Tiê

Tiê

Ela tem a doçura na voz e no nome. Suas melodias costumam ser leves e suaves, mas ao mesmo tempo, cheias de força e personalidade. Gosta de cantar as próprias histórias e é considerada um dos maiores sucessos da nova geração de músicos.  Foi com muito carinho que Tiê abriu as portas da sua casa, em São Paulo, para a nossa equipe. 

NJ: Tiê, você tem a doçura na voz e no nome. Qual é a origem dele?

Tiê: Meu nome é japonês, ele quer dizer sabedoria em japonês e aconteceu que minha mãe é de uma religião japonesa chamada messiânica, então tinha muitos amigos japoneses, eles sugeriram esse nome, ela gostou. E eu ganhei  Tiê. Também é o nome de um pássaro.

Faço questão de ser uma compositora e conto as minhas histórias através das letras, mas não sou instrumentista. Acredito que consegui com a minha maneira simples de cantar, caminhar junto com as minhas letras que são muito claras e narrativas.

NJ: Você vem de uma família ligada à arte. Houve influência na escolha da profissão?

Tiê: Minha família é sim ligada à arte, eu venho de uma família de artistas, a minha avó (Vida Alves), deu o primeiro beijo na televisão. Isso foi em 52 na TV Tupi. A minha mãe sempre trabalhou com Jornalismo, nos bastidores da TV, foi apresentadora de TV. Então as duas me influenciaram a procurar alguma coisa ligada a arte. Fui dançar, sapatear, modelar, atuar  e acabei virando cantora.

NJ: Como você define o seu estilo musical?

Tiê: Meu estilo musical é MPB, canto em português. Mas um MPB sincero, faço questão de ser uma compositora e conto as minhas histórias através das letras, mas não sou instrumentista. Acredito que consegui com a minha maneira simples de cantar, caminhar junto com as minhas letras que são muito claras e narrativas. Claro, nem todas as músicas são de histórias atuais, mas são de coisas que vivi.

NJ: Suas letras costumam ser bem profundas e autobiográficas. De onde busca inspiração para as suas canções e como funciona o seu processo de composição?

Tiê: Ele vem desse momento de olhar pra mim mesma, pra as minhas histórias, pra as minhas referências e procurar nessa trajetória coisas que eu possa passar pra frente e contar para os outros.

NJ: Qual é a importância do Toquinho na sua carreira?

Tiê: O Toquinho é muito importante, ele foi o primeiro cara que me aceitou, que me assumiu. Ele que resolveu me colocar lá na frente pra cantar. Eu sou eternamente grata, ele é meu grande professor. Além de cantar me ensinou a ouvir  retorno, a tratar as pessoas bem, a chegar na hora, a fazer as coisas com muita leveza. Eu gostei muito de trabalhar com ele e até hoje a gente é muito amigo, a gente ainda faz shows juntos.

NJ: Como vocês se conheceram?

Tiê: Eu abri um Café Brechó que ficava localizado ao lado da MTV e lá recebíamos muitos artistas. Um dia, Toquinho foi almoçar no Brechó e meu amigo que trabalhava comigo contou pra ele que eu cantava. Aí ele pegou o violão. Nessa época eu estava começando a perceber que minha voz funcionava mais no susurro do que no grito. A gente cantou ali e dois dias depois já estávamos gravando no estúdio. Ele foi o meu curso profissionalizante, me ensinou tudo, desde ser humilde até a importância de ouvir o retorno.

NJ: Você passou por um período difícil em relação à saúde, teve que passar por uma cirurgia no pulmão e foi quando você mais compôs. No seu caso, a inspiração também  costuma vir nos momentos de dor?

Tiê: Acho que a inspiração vem de vários momentos. Ela vem nos momentos de dor e também nos momentos de alegria, Ela vem nos momentos reais da vida, né?

NJ: Depois do 2º disco você teve uma espécie de bloqueio criativo e ficou um tempo sem compor. Em  algum momento pensou em desistir?

Tiê: Em vários momentos eu pensei em desistir, não só pelo bloqueio, mas também pelas dificuldades da vida. Mas acho que como qualquer outra profissão, a gente tem esses momentos de desilusão, de querer desistir. Mas depois passa e eu pretendo continuar fazendo o que eu gosto e o que eu sei fazer.

