Guilherme Piva

Guilherme Piva

Guilherme Piva deixou a faculdade de Direto para seguir o teatro, sua verdadeira vocação. E bastam poucos minutos de conversa com o ator, para perceber sua paixão e euforia pela arte. Foi no Teatro Leblon, onde está em cartaz com o espetáculo “A Invenção do Amor”, ao lado da atriz Maria Clara Gueiros, que ele nos recebeu com todo carinho, simplicidade e bom humor. Confira nosso bate papo.

NJ: Você chegou a estudar Direito, mas não se identificou com o curso e a profissão. Em qual momento da vida decidiu pelo teatro?

Guilherme: Na verdade, eu morava lá no Sul e vim morar no Rio. Quando chegou o momento de escolher uma faculdade, eu queria Publicidade, mas meu pai era advogado, já tinha os escritórios dele e acabei optando por seguir a mesma profissão. Nessa mesma época, me mudei para o Rio e um dia, enquanto estava procurando apartamento,  abri o jornal e vi o anúncio de um curso de teatro. Eu nunca havia pensado em estudar teatro, mas resolvi fazer. No meio do curso,  já estava completamente apaixonado. Antes de terminar, o professor me indicou para um trabalho que foi bem longo. Com o passar do tempo, foi ficando difícil conciliar as duas coisas e eu acabei largando a UFRJ. A verdade é que o Direito nunca me encantou e cada vez que ele me encantava menos, o teatro ia me encantando mais. Então, optei pelo teatro.

NJ: Seu pai, advogado, realmente gostaria que você seguisse a carreira da advocacia. Como sua família reagiu quando optou pela carreira artística?

Guilherme: Reagiu bem mal rsrs. Minha família se preocupava muito, achava que eu tinha que fazer uma faculdade, ter um diploma. E eu poderia ter terminado, muita gente trabalha e estuda, mas é que eu realmente não curti Direito, não gostei mesmo e acabei largando.

NJ: Qual é a importância do teatro na sua vida?

Guilherme: Toda. Comecei aos 17 anos, a interpretação é a minha vida e o teatro é a minha base. Inclusive, só comecei a fazer televisão dez anos depois. Eu faço muito teatro até hoje. Ele foi a minha escola e minha grande turma de amigos vem do teatro. Eu fui me identificando, emendando um trabalho no outro e a carreira começou a acontecer.

NJ: Você está em cartaz com “A Invenção do Amor” como o espetáculo aborda esse tema tão amplo que é o amor?

Guilherme: Em Londres tem uma Companhia formada por três atores que pega uma história inteira, por exemplo, a história da bíblia, a história da América, a história de Shakespeare e encena tudo em uma hora e meia. Eles ligam o relógio e cada pedaço da história é contado com uma técnica diferente. A gente tinha muita vontade de fazer algo nessa linha. A Thereza  Falcão e o Alessandro Marson escreveram o texto brilhantemente, contando como o amor começou e como foi evoluindo ao longo do tempo. As situações são ilustradas com referência aos casais famosos da história:  Romeu e Julieta, Sansão e Dalila e etc. Trata-se de  uma comédia romântica. Tem a briga, a separação, o ciúme… todos nós temos uma identificação muito grande porque todos vivemos isso em uma relação de amor.

NJ: Ao longo do tempo, as relações amorosas nem sempre são favoráveis às mulheres. A peça questiona o machismo?

Guilherme: No começo é super machista. Ela fica grávida e  eles descobrem que isso aconteceu porque  fizeram “fuc fuc” (é assim que eles chamam o sexo na peça). Antes, eles achavam que os deuses que mandavam os filhos. Quando descobrem que a procriação está ligada ao sexo, ele propõe um relacionamento em que ela seja só dele. Mas quando ela pede a mesma exclusividade, ele diz que não faz sentido e argumenta que ele pode ter várias mulheres ao mesmo tempo porque homem não pode engravidar. Ou seja, apenas a mulher teria a “obrigação” de ser monogâmica.

NJ: Como funciona a troca de roupa durante o espetáculo?

Guilherme: Não há troca. o casal pré-histórico  coloca um adereço ou outro para caracterizar. É tudo do cenário. Uma pedra vira escudo, sabe? É quase uma brincadeira, tudo faz parte, tudo que está em cena se transforma.

NJ: Você tem como companheira de palco a atriz Maria Clara Gueiros. Como está sendo dividir a coxia com ela?

Guilherme: Ah! está sendo  ótimo!! A gente já se conhecia, já tinha trabalhado juntos na TV, mas nunca no teatro que é outro tipo de intimidade. Trabalhar com a Maria Clara é uma delícia! A gente tem tudo a ver, nosso humor tem a ver, a gente se respeita muito, se diverte muito. É uma grande parceria que se formou.

NJ: Você prefere o humor ao drama?

Guilherme: Eu gosto dos dois, mas acho que tenho maior facilidade com o humor. Gosto muito do humor com verdade, sabe?

NJ: Considerando todas as dificuldades da carreira de ator, alguma vez pensou em desistir ?

Guilherme: Sim! Até hoje! rsrs. É uma carreira muito difícil, sobretudo nessa situação que o país está vivendo agora, em que a arte sempre acaba ficando em segundo plano. O mundo está em uma crise horrorosa, está quebrado. A arte é cada vez mais afetada, a gente não tem incentivo. Aqui no Rio, está cada vez pior e o público também é afetado. Vir ao teatro, ir ao cinema, passou a ser luxo porque cada dia que passa, os os brasileiros têm mais dificuldade para conseguir pagar as contas. E o número de desempregados, infelizmente, só aumenta. Mas a gente costuma dizer, que quando se é mordido pelo teatro, é incrível. Você trabalha com prazer e vai passando pelas dificuldades. Mas claro que a pessoa que trabalha com arte, tem que ir abrindo outras possibilidades para conseguir sobreviver. Eu, por exemplo, estou dirigindo bastante e encontro tanto prazer na direção quando na atuação.

NJ: Você vai fazer outra novela agora,né? Já começou a gravar?

Guilherme: Já sim! Estou fazendo uma novela que é da Thereza Falcão e do Alessandro Marson, mesmos autores do espetáculo. Chama-se “Novo Mundo”. Faço o dono de uma taberna, a Taberna dos Portos. Meu personagem é casado com a Márcia Cabrita e eles são muito imundos. Tanto, que a taberna é conhecida na cidade como “Taberna dos Porcos” rsrs. Eles aprontam bastante, são meio loucos.  Mas sempre com uma pitada de humor. A expectativa é estrear em março.

NJ: Como foi a experiência de participar de Malhação interpretando personagens diferentes e em momentos distintos da sua carreira?

Guilherme: Na primeira vez foi uma participação de dois meses. A Malhação que fiz inteira, foi a Malhação Sonhos, foram 16 meses. E ela foi tão linda, tão lúdica. Ela retratou bem a luta e os sonhos. Isso me deixou fascinado!

NJ: Você tem algum arrependimento?

Guilherme: A  gente sempre tem um ou outro arrependimento, mas eu sou uma pessoa muito espiritualizada e acredito que até as adversidades, até o que você faz de errado, até o que você se arrepende, o que acha que poderia ser diferente, faz parte do crescimento. Eu sempre fico tentando entender o “para quê”  e o que eu posso evoluir a partir dali. Não acho que a coisa vem à toa.

NJ: O que você gostaria de fazer como artista que ainda não fez?

Guilherme: O ator tem o sonho do vilão rsrs. Eu também tenho essa vontade, mas quero muito fazer um personagem que tenha alguma disfunção emocional. Pessoas que trocam de personalidade, sabe? Gosto de mexer com os transtornos, isso me instiga muito.

NJ: Seu personagem em Xica da Silva fez tanto sucesso que acabou crescendo bastante na trama. Quando leu a sinopse, esperava toda essa repercussão?

Guilherme: Não, porque na verdade eu não ia fazer esse papel. O Avancini foi me ver no teatro e me chamou para fazer a novela. Mas na época, eu estava produzindo uma peça que o Miguel Falabella escreveu pra mim e para a Susana Ribeiro. A peça deu super certo, fez um sucesso enorme e a gente estava reestreando no teatro Ipanema. Então eu disse ao Avancini que não poderia viajar para fazer a novela, pelo período de 2 meses,  que era o período da temporada da peça. Fiz a preparação e na semana da estreia da novela ele avisou que teríamos que viajar para Juiz de Fora. Perdi o papel e fiquei arrasado. Mas não podia ir, estava comprometido com o teatro e a peça não tinha stand-in (substituto). No último domingo da temporada, ele me ligou pra fazer o teste para um outro papel. Na segunda fui conversar com ele, no mesmo dia pintei o cabelo de ruivo e na terça já comecei a gravar. Fiquei meio preocupado porque até então, eu não havia feito televisão e achava que tinha que ter toda aquela coisa de processo, de preparação. E a velocidade da TV é enorme, muitas cenas gravadas no mesmo dia. Eu não estava acostumado com a câmera, era muito teatral.

NJ: Como foi ser dirigido pelo Walter Avancini já no seu primeiro trabalho na TV?

Guilherme: Foi incrível! Ele era muito exigente e a gente se afinou muito nisso, ele foi um mestre pra mim, foi a minha grande base na televisão. Eu devo muito a ele e até hoje uso seus ensinamentos. O papel era uma participação de três meses e acabou fazendo parte da novela inteira, foi um grande sucesso! Ele tinha uma técnica muito poderosa, sabe? Do DNA, do olhar, de como mudar o personagem. Eu fiz um personagem super composto e coube muito bem na televisão. Eu tive alguns receios e ele me orientou lindamente. Todo mundo acabava o dia exausto, mas com a sensação de ter dado o seu melhor. Eu me dei muito bem com a técnica dele tanto em Xica da Silva quanto em Mandacaru, que veio em seguida. Sem dúvidas foi um grande mestre! Um grande diretor!

NJ: Em qualquer profissão, sempre existem os que estão lá para elogiar e os que estão para criticar. Na arte, pelo trabalho ser mais visível, é natural que tenha muita gente opinando. Como você lida com isso?

Guilherme: Hoje em dia bem melhor, mas não é fácil. Hoje, com essa coisa toda de tecnologia, é muita gente dando opinião sobre tudo. Quando eu comecei, não tinha nada disso, você tinha um jornal local. Aqui tinha o JB e depois O Globo. Todo mundo lia, todo mundo tinha. A crítica da Bárbara Heliodora virava o sucesso ou não da temporada, o que ela falava determinava muito. E eu ficava muito ansioso. Hoje, não é agradável ouvir uma crítica negativa, mas é tanta gente dando opinião, que às vezes a crítica é apenas uma opinião própria. E o artista fica muito exposto, qualquer pessoa pode criticar, a gente fica desnudado dos pés a cabeça. Além disso, quando comecei, era mais inseguro. Hoje já consigo ler e analisar a crítica. Algumas pessoas só gostam de um determinado gênero e vão criticar negativamente tudo que fuja daquilo. Tudo isso deve ser analisado, você vai entendendo qual é a visão da pessoa.

NJ: Como expectador, qual foi a sua novela preferida?

Guilherme: Olha, eu via muita novela. Adorava!!! Mas “Água Viva” mexeu muito comigo porque além de gostar muito da novela, foi ali que me apaixonei pelo Rio de Janeiro, a cidade era muito mostrada e eu não conhecia o Rio. Quando eu tinha uns 15 anos, meu pai veio fazer um trabalho de poucos dias aqui e me trouxe. Fiquei fascinado! Aos 17, quando me mudei pra cá, lembrei logo de Água Viva.

NJ: Uma frase

Guilherme: Tem uma frase de Kafka, que li há anos trás, mas que ficou muito presente em minha vida:

“ Não acorde o futuro pois ele pode te dar um presente sonolento”. E é bem isso, né? Não adianta ficar querendo muito porque o que você quer pode não ser  o melhor naquele momento. E algumas vezes,  o melhor nem é uma grande felicidade, é uma adversidade para você poder crescer como pessoa.

NJ: Um lugar

Guilherme: Rio de Janeiro. Eu adoro viajar, já conheci lugares incríveis, mas o Rio é uma das cidades mais lindas que existe. Tem uma lagoa no meio, mar de uma lado, tem montanhas, tem pedras, tem tudo. E a pessoa consegue interagir com tudo! É lindo! É incrível! Claro que temos o problema da violência, dos preços altíssimos, absurdos! Mas eu brinco que sou um gaúcho carioca da gema, tenho um amor enorme pela cidade!

NJ: O que mais sente saudades do sul?

Guilherme: Eu saí do sul muito cedo, mas eu gosto muito do sul, tenho uma relação super bacana com a região. Chego lá e respiro minha vida, o saudosismo, minha base. E eu gosto muito do clima, do frio.

NJ: Um sonho

Guilherme: Essa é difícil, porque os sonhos vão mudando. Já tive muitos sonhos relacionados à carreira. Mas há um ano e meio sigo o Prem Baba e esse grau de espiritualidade mudou minha vida em todos os sentidos e tem trazido muitas alegrias. Eu estou vivendo um sonho que não sonhei, mas aconteceu e está sendo maravilhoso. Em 2016 passei um mês na Índia. Foram 15 dias de retiro espiritual com ele e 15 dias passeando, conhecendo a região.

NJ: Guilherme Piva por Guilherme Piva

Guilherme: Hummm Guilherme Piva! rsrsrs

Galeria:

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

2 Comments

  1. Avatar
    Dalia Leal
    30 de janeiro de 2017 at 10:49 Reply

    Luciana Leal, excelente entrevista!
    Belas fotos!
    Gostei!
    Parabéns!!!

  2. Avatar
    Paulo Sergio Ribeiro
    1 de fevereiro de 2017 at 22:42 Reply

    Ótima matéria!
    Valeu Luciana Leal!

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