Felipe Silcler

Felipe Silcler

Apaixonou-se pela arte de interpretar ainda criança. Deu vida ao Cascudo de “Totalmente Demais” e Libério em “Novo Mundo”, ambas da Rede Globo. Está no ar como Zumbi em “Topíssima”, na Record TV, vivendo um estudante de medicina que adora curtir a vida e sofre de hemofobia. Conversamos com o ator Felipe Silcler sobre a carreira, a novela, seu projeto de atuar em um monólogo e sobre representatividade negra na televisão.

NJ: Silcler, qual foi o seu primeiro contato com o teatro? Como tudo começou?

Silcler: Foi na escola. Eu tinha 9 ou 10 anos, uma professora me escolheu pra fazer uma apresentação em comemoração ao centenário da escola, tinha muito texto pra decorar e eu achei que não daria conta, mas ela acreditou em mim. E quando eu consegui e subi no palco pela primeira vez, vi que era isso que eu iria fazer pro resto da minha vida. Depois disso eu comecei a perturbar meus pais e aí meu pai conseguiu uma bolsa em um curso de teatro e eu nunca mais parei.

NJ: Você está no ar em Topíssima, na Record TV. Conte-nos um pouco sobre o personagem e o seu trabalho de construção.

Silcler: Não dá pra falar muita coisa, porque não sei muito também. Mas o Zumbi é um cara que curte muito ir para as baladas e vira várias noites de sono. Mas também gosta muito da Medicina. Então ele vai ter que lidar com isso, pra dar conta das duas coisas. Ele é um daqueles típicos caras, amigo de toda galera, então sempre está disposto a ajudar todo mundo. E acaba se envolvendo em várias tramas. Quanto ao processo de construção, tenho um melhor amigo que está no final do curso de Medicina e tem me ajudando muito com todos os termos técnicos e dúvidas que eu vou tendo. Também dei uma boa pesquisada sobre pessoas que tem a “Hemofobia” que é a fobia de sangue, assisti vídeos e procurei entender bem como funciona a cabeça dessas pessoas, já que o Zumbi também sofre disso.

NJ: Como está sendo a experiência de atuar com Kadu Moliterno?

Silcler: Incrível. O Kadu é um paizão, super divertido e cuidadoso, do tipo de ator que dá dicas sem nem perceber e está sempre aberto para o jogo. Está sendo um ótimo presente.

NJ: Conte-nos um pouco sobre a rotina de gravações.

Silcler: É como qualquer outro ofício. A gente tem que cumprir horários, chegar sempre com as cenas estudadas. Mas é bem divertido. O que as pessoas não imaginam é que às vezes uma cena que dura um minuto no ar, às vezes demora mais de 1 hora pra ser gravada. Então é um trabalho bem intenso. E outras vezes a gente passa mais tempo esperando para gravar do que gravando de fato.

NJ: De todos os trabalhos que já fez, qual considera o mais marcante?

Silcler: Eu tenho um carinho muito grande pela novela “Novo Mundo” que vivi o personagem Libério. Eram cenas bem difíceis, que eu tinha que me dedicar muito e ter a responsabilidade de dar voz a muita gente. E eu recebi uma resposta muito positiva do público.

NJ: Por falar em “Novo Mundo”,  você fez um personagem que nasceu após a Lei do Ventre Livre e era abolicionista. A escravidão acabou no Brasil, mas o racismo ainda é uma realidade. Você percebe isso nas oportunidades voltadas para artistas negros na arte? Como avalia essa situação?

Silcler: Sim. Acredito que as escalações em algum lugar vem se diversificando, mas ainda é muito pouco perto da quantidade de personagens que existem nas produções. Geralmente são só dois ou três personagens fixos na trama, que são escalados atores negros para fazer, em comparação com todo um resto de atores brancos que estão. E geralmente esses personagens destinados aos atores negros, são ligados à alguma relação com a cor na trama e não pela escolha do ator por si só. Mas a gente está caminhando, sim. Não dá pra negar. Tem uma galera tentando mudar isso. E eu reconheço o meu privilégio de viver personagens que tem histórias bacanas que fogem dos estereótipos que são impostos para os negros sempre.

NJ: Algumas das cenas de “Novo Mundo” foram bastante pesadas e de alta carga emocional. Como fazia para que elas ficassem no estúdio para não interferir no equilíbrio do ator?

Silcler: O trabalho do ator é esse, emprestar suas emoções para os personagens e viver aquela realidade durante as cenas. Eu sou o tipo de ator visceral, eu gosto de personagens e histórias que tenham esse peso e uma carga emocional maior, então pra mim era um presente fazer essas cenas, eram difíceis, mas eu me divertia muito ali. E o mais difícil era pelo fato de eu ter uma ligação muito forte com aquela história, são os meus ancestrais, é a história do meu povo, então tinha dias que eu saía destruído das gravações… mas eu chegava em casa, tomava um banho, meditava e tirava uma boa noite de sono. No dia seguinte eu já estava novo e pronto pra outra!

