de situação, uma comédia romântica, eu diria.

SNJ: Como surgiu a ideia do texto?

Patricya: Há alguns anos passei por uma cirurgia e tive que ficar em casa me recuperando. Aproveitei para desenvolver a história e fluiu naturalmente.

SNJ: Qual é a maior dificuldade de fazer um monólogo?

Patricya: A maior  dificuldade de fazer um monólogo é você estar sozinha em cena pois você tem que ter um grau de concentração muito grande pra não se perder. Mas ao mesmo tempo é a maior delícia você estar sozinha em cena. São as duas coisas, a melhor e a pior. Eu tô adorando fazer, mas eu adoro trabalhar em grupo também. Quando eu comecei  a escrever esse espetáculo nem pensei que ia ser um monólogo, mas foi virando um porque não precisava da outra pessoa, entendeu? Não foi nada premeditado, simplesmente aconteceu e está sendo maravilhoso.

O humor é um ponto de vista, é uma maneira de a gente ver o mundo. É muito pessoal, várias pessoas fazem humor e cada pessoa faz de uma forma diferente

SNJ: Existe uma receita para o humor?

Patricya: Sinceramente, não sei. Acho que o humor é um ponto de vista, é uma maneira de a gente ver o mundo. É muito pessoal, várias pessoas fazem humor e cada pessoa faz de uma forma diferente. Tem gente que ri da própria desgraça, que acha engraçado determinadas coisas e outras simplesmente não acham. Eu comecei em um grupo que tratava de problemas existenciais com humor e eu sempre fui assim, sempre gostei muito de divertir as pessoas. Mas sei que o humor é muito particular.

SNJ: Você escreveu programas super importantes na história do humor, a exemplo da “TV Pirata”. Quais cuidados precisam ser tomados hoje ao escrever um texto de comédia?

Patricya: Os cuidados hoje para escrever um texto de humor é não ferir gêneros, raças, religiões nem a orientação sexual de cada um. Como está todo mundo reivindicando tanta coisa e lutando pelos próprios direitos, temos mesmo que tomar mais cuidado  para não machucar ninguém. Estamos em um momento de transição. Mas isso não é um grande problema, é só ter respeito. E já que estamos vivendo um momento político um tanto polarizado é melhor não se meter em briga de cachorro grande (risos).

SNJ: Você escreveu Armação Ilimitada que fez um sucesso incrível na década de 80…

Patricya: Foi! eu entrei na televisão como autora e não como atriz. Entrei convidada pelo Daniel Filho para escrever Armação Ilimitada, que ainda era um projeto. Eu fiz parte do grupo de criação e depois fiquei quatro anos escrevendo a série.

SNJ: De onde busca inspiração para os seus textos?

Patricya: Eu não sei bem como surgem as ideias quando estou escrevendo. Muitas vezes elas partem de uma coisa real e vão se transformando. Às vezes a inspiração chega através de uma história que alguém conta, de uma cena que vejo. Ela chega de muitas formas.  

SNJ: Seu papel mais recente na TV foi em “Espelho da Vida”, que abordava temas ligados ao espiritismo, como a reencarnação. Sua personagem, deixou a família e viajou em busca de autoconhecimento. Esses temas a interessam?

Patricya: Eu não pratico o espiritismo, mas tenho simpatia pela filosofia de vidas passadas. Acho uma teoria plausível, em que a gente está numa roda de vidas com créditos e débitos a resolver. Por outro lado, sempre fui ligada ao autoconhecimento. Acredito que a partir do momento em que você se conhece melhor, a chance de sua vida entrar nos trilhos é maior.

Cada novela é uma história, às vezes funciona e outras não. E a gente nunca sabe quando vai funcionar, é uma caixinha de surpresas. Pode ter um super elenco, um super autor, pode ter um super tema e não dar certo. E pode ter um tema bobo, um elenco normal, nenhuma grande estrela e dar certo. Tudo é muito relativo. Mas eu acho que as novelas se sofisticaram muito comparando-as a alguns  folhetins de 20 anos atrás, por exemplo.

