Com mais de 35 anos de carreira e um currículo recheado de peças teatrais, Tadeu Aguiar dedica grande parte da sua trajetória aos musicais. Com um sorriso nos lábios, o ator e diretor nos recebeu no Theatro Net Rio, onde está em cartaz com o espetáculo “Ou Tudo ou Nada”, o qual assina a direção.
Criado a partir de um dos grandes sucessos de bilheteria do cinema nos anos 1990, “The Full Monty“, o musical que conta com um elenco de 17 atores, incluindo Mouhamed Harfouch, Patrícia França, Sylvia Massari e Sergio Menezes, a deliciosa comédia é protagonizada por seis desempregados que se aventuram num striptease para pagar suas contas.
Confira na íntegra o bate-papo com Tadeu Aguiar sobre o espetáculo, a carreira, as dificuldades enfrentadas por quem vive de teatro Brasil e seus planos para o próximo ano.
DMJ: Tadeu, você define o espetáculo “Ou Tudo ou Nada”?
Tadeu: Tudo ou Nada é um espetáculo que fala sobre esperança, não é um espetáculo que fala sobre depressão, sobre gente que não quer fazer nada. Ele fala sobre gente que quer trabalhar e quer encontrar uma saída. Ele fala de esperança.
DMJ: Conte-nos um pouco sobre o texto
Tadeu: O texto vem a partir de um filme chamado “The Full Monty” que foi candidato ao Oscar, filme inglês de baixo orçamento também e fez um enorme sucesso. A partir daí o Terrence McNally e o David Yazbek compuseram esse musical para a Broadway que fez muito sucesso também.
DMJ: Você já tem larga experiência na direção de musicais. Como foi dar um toque brasileiro a esse espetáculo que já é sucesso há 15 anos na Broadway e já foi montado em mais de 25 países?
Tadeu: Dar a cara a esse espetáculo foi fácil porque ele fala de um homem comum, de qualquer lugar do mundo. Então, ele pode se passar em qualquer lugar, porque em todos os lugarem sempre te alguém passando por crises hoje em dia: Crises existenciais, crises econômicas, enfim, dar vida a esses personagens no Brasil, foi muito simples por causa disso. A peça não é situada em um determinado lugar, planeta, país. Ela fala do homem, da sua essencia. Então, fazer no Brasil foi super simples.
DMJ: Como seu deu o processo de construção do espetáculo?
Tadeu: Construir o espetáculo foi super bacana, nós tínhamos um baixo orçamento, mas queríamos fazer um grande musical, com muitos cenários, muitas roupas. Então, houve um empenho de toda a equipe em aproveitar cenografias e roupas de outros espetáculos, mas que na verdade, tivesse tudo a ver com o espetáculo que nós estávamos produzindo. Foi genial porque todos fizeram um trabalho incrível, fizeram a cara de um espetáculo milionário com pouquíssimo dinheiro, mas com muita criatividade. Eu acho que é isso disso que o mundo precisa hoje em dia. As pessoas precisam deixar de jogar coisa fora, reaproveitá-las e continuar fazendo coisas bacanas.
DMJ: Qual maior desafio enfrentado na direção desse musical?
Tadeu: Acho que foi a questão econômica, superar isso e conseguir fazer um lindo espetáculo.
DMJ: Acredita que o teatro musical aproxima o público da arte?
Tadeu: Aproxima sim, porque o musical tem várias vertentes em um único espetáculo. Tem a música, tem a dança, tem o texto, os cenários, as roupas. Acho que tudo isso encanta o público e ele gosta. O público brasileiro é um público muito musical.
DMJ: A temporada no Rio vai até o dia 20 de dezembro. Pensam em viajar com o espetáculo?
Tadeu: Estamos adiando o final da temporada no Rio. Vamos ficar até, talvez, o final de fevereiro. Estamos acertando os nossos ponteiros por aqui. O espetáculo tem feito realmente muito sucesso aqui no Rio.
DMJ: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por quem quer viver de teatro no Brasil?
Tadeu: Viver de teatro no Brasil é muito complicado, porque as pessoas, as empresas, o governo, dificilmente prestigiam o teatro, aliás, qualquer tipo de arte. É um país muito medíocre nesse sentido. Aqui é muito difícil você encontrar alguém que acredite que a arte pode ser um produto bacana, pode mudar uma sociedade e ser rentável.
DMJ: Durante o tempo que ficou afastado da TV, você dirigiu mais de 30 espetáculos de teatro. O que o fez voltar para as telinhas em Babilônia?
Tadeu: A possibilidade de trabalhar de novo com Gilberto Braga e Dênis Carvalho, elém de estar de novo ao lado de uma atriz extraordinária que é Arlete Salles. Você estar cercado de pessoas geniais e ainda voltar pra a TV foi muito bacana!
DMJ: Seu personagem fazia parte de um núcleo que abordava questões religiosas e de preconceito a homossexualidade. Como enxergava tanta polêmica em torno da novela?
Tadeu: Na verdade a novela não tinha nenhuma polêmica. O público hoje em dia está querendo assistir outras coisas. Inventaram a historia da polêmica para justificar, talvez, uma baixa audiência. Mas você percebe que na novela seguinte também foi isso, acho que a cara do telespectador está mudando. Mas a novela foi importantíssima pra isso acontecer, para que a gente pudesse discutir. a mais importante função da novela é a discussão com a sociedade.E isso, essa novela fez. Ela discutiu temas importantíssimos.
DMJ: Como avalia a sua trajetória profissional?
Tadeu: Eu acho que é um sucesso porque quem consegue sobreviver de teatro no Brasil há 35 anos, tem uma trajetória de sucesso. Claro que com muito trabalho, muito esforço, muita dedicação, muito empenho, muita coragem. É isso que faz a carreira de um artista sobreviver tanto tempo assim.
DMJ: Você foi roubado após ter ido parar na Favela usando um aplicativo. Quais cuidados aconselha para os leitores do site?
Tadeu: Hoje em dia eu só uso esses aplicativos para os caminhos que conheço. Quando não conheço, prefiro pegar um taxi.
DMJ: O que você acha da pacificação das comunidades do Rio?
Tadeu: Uma coisa importantíssima. Mas acho que ela deveria estar associada a movimentos culturais, a educação, ao esporte, acho que é isso que está faltando no Rio de Janeiro. Só colocar a polícia lá dentro não adianta nada.
DMJ: Quais são os projetos para o 2016?
Tadeu: A partir de março, “Ou Tudo Ou Nada” estará em São Paulo. Eu vou dirigir um espetáculo, que já dirigi no Rio e foi candidato ao Prêmio Shell, chamado “As Quatro Faces do Amor” com texto de Eduardo Bakr, meu sócio e com músicas de Ivan Lins. Vai estrear no Teatro Nair Belo, em São Paulo, no dia 20 de maio. E vou dirigir também, um musical inglês, que vem de um filme de muito sucesso chamado “Love Store”, filme que fez muito sucesso nos anos 70, e acho que todo mundo lembra. Uma história de amor belíssima que virou musical em Londres e eu também comprei esses direitos.
DMJ: O que costuma cantar quando está sozinho em casa?
Tadeu: Ah canto qualquer coisa…
DMJ: Qual ou quem é a sua maior fonte de inspiração?
Tadeu: Um diretor extraordinário que já faleceu, chamado Flávio Rangel. Sempre quando eu penso em um espetáculo, eu penso com o ele dirigiria.
DMJ: Uma frase
Tadeu: Só não muda de idéia quem não tem
DMJ: Um lugar
Tadeu: Nova York
DMJ: Um sonho
Tadeu: A corrupção no meu país acabar
DMJ: Um medo
Tadeu: Do PT
DMJ: Uma música
Tadeu: “Eu Te Amo” do Chico Buarque de Holanda e Tom Jobim
DMJ: Tadeu Aguiar por Tadeu Aguiar
Tadeu: Ih tão complicado… chato, exigente, mas feliz!
DMJ: Tadeu, muito obrigada! Espero poder contar com a sua participação outras vezes nessa Janela que também é sua. Sucesso e beijo de luz!
Leia também entrevistas com: Sylvia Massari (clique AQUI), Sergio Menezes (clique AQUI) e Mouhamed Harfouch (clique AQUI)
5 Comments
Dalia Leal
18 de dezembro de 2015 at 14:20Tadeu Aguiar, exemplo de competência, e Luciana Leal, excelente entrevista! ameeeei!!!
Mila Oliveira
19 de dezembro de 2015 at 09:04Tadeu é maravilhoso! Adoro todos os espetáculos dirigidos por ele!
Brunna
19 de dezembro de 2015 at 09:05Adorei essa matéria! Tadeu é um excelente diretor e ator!
Denize
22 de dezembro de 2015 at 07:12Amei a entrevista!!! O Brasil precisa de mais Tadeus Águia!!
Denize
22 de dezembro de 2015 at 07:17Corrigindo o comentário que fiz acima o nome do entrevistado é : Tadeu Aguiar que também não deixa de ser como uma Águia!