Luiza Porto

Luiza Porto

Foto: Osmar Lucas

Luiza Porto é a voz por trás de muitos personagens famosos de séries do Disney Channel,  Nickelodeon  e Netflix. Dona de uma mente extremamente criativa e sensível, sonha alto e costuma seguir as próprias intuições. Conversamos com a atriz e dubladora sobre a paixão pela arte, as etapas do processo de dublagem  e a importância de peças voltadas para o público infanto-juvenil.

NJ: Luiza, como a dramaturgia chegou à sua vida?

Luiza: Quando eu era adolescente amava ler livros fantásticos, principalmente aqueles que aconteciam coisas impossíveis e descobriam-se mundos diferentes, acho que sempre gostei de ser levada por uma boa história. Quando me dou conta que faço isso como profissão, tenho a certeza que estou fazendo algo que faz parte de mim. Viver de fato um personagem e imergir em seu universo é algo delicioso e assustador, mas impossível de abandonar.

NJ: Como atriz, como avalia a necessidade de peças voltadas para o público infanto-juvenil?

Luiza: Eu acho extremamente necessário peças para o público infanto-juvenil. Existe um “buraco” no público teatral, pois há peças infantis ou adultas e ponto, o público infantil não migra pro adulto. Com a Cia do Bigode nós fizemos um trabalho intenso com o público jovem, através do espetáculo “O Alvo- Ser ou Não Ser o Centro Das Atenções”, onde discutíamos o bullying pelo ponto de vista das agressoras. O espetáculo foi premiado pelo FEMSA, como Melhor Espetáculo e Melhor Texto Original, com críticas excelentes. Mesmo assim, encontramos dificuldades para fechar a pauta em teatros e a divulgação, por ser um espetáculo jovem. Ao fim da apresentação, nós abríamos um bate-papo para conversar sobre o tema e a troca era simplesmente fantástica. É mais que necessário essa troca com o público jovem, afinal eles são os grandes transformadores.

NJ: Como você ingressou no mundo da dublagem?

Luiza: Eu já trabalhava com teatro e amava esse universo da dublagem quando resolvi fazer um curso. Me apaixonei pela possibilidade de mais um caminho pra interpretação. Meu caminho cruzou com a dubladora Andressa Andreatto, no espetáculo infantil “A pequena Sereia” dirigido por Paulo Ribeiro, que hoje é uma das minhas melhores amigas e integrante da Cia do Bigode e esse encontro que me fez ir em busca deste trabalho tão legal. Por cantar, surgiu a oportunidade de fazer um teste e peguei a Summer da série “Henry Monstrinho, do Disney Junior. Foi um mega desafio e um incrível aprendizado. Eu saía do estúdio suada de nervoso, com a mente cansada, mas muito feliz com o novo caminho. Eu conto que aprendi a fazer o “vibrato” no estúdio com a Cidalia Castro, era uma vitória a cada música e episódio. Um trabalho foi ligando ao outro bem devagar e hoje já são sete anos de dublagem. Mas ainda falta muita coisa pra aprender.

NJ: Quais são as etapas de um processo de dublagem?

Luiza: Quando um produto chega ao estúdio primeiro ele será traduzido, o diretor ou a produção fará a escalação de atores para o teste ou direto para o filme. Só quando chegamos ao estúdio e consultamos a pedra (quadro de programação) vemos qual será o trabalho. O diretor nos conta sobre a história e a curva do seu personagem, assistimos a cena, marcamos as pausas no texto, ensaiamos e gravamos. Muitas vezes vemos pequenas cenas de um filme, o que nos faz saber muito pouco do que acontece. Eu morro de curiosidade e dependendo do filme eu vou assistir depois pra ver como ficou.

NJ: Quais foram os personagens que mais curtiu dublar?

Luiza: Além do apego carinhoso da Summer de “Henry Montrinho” por ter sido minha primeira personagem, outras por quem sou apaixonada: Chloe de “Dance Mom’s”, quando comecei a dublar ela, Chloe ainda era uma criança e acompanhei sua paixão pela dança, o momento em que desistiu de tudo e anos depois quando ela voltou. Criei um laço afetivo por toda a sua batalha desde tão pequena e me identifiquei por ter sido ginasta quando mais nova, sei o quanto é difícil tomar certas decisões. Naomi de “Elena de Avalor”, além de fisicamente ser muito parecida comigo, ela é uma mulher muito forte, cuida do Porto e faz parte do conselho da Elena, as músicas que ela canta sempre são um desafio e um chiclete que fica na cabeça durante semanas. Lele de “Lele e Linguiça”, é a personagem mais fofa que eu já fiz, uma garotinha que fala muito rápido e sabe o que quer, vive aventuras ao lado de seu fiel cachorro, que tenta salvá-la dos perigos a sua volta, assisto esse desenho em casa e me divirto. Seria impossível listar todos os personagens por quem criei carinho, pois eu não consigo não me envolver com a história deles.

NJ: Há algum caso engraçado ou curioso que aconteceu por reconhecerem a sua voz?

Luiza: Na maioria dos casos, as pessoas acham que já conversaram comigo ou depois do espetáculo vem me perguntar. Em “O Alvo” era engraçado, porque éramos duas dubladoras (eu e a Dre) e quando abríamos pra discussão do tema vinha a pergunta: “Vocês são dubladoras? De qual personagem? Faz a voz pra gente?”.  São poucos os personagens caricatos, na maioria das vezes é a minha voz natural, então costuma ser uma situação estranha, você falando normalmente e as pessoas olhando pra você tentando puxar na memória…(risos).

NJ: A dublagem brasileira costuma ser considerada como uma das melhores do mundo. Qual é a sua opinião sobre esse assunto?

Luiza: Eu concordo plenamente e sei o quanto as pessoas trabalham pra entregar uma dublagem com qualidade, existem filmes dublados que me marcaram na infância, e eu não conseguiria assistir na sua versão original. Acho que existe muito preconceito dos brasileiros quanto a nossa dublagem, o que é uma pena. Não valorizarmos um trabalho que tem tanto reconhecimento fora do nosso país, mas acho que isso também esta mudando aos poucos, o mercado está se ampliando cada vez mais e estão surgindo mais espaços pra versão brasileira. Nossa língua é linda e deve ser preservada!

NJ: Como está a expectativa para a estréia de “Bia” da Disney Channel? Conte-nos um pouco sobre a novela e a personagem.

Luiza: Estou muito ansiosa pra ver o que vão achar, estamos fazendo com muito carinho e cuidado.  Bia é uma menina de família brasileira (amo isso!) que perdeu sua irmã, Helena, em um acidamente de carro. A Bia e a irmã tinham uma ligação muito forte através da musica e após o acidente ela reprimiu seu dom de cantar. A novela começa mostrando que sua irmã não morreu e sim perdeu a memória com o acidente e está mais próxima do que poderia imaginar. Do pouco que eu vi já deu pra perceber que será uma novela muito sensível e cheia de possibilidades de realizar sonhos. Não vejo a hora de poder compartilhar esse lindo trabalho.

NJ: Qual é o papel da religião em sua vida?

Luiza: Eu sou uma pessoa com muita fé, desde pequena me sentia preenchida e com uma certeza que estava sendo amparada. Acredito na potencia do meu SER, e na certeza de que nunca estou sozinha em minhas decisões.

NJ: Qual é a grande dificuldade de ser atriz no nosso país?

Luiza: Pra mim a maior dificuldade de ser atriz é persistir, é você se inovar e levantar após o fim de um trabalho, que as vezes dura apenas meses ou semanas. É começar do zero e não se frustar, pelo contrário, descobrir em todo projeto qual o motivo pra continuar. Tenho um amigo,  Vitor Rocha, que me convidou um dia para fazer uma leitura de um musical que ele havia escrito chamado “Casusbelli”, que significa “o motivo da guerra”. Nessa época eu estava questionando as minhas escolhas e se deveria continuar insistindo em algo que parecia cada vez mais distante de mim. Ao término da leitura, eu senti como se meu coração tivesse voltado a pulsar. Através da arte me lembrei qual era o motivo da minha luta: nunca desistir e compartilhar lindas histórias.

NJ: Quais são as lembranças que guarda de “Experimentos Extraordinários”?

Luiza: Guardo as lembranças mais lindas e felizes de EXP EXT, amizades pra vida toda e aprendi muito no audiovisual. Minha personagem, Laura, era muito maluca e ingênua ao mesmo tempo, me baseei na Phoebe de “Friends” pra entender esse universo paralelo que passava na cabeça dela. Foi uma experiencia única, o diretor Jotagá Cremma nos dava uma liberdade de criação que eu nuca vi. Eu lembro que durante os ensaios dos episódios, a gente fazia a cena correndo de um lado pro outro e propondo as coisas mais loucas do mundo.  Ele falava: Só um instantinho! E ia falar com o fotógrafo, Eduardo Piagge, pra montar em cima do que fizemos. Hoje em dia, vejo mais a Daphne Bozaski, que está conquistando o mundo com seu jeito e trabalhos maravilhosos. Trabalho com o Rafael Imbroise, ele faz a assistência de direção na minha Cia (Cia do Bigode) e é incrível como passam os anos, mas não existe maturidade quando nos vemos.

NJ: Quais são as lições que você mais tem aprendido ultimamente e o que gostaria de aprender mais?

Luiza: Em cada caminho da interpretação, teatro, dublagem, TV, cinema existem coisas para serem melhoradas e aprendidas, mas acho que o que mais cresci foi em ter que escutar pra melhorar tanto como profissional, como em pessoa. Saber ao que dar ouvidos e no que se investigar. Sinto que cada vez mais encontro o meu motivo da luta e sempre que ele é posto à prova aprendo algo novo.

NJ: Como nasceu a paixão pelo artesanato?

Luiza: Essa paixão vem mais do momento que vivo junto com o artesanato. Vem da lembrança das mãozinhas da minha vó Nancy fazendo coisas lindas, até a minha irmã com uma paciência Divina me ensinado a pintar. Fazer algo por meio das mãos é único e quando atrelado à pessoas especiais vira paixão mesmo, tem muito de como colocamos nossa energia nas coisas. Eu era muito ruim com qualquer trabalho manual, até pra cortar papel eu fracassava, mas ao entender que a paciência para transformar algo partia de mim, pude me julgar menos e aproveitar mais. É no momento que estamos fazendo os produtos que eu e minha irmã temos as conversas mais intimas e filosóficas.

NJ: Qual foi o cheiro da sua infância?

Luiza: Tem certeza que quer fazer uma pergunta dessas pra uma pessoa com o imaginário como o meu? (risos). Minha infância teve cheiro de desconhecido, que me fazia perguntar pra minha mãe o porque de tudo, teve o cheiro doce das primeiras vezes, o amargo que amarra a boca das frustrações e o azedinho que faz a gente entortar a cara pra rir de nós mesmos.

NJ: O que é fundamental para a sua qualidade de vida?

Luiza: Ter tempo pra mim, aquele momento em que não me preocupo em TER que fazer algo e sim estar comigo. Quando a minha semana é muito cheia, sem um espacinho pra descanso, eu começo a me perder e enlouquecer. Como eu sou “workaholic” é muito fácil eu me empolgar no trabalho e esquecer de mim.

NJ: Como você avalia o papel social e político da arte?

Luiza: Essencial. É através da arte que refletimos e transformamos nossos pensamentos, somente compreendendo a cultura de cada um poderemos respeitar e lutar por algo em conjunto. Muitas vezes após um espetáculo ou filme, saio completamente arrebatada por perceber que existe muito mais além da bolha em que vivo, e a partir daí começo a olhar mais pra uma causa. A arte é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade tanto no social, quanto na política.

NJ: Uma frase

Luiza: Tudo pode ser resolvido com criatividade.

NJ: Um sonho

Luiza: Ter uma casa de cultura para apoiar novos artistas.

NJ: Um lugar

Luiza: Minha casinha.

NJ: Um livro

Luiza: A trilogia da “Bússula de Ouro”.

NJ: Uma música que a faz sorrir

Luiza: My Girl – The Temptations.

NJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?

Luiza: Não sou difícil de me emocionar, mas quando me deparo com histórias ou pessoas que estão livres de julgamentos e estão sendo fiéis ao que sentem eu me emociono, pois não há nada mais lindo do que poder conhecer a essência de alguém.

NJ: Luiza Porto por Luiza Porto

Luiza: Vish…(risos). Acho que sou uma pessoa em busca de me conhecer, sinto que cada vez mais não preciso me definir, afinal tenho momentos em que quero conquistar o mundo e outros em que tudo o que desejo é ficar quietinha. Mas num geral, eu sou uma pessoa que sonha alto e mesmo com medo eu sigo a minha intuição, eu acredito que somente compartilhando o que temos de melhor podemos nos transformar, e que quando somos fiéis a nós mesmos deixamos de nos machucar com pequenas coisas, que se transformam em gigantes na nossa mente.

NJ: Luiza, muito obrigada por participar da Nossa Janela! Por favor, deixe um recadinho para os leitores do site.

Luiza: Muito obrigada por esse espaço e por poder compartilhar um pouquinho sobre os meus processos e sobre as coisas que acredito. Quando olho para o que já vivi dá uma sensação boa de estar no caminho que acredito ter o meu jeito. Pra quem se identificar: lembrem-se que tudo é persistir no que seu coração pulsa para descobrir qual o motivo da sua luta.

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

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