Gaya foi um álbum que apareceu no luto da morte da minha avó. Ele saiu desse choro profundo, desse momento. E durante todo o desenvolvimento, pensei muito sobre educação, sobre maternidade, sobre ser feminista. Venho de uma família formada por mulheres muito fortes, então, de certa forma, é uma maneira de homenageá-las. 

NJ: Você está no 4º álbum autoral, o “Gaya”. Como se relaciona com a sua obra? Sente identificação por parte do público?

Tiê: Gaya é uma extensão do meu trabalho. Ele é de total relação entre os meus álbuns e acho que o público que me acompanha também sente isso e é muito prazeroso ver essa identificação deles. Fico muito feliz e cada vez mais eu tenho esse contato com o meu público e isso é maravilhoso!

NJ: Você trouxe uma conexão feminina muito forte para esse disco. Foi daí que veio o nome do álbum?

Tiê: Foi  daí, sim. Foi um álbum que apareceu no luto da morte da minha avó. Ele saiu desse choro profundo, desse momento. E durante todo o desenvolvimento, pensei muito sobre educação, sobre maternidade, sobre ser feminista. Venho de uma família formada por mulheres muito fortes, então, de certa forma, é uma maneira de homenageá-las. Então, eu fiquei pensando  muito no feminino, nas mulheres da minha vida e na importância de tudo isso. Aí veio esse nome: Gaya.

NJ: “Mexeu Comigo” foi tema de Malhação. A canção fala sobre a falta de controle sobre a vida e a superação de momentos difíceis. Como  você lida com as perdas?

Tiê: Eu tento lidar com as perdas da maneira mais profunda e sincera possível. Acho que a gente não tem que ignorar. A gente tem que vivenciar essa saudade mesmo, não tem jeito.

NJ: “A noite” é versão de uma música italiana. Como surgiu a ideia de fazer essa versão? A letra ficou tão linda…

Tiê: Eu conheci a música pela sugestão de fazer uma versão sabendo que era uma música que tinha funcionado muito bem na Itália. Eu até relutei um pouco no começo, mas aí percebi que era uma música muito bonita e que valeria a pena. Então fiz a letra junto com a  Rita Wainer,  Adriano Cintra e o André Whoong. Eu brinco que é  uma letra que depois até virou auto biográfica. Meu cabelo cresceu mesmo, eu realmente fiquei com dor nas costas e com problemas pra dormir. Enfim, é uma letra que tenho muito carinho porque me abriu muitas portas.

NJ: Ela foi tema da novela “I Love Paraisópolis”,  “Piscar o Olho” foi tema de “Cheias de Charme”, “Mexeu Comigo” foi tema de “Malhação” e “Amuleto” de “O Outro Lado do Paraíso”. Qual importância pra você de ter uma música em uma novela global? Abre muitas portas?

Tiê: É muito bom ter música na novela, confesso que eu acho muito importante ainda. Talvez isso mude daqui a um tempo. Mas é um jeito de você levar a sua música para outros lugares, que naturalmente, ela não iria. E isso é maravilhoso.

Amora é uma música que fiz para a minha filha e também fiz para a Liz, pra Nina. Eu falo que fiz para todas as crianças, adultos e adolescentes. É uma música motivadora, para todos nós. Para ouvirmos a nossa própria intuição e seguir.

NJ: “Pra Amora” é uma música linda. Como foi o seu processo de produção?

Tiê: Amora é uma música que fiz para a minha filha e também fiz para a Liz, pra Nina. Eu falo que fiz para todas as crianças, adultos e adolescentes. É uma música motivadora, para todos nós. Para ouvirmos a nossa própria intuição e seguir. Eu fiz em parceria com o André Whoong, mandei umas ideias pra ele, ele organizou essas ideias e aí eu fiz a letra pensando nessa Amora que está crescendo.

“Seja o que quiser, respeite o que é seu
Seja você
Seja o que quiser, respeite o que é seu
Seja você…”

NJ: A letra de “Amuleto” me tocou muito e é uma das minhas preferidas de Gaya.

Tiê: Esse “Amuleto”, na verdade, são as coisas que a gente carrega na vida: os traumas, dores, vivências, experiências que nos transformam.

NJ: Como escolheu as pessoas que iriam cantar com você nesse disco?

