Bate-Papo com o ator Ricardo Castro

Bate-Papo com o ator Ricardo Castro

Ele  é  totalmente apaixonado pelo teatro. Assina o texto, a direção, a  sonoplastia, a iluminação e a cenografia do espetáculo “1,99” que celebra 15 anos de sucesso. Em comemoração, volta ao palco principal  do TCA, para  uma única apresentação, no dia 8 de março, com produção e realização de Marlúcia Sie. E promete, mais uma vez, emocionar e divertir o público com as noticias mais recentes do Brasil e do mundo.

Neste bate-papo exclusivo, Ricardo Castro fala sobre a peça e sobre o ator por trás do personagem. Confira!

DMJ: Ser ator sempre foi o seu desejo ou você tinha outros planos?

Ricardo: Quando eu era criança, queria ser médico. Mas depois do meu primeiro curso de teatro, não tive nenhuma dúvida de que o quê quero mesmo é ser ator a vida inteira rs

DMJ: Qual foi o seu primeiro espetáculo?

Ricardo: O primeiro foi “Kripta”, dirigido por Filinto Coelho. Era um espetáculo sobre o vampirismo e eu fazia o protagonista. Era um rapaz que virava adulto durante uma viagem pela Europa, era quase um rito de passagem.

DMJ: Você participou da primeira formação de “A Bofetada”, peça que mudou o panorama do teatro na Bahia. Como foi essa experiência e o que guarda dessa época?

Ricardo: Eu era muito jovem quando fiz “A Bofetada”. Minha mãe teve que pedir autorização no Juizado de Menores para que eu pudesse me apresentar. Isso faz muito tempo rss. O espetáculo me ensinou muito. Primeiro a fazer rir, né? O humor. Depois, ensinou que eu era uma pessoa capaz de fazer a outra rir. E isso é maravilhoso, um dom incrível. Me ajudou também a dividir o palco com outras pessoas e a improvisar. Dessa época foi isso. Principalmente o humor, a comédia. A comédia realmente me chegou através de “A Bofetada”.

DMJ: Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou para viver o “Caroço” da novela Araguaia, seu primeiro personagem na TV?

Ricardo: Eu era um violeiro e eu não sabia tocar, então tive que aprender a tocar viola caipira. Além disso, foi a primeira novela e a primeira vez que eu lidava com aquela linguagem de TV. Então, tinham todas as as dificuldades naturais de uma primeira experiência. Mas ao mesmo tempo,  tinha uma inspiração tremenda o tempo inteiro que era a Dona Laura Cardoso,  o Sr. Lima Duarte, a Júlia Lemmertz,  a Cléo Pires e tantos outros talentos que junto comigo fizeram aquela novela linda.

DMJ: Você foi convidado para fazer o teste para viver o ex-presidente Lula no cinema, por que não aceitou?

Ricardo: Rejeitei por ser Lula naquele momento o presidente em exercício do nosso país. Eu acho que quando você vai relatar a vida de alguém que ainda vive e que está no poder, nunca vai ser absolutamente isento. E na verdade, eu acho que preferia fazer o Raul Seixas rsrs

DMJ: Como surgiu a ideia de produzir e encenar um texto como 1,99?

Ricardo: Era março de 1999 e eu fui demitido do Liceu de Artes e Ofícios, onde  era funcionário, contratado como ator, aqui em Salvador. Eu tinha que fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro e resolvi fazer uma peça que seria uma despedida da  minha carreira e  do Brasil. Eu pretendia ir morar na Espanha, que naquela época ainda não estava em crise. Como as coisas mudam,né? “Estrelas mudam de lugar…”

Então, eu queria escrever uma comédia. Comecei a escrever coisas engraçadas da minha vida, um estilo meio “Stand Up Comedy”. Mas em seguida percebi que já estava trabalhando por outro gênero e que naquele momento não me interessava fazer uma apenas uma comédia. Eu queria fazer personagens, fazer drama, falar de tragédias. E aí tudo foi se configurando, como acabou acontecendo.

DMJ: Por que o título 1,99?

Eu resolvi dar o nome de 1,99 por ser o ano de 1999. Achei que seria bem sugestivo por conta da equiparação entre real e dólar na época.E resolvi escrever, dirigir, operar som e luz, cenário, figurino, ficar na bilheteria e o mais louco de tudo; vender o ingresso por R$ 1,99. Foram três anos cobrando esse valor, depois tive que aumentar.

DMJ: Você é ator, produtor, diretor, iluminador e ainda cuida da sonoplastia da peça. Como consegue dar conta de tudo?

Ricardo: Acho que é um dom, uma capacidade que tenho de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Ou seja; conseguir contar uma história divertida, mudar a luz e o som. Eu não sei, mas isso pra mim é uma coisa bem natural.É como dirigir, conversar e coçar a orelha, sei lá… rsrs.  Eu tenho uma cabeça que funciona assim, sou hiperativo, tenho algum nível de esquizofrenia rsrs. Agora, por exemplo, estou respondendo as suas perguntas e almoçando.

DMJ: Você acredita que “1,99” impactou  o cenário cultural baiano? De que forma?

Ricardo: Eu tenho certeza disso. “1,99” impactou o teatro baiano e  de muitas outras cidades onde eu estive, inclusive Buenos Aires. É um espetáculo que impacta muito fortemente. Primeiro por isso, por ser a mesma pessoa quem escreveu que atua, dirige, cuida do som, da iluminação, faz maquiagem em cena. Por ser esse projeto radical de um único criador. E mais do que tudo, aqui em Salvador, por ser um discurso verdadeiro. Não estamos falando de um texto que foi escrito por um outro autor no século passado, por exemplo. Pela linguagem e pela escolha que eu fiz, pela simplicidade do espetáculo. Todo mundo que assiste “1,99” sai pensando que pode fazer algo amanhã e mudar as coisas. Por tudo isso, ele é uma experiência única. E não aconteceu nada nem parecido 15 anos depois.

DMJ: Como você se sente de volta ao TCA e dessa vez comemorando 15 anos de sucesso?

Ricardo: Eu já me apresentei naquela sala incrível do Teatro Castro Alves algumas vezes e é uma emoção muito grande. Comemorando 15 anos é melhor ainda! rs Foi no TCA que aos cinco anos de idade, fui com a minha mãe assistir “Chapeuzinho Vermelho” e percebi que gostava daquela mágica. Então, voltar ao TCA é voltar a minha história inteira. TCA é o coração, a célula mater de todos os teatros de Salvador. É um prazer imenso, um luxo! É muita emoção junta!

DMJ: O que o espetáculo “1,99” representa pra você?

Ricardo: “1,99” representa a minha pessoa. Representa o meu sentimento, o meu pensamento, o meu olhar para o mundo. Eu costumo dizer que “A Bofetada” foi o meu espetáculo de formatura e “1,99” é o meu mestrado.

DMJ: Qual é a importância do Teatro na sua vida?

Ricardo: O teatro para mim representa tudo. É o meu jeito de pensar, o meu raciocínio. É a minha comunicação com o mundo, a minha linguagem preferida, predileta. O teatro é o jeito que eu entendo o mundo, é o meu idioma.

DMJ: Como você avalia o teatro baiano hoje?

Ricardo: Eu acho que precisa ainda muita coisa. Precisa fortalecer mais, o mercado é ainda muito tímido. A gente já teve momentos em Salvador de ter muitos espetáculos de sucesso. Agora as coisas estão realmente mais tímidas, algumas coisas que já aconteceram, sendo reprisadas. Eu acho que vale a pena esse momento de reprise, mas acho que falta mais dramaturgia, além de um apoio maior do Estado e do empresariado privado. Com isso, a gente faz uma trica e consegue levar o público, porque o público gosta de teatro.

DMJ: Qual é a sua maior fonte de inspiração?

Ricardo: Minha inspiração se dá por diversos meios. Música, cinema. O trabalho de Denise Stoklos, também me inspira muito. Mas hoje, no momento em que estou, criando o meu novo espetáculo, a minha grande fonte de inspiração é Salvador. A cidade e seu povo, desde a sua formação até hoje. Esse tem sido o foco da minha pesquisa e realmente é uma cidade muito inspiradora.

DMJ: Como você interpreta a grande quantidade de personagens gays nas novelas ultimamente?

Ricardo: Eu acho natural. Acho que os gays estão em todo lugar. Na verdade, me interessaria muito mais ver como estão os gays no Planalto Central, na bancada evangélica. Aí seria uma transformação muito maior. Na televisão acho salutar, acho bacana a presença desse representativo. Tem gente que reclama, que é colocado de maneira caricata, mas muitas vezes o hétero também é. A gente discorda das coisas, mas ele estar lá e aparecer, já é ótimo. Mas acho que a quantidade ainda não é grande na TV. Na realidade, essa quantidade  é muito maior, a gente sabe disso.

DMJ: Uma frase

Ricardo: Sem pausas e sem pressa.

DMJ: Ricardo Castro por Ricardo Castro

Ricardo: Um homem de teatro!

Galeria com fotos de Shirley Stolze

DMJ: Ricardo, muito obrigada por participar da nossa Janela. Esperamos poder contar com a sua presença aqui outras vezes.  Beijo de luz e sucesso!

Ricardo: Um beijão pra você e muito obrigado.

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

4 Comments

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    janela_admin
    3 de março de 2015 at 12:45 Reply

    Ótimo espetáculo. Bem vindo ao TCA.

  2. Avatar
    Dalia Leal
    3 de março de 2015 at 13:13 Reply

    Parabéns ao talento de Ricardo Castro! Vamos valorizar a prata da casa!!!!

  3. Avatar
    Son Izabel
    22 de março de 2015 at 13:19 Reply

    Poxaaaa, gostaria de poder ir assistir e prestigiar. Sucesso sempre!

  4. Avatar
    Acácio do Sacramento
    25 de março de 2015 at 16:46 Reply

    É um mágico no palco!
    Parabéns!

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