Hoje vamos conversar com a Dra. Gabriella Melo, renomada especialista em Alergia e Imunologia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e teremos o privilégio de explorar uma série de tópicos cruciais relacionados à saúde respiratória, alergias e seus impactos na vida cotidiana. Com a Dra. Gabriella como nossa guia, iremos desvendar os mistérios por trás de condições como rinite alérgica, sinusite e asma.
Lu: Dra, quais são os sintomas mais comuns da rinite alérgica, e como eles diferem dos sintomas de um resfriado comum?
Dra. Gabriella: Os sintomas comuns da rinite alérgica são espirros, coriza e obstrução nasal, coceira no nariz, olhos, garganta e ouvido. Diferentemente do resfriado, na rinite alérgica o paciente não tem febre e não há sintomas generalizados como dores no corpo, prostração, entre outros.
Lu: No contexto da prevenção, quais são os principais desencadeadores de crises de rinite que devemos estar atentos no ambiente doméstico?
Dra. Gabriella: Os principais desencadeantes da rinite alérgica são alérgenos que ficam no ar, chamados de aeroalérgenos. São eles: ácaros que ficam na poeira, fungos localizados no mofo, epitélio de animais como cachorro e gato, pólens e baratas. Além disso, alguns irritantes como fumaça de cigarro, odores fortes de produtos de limpeza e perfume, poluição e até mudanças bruscas de temperatura podem ser fatores irritativos que geram crises de rinite.
Lu: Além do tratamento médico, quais medidas de controle ambiental podem ajudar a prevenir as crises de rinite alérgica, especialmente em crianças?
Dra Gabriella: O controle ambiental nada mais é do que medidas gerais para evitar o acúmulo dos aeroalérgenos no ambiente e, assim, tentar prevenir as crises de rinite alérgica. Evitar o uso de vassouras, dando preferência à limpeza da casa com panos úmidos e aspiradores de pó com filtros especiais; evitar o uso de tapetes, carpetes, cortinas em casa; colocar capas anti-alérgicas no travesseiro e colchão, trocar o jogo de lençóis da cama pelo menos uma vez na semana, entre outras medidas, ajudam no controle da doença.
Lu: No Dia Nacional da Rinite, é importante destacar que cerca de 26% das crianças sofrem com essa condição. Quais são as principais características da rinite alérgica em crianças e adolescentes?
Dra Gabriella: Os sintomas da doença são semelhantes em crianças e adolescentes. O que é importante destacar são os impactos negativos que a doença causa na vida das crianças e adolescentes, pois sintomas como obstrução nasal, coriza e espirros diminuem a qualidade de vida dos mesmos, repercutindo em sua produtividade, no seu sono, em seu aprendizado e também em sua vida social.
Lu: A rinite alérgica pode ser hereditária e afetar crianças que têm pais alérgicos. Como os pais podem identificar os sintomas precocemente e buscar ajuda médica?
Dra Gabriella: Pais alérgicos devem ficar atentos ao surgimento precoce de sintomas da doença desde os primeiros anos de vida dos filhos. Crianças que acordam já espirrando, sempre têm uma coriza nasal e já têm diagnóstico de dermatite atópica (outra doença alérgica associada a rinite), precisam ser avaliados e acompanhados por médico especialista.
Lu: Além da rinite alérgica, quais são outras condições alérgicas comuns que os pais devem estar cientes, especialmente em crianças?
Dra Gabriella: Rinite alérgica em crianças pode estar associada a outras doenças alérgicas como dermatite atópica, alergias alimentares, conjuntivite alérgica e asma alérgica, por isso é fundamental o acompanhamento médico com o especialista que consiga diagnosticar e tratar todas essas doenças.
Lu: Quais medidas podem ser tomadas para prevenir a sinusite em pessoas propensas a alergias respiratórias?
Dra Gabriella: O tratamento e acompanhamento médico regular são fundamentais para o controle das alergias respiratórias. Dessa forma, é possível prevenir complicações, como uma sinusite.
Lu: Quais tratamentos personalizados e abordagens terapêuticas mais inovadoras estão atualmente disponíveis para o tratamento eficaz de sinusite e rinite, levando em consideração a variedade de sintomas e necessidades individuais dos pacientes?
Dra. Gabriella Melo: Para a rinite alérgica, além do tratamento medicamentoso convencional, existe um tipo de tratamento chamado de imunoterapia alérgeno específica, popularmente conhecida como “vacinas da alergia.” Este tratamento é considerado o único capaz de modificar a história natural das doenças alérgicas. No caso da rinossinusite crônica, temos disponíveis alguns imunobiológicos para casos específicos da doença que estão relacionados à polipose nasal.
Lu: A asma é outra condição respiratória comum associada a alergias. Como a rinite alérgica e a asma estão relacionadas, e quais são os tratamentos disponíveis para essas condições?
Dra. Gabriella Melo: A asma atinge cerca de 10% da população brasileira, e seus principais sintomas incluem falta de ar, chiado no peito, tosse, sensação de cansaço e opressão no peito. Estima-se que a rinite alérgica ocorra em cerca de 75% dos pacientes com asma, já que ambas afetam a via aérea. Indivíduos com rinite têm um risco maior de desenvolver asma sintomática. O tratamento das duas doenças deve ser feito conjuntamente, incluindo tratamento medicamentoso tópico e inalatório, orientação de controle ambiental, a imunoterapia alérgeno-específica e até imunobiológicos, especialmente para a asma.
Lu: Quais são os principais desencadeadores de crises de asma e como os pacientes podem evitá-los ou reduzir seu impacto?
Dra. Gabriella Melo: Várias situações podem desencadear crises de asma, incluindo esforço físico, risadas, infecções como resfriados e gripes, rinites alérgicas e rinossinusites, inflamatórias ou infecciosas. Manter o calendário vacinal em dia, fazer um controle ambiental para evitar o contato com alérgenos, manter acompanhamento médico regular e tratar outras doenças alérgicas de base, como rinite e rinossinusite, ajudam a evitar crises de asma.
Lu: Existem novos desenvolvimentos na pesquisa ou no tratamento de alergias e condições relacionadas que os pais e pacientes devem estar cientes?
Dra. Gabriella Melo: Sim, a área da alergia e imunologia tem avançado significativamente nos últimos anos. Há pesquisas em andamento para entender melhor o aumento dos casos de alergia e como melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Lu: Para pessoas alérgicas que vivem em cidades com mudanças frequentes de temperatura, quais são as medidas práticas que podem ajudar a prevenir crises alérgicas, considerando as variações climáticas?
Dra. Gabriella Melo: Mudanças bruscas de temperatura podem irritar as vias aéreas e desencadear crises alérgicas. Recomenda-se evitar locais fechados com grande aglomeração de pessoas em clima frio, manter o ambiente arejado e limpo, evitando o acúmulo de poeira e mofo, independentemente do clima, como medidas preventivas.
Lu: Além de alérgenos ambientais, como ácaros e pólen, existem alimentos específicos que podem desencadear crises alérgicas em pessoas predispostas? Quais são os alimentos mais comuns associados a alergias e como as pessoas podem identificá-los e evitá-los em suas dietas?
Dra. Gabriella Melo: Na maioria dos casos, alimentos não são desencadeadores de crises alérgicas respiratórias, como asma e rinite. No entanto, em algumas situações raras, alimentos podem desencadear reações alérgicas que afetam as vias respiratórias, como a asma ocupacional. Essas reações geralmente são causadas por exposição intensa e prolongada a alérgenos alimentares, como o trigo em padeiros. Para a maioria das pessoas com asma e rinite, não é necessário restringir alimentos específicos de suas dietas.
Lu: A Dra. Maria Letícia Chavarria, que também é membro da ASBAI, mencionou que a imunoterapia tem se mostrado um tratamento eficaz para a rinite alérgica. Você pode explicar como funciona esse tratamento e quais são os benefícios da versão sublingual?
Dra. Gabriella Melo: A imunoterapia alérgeno-específica é um tratamento utilizado para doenças alérgicas há mais de um século. Seu objetivo é promover a dessensibilização e indução da tolerância imunológica, o que significa ensinar o sistema imunológico a não reagir de forma exagerada aos alérgenos que desencadeiam as reações alérgicas. Esse tratamento é capaz de proporcionar remissão e controle prolongados das doenças alérgicas, mesmo após o seu término, com controle da doença por até 7 a 10 anos, e possivelmente ao longo da vida do paciente. Além disso, quando ocorrem recidivas, elas tendem a ser menos agressivas. Portanto, podemos afirmar que a imunoterapia é considerada o único procedimento terapêutico capaz de modificar a história natural das doenças alérgicas, representando o estado da arte na prática da Alergia e Imunologia.
No Brasil, dispomos de duas formas de imunoterapia: a versão subcutânea e a sublingual. A principal vantagem da imunoterapia sublingual é que ela pode ser administrada em casa, proporcionando maior comodidade ao paciente. Além disso, os eventos adversos associados a essa forma de tratamento costumam ser mais leves e localizados em comparação com a imunoterapia subcutânea.
Lu: A ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) tem representações regionais em 23 estados brasileiros. Como a associação está envolvida na conscientização e na educação pública sobre alergias e imunologia?
Dra. Gabriella Melo: De fato, a ASBAI é uma associação ativa que tem fortalecido suas representações regionais nos estados brasileiros. Ela se mantém atualizada com os avanços constantes na área de Alergia e Imunologia, buscando expandir e fortalecer todas as subáreas da especialidade. Através do intercâmbio científico e da colaboração com várias sociedades internacionais, a ASBAI proporciona atualização científica de alta qualidade e aumenta a visibilidade da pesquisa e do atendimento em doenças alérgicas e imunológicas desenvolvidas no Brasil em âmbito internacional. Além disso, a associação realiza campanhas e ações com o objetivo de conscientizar o público sobre as doenças relacionadas à nossa especialidade.
Lu: Dra, poderia compartilhar conosco um mito relacionado a alergias que precisa ser desmistificado com urgência?
Dra. Gabriella Melo: Certamente, um mito que precisa ser desmistificado é a ideia de que as bombinhas de asma viciam. Isso é um equívoco. A asma é uma doença crônica e, portanto, requer tratamento contínuo. Felizmente, houve avanços significativos no tratamento da asma, e hoje dispomos de terapias eficazes e seguras para controlar a doença. Utilizar medicações inalatórias conforme a orientação médica não causa vício.
Lu: Além de seguir as dicas de prevenção, que conselhos a Dra. Gabriella Melo gostaria de dar aos pacientes que enfrentam essas condições alérgicas e respiratórias em seu dia a dia?
Dra. Gabriella Melo: Um conselho fundamental é nunca interromper o tratamento por conta própria e manter um acompanhamento médico regular com um especialista em Alergia e Imunologia. É plenamente possível ter uma boa qualidade de vida mesmo convivendo com alergias e doenças respiratórias. Com um tratamento adequado e a orientação de um profissional de saúde, os pacientes podem controlar suas condições de maneira eficaz e desfrutar de uma vida saudável.
Lu: Dra, gostaria de expressar minha profunda gratidão por compartilhar sua experiência conosco hoje. Suas valiosas informações sobre alergias, rinite, sinusite e asma certamente enriquecerão o entendimento dessas condições para todos os nossos leitores. Foi um prazer tê-la aqui na NOSSA JANELA.
Dra. Gabriella Melo: Lu, agradeço a oportunidade e convido todos a conhecerem a ASBAI e seus médicos associados. Sigam nossas redes sociais para se manterem atualizados sobre temas relacionados à nossa especialidade. Lá vocês encontrarão conteúdo confiável baseado em evidências científicas. Até mais.
2 Comments
Jairo Barboza
19 de setembro de 2023 at 13:44Maravilhosa entrevista !!! Parabéns
Soneide Maria
20 de setembro de 2023 at 19:46Obrigada por toda informação, muito importante ficarmos por dentro desse problema que sofrem milhares de pessoas pelo mundo. Um abraço