Desde criança Carolina Stofella já sonhava em tornar-se atriz. Ela está em cartaz com a peça “Eles não Usam Black- Tie”, texto de Gianfrancesco Guarnieri e adaptação de Dan Rosseto. Acompanhe nosso bate-papo.
SNJ: Carolina, Como e quando decidiu que gostaria de ser atriz e viver da arte?
Carolina: Desde criança eu dizia que queria ser atriz. Ficava horas assistindo novelas e filmes e desejando estar lá vivendo aquelas histórias. Quando assistia uma peça infantil era a mesma coisa, eu queria estar lá no palco. Achava que os artistas não tinham casa. Viviam assim, pelo mundo afora. rsrs. Fiz faculdade de Turismo e quando tive uma oportunidade fui para o Rio estudar artes cênicas na CAL (Casa das artes de Laranjeiras). Foram três anos respirando arte intensamente. E desde que me formei estou no palco. Tenho paixão pelo meu ofício. Não vivo sem.
SNJ: Você está em cartaz com a peça “Eles não Usam Black- Tie”, texto de Gianfrancesco Guarnieri e adaptação de Dan Rosseto. Conte-nos um pouco sobre o espetáculo.
Carolina: É um dos textos mais importantes da nossa dramaturgia e está completando sessenta anos. É um drama familiar com um fundo social e político. A peça faz um debate entre a coletividade e o individualismo através da história de uma família simples, onde o pai é um operário líder de uma greve para buscar melhores condições de vida e o filho que não quer participar e busca segurança e uma vida melhor do seu jeito. Um alegria imensa estar nesse projeto por tudo que ele significa e pelo momento que estamos vivendo. É muito especial.
SNJ: Trata-se de uma obra forte e de grande apelo político. Você também costuma se posicionar sobre esses assuntos? Qual é a sua opinião sobre o atual quadro político do país?
Carolina: Acho que com o Black-tie temos uma oportunidade incrível de protestarmos no palco. Podemos fazer o público se questionar. Ver o público falando sobre a peça depois e debatendo o assunto é gratificante e motivador. Acredito nessa função do artista, a de mexer com o outro, provocar discussões. O cenário político atual é desesperador. Não temos opção de votar em alguém que realmente queira melhorar o país. Uma tristeza.
SNJ: Como se preparou para viver a Dalva?
Carolina: Fizemos um trabalho de mesa com o texto original e com a adaptação. Fiz uma pesquisa corporal intensa pra chegar no comportamento dessa mulher que quer ser vista e admirada. Também encontrei uma voz e um jeito de falar. Ela fala mais alto, tem um tom acima e fala o que pensa. É meu segundo espetáculo com o Dan Rosseto, que é um diretor muito dedicado e intenso com quem eu amo trabalhar e que me dá uma liberdade enorme para criar. A Dalva é uma personagem bem pequena no texto original. Nessa adaptação, ele aumentou sua participação e a desenvolveu nos três atos da peça. Eu recebi isso como um presente.
SNJ: No ano passado você ensaiou e estreou dois espetáculos ao mesmo tempo, em cidades diferentes e com personagens e processos intensos e distintos. Como foi a experiência?
Carolina: Foi uma loucura! Ensaiei de segunda a quarta pela manhã em São Paulo e de quarta à noite à domingo no Rio durante quase três meses. Duas personagens e processos totalmente diferentes. Procurei me doar cem por cento para cada um. Acabei exausta, mas tão feliz que fez tudo valer a pena. Os processos foram riquíssimos. Cresci muito, amadureci artisticamente e o resultado foi lindo.
SNJ: Você integrou o elenco do filme “Histórias íntimas”, longa vencedor de “ Melhor Doc. Drama no Los Angeles Brazilian Film Festiva”. Como foi participar do projeto e o que o prêmio significa pra você?
Carolina: Foi meu primeiro longa. O Julio Lellis é um diretor extremamente cuidadoso e dirige com uma delicadeza admirável. Quando o filme venceu no LABFF ficamos todos muito felizes e orgulhosos desse trabalho feito na raça, sem patrocínio. Um prêmio sempre me dá a sensação de mais responsabilidade, mais pé no chão e mais certeza de que só se alcança um bom resultado com muito trabalho e dedicação. A parceria com o Julio foi tão linda que temos planos para um novo filme.
SNJ: Quais lembranças guarda do espetáculo “A Antessala” onde atuou ao lado de Joana Fomm e um elenco incrível?
Carolina: A Antessala foi um espetáculo muito bem recebido pelo público. Tivemos o teatro lotado durante toda a temporada no Rio e isso, hoje em dia, é um privilégio. Foi uma honra dividir o palco com a Joana. Gostava de chegar bem cedo e conversar com ela no camarim, ouvir suas histórias sobre a carreira e o que enfrentou durante a ditadura. Guardo esses momentos com muito carinho. Uma ótima colega de trabalho que se tornou uma amiga muito querida.
SNJ: Como costuma se preparar para entrar no palco?
Carolina: Eu chego bem cedo no Teatro. Gosto de me arrumar com calma e ter um tempo para conversar com os meus colegas no camarim. É o que levamos de cada trabalho, né? Além do crescimento, as relações e laços que criamos. Tive muita sorte de até hoje trabalhar com pessoas muito bacanas que acabam virando amigos pra vida toda. Faço alguns exercícios para aquecer corpo e voz e geralmente passo meu texto e minhas marcas. Depois eu rezo. Antes de entrar em cena sempre fazemos uma roda, todos juntos, trocamos energia e nos desejamos um lindo espetáculo.
SNJ: É possível escolher a personagem mais marcante da sua carreira até agora?
Carolina: Não! rsrs É tão difícil pra mim. Eu sou muito apaixonada por todas elas. Com cada uma convivi por um tempo e aprendi alguma coisa. Eu tive muita sorte de ter dado vida à personagens tão interessantes e que sempre tinham algo a dizer. Aliás, sempre entro em um projeto quando acredito que possa mexer com as pessoas, textos e personagens que tenham algo a dizer. Tenho paixão pela Gá, de “Homens de Papel” do Plínio Marcos. Gá era autista e eu pesquisei e estudei tanto para compor essa personagem. Foi um grande desafio. Para viver a Marion Silver, da adaptação de “Réquiem para um sonho” precisei entender a força do vício, a loucura de estar disposta a fazer qualquer coisa por um pouco de heroína. Era um universo muito distante do meu. No ano passado fiz a Ellen de “Enquanto as crianças dormem”, do Dan Rosseto. Uma personagem desafiadora e cheia de camadas. A cada cena ela apresentava mais uma face da sua personalidade. E teve também a Alice, de “Alices”, com direção do Léo Gama. Uma mulher que foi violentada e assassinada pelo ex marido. Uma mulher romântica que vê seus sonho desmoronando. Era tanta esperança e dor pulsando ao mesmo tempo. Emoção à flor da pele. E agora estou apaixonada pela Dalva (de “Eles não usam black-tie”). Uma mulher alegre, leal e animadíssima. Uma mulher que mantém a alegria diante das dificuldades e que esconde suas dores. Depois de personagens tão intensas, está sendo uma delícia viver essa mulher tão solar.
SNJ: Como você avalia a atual política cultural brasileira?
Carolina: As coisas estão bem difíceis, mas graças a Deus faço parte de uma turma que levanta e faz. Teatro é feito com união e força conjunta. No ano passado fizemos um espetáculo através de financiamento coletivo. Fiz vários espetáculos na raça. Não dá pra ficar esperando. Infelizmente, a cultura no nosso país não é valorizada. Se a arte sobrevive é porque somos loucamente apaixonados pelo que fazemos.
SNJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?
Carolina: Socorro! Tanta coisa. Eu não posso ver um ator incrível, inteiro, arrebentando em cena. Choro mesmo. Uma vergonha! rsrs Também me emociono muito com os animais. O olhar do meu cachorrinho me pedindo ou me agradecendo alguma coisa me deixa extremamente emocionada. Ver pessoas realizando seus sonhos, a natureza, um por do sol, tanta coisa…
SNJ: Como costuma cuidar do corpo e da mente?
Carolina: Fiz ballet durante dez anos e estou louca pra voltar a dançar. É uma paixão. Faço sapateado, Pilates, crossfit e costumo correr ao ar livre pelo menos duas vezes por semana. Sinto necessidade de movimentar o corpo. Eu tenho um amor imenso pela vida. Uma vontade de aproveitar tudo! Acredito que somos o resultado dos nossos pensamentos então eu levo a vida de uma maneira bem leve, alegre e saudável.
SNJ: Como foi estudar na Broadway Dance Center, um dos principais centros de dança do mundo?
Carolina: Uma super experiência. Morro de vontade de voltar. As aulas são incríveis e bem puxadas. Fiz aulas de jazz contemporâneo e “Theatre Dance”, que eram aulas bem interessantes. Fazíamos as coreografias sempre com uma intenção diferente proposta pela professora. Uma delícia.
SNJ: O que mais gosta de fazer com seu tempo livre?
Carolina: Num tempo mais longo viajar sempre é a primeira opção. Amo conhecer lugares e pessoas. No dia a dia, eu gosto de ler, assistir séries (adoro maratonar!), encontrar os amigos e ir ao cinema e ao teatro. Quando não estou em cartaz consigo assistir duas ou três peças por semana.
SNJ: Como você avalia a importância da TV e da internet como mídias fortalecedoras do
empoderamento feminino?
Carolina: As mídias que tem um longo alcance também tem uma responsabilidade e um poder enormes. É fundamental que falem e coloquem esse e outros assuntos importantes no ar. Precisamos falar, alertar e levantar discussões. É nosso dever falar sobre assuntos relevantes e necessários para a sociedade. Precisamos nos unir, nos incentivar, motivar… Mostrar às mulheres que sofrem alguma violência que elas não estão sozinhas e precisam se libertar e descobrir o seu valor. Cresci numa família de mulheres fortes que foram à luta e conquistaram seu espaço. É importantíssimo ter consciência de que se pode ser e fazer o que quiser.
SNJ: Uma mania
Carolina: Falar sozinha. Ler revistas de trás pra frente… rsrs
SNJ: Uma frase
Carolina: “ A vida é pra quem é corajoso o suficiente pra arriscar e humilde o bastante pra aprender”
SNJ: Um lugar
Carolina: Florianópolis. Minha raíz está lá.
SNJ: Uma característica marcante
Carolina: Acho que a alegria.
SNJ: Um livro
Cem anos de solidão (Gabriel Garcia Marquez)
SNJ: Prato preferido
Carolina: Qualquer uma feita pela minha vó. E, também, sou a louca dos doces! Cocada, brigadeiro, bolo de cenoura, cheesecake…
SNJ: Uma viagem inesquecível
Carolina: Eu fiquei maravilhada com Roma. É um dos lugares mais incríveis que já visitei. NYC também é sempre inesquecível.
Mas fiz uma viagem tão gostosa com meu pai e minha irmã para o Chile, que até hoje lembro com muito amor. Viajamos de carro durante vinte dias e conhecemos lugares lindos.
SNJ: Um filme
Carolina: Muito difícil escolher um filme. Dos últimos que assisti, “Relatos Selvagens” foi um dos que mais gostei. Mas eu também amo tanto os filmes do Almodovar que não seria capaz de escolher só um! rsrs Adoro Darren Aronofsky, Spielberg, Tarantino, Woody Allen, Tim Burton… Laís Bodanski e Anna Muylaert fazem filmes tão delicados e tão fortes ao mesmo tempo. Eu amo cinema.
SNJ: Uma música
Carolina: Gente! Não consigo escolher só uma opção de nada! rsrs Amo os Beatles. Cassia Eller, Rita Lee, Caetano e Marisa Monte.
SNJ: Um sonho:
Carolina: São tantos… Sonho em fazer as personagens mais loucas, contracenar com atores que admiro e ser dirigida por diretores incríveis. Sonho em conhecer muitos lugares ainda e exercer a minha profissão até ficar bem velhinha. É muito bom sonhar. São os rascunhos da vida.
SNJ: Carolina Stofella por Carolina Stofella
Carolina: Muitas em uma, mas todas elas muito de bem com a vida.
1 Comment
Fabiana L M
10 de outubro de 2018 at 10:43Boa atriz e inteligente! Pontos de vista interessantes. Gostei!