Festival de Cinema – Gramado 2013

A trajetória do Festival de Cinema de Gramado acompanhou todas as fases do cinema nacional. Através da sua história, podemos saber como foi o cinema brasileiro nos últimos 40 anos.

 As primeiras edições, realizadas no verão, foram marcadas por sensacionalismo, nudez e crise de estrelas que buscavam fama e reconhecimento na serra gaúcha. Com a chegada dos anos 80 e o aprimoramento das discussões sobre arte e cultura nos diversos espaços, o evento conquistou o título de um dos maiores do gênero no País. Já no início dos anos 90, com a posse do governo de Fernando Collor, o Brasil presenciou um processo de quase extinção da cinematografia nacional. Portanto, o Festival de Gramado, para sobreviver, tornou-se internacional, já com uma edição ibero-americano.

 Em 1992, com a internacionalização, o evento passou também a fazer um panorama da produção latino-americana, ampliando seus horizontes cinematográficos.

Este ano  (41ª edição), 14 longas concorreram ao Kikito de melhor filme. Mas quem levou o prêmio para a casa foi o longa “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, que venceu ainda nas categorias de melhor ator – para Irandhir  Santos- e melhor trilha musical para o DJ Dolores. Já o prêmio de melhor diretor foi dividido entre Andradina Azevedo e Dida Andrade, por “A Bruta Flor do Querer”.

 O Kikito é o prêmio máximo concedido no Festival de Gramado e foi  criado pela artesã Elisabeth Rosenfeld. Inicialmente, o Kikito, figura risonha, um “Deus do bom-humor”, com 33 centímetros de altura era o símbolo da cidade de Gramado, e apenas mais tarde tornou-se o troféu do festival. Muitas vezes referido erroneamente como “Kikito de Ouro”, o Kikito era confeccionado em madeira. A confusão se dá por referência a prêmios de outros festivais, como a Palma de Ouro de Cannes ou o Leão de Ouro de Veneza. Atualmente, o prêmio é fabricado em bronze.

 Logo na abertura do Festival, foi realizada a primeira homenagem, para Glória Pires. A atriz, que apresentou o filme “Jóias Raras”, foi premiada com o troféu Oscarito, pelas mãos de Lucy e Luiz Carlos Barreto.

 “Eles são os pais da minha carreira no cinema! Queria agradecer a curadoria por essa homenagem e ao primeiro diretor que me dirigiu, Fábio Barreto” – declarou a atriz.

 Mesmo com uma intensa carreira televisiva (são 28 trabalhos entre novelas e minisséries), Glória nunca abandonou o cinema. Nos últimos anos, ganhou prêmios por papeis em filmes como “É Proibido Fumar” e “Lula, o Filho do Brasil”. Além de conquistar plateias e prêmios com suas atuações, a atriz sempre declara sua paixão pelo cinema.

Outro momento bastante marcante  foi a homenagem ao ator Wagner Moura, que recebeu o Troféu “Cidade de Gramado”, pela sua contribuição ao cinema Nacional. Seu currículo já soma mais de 20 filmes.

 Ao receber o prêmio,  o ator lembrou do pedreiro desaparecido no Rio de Janeiro, na favela da Rocinha.

 “Queria homenagear meu pai com esse prêmio. Vou pegar um avião e almoçar com os meus filhos, no Rio.Mas lá na Rocinha tem seis filhos que não vão passar o dia com o pai. O pai desses garotos se chama Amarildo. Então, queria homenagear os filhos do Amarildo”  – discursou.

 “Os festivais de cinema são um fórum importante não só para falar de cinema. Os festivais não devem ser um tapete por onde passam os atores, mas também um fórum de debates. Tenho certeza que essa homenagem é de todo o festival. A gente está atento ao que está acontecendo. Gostaria que esses garotos soubessem o que aconteceu com o pai deles”, acrescentou o ator, muito aplaudido pelo público.

 Outro homenageado no Festival de Cinema de Gramado deste ano foi o filme Sargento Getúlio, protagonizado  por Lima Duarte em 1883.O diretor Hermano Penna, entregou o troféu ao ator.

 “Agradeço de coração por essa lembrança. Foi um momento muito bom da minha carreira esse filme. Eu investi tanto trabalho nele. Nossa, foi muito bonito”

 Sargento Getúlio é baseado na obra de João Ubaldo Ribeiro e retrata o período do “Estado Novo” no Brasil, sobre o governo de Getúlio Vargas. Para quem não assistiu, fica a dica. O filme é um clássico do cinema nacional.

 O ultimo homenageado deste ano foi o ator Othon Bastos, que conta com trabalhos no cinema entre longas, curtas e narrações – muitos deles de importância histórica para a produção audiovisual brasileira e latina.

 O Que é Isso Companheiro?, Central do Brasil e Abril Despedaçado são alguns dos filmes da carreira de Othon que marcaram época não só no Brasil, mas também ao redor do mundo, levando nossa produção para grandes premiações, a exemplo do Oscar  e  Festival de Berlim.

 Na serra gaúcha, filmes com o ator também marcaram presença em exibições do Festival de Cinema de Gramado. Othon Bastos ganhou, inclusive, um kikito por seu desempenho em São Bernardo, no ano de 1974. No longa, Othon é Paulo Honório, sertanejo de origem pobre que, em uma empreitada financeira, torna-se dono da decadente fazenda de São Bernardo em Viçosa, Alagoas.

“Não sou eu, Othon Bastos, que está recebo  esse prêmio. É o ator. E como ator, sou um representante da classe. Quero dividir esse prêmio com todos os atores e atrizes que fizeram,papéis marcantes e brilhantes no cinema nacional” – disse o ator de 80 anos.

É inegável a importância do Festival de Gramado que reúne filmes e interessados em cinema, discutindo criação, direção e possibilidades de realizar sempre trabalhos com mais qualidade.è um espaço indispensável para divulgação, crítica e discussão do cinema nacional.

 Salve a sétima arte! Viva Gramado e o seu incentivo à nossa cultura!

Luz!

Lu

Fonte: http://www.festivaldegramado.net/

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

4 Comments

  1. Avatar
    Mari
    18 de agosto de 2013 at 12:38 Reply

    Mais uma excelente matéria! Parabéns! Muito sucesso sempre! beijos

  2. Lúcio Sacramento
    Lúcio Sacramento
    19 de agosto de 2013 at 14:00 Reply

    Adorei o texto. Um dia ainda vou nesse evento com minha esposa.

  3. Avatar
    amara
    19 de agosto de 2013 at 19:14 Reply

    Lulu,gostei muito como vc expôs. Este festival para quem não acompanhou como eu é muito bom pois passamos a conhecer o belo trabalho dos atores e diretores como tb a evolução atraves dos anos. Isto é cultura! grata tia Amara

  4. Avatar
    Dalia Leal
    19 de agosto de 2013 at 23:20 Reply

    Gostei mto desse texto, vc destaca em poucas linhas a história do cinema brasileiro, aproveitando à oportunidade da escrita sobre o Festival de Gramado. Interessante sua colocação inicial qndo descreveu o cinema brasileiro antigo, realmente, cenas de exibição do nudismo e de sexo marcaram essa fase; e justamente nessa época o cinema brasileiro n tinha como ser valorizado. Hoje o cinema brasileiro possui outra roupagem, evoluiu, sendo reconhecido mundialmente. Brilhante é a iniciativa do Festival de Gramado q mais engrandece o cinema brasileiro!

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