Já na reta final de Liberdade Liberdade, trama das 23 h da Rede Globo, Yasmin Gomlevsky se prepara para dar adeus a sua personagem Vidinha. Em entrevista exclusiva, realizada às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, a atriz fala sobre a novela, a carreira, a infância e seus desejos profissionais.
NJ: Além de atriz você também é cantora e poeta. Quando a arte entrou na sua vida?
Yasmin: Olha, eu sempre fui muito ao teatro porque o meu irmão é ator e ele me levava. Meus pais também me levavam muito. Aos 8 anos, entrei no teatro da escola e era uma coisa que eu me identificava muito. Então, o teatro foi a primeira coisa que chegou pra mim. Aos 13 eu entrei no Tablado e comecei também a fazer aula de canto. Quando era pequena ainda pensei em ser estilista, amazona, advogada…mas hoje em dia não consigo me imaginar trabalhando com outra coisa, nasci para a arte.
NJ: Quem são as suas referências na música, na literatura e na dramaturgia?
Yasmin: As minhas referências literárias vem da Geração Beat, através do Bukowski, do Kerouac, do Allen Ginsberg, eu gosto muito desse tipo de literatura. Na dramaturgia tem o Mário Bortolotto, sou muito fã das peças dele, tenho muita vontade de trabalhar com ele. Tem o Sheakspeare, que é a referência universal de qualquer ator e pra mim,é o melhor dramaturgo de todos os tempos. Nelson Rodrigues também é genial e tem algumas peças dele que não posso morrer sem fazer, por exemplo: “A serpente”, “Bonitinha, mas Ordinária”, “Valsa nº 6”, “Vestido de Noiva”. Se Deus quiser eu ainda vou ter tempo de fazer tudo que eu quero do Nelson!
Quanto aos atores que são referência pra mim… a minha atriz preferida é a Meryl Streep. Gosto muito também da Fernanda Montenegro, da Nathalia Timberg, da Andrea Beltrão… Tem o Bruce Gomlevsky, meu irmão, que pra mim é um dos melhores atores do país. É um artista completo: canta, dirige, produz… ele é incrível!
NJ: Vocês costumam conversar muito sobre trabalho?
Yasmin: Nossas vidas são muito corridas, mas desde 2010 a gente vem trabalhando muito juntos e nesses períodos a troca é bastante intensa. São muitos conselhos, muitos toques. Eu sempre bebo da fonte artística dele e isso me ajuda muito a crescer profissionalmente.
NJ: Você concluiu recentemente as gravações de “Liberdade Liberdade”. Já bateu saudade?
Yasmin: Sim, já começo a sentir saudade… A novela foi um trabalho muito importante pra mim em termos de experiência, conhecimento sobre a época, sobre esse pedaço da história do nosso país. A Vidinha foi um grande presente, principalmente porque me possibilitou contracenar com Lília Cabral, que é uma das maiores atrizes e mais generosas companheiras de cena com quem já tive a honra de trabalhar.
NJ: Como foi a experiência de atuar em Malhação?
Yasmin: Foi maravilhosa! Malhação foi a minha primeira experiência a longo prazo na TV, porque é o maior produto da Globo, as gravações duram um ano, pra só então dar início a outra temporada. E lá realmente é uma escola, eu aprendi muito. Como todo mundo está no mesmo barco, muita gente inexperiente, a gente acaba aprendendo muito junto e existe muita paciência pra ensinar. O diretor de Malhação, o Luiz Rios, foi a pessoa que me ensinou a ler roteiro de televisão. Antes eu recebia o roteiro semanal e não conseguia ler, ficava toda perdida. E ele me ensinou com toda paciência, eu não teria isso em nenhum outro produto.
NJ: A Joaquina era super divertida e pagava muitos “micos”. E a Yasmin? Tem algum mico que entrou pra história e gostaria de dividir com a gente? Rsrs
Yasmin: Ah Lu, eu não sou muito de pagar micos porque eu sou muito na minha. Eu sou engraçada, sou palhaça, mas muito na intimidade, só com as pessoas mais próximas. Mas cometo algumas gafes porque sou muito espontânea e não penso muito pra falar. Eu não tenho micos pra contar, mas eu tenho muitas gafes nesse sentido rsrsrs.
NJ: Você interpretou a Bebel Gilberto no espetáculo “Cazuza – Pra o dia nascer Feliz”. Como se deu o processo criativo da personagem? Chegou a conhecer a Bebel pessoalmente?
Yasmin: Olha, eu tinha conhecido a Bebel um ano antes no Diagonal, no Leblon, que é um barzinho que eles costumavam frequentar muito nos anos 80. Nessa época, nem passava pela minha cabeça que iria fazer Cazuza. Um ano depois, quando passei no teste, liguei pra ela e a gente trocou um pouco por telefone, mas não conseguimos nos encontrar porque ela mora em Nova York. A personagem da Bebel tem um aspecto muito parecido com a Joaquina de Malhação porque eu ficava muito livre, foram os dois trabalhos que tive uma maior liberdade para criar. Isso era possível também porque a Bebel não tinha a responsabilidade de contar a história, quem contava era o próprio Cazuza e a mãe dele. Então, a minha preparação foi conhecer o ambiente que eles frequentavam, os lugares que eles iam, aonde eles bebiam, o que eles conversavam. É muito difícil interpretar uma pessoa que está viva porque passa pelo crivo dela, dos fãs, das pessoas que conhecem ela. É uma responsabilidade muito grande, mas também é muito gostoso você poder fazer a sua versão daquela pessoa e não uma cópia dela. Pra mim, foi uma experiência muito proveitosa.
NJ: Como foi pra você participar deste musical que retrata a vida de uma personalidade tão marcante na música brasileira como o Cazuza?
Yasmin: Quando eu fiz o teste do Cazuza, eu estava fazendo o teste para uma outra peça em São Paulo e essa outra peça era incrível, tinha um texto maravilhoso. Mas eu pensava “cara, se eu passar no Cazuza, eu largo tudo” rsrs. Porque eu amo o Cazuza, eu amo a obra do Cazuza, desde pequenininha. Pra mim foi uma honra, um trabalho que me preencheu muito e me deixou muito feliz!
NJ: Sua primeira peça profissional foi “O Diário de Anne Frank”. O que aprendeu nessa época que guardou consigo e costuma sempre colocar em prática na sua profissão?
Yasmin: Caramba…tudo!!! Anne Frank foi o meu tudo! Foi o meu primeiro trabalho profissional, então eu aprendi a me mexer no palco, aprendi a me posicionar, aprendi o momento certo para se fechar na quarta parede e o momento de trocar com a plateia, aprendi o tom de voz exato pra se usar no teatro e muitas outras coisas. Aprendi também o que não se deve fazer no palco. Foram muitos aprendizados!
NJ: Esse espetáculo foi uma oportunidade de exercitar a arte dentro da sua própria religião?
Yasmin: Sim e isso teve muita importância pra mim. Na época eu estudava em colégio judaico, estava muito envolta com os temas do judaísmo. O texto é muito tocante e pra um judeu poder falar da 2ª Guerra Mundial, de nazismo, de fascismo, de preconceito, é muito importante, sabe? Pra mim, como atriz poder contar a história, contar o absurdo que foi, é muito importante. Não dá pra fechar os olhos e fingir que nada aconteceu porque senão pode acontecer de novo.
NJ: Como é a sua relação com a religião?
Yasmin: Nunca me aprofundei na religião, minha família nunca foi religiosa. Eu tenho um lado espiritual muito forte que eu ainda não canalizei para uma religião específica, mas muitas questões do judaísmo são importantes para mim e eu tento preservar.
NJ: Você tem alguma mania antes de entrar em cena?
Yasmin: Mania não, mas tenho alguns processos de aquecimento e concentração.
NJ: O que você acha do crescimento do teatro musical brasileiro?
Yasmin: Eu acho lindo!! E também é um nicho que emprega muitos atores. Eu acho que o Brasil ainda está descobrindo o jeito de fazer musical. Acho que o “Beijo no Asfalto” foi um divisor de águas porque o Claudinho (Claudio Lins) fez uma coisa inédita, ele pegou o texto de um dos maiores dramaturgos do país, o Nelson Rodrigues, e fez uma trilha sonora lindíssima com as próprias mãos, inaugurando uma forma de se fazer musical. O musical brasileiro está descobrindo que não precisa ser só biográfico, que pode ser embasado por uma dramaturgia que já existe e que é bastante potente. Eu acho que o musical tem muito a crescer aqui, tem um caminho muito longo ainda. E me sinto feliz de fazer parte disso de certa forma.
NJ: Com quem você gostaria de dividir o palco?
Yasmin: Eu tenho dividido o palco e a tela com gente tão incrível! Mas eu quero muito trabalhar com a Fernanda Montenegro, com o Alexandre Nero, a Cassia Kiss, o Erom Cordeiro…. tive oportunidade agora de trabalhar com o Caio Blat, a Andreia Horta, a Lília Cabral… quase o Império inteiro rsrsrs. Fiquei muito feliz em poder trocar com eles, são pessoas que admiro muito.
NJ: Como costuma cuidar do corpo?
Yasmin:Eu fiz hipismo durante um tempo, meu pai é apaixonado por cavalos e me colocou pra fazer desde pequinininha. Eu sempre dancei, fiz muitos anos de ballet, fiz street dance, fiz jazz, a dança sempre foi muito presente na minha vida. De uns tempos pra cá, comecei a fazer academia. Tem épocas que estou levando super a sério e outras que estou mais desleixada! rsrss
NJ: Como você lida com as críticas?
Yasmin: A parte do meu ego se incomoda um pouco, mas a parte que está aqui pra aprender, tenta filtrar o que pode ter de positivo naquilo.
NJ: O que é felicidade pra você?
Yasmin: Felicidade pra mim é paz de espírito, é estar em paz comigo.
NJ: Você tem alguma meta especial na sua vida?
Yasmin: Eu tenho algumas. Quero fazer muito cinema, teatro e TV, quero conseguir produzir as minhas coisas no teatro, quero chegar em um patamar de grandes personagens e grandes histórias. Eu quero ser a Fernanda Montenegro! rsrs
NJ: Quais são as melhores lembranças da sua infância?
Yasmin: Caxambu. Todos os carnavais a minha família ia pra lá e eu amava, andava de charrete, comia maçã do amor… era maravilhoso!
NJ: Como é a sua relação com as redes sociais?
Yasmin: Eu sou de fases. No Instagram tem épocas que posto muito, outras que levo uma semana sem postar nada. No twitter entro mais quando estou no ar, porque é um meio interessante pra ter o feedback das pessoas. No Facebook sou mais presente, porque é um meio onde posso colocar meus textos, expor os meus pensamentos.
NJ: Qual é a sua opinião sobre o momento político que estamos vivendo no país?
Yasmin: Eu gostaria muito de viver pra ver uma certa igualdade social, uma melhor distribuição da renda. Acredito que de uns tempos pra cá, nosso país cresceu muito socialmente, muitas pessoas que não tinham acesso a determinadas coisas, passaram a ter. Eu não sou partidária, não tenho nenhum partido e não vou aqui atacar nem defender ninguém. Mas eu acho muita hipocrisia falarem que estamos no maior momento de corrupção do país. Estamos, sim, no maior escândalo de corrupção porque só agora as coisas vieram à tona, os podres estão sendo descobertos. Mas a corrupção sempre existiu no Brasil. Economicamente é uma situação muito delicada, mas socialmente tivemos avanços inegáveis. Eu acho esse impeachment uma palhaçada, um desrespeito à democracia. Precisamos de uma reforma política, mas sem atropelar a democracia. Esse é o meu pensamento e eu não vejo motivo para não me posicionar. Meu Facebook é lotado de posicionamentos porque eu não consigo ver uma coisa dessas e não falar nada. Eu não estou a favor do PT, mas é como a Mônica Iozzi falou: “Eu não sou petista, mas não sou cega”.
NJ: De onde busca inspiração para as suas poesias?
Yasmin: Da vida, das decepções amorosas, das dores, das angustias. Tem aquela frase “Pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”. Escrever pra mim, sempre foi um processo de alívio, de tirar alguma coisa pesada. E isso não é necessariamente triste pra quem lê, é o toque de magia da arte, as palavras se ajeitam de uma forma muito bela e positiva. Em 2008 eu criei um blog para impressionar um namorado e comecei a escrever, depois nunca mais parei. Quando já tinha material suficiente, selecionei o que mais gostava e lancei um livro. Foi a realização de um sonho e ainda pretendo lançar muitos outros.
NJ: Você também compõe músicas?
Yasmin: Eu tenho uma certa dificuldade pra compor músicas porque não toco nenhum instrumento. Tenho uma banda, que se chama “Sirigaita”. Somos eu, o Roger Martins, o Francisco Vaz e o Patrick Terra. Esses meninos são incríveis!
NJ: Qual dos seus poemas melhor retrata o seu momento atual?
Yasmin: “Sou um coração que não bate, espanca”
NJ: Um lugar
Yasmin: O palco.
NJ: Uma frase
Yasmin: O sucesso é a soma de pequenos esforços.
NJ: Um sonho
Yasmin: Ser uma referência.
NJ: Quais são os seus planos profissionais para depois da novela?
Yasmin: Vou viajar com a peça “Jovem Estudante Procura” e tenho outros projetos bacanas ainda pra esse ano que por enquanto, ainda devem permanecer em segredo.
NJ: Yasmin por Yasmin
Yasmin: Sou uma pessoa simples, espontânea, teimosa e muito determinada. Gostaria de ser menos angustiada.
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2 Comments
Dalia Leal
27 de julho de 2016 at 12:12Yasmin Gomlevsky, estou gostando muito da sua atuação em Liberdade Liberdade, atriz, cantora, poeta, mais um exemplo de competência no celeiro artístico brasileiro!
Gostei de ver sua maturidade com as críticas, filtrando o lado positivo e tirando sempre aprendizado. Suas colocações são muito precisas: quando fala da poesia, ” não é necessariamente triste para quem lê, é o toque de magia da arte, as palavras se ajeitam de uma forma muito bela e positiva” e quando define o sucesso como” soma de pequenos esforços”.
Luciana Leal, mais uma perfeita entrevista! lindas fotos! amei!♥★
Lucia Leal
31 de julho de 2016 at 14:09Yasmin Gomlevsky, atriz, cantora e poeta. Conheci sua trajetória, tem a arte na alma, como ela todos nesse país, vive a expectativa de ver uma igualdade social de verdade???