NJ: Quais são as lembranças que carrega do Cascudo de “Totalmente Demais”?

Silcler: Foi incrível, porque era tudo muito novo pra mim. Eu estava descobrindo como era esse ofício de fazer televisão. Foi um presente, porque o personagem foi crescendo durante a trama, os autores foram gostando do meu trabalho e me deram mais espaço. Era um personagem que tinha uma história muito importante de ser contada, e eu recebi um retorno muito bacana do público também.

NJ: Com qual ator/atriz gostaria de dividir o palco?

Silcler: Tem muitos! muitos mesmo, mas tenho muita vontade de contracenar com o Luiz Miranda, Adriana Esteves, Lázaro Ramos e a nossa mestra Fernanda Montenegro.

NJ: Você declarou que tem planos de atuar em um monólogo. Conte-nos um pouco sobre esse projeto.

Silcler: É um projeto que eu quero levar a minha ancestralidade para os palcos, eu sou negro e descendente de índios também. Então quero misturar isso, junto com o sagrado e o místico! contar a história do meu povo, num teatro ritual, que misture a música e a dança, onde fale também do preconceito e lutas que os que vieram antes de mim enfrentaram e nós enfrentamos até os dias de hoje.

NJ: Como foi a experiência de atuar como Jesus Cristo?

Silcler: Foi emocionante. Eu fiz por dois anos seguidos em uma Paixão de Cristo na Páscoa, o Gabo M. Barros foi o diretor que me deu esse presente e confiou em mim para essa missão. Além de toda a questão de colocar um ator negro pra fazer um personagem que mundialmente é conhecido pelos padrões europeus, o Gabo tem uma pegada ritualista que eu amo. Então foi um processo muito intenso, era muito emocionante, e a gente fez na rua, começava em uma praça e tinha toda uma caminhada até uma montanha de uma igreja onde acontecia a crucificação, e o público ia acompanhando de forma itinerante, e por ser tratar de uma história que mexe com a fé das pessoas, era lindo ver todo mundo emocionado e acreditando naquilo. O  meu pai foi um que chorava e pedia pra pararem de me bater e no final o fato de eu ser negro e estar  ali contando aquela história, não foi uma questão, todo mundo embarcou. O que prova mais uma vez que as escalações de atores negros pra vários tipos de personagens, devem e precisam ser feitas.

NJ: Como analisa a política cultural brasileira?

Silcler: Estamos vivendo um sucateamento da cultura brasileira, está cada vez mais difícil viver de arte no Brasil. Os apoios, editais e projetos que contemplavam a classe estão cada vez mais escassos e os poucos que existem contemplam sempre as mesmas grandes produtoras e os nomes consagrados, tornando ainda mais difícil a vida dos “pequenos” artistas que querem levantar os seus projetos.

NJ: Como costuma cuidar do corpo e da mente?

Silcler: Eu treino, faço musculação e quando dá procuro fazer algumas aulas de expressão corporal e coisas ligadas ao trabalho do corpo. Tento meditar todos os dias, mas nem sempre consigo. O corpo e a mente são meus instrumentos de trabalho, então eu preciso que eles estejam sempre dispostos e prontos.

NJ: Qual é o cheiro da sua infância?

Silcler: Eu lembro muito do cheiro da minha lancheira da escola. É um cheiro que eu sinto às vezes e me vem toda uma memória emotiva.

NJ: O que o deixa mais feliz?

Silcler: Estar com as pessoas que eu amo e vê que elas estão bem e felizes.

NJ: Uma frase

Silcler: A gente tem muito mais motivos pra agradecer, do que pra reclamar!

NJ: Um sonho

Silcler: Viver da minha arte sempre, e proporcionar uma velhice confortável para os meus pais.

NJ: Um lugar

Silcler: Montevidéu – Uruguai.

NJ: Um livro

Silcler: “Bem na minha pele” – Lázaro Ramos

NJ: Uma comida

Silcler: Comida Japonesa

NJ: Uma música que o faz sorrir:

Silcler: “Piloto automático” – Supercombo

NJ: Felipe Silcler por Felipe Silcler

Silcler: Um menino que não quer crescer e enfrentar os problemas de adulto. Odeia injustiça, tem uma sensibilidade aflorada ao extremo (isso as vezes não é tão legal) e que faz todo possível pra ver as pessoas que ele ama bem. Que não desiste das coisas facilmente, que ama viajar, carinho, chocolate e que acredita muito na força do pensamento, “a gente atrai aquilo que a gente vibra”.

NJ: Obrigada por participar da Nossa Janela. Silcler. Muito sucesso, pra você.

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

1 Comment

  1. Avatar
    Dalia Leal
    12 de junho de 2019 at 09:27 Reply

    Essa frase colocada pelo Felipe Silcler: “A gente atrai aquilo q a gente vibra” é a pura verdade! portanto vamos atrair e vibrar mta luz!
    Parabéns Luciana Leal pela entrevista!☀️🌜🌟👏💋❤

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