SNJ: Não há como conversar com você sem lembrar da Mary Matoso de “Vamp”, novela que fez grande sucesso e marcou toda uma geração. Quais são as lembranças que guarda da trama e da personagem?

Patricya: “Vamp” foi um presente, uma novela que apareceu como qualquer outra novela e  foi crescendo, foi se tornando um ícone na época. Até hoje ela é lembrada, quase 25 anos depois. E foi uma coisa que foi se desenvolvendo aos poucos. A sensação que eu tenho é que uma criança “entrou em mim” e pra brincar  de ser bruxa e vampira (risos). Essa brincadeira foi contagiando todo mundo, cada um no seu personagem e foi uma coisa muito inocente, a gente não sabia que estava fazendo aquele sucesso todo, a gente não tinha recursos tecnológicos como tem hoje, então, as brincadeiras, os efeitos eram todos bolados na hora com o Jorge Fernando, maravilhoso. Sem dúvidas, Vamp foi um presente pra todos nós, eu tenho o maior carinho pela Mary Matoso.

SNJ: Qual personagem mais deixou saudade e por qual motivo?

Patricya: Lu, eu não sou uma pessoa saudosista, então eu não sei dizer qual foi o personagem que mais deixou saudade. Mas eu gostei muito da Mercedes de “Brega & Chique”, a  primeira novela que eu fiz, em 1987. Adorei fazer a Mary Matoso, adorei fazer alguns personagens do teatro. Teve uma peça que eu escrevi chamada “Monstra” que eu fazia uma palestrante. Eu gostei de fazer vários, mas não tenho saudade de época nenhuma, eu acho que agora é que tá bom.

Absurdo dizerem que os atores vivem às custas da Lei Rouanet, isso é a maior fake news já postada no universo brasileiro.

SNJ: Você acha que as novelas devem ter a preocupação de discutir temas relevantes para o público ou sua função é apenas entretenimento?

Patricya: Eu acho que as novelas dançam conforme a música, conforme o tempo. Acredito que o público está mais exigente, mais sofisticado, então elas também estão mais sofisticadas. Eventualmente as novelas são especificamente de entretenimento, eventualmente abordam política e abordam assuntos que ajudam a gente a ter consciência do nosso momento social. Mas não acho que tem que ter uma lei, uma regra. Cada novela é uma história, às vezes funciona e outras não. E a gente nunca sabe quando vai funcionar, é uma caixinha de surpresas. Pode ter um super elenco, um super autor, pode ter um super tema e não dar certo. E pode ter um tema bobo, um elenco normal, nenhuma grande estrela e dar certo. Tudo é muito relativo. Mas eu acho que as novelas se sofisticaram muito comparando-as a alguns  folhetins de 20 anos atrás, por exemplo.

SNJ: Como você avalia as críticas em relação à Lei Rouanet e  as políticas públicas voltadas para arte no Brasil?

Patricya: Eu não entendo muito da parte burocrática porque sempre que eu entro na Lei Rouanet, contrato uma pessoa pra isso. Mas eu acho que a Lei precisa de algumas lapidações para consertar alguns erros porque a ideia é ter dinheiro para vários tipos de produção e em geral só um tipo que recebe, mas de jeito nenhum é o que as pessoas andam falando. Absurdo dizerem que os atores vivem às custas da Lei Rouanet, isso é a maior fake news já postada no universo brasileiro. A Lei Rouanet é importantíssima, sem ela vai acabar muita coisa, como já está acabando, os teatros estão fechando. Aqui no Rio tem mais de 15 teatros fechados, é uma loucura! Fora os que já estão fechados há anos. As peças estão cada vez mais simples, porque ninguém tem dinheiro. As produções são feitas com pouco elenco, pouco cenário, até porque os teatros tem peças todos os dias da semana e muitas vezes duas ou três por dia nos finais de semana, então muitas vezes não tem nem onde guardar os cenários de cada produção. Tudo tem que ser muito simples. A simplicidade não me incomoda, mas só ter espetáculos simples, sem cenografia porque não se tem dinheiro, é muito triste. Se as pessoas fizerem as contas, vão ver que a gente pode encher o teatro e não conseguir pagar os técnicos, o aluguel dos equipamentos, o aluguel do próprio teatro. A Lei Rouanet realmente precisa ser revista mas ela é fundamental.

SNJ: Você apresentou durante muitos anos o programa “Alternativa Saúde” da GNT e  escreveu o livro “Alternativas A a Z”. O universo de terapias alternativas e qualidade de vida sempre a atraiu? Como faz para ter uma rotina saudável?

Patricya: Sempre! Sempre gostei muito desse universo. Sempre li muito sobre qualidade de vida, alimentação saudável, procuro um bem estar interno.  Isso não quer dizer que eu sou um monge tibetano (risos), mas eu me interesso muito, cuido da minha saúde, da minha mente, sou vegetariana, procuro ter uma alimentação saudável.

SNJ: Há um provérbio chinês que diz : “ Quem quiser chegar a nascente , tem que nadar contra a correnteza”. Em algum momento da vida você teve que, efetivamente, nadar contra a correnteza?

Patricya: Eu acho que nesse exato momento estamos todos tentando nadar contra a correnteza. Uma correnteza muito feroz, muito difícil. Mas na minha vida até agora, graças a Deus, não teve nada muito dramático.

SNJ: Uma frase

Patricya: Não é o caminho que é difícil, o difícil é que é o caminho.

SNJ: Um sonho

Patricya: Um Brasil mais justo, um Brasil com educação, um Brasil que ao invés de ficar pensando no futuro, tente fazer um presente melhor, né?

SNJ: Um lugar

Patricya: O Rio de Janeiro que eu amo de paixão.

SNJ: Um livro

Patricya: Ah isso é difícil, mas eu vou citar um que foi o primeiro livro que eu li de adulto. Eu o li duas vezes e fiquei encantada com a magia que foi “Cem Anos de Solidão” do Garcia Marques.

SNJ: Uma música que a faz sorrir

Patricya: Samba de Avião

‘Este samba é só porque Rio eu gosto de você …’

SNJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?

Patricya: A compaixão, a solidariedade, essa energia que aparece de repente no meio da catástrofe, o colocar um caixote atrás de outro caixote pra uma senhora passar e não molhar os pés. Aquilo é lindo!

SNJ: Pat,  muito obrigada por participar da Nossa Janela!

Galeria

SERVIÇO

AÉREA

Local: Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea) – Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea –  2239-1095.

Dia e horário: sexta-feira e sábado, às 21h; e domingo, às 19h.

Ingresso: R$ 60 (sexta e domingo) e R$ 70 (sábado).

Duração: 60 minutos.

Classificação: 12 anos.

Temporada até 28 abril. 

Funcionamento da bilheteria: seg e ter, das 14h às 20h. Qua a dom, das 14h até o início da última sessão do dia.

Capacidade do teatro: 402 poltronas

Dias 3, 4 e 5 de maio

Local: Theatro Bangu Shopping – Rua da Fonseca 240 – Espaço 174 – Bangu – Telefones: 2143 – 6012 e 3577 – 0076

Dia e horário: sexta-feira e sábado, às 21h. Domingo, às 19h.

Ingressos:  plateia central – R$ 70 e R$ 35 (meia); e balcão – 60 e 30 (meia).

Duração: 60 minutos.

Classificação: 12 anos.

Funcionamento da bilheteria: todos os dias, das 10h às 22h.

 

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

2 Comments

  1. Avatar
    Dalia Leal
    30 de abril de 2019 at 15:55 Reply

    Excelente entrevista! parabéns Lu👏👏👏❤🌼

  2. Avatar
    Acácio
    20 de maio de 2019 at 12:23 Reply

    A Patricia Travassos possui um talento por excelência. Além de ser uma grande Atriz, destaca em ser uma grande Escritora com diversas obras de sucessos, onde destaco Vamp e Armação Ilimitada.
    Aumentei o simpatia pela mesma em ter ciência que adora a Cidade maravilhosa e sua simpatia por um mundo mais justo.
    Parabéns pela entrevista. Prazerosa, e um verdadeiro Raio x da entrevistada.

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