Tiê: Eu escolho as pessoas pra cantar comigo de acordo com afinidade e também, é claro, eventualmente convido pessoas que não topam. Mas no geral fico muito feliz porque consigo as pessoas que eu quero e sempre tem uma razão real para escolha acontecer.

NJ: Na canção “Passarinho” você comenta que tem um nome diferente, mas que já quis ser Maria. Você já se sentiu muito diferente das pessoas que conviviam com você em algum momento da vida?

Tiê: Já me senti muito diferente das pessoas, já sofri muito com a questão do nome e já me senti muito fora do grupo. Fui uma criança que teve vitiligo muito cedo, que é uma doença auto imune que mostra bem essa sensação de não pertencer ao grupo.

NJ: Como avalia o mercado musical brasileiro?

Tiê: Eu acho que os mercados brasileiros estão todos muito estranhos, em frangalhos por causa da política atual, mas acho que todo mundo tem que se esforçar e continuar fazendo coisas que abrirão portas.

NJ: A venda de discos caiu bastante em relação há alguns anos atrás. Como você enxerga essa nova realidade de trabalho do artista e as plataformas digitais?

Tiê: A plataforma digital é uma realidade, a gente não tem opção. E ainda ninguém sabe exatamente como isso vai funcionar ou não mas também não vejo outra opção. Então, seguimos trabalhando e também fazendo essas parcerias com as plataformas digitais que serão sempre boas pra todo mundo.

NJ: A maternidade mudou seu processo de criação como artista?

Tiê: A maternidade mudou a minha vida no geral, como muda a vida de qualquer mãe. Mas acho que o processo de criação se manteve o mesmo.

NJ: Como faz para administrar a carreira com a loucura da maternidade?

Tiê: É uma loucura mesmo,  você se sente mais responsável e é muito amor envolvido. A gente não tem mais tempo pra fazer nada e tem que fazer tudo picotado (risos).  Mas é maravilhoso, eu sou muito feliz por tê-las e também por elas fazerem parte disso tudo numa boa, indo em shows, cantando junto. Elas se envolvem em tudo.

Não acho que a pessoa tem sorte do nada, acredito que ela realmente se esforçou pra aquilo acontecer. Acredito em vibrar coisas boas para que o universo escute.

NJ: Como cuida do corpo e da mente?

Tiê: Eu medito diariamente, tento me alimentar bem, faço ginástica. Acredito nesse cuidado como é importante cuidar do corpo e da mente.

NJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?

Tiê: Ah! eu fico verdadeiramente emocionada com a verdade, a sinceridade das coisas.

NJ: Você acredita em destino?

Tiê: Acredito mais ou menos, tenho as minhas questões. Acredito em esforço, acima de tudo e acredito que é uma soma de outras coisas também. Tem a sorte, mas acho que ela não vem sozinha. Não acho que a pessoa tem sorte do nada, acredito que ela realmente se esforçou pra aquilo acontecer. Acredito em vibrar coisas boas para que o universo escute. Nisso, eu acredito.

NJ: Se você tivesse o poder de modificar uma única coisa no nosso país, o que seria?

Tiê: Eu modificaria a desigualdade social. Isso realmente é muito triste, né?

NJ: Dizem que os olhos são os espelhos da alma. O que dizem seus olhos?

Tiê: Eu não sei muito bem, quando eu era criança as pessoas brincavam que os meus olhos tinham cor de cocô mole (risos), mas hoje eu me olho muito no olho no espelho, tento me enxergar e as vezes falo coisas boas para mim mesma, pra me manter positiva. E eu gosto muito dessa coisa de olhar para o público enquanto eu canto. Então, eu acredito que no meu olho tenha a verdade.

NJ: Tiê, muito obrigada por participar da Nossa Janela. Estamos muito felizes pela oportunidade de entrevistar você.

Tiê: Obrigada você Lu, pela entrevista. Foi muito legal o nosso dia, que a Nina cresça sempre bem e beijos para todos os leitores do site.

Galeria:

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

1 Comment

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    Soneide Maria Barbosa
    22 de maio de 2019 at 17:16 Reply

    Lu, não conheço essa cantora, mas amo MPB, vc sabe que não moro no Brasil, mas irei ouvir todas as músicas, principalmente
    ” Noite”, que é Italiana. Sucesso para Tiè. Parabéns pela bela matéria. Bjos

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