Thelmo Fernandes

Thelmo Fernandes

Ele ficou ainda mais conhecido do grande público ao viver o bem humorado sambista Nelson na novela Rock Story, da Rede Globo, mas coleciona personagens importantes e inesquecíveis no teatro, ao longo dos seus  quase trinta anos de carreira. Foi com muito carinho e alegria que Thelmo Fernandes nos encontrou no Tablado, no Jardim Botânico, para esse bate papo pra lá de animado.

NJ: Você está no ar em “Sob Pressão”, toda quinta-feira, na rede Globo. A série aborda o dia a dia de um hospital da rede pública no subúrbio do Rio de Janeiro. Infelizmente, a nossa saúde, assim como a educação, segurança e muitos outros setores estão cada dia pior. Você tem esperanças em um país melhor?

Thelmo: Eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa série, participo desse trabalho desde o início, desde o longa e eu acho que ela é talvez a série mais impactante e verdadeira que a gente tem hoje na nossa teledramaturgia. E eu tenho esperanças  em um Brasil melhor, até porque eu sou brasileiro, eu vivo aqui com minha família mas realmente tá difícil. Estamos vivendo um momento delicado em todos os setores, com vários retrocessos, inclusive na cultura e no meu ambiente de trabalho. Mas eu espero realmente que as coisas caminhem para uma outra direção, que haja realmente uma ideia de “governar para todos os brasileiros” e que consigamos de alguma forma diminuir esse retrocesso. Eu também estou no ar agora com uma outra série “A Divisão” que acabou de ser lançada na GloboPlay e é uma série que conta a história da Divisão Anti-Sequestro da década de 90, de como aconteceu todo processo. Ela é baseada em fatos reais. Era uma época muito complicada e a gente conseguiu virar esse jogo, então, sigo tendo esperanças em dias melhores.

NJ: Como você costuma reagir quando precisa agir sob pressão? (risos)

Thelmo: Engraçado, já passei algumas situações na vida que precisei agir sobre pressão. Eu acho que justamente nessas horas, quanto mais você deixa o desespero tomar, é pior. Embora seja difícil, o que mais procuro fazer nessas horas é buscar um equilíbrio. Porque só com equilíbrio você consegue ter uma noção do todo, do que está acontecendo. Então é assim que procuro agir quando estou sob pressão. Mas nem sempre eu consigo.

NJ: Você falou de “A Divisão” que está disponível na GloboPlay. Conte-nos mais um pouco sobre a série.

Thelmo: A Divisão foi um trabalho muito legal, muito gratificante não só pelo produto em si, que eu acho que ficou excelente o resultado, mas por todo o processo. Foi um dos trabalhos mais longos que já fiz em processo de audiovisual porque nós gravamos o longa (que só será lançado no próximo ano) junto com a série. E foi um encontro muito transformador pra mim em vários sentidos. Fiz muitos amigos nesse processo, reencontrei outros grandes amigos que tive o prazer de trabalhar e a gente teve que realmente fazer um processo de trabalho muito intenso. Eu, Eron e Nati (Natalia Lage) era um trio que já se conhecia há um tempo. A história começa a partir desse trio, ela conta a história de três policiais que faziam a “mineiragem” de bandidos, de traficantes que era tipo uma “extorsão”. E depois esses caras são convidados a trabalhar na DAS (Divisão anti sequestro), junto com um delegado linha dura, mas super correto, vivido pelo personagem do Silvinho. E todo esse processo de trabalho foi fundamental. A clareza e firmeza da direção (tanto do Vicente quanto do Rodrigo) na condução das cenas, desde o processo de preparação com a Maria Silvia que foi maravilhosa, mais uma querida amiga que reencontrei. Prazer de trabalhar com o Magalhães (roteirista) que é meu grande amigo hoje e o Zé Junior também que foi um super parceiro, joga limpo, joga aberto. Magá também foi fundamental, nos aproximou de todo ambiente da época, de como funcionava tudo. E ele viveu essa situação como policial. Enfim, foi um processo muito transformador, muito gratificante e está sendo ainda. Teremos a segunda temporada e espero que ainda renda muitos frutos. Foi incrível!

NJ: Thelmo, você está em concluindo a turnê do espetáculo  “Ele ainda está aqui” que tem um objetivo muito interessante de intercâmbio entre África, Brasil e Portugal. Conte-nos um pouco sobre o texto.

Thelmo: É a história de três irmãos que se encontram no dia seguinte do velório do pai para tratar de questões de partilha, de herança e tal. Mas tem uma peculiaridade, cada irmão é de um país diferente. Eu faço um português, o Emílio Dantas faz o brasileiro e o Omar Menezes faz o angolano. No decorrer da peça você descobre que eles tem várias questões de afeto pra resolver e que tem um desfecho muito interessante. Mas não posso entregar spoiler, tem que assistir pra saber (risos). Esse projeto nasceu de uma ideia do Omar, é realização dele e é a primeira peça dele. Um dos objetivos desse texto é o intercâmbio entre esses três países de língua portuguesa. A ideia original era fazer com um ator português, um brasileiro e um angolano. Mas o Ricardo Pereira, que ia fazer o português, não pôde fazer. O Silvinho testou com outros atores, mas não curtiu. Aí lembrou que eu já tinha feito um português com sotaque e eu entrei no projeto. 

NJ: Como tem sido a parceria com os seus colegas de cena?

Thelmo: Cara, eu sou muito fã do Emílio. O trabalho que ele fez no  musical do Cazuza foi uma das coisas mais lindas que eu já vi na  minha vida. E eu sei que ele curte muito o meu trabalho também, então foi um encontro muito feliz e eu sou muito feliz de ter um parceiro como ele em cena. Ele se joga muito nos projetos, é parceiro. Quanto ao Omar, essa é a primeira peça dele e ele tem uma generosidade enorme em nos ouvir. Ele se esforçou muito pra fazer esse trabalho e está fazendo de forma brilhante. Ele tem muita humildade e respeito com o projeto e o que estamos vivendo. Eu acho que a gente conseguiu uma homogeneidade com o espetáculo que é muito bacana e as pessoas sentem isso quando assistem. Apesar de ser uma comédia, tem muita gente que fica emocionada com a história, a gente teve relatos muito interessantes nesse sentido. 

NJ: Você falou que já havia feito um personagem português. Como se deu o processo de construção do personagem?

Thelmo: O texto é muito bem escrito, os personagens são muito bem definidos no próprio texto. Eu sou neto de português e embora não tenha conhecido meu avô, tenho raíz forte em Portugal e já fui muito pra lá a trabalho. Então, já convivi muito com a cultura portuguesa e eu sou muito observador. Os portugueses são muito certinhos, pragmáticos, literais. Eu trouxe essas características para o personagem e dei uma acentuada. O sotaque eu já tinha feito, mas tive que revisitar e pra isso contei com a ajuda de algumas pessoas,  por exemplo, a Fernanda Gabriela que fala português com um sotaque lindo. 

O Miguel, meu personagem, é o filho que não teve nenhum contato com o pai e ele tem muita dificuldade de administrar isso. Isso também ajudou muito na construção. As características deles são muito bem delineadas, como eles pulsam, como eles sentem, como eles se relacionam com o mundo e como é a história de cada um. Tudo isso é muito claro e nos ajudou muito. 

NJ: Eu imagino que construir um personagem tão distante da própria realidade deve ser extremamente fascinante. 

Thelmo: Demais! Eu já tenho quase 30 anos de teatro e cada trabalho é um desafio. Já fiz personagens absolutamente ficcionais e personagens reais. Eu acho super importante a gente amar o personagem que está fazendo, mesmo que ele seja extremamente desprezível. Eu fiz uma vez um diretor de presídio que tinha queimado vários presos vivos em uma cela. Era um personagem genial e absolutamente desprezível. E eu tive que me apaixonar pelo personagem para fazer, mesmo sabendo que ele tinha aquelas características. Já fiz muitos vilões e eu gosto muito  porque é uma maneira de expurgar esses monstros. Então, todos esses personagens são grandes desafios. Nossa profissão é realmente maravilhosa. 

NJ: É preciso algum cuidado especial pra fazer um personagem que existe ou já existiu?

Thelmo: Sem dúvidas. Quando você faz um personagem que já existiu, você tem que ter cuidado  porque ele já esteve aí e tem que ter respeito com o que ele representa para as pessoas. A gente começa a construir de dentro pra fora. Começa pela essência deles, cada um na sua característica e aí o personagem vai surgindo. Depois que as características internas estão encaminhadas, a gente começa a trabalhar nas características físicas mais marcantes e cada um tem a sua. Eu acho que todo ser humano tem dois lados, a gente não é uma coisa só. Todos nós temos os nossos monstros e nossas próprias loucuras. Uma atitude desenfreada pode acabar com a vida da pessoa. E já parte daí. Quando vou construir um personagem, nunca começo com o que ele realmente é, sempre procuro as contradições dele. Isso é muito complexo e ao mesmo tempo, o maior barato. mas quando você vai fazer um personagem biográfico, não tem como se basear no que foi essa pessoa e o que ela representa para um bando de gente. Esse cuidado tem que ter e talvez não precise ter tanto ao se fazer um personagem ficcional, criado a partir da ideia de um autor. Lembro da comoção quando fiz o Vinícius de Morais. Uma das filhas dele, só conseguiu falar comigo um mês depois de assistir. É muito forte e muita responsabilidade.Tem que ter muito cuidado quando se faz um trabalho biográfico, tem que respeitar muito. 

NJ: Conte-nos um pouco sobre a Ópera do Malandro e a importância desse espetáculo para a sua carreira.

Thelmo: Esse trabalho foi muitooo importante. Eu fui chamado pra fazer dois dias antes da estreia porque o ator que iria fazer teve um problema de saúde sério e eles precisavam substituir. Era um musical imenso com estreia no Teatro Carlos Gomes, aqui no Rio. Um personagem lindo e dificílimo. E eu cantava também. Foram apenas dois dias pra me preparar e deu tudo certo. Foi uma loucura! 

Pra você ter ideia, meu primeiro ensaio foi em uma terça com prova de figurino. Ficou perfeito! parecia que tinha sido feito pra mim, não teve necessidade de nenhum ajuste. Eu ensaiei com o texto na mão e no dia seguinte já tinha um ensaio geral com vários artistas na plateia, um ensaio aberto. Passei o dia inteiro decorando o texto, trabalhei a música. No sábado já tinha a estreia para os críticos . Na semana seguinte, recebi uma das coisas mais lindas da minha vida que foi um buquê de flores da Bibi Ferreira com um cartão lindo que dizia: “Soube do acontecido e parabéns pelo trabalho lindo e delicado de Geni”. Eu guardo esse bilhete como se fosse um trofeu. Esse personagem realmente me marcou muito. 

NJ: Qual foi o trabalho que mais o realizou como ator e por qual motivo?

Thelmo: Nooossaaaaa!!! São vários!!! Posso citar alguns? (risos).  Geni “A Ópera do Malandro”, como falamos há pouco, não poderia deixar de ser citado. Outro foi o Creonte de “Gota D’Agua “ que foi outro musical que eu fiz e foi um divisor de águas na  minha carreira porque eu fui indicado pra todos os prêmios e ganhei dois. Foi o ano que nasceu meu filho, ele tinha apenas um mês quando comecei a ensaiar. E o nascimento dele me transformou em uma outra pessoa como ator. Antes do João, eu era muito ansioso com o meu trabalho, na concepção de criação dos personagens e o nascimento dele me fez entender que tudo fica mais tranquilo e leve se você faz as coisas sem ansiedade. Gota D’Agua é um texto brilhante do Chico Buarque e Paulo Pontes  baseado em Medeia. Muita coisa começou a partir de então. Nesse mesmo ano, fiz o filme do Selton Melo, o primeiro dele como diretor, o “Feliz Natal” . Eu trabalhei com um ator e aprendi muito com ele, o Leonardo Medeiros. Eu fazia o melhor amigo dele no filme e era muito bom trabalhar com o Leo, ele é muito tranquilo, a gente trocou muito. A visão de mundo dele, é muito parecida com a minha. Admiro bastante o Selton também. Ele é de uma delicadeza com o elenco, com a equipe toda. O trabalho fluiu muito bem. O Boni foi um personagem do “Chacrinha, o Velho Guerreiro” e marcou muito também. Era muito emblemático, muito poderoso. O homem que revolucionou a televisão brasileira. Impressionante o que ele fez. O “Alto da Compadecida” também, que eu fiz o João Grilo, foi muito marcante pra mim. Foi um musical da minha companhia que o Abujamra dirigiu junto com o João Fonseca. Ele é um dos maiores personagens da nossa dramaturgia.  Meu primeiro personagem em novela foi o Nasinho em “Ribeirão do Tempo” da Record TV. Era um personagem ótimo, muito querido pelo público. O Gerson de “Cilada” é outro personagem que eu amo. Bruno Mazzeo me deu aquele presente e ele é um parceiraço. Ele criou o Gerson pra mim e eu sou muito grato porque eu adorava fazer. Pra completar, vou citar o Nelson de “Rock Story”, foi um personagem delicioso e contracenei com atores incríveis e muito queridos.

NJ: Como nasceu a Companhia?

Thelmo: Ela nasceu em 91. O Abujamra morava em São Paulo e veio para o Rio fazer o Ravengar da novela “Que Rei Sou Eu?”, a Rede Globo e ele não conseguia ficar sem fazer teatro. Então pegou parte do elenco da novela e montou a companhia “Fudidos e Privilegiados” e montou três espetáculos de uma vez só com mulheres. Daí ele voltou pra São Paulo, fez outros espetáculos com a companhia lá. Em 96 ele voltou pra fazer outra novela e eu entrei na Companhia. 

NJ: Em “Rock Story” você fez Nelson, que integrava um grupo de pagode e o citou como um dos seus personagens mais marcantes. Quais lembranças guarda do personagem e como ele entrou em sua vida?

Thelmo:  Eu estava fazendo o musical “O Beijo no Asfalto ” no Shopping da Gávea , o Dênis Carvalho foi assistir e umas 2 semanas depois  a Vanessa Veiga me ligou falando que o Dênis tinha adorado a ideia de eu fazer a novela e que mais pra frente iria confirmar. Acabou confirmando. Foi um convite direto da direção. Eu fiquei feliz demais! O personagem foi maravilhoso! essa foi a minha primeira novela inteira na Rede Globo, mas eu já havia feito muitas participações.  Inclusive, fiz o “Cilada”, muitos anos. 

Mas voltando ao Nelson, ele era bárbaro, a Viviane é um amor. Os atores que fizeram meus filhos (o João e a Lorena) também. Tinha o Vlad, eu fazia o melhor amigo dele e ele é 10! uma pessoa incrível! A Nathalia Dill é uma fofa e a direção do Dênis é maravilhosa. 

NJ: Você também tem essa relação com o samba?

Thelmo: Eu tenho uma relação muito  forte com a música, embora não toque nenhum instrