Pedro Henrique Lopes

Pedro Henrique Lopes

Pedro Henrique Lopes começou no teatro aos dez anos de idade e não parou mais. É  ator, cantor e dramaturgo. Fez recente participação na novela “Verão 90”, da Rede Globo e está em cartaz no teatro Clara Nunes, na Gávea, com o espetáculo “Tropicalinha – Caetano e Gil para crianças”, com texto de sua autoria. É com ele que conversamos agora.

SNJ: Pedro, você sempre quis ser ator? Como tudo começou?

Pedro: Não… (risos).. Quando eu era criança, queria ser veterinário. Até que percebi que tinha muita pena dos animais doentinhos… Depois quis ser publicitário… Mas sempre gostei muito de teatro e tinha alguma coisa que me fazia querer ser ator… Com 10 anos eu comecei a fazer aulas de teatro e não consegui mais parar!

SNJ: Como foi a experiência de trabalhar na Disney?

Pedro: Foi maravilhosa! Mudou muito a minha relação com a arte, com o entretenimento… Foi muito importante para eu ter certeza do que eu queria para minha vida e me ajudou a enxergar caminhos dentro da profissão que eu não enxergava antes. Foi quando me deu um estalo de que era possível viver sendo artista!

SNJ: O que mais o interessa no processo de construção teatral?

Pedro: O processo inteiro me interessa. Me divirto muito sozinho imaginando espetáculos, processos, textos… Depois é maravilhoso quando começo a compartilhar minhas ideias com outras pessoas e as opiniões delas acabam interferindo na minha ideia inicial. E é maravilhoso quando as ideias começam a tomar forma, a ganhar o palco… Mas, para mim, nada se compara ao prazer de ver os olhos do público enquanto o espetáculo finalmente acontece.

SNJ: Como nasceu o projeto “Grandes Músicos Para Pequenos”?

Pedro: Em 2013, eu e o Diego Morais (diretor dos espetáculos e meu sócio no “Grandes Músicos para Pequenos”) decidimos pensar um espetáculo sobre Luiz Gonzaga, em comemoração ao centenário do Rei do Baião. Fizemos o “Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga para Crianças”. Era para ser um espetáculo pontual, mas percebemos que existia uma vontade (no público e na gente) de mais espetáculos voltados para a família toda e que valorizasse a cultura brasileira. Em 2016, estreamos “O Menino das Marchinhas – Braguinha para Crianças” e, neste momento, decidimos que este seria um projeto nosso: o Grandes Músicos para Pequenos.

SNJ: Quais foram os outros espetáculos do projeto? Há planos para outros musicais do gênero?

Pedro: “Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga para Crianças” (2013), “O Menino das Marchinhas – Braguinha para Crianças” (2016), “Bituca – Milton Nascimento para Crianças” (2017) e “Tropicalinha – Caetano e Gil para Crianças” (2018). Se tudo caminhar bem, teremos novos espetáculos em breve, mas ainda é segredo! (risos).

SNJ: Você está em cartaz no teatro Clara Nunes com o espetáculo “Tropicalinha, Caetano e Gil para crianças”. Conte-nos um pouco sobre a história da peça e como o tropicalismo é abordado.

Pedro: A gente criou um universo lúdico para falar do Tropicalismo como um movimento de ruptura e de resistência em sua época. Em cena, a gente tenta transportar o clima da Tropicália para o público infantil através das músicas da época, da estética em cena, dos arranjos musicais muito cheios, das referências de outras áreas culturais e etc… Até na escolha por um tom mais farsesco de encenação que o dos outros espetáculos… Tudo que está em cena é uma homenagem ou uma metáfora tropicalista!

SNJ: A amizade e parceria profissional entre Gil e Caetano é abordada no palco?

Pedro: É de onde a gente partiu para criar o espetáculo. Mais do que uma homenagem ao Tropicalismo, o espetáculo é uma celebração da amizade e da parceria profissional entre Caetano e Gil.

SNJ: Como se deu a escolha do repertório para o espetáculo?

Pedro: Isso é sempre complicado! (risos)… Inicialmente, eu seleciono muitas músicas… Entre as mais famosas até as mais desconhecidas… Já com a ideia do espetáculo na cabeça e no papel, eu fico ouvindo essas músicas incansavelmente para entender o que elas falam além do que está escrito. Quando começo a escrever o texto propriamente dito,  já tenho uma ideia das músicas que me ajudarão a contar melhor a história de cada cena. Aí é um quebra-cabeças e um processo vivo! O Diego Morais, que é o diretor, sugere trocas, cortes, aumentos… A gente vai negociando em busco do melhor para o espetáculo.

SNJ: Quais são as lições que pretende passar para as crianças que assistirem ao musical?

Pedro: Isso é muito complicado. Não existe muito bem uma lição a ser passada. Sempre que escrevo um texto para crianças, existem os temas abordados e as situações que se desenrolam em cena, mas nunca penso muito numa mensagem. Não tenho essa pretensão. Acho muito mais interessante apresentar situações em cena e deixar com que as crianças construam seus sentidos e suas mensagens. As crianças são muito mais inteligentes e criativas que nós adultos. Elas sempre me surpreendem quando falam sobre os espetáculos.

SNJ: Você também é autor de “Bituca- Milton Nascimento para crianças” que abordava adoção e preconceito racial. Abordar temas como esses em um espetáculo voltado para o público infantil também é uma forma de educar através da arte?

Pedro: Acredito que uma das funções da arte é retratar e questionar o seu tempo. A gente vive numa sociedade de herança racista. O que fizemos no “Bituca” foi expor o preconceito racial arraigado em nossos comportamentos, em nossa sociedade, de forma que as crianças refletissem sobre ser igual, mesmo sendo diferente. Quando terminei o texto e mandei para equipe criativa, todos disseram que o texto não era infantil. O Diego Morais, diretor do espetáculo, buscou muito a infância na encenação. Mas, o texto, com sua “complexidade”, permaneceu intacto. E, como eu disse ainda agora, as crianças SEMPRE nos surpreendem!

SNJ: Quais são as facilidades e dificuldades de ocupar ao mesmo tempo as funções de ator e autor?

Pedro: São duas pessoas diferentes! Hahaha… Um fica em casa no computador escrevendo e ou outro vai pra sala de ensaio e para o palco. Eu brinco que, depois que termino o texto, o Pedro autor deixa de existir. Ele só aparece de novo quando precisa fazer algum ajuste, ou quando o diretor sugere algum corte, ou pede alguma cena nova… hahahaha… Mas é um exercício muito interessante. Porque quando eu escrevo um texto, eu tenho diversas ideias sobre a encenação e os personagens, afinal tudo existe dentro da minha cabeça. Quando a gente vai começar o processo de ensaios, eu preciso me livrar do que estava na minha cabeça para descobrir coisas novas sobre os personagens (porque todo mundo traz muita coisa nova a cada leitura) e sobre as ideias de encenação. É um eterno processo de desapego! Hahaha…

SNJ: Como você avalia o mercado voltado para o teatro infantil no nosso país?

Pedro: Tem muita coisa legal sendo feita desde sempre! Acho lindo que existam profissionais realmente preocupados com a qualidade do conteúdo a ser disponibilizado para as crianças. Não só no teatro, mas em todos os meios. E acho interessante que os adultos que fazem teatro para infância estejam antenados à evolução destas crianças. Porque a criança de hoje, que nasce com um tablet nos braços, não é a mesma de 10 anos atrás. Isso muda tudo e influencia diretamente na conexão que a gente no palco estabelece com elas!

SNJ: Quais são as principais diferenças entre fazer teatro para adultos e teatro infantil?

Pedro: Precisa existir um cuidado maior quando se fala com as crianças. Afinal, eles ainda estão em formação e acabam reproduzindo muito do que observam no mundo. Além disso, as crianças são muito mais sinceras (risos).

SNJ: Quais são as lembranças que guarda da novela “Aquele Beijo”?

Pedro: Nossa! Isso tem muito tempo! Foi um momento muito legal porque eu era super novo e ficava observando os atores mais experientes em novela trabalhando. Foi um tempo de muito aprendizado e de amizades que carrego até hoje!

SNJ: Como foi a sua participação na novela Verão 90? 

Pedro: Super divertida! A novela é uma delícia de assistir e, brincar de viajar no tempo sendo adulto nos tempos em que eu era criança, foi muito legal!

SNJ: O que é felicidade pra você?

Pedro: Poder fazer o que eu acredito.

SNJ: Uma frase

Pedro: Uma??? Não faça isso comigo… Hahahahaha… Tem algumas que ficam estampadas na minha parede para que eu leia diariamente. Vou escolher uma: “Sonhe grande! Trabalhe duro!”. Droga, são duas! hahahah

SNJ: Um sonho

Pedro: Maior igualdade social no mundo.

SNJ: Um lugar

Pedro: Minha casa.

SNJ: Um livro

Pedro: Extraordinário (sim, leio muita literatura infanto juvenil hahaha)

SNJ: Uma música que o faz sorrir

Pedro: Interestelar, do grupo Mulamba

SNJ: Pedro Henrique Lopes por Pedro Henrique Lopes

Pedro: Viiixe! Hahaha… Ah! Eu tento ser uma pessoa legal sempre e com todo mundo!

SNJ: Pedro, muito obrigada por participar da Nossa Janela.

Galeria:

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

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