Quem não lembra do Seu Aranha, da Escolinha do Professor Raimundo? É com o humorista e produtor André Lucas que conversamos agora. Ele está em cartaz na capital baiana com o espetáculo “André Lucas Revive Chico Anysio”, uma homenagem ao pai. Confira o nosso bate-papo com declarações inéditas.
DMJ: André, quando decidiu que queria viver de humor?
André: Eu acho que isso foi aos 7 anos, quando eu fiz a minha primeira imitação que foi o Azambuja, o malandro carioca.
DMJ: O que sente ao fazer as pessoas rirem?
André: Ah é maravilhoso! É um êxtase, a melhor coisa que pode existir! Não conheço sensação melhor, acho até que é parecida com o orgasmo rsrs.
DMJ: Você está rodando o país com um espetáculo que revive alguns personagens do Chico. Os figurinos e adereços usados no espetáculo são os mesmos que eram utilizados por ele?
André: Sim. O espetáculo chama “André Lucas Revive Chico Anysio”. Peguei os melhores momentos dele no teatro e na TV. Eu faço as vozes dos 209 personagens, coisa que fiz durante anos na Rádio Globo, no Rio de Janeiro. E eu tenho o acervo todo, as roupas, os adereços… A Peruca do Coalhada que eu vou colocar em cena é a peruca que ele usava. o Chapéu do Silva,o óculos do Haroldo, exatamente tudo que foi usado por ele. E como eu já tenho essa facilidade pra fazer as vozes, acabei juntando uma coisa com a outra. E as piadas que eu vou contar, também são as piadas que ele contava, os números mais conhecidos.
DMJ: O espetáculo é uma homenagem pra o Chico?
André: Sim, porque eu estou fazendo uma coisa que ele fez durante anos, colocando as coisas que ele usou durante anos, o universo é todo dele. E o tempo todo sinto a presença dele no palco comigo.
DMJ: Qual desses personagens é o mais marcante pra você ?
André: Eu tenho carinho por todos eles, mas o que mais gosto é o Azambuja.
DMJ: Qual é a maior dificuldade de fazer um espetáculo solo?
André: Lu, eu não vejo dificuldade nenhuma, eu acho até que é melhor. Fiz isso a vida toda sozinho e talvez até tivesse dificuldade de ter alguém em cena comigo. Apesar que teve uma época que fiz com ele o “Tal Pai Tal Filho”.
DMJ: Como foi dividir o palco com ele?
André: Uma honra porque ele nunca havia dividido o palco com ninguém. Depois dividiu com Tom Cavalcante, mas o show dele completo, com as coisas dele, ele dividiu comigo e eu até hoje guardo essa emoção no coração, todo dia era um aprendizado.
DMJ: A comparação incomoda?
André: Não, não incomoda porque modéstia à parte, eu sei que tenho talento.
DMJ: Não tem como falar de André Lucas sem lembrar o Seu Aranha, o “Puliça” da Escolinha do Professor Raimundo. Quais lembranças guarda do personagem e da Escolinha?
André: Eu guardo muitas lembranças, o Seu Aranha é um personagem que tenho muito carinho. Ele começou com o jogo do bicho, depois virou taxista e por último policial.
DMJ: O que achou da nova escolinha e do desempenho do seu irmão Bruno no papel do Professor Raimundo?
André: Ah eu achei maravilhoso! Todos os personagens estão muito bem, mas o que mais gostei foi a Dani Calabresa fazendo a Catifunda, nunca vi coisa igual. Mas o Zé Bonitinho também está ótimo, o Adnet no papel que era do Rogério Cardoso, O Lucio Mauro Filho que recriou o personagem que era do pai, o seu Peru, o meu irmão Bruno… eles são todos sensacionais!
DMJ: Bruno estava perfeito no papel! A gente se emocionava lembrando do Chico… não sabia se ria ou se chorava de emoção…rsrs
André: E o Bruno estava preocupado, não sabia se saberia fazer a voz. Eu falei “Cara, não precisa! Basta você arranhar um pouquinho e as pessoas vão ver o Chico e a homenagem que está sendo feita pra ele e tantos outros que passaram pela Escolinha”. E ele arrebentou! Vai ter mais porque deu muito certo e o faturamento foi excelente!
DMJ: Qual é a sua opinião sobre a política cultural brasileira?
André: Eu acho a política brasileira muito fraca porque ela privilegia algumas pessoas e deixa de fora os que precisam de verdade e que talvez tenham até mais talento.
DMJ: Muito se tem falado sobre o papel social e político da arte. No caso do teatro, especificamente da comédia, o humor é revolucionário?
André: Seu dúvidas! O humor não tem o dever de criticar, mas tem o dever de denunciar. O humorista coloca o dedo na ferida e quem faz isso, revoluciona, transforma.
DMJ: Hoje em dia o politicamente correto interfere muito na arte?
André: Eu acho que incomoda, atrapalha, mas eu não ligo pra isso. Faço mesmo, comigo não tem essa! Claro que eu não faço aquele humor de humilhar, de depreciar a pessoa, de tocar em uma doença, uma necessidade. Mas politicamente, não tem essa!
DMJ: Existe uma formula para a piada? Tem como saber antes de testar se ela vai ou não funcionar?
André: Não. A gente acha que vai funcionar porque a gente tem noção do que vai ser engraçado ou não, mas muita coisa que eu tinha certeza que seria uma porrada, um tiro, não teve nenhum riso. Por outro lado, outras coisas que achei que quase não teria riso, foi uma porrada. É muito difícil saber, a gente só descobre na hora. O humor no teatro é diferente do humor da televisão e do rádio. No rádio, você só tem a voz pra passar as emoções, a pessoa ouve e imagina o que você está falando. Na TV, a plateia é a mesma, mas o que é representado muda. Já no teatro, todo dia é a mesma coisa, mas a plateia é sempre diferente.
DMJ: E quando você acha que a piada é muito boa e ninguém ri, o que fazer pra se safar da situação?
André: Incomoda,claro. Mas passa pra outra. A gente se pergunta porque aquela piada não funcionou ali, mas é só seguir para a próxima. As vezes até dentro do mesmo estado, uma piada que funciona em um lugar, não funciona em outro.
DMJ: Você tem algum arrependimento?
André: Não sei, tenho que pensar. Talvez de confiar muito em algumas pessoas. Só isso. Ou não, como diria Caetano. rsrs
DMJ: O que você aprendeu com Chico que marcou e continua colocando em prática?
André: Caráter!
DMJ: Muito bom escutar isso porque a gente acaba conhecendo um pouco mais de como era na intimidade, esse ícone de humor e que abriu portas pra tantos outros humoristas.
André: Verdade! Ele abriu portas pra muita gente. Tanto que na Escolinha, o Professor Raimundo colocava ele pra baixo, por ser o menos engraçado. Mas ele dava o espaço para que os outros pudessem brilhar.
DMJ: E muitos humoristas que já estavam esquecidos, com ele tiveram oportunidade de voltar a trabalhar…
André: Já que você falou isso, vou contar uma coisa que a imprensa nunca soube. Ali na Escolinha tinha muitos artistas que nem podiam sair de casa, que já estavam bem doentes. Mas ele fez questão de contratar porque sempre dizia que não conhecia ninguém que morreu trabalhando. Ele achava que a falta de trabalho que poderia levar as pessoas à morte. E tanto estava certo, que quando a Escolinha acabou, muita gente foi morrendo. Mas mesmo depois que a Globo suspendeu o Programa e muitos foram demitidos, ele continuou pagando o salário deles do próprio bolso.
DMJ: Me arrepiei. Que gesto lindo do Chico…
André: Pois é, ele era de uma generosidade incrível. Ninguém sabe porque ele nunca divulgou. Sabe quem é assim também? Faz e não divulga? Roberto Carlos. E eu falo porque eu sei de histórias dele, que nunca foram divulgadas. Infelizmente a gente vê pouco isso hoje em dia. Muita gente que faz, é pra dizer que fez, pra aparecer na revistas ou nas redes sociais. Mas perante Deus nada passa despercebido, Ele sabe quem tem ou não firmeza no coração.
DMJ: Como é a sua relação com a Bahia?
André: Ah! Essa terra é maravilhosa! Salvador não é uma cidade, é um cartão-postal rsrs. Foi aqui que encontrei o amor da minha vida quando vim fazer um show. E hoje ela é minha empresária, minha produtora e minha mulher.
DMJ: Quais são os seus planos profissionais em relação à Bahia?
André: Eu quero trazer muita coisa pra cá. Quero trazer o show da Escolinha onde eu faço o Professor Raimundo com o elenco da escolinha antiga. Quero fazer com preço popular.
DMJ:Uma frase
André: Tenha paciência que o mundo é nosso!
DMJ:Um lugar
André: No coração de Deus. Sem Deus a gente não faz nada.
DMJ: André Lucas por André Lucas
André: Um cara difícil de lidar, porém fácil. rsrs Aquela frase é perfeita: Quem não viver comigo, não vive com mais ninguém. Apesar de que sou uma pessoa difícil de lidar.
Galeria:
DMJ: André, muito obrigada! Espero poder contar com a sua participação outras vezes nessa Janela que também é sua. Beijo grande!
André: Oh Lu, eu agradeço muito mais! Obrigado! E adorei o nome do site “Da Minha Janela” Sensacional! Diz muito. Continue na fé!
3 Comments
Lucia Leal
20 de maio de 2016 at 12:09Parabéns, Lu! Adorei a entrevista. O reconhecimento de aprendizado, no caráter e a generosidade desse humorista André Lucas, com o pai “Chico Anysio” esse ícone do humor. Fiquei sabendo que a esposa dele é baiana. Vou aguardar o retorno dele, com o show da Escolinha do Professor Raimundo.????
Dalia Leal
20 de maio de 2016 at 23:47Nossa! André Lucas é massa! digo novamente q me encanto c os artistas humoristas q afirmam q gostam de fazer rir ” é maravilhoso, é um êxtase, a melhor coisa q pode existir, não conheço sensação melhor, acho até q é parecida c o orgasmo, rs”. Lu, é através das suas matérias q tomamos conhecimento de coisas relevantes na carreira bem como na vida dos artistas. André Lucas, sendo filho de quem é, bem se vê a competência, desenvoltura, profissionalismo. Bem oportunas as apresentações do André Lucas revivendo Chico Anysio! relembrar seu pai é o q há de melhor. Amei a entrevista! e q canja maravilhosa aí no final, me divertí!
Paulo Sergio Ribeiro
21 de maio de 2016 at 15:21Gostei da entrevista, parabéns Luciana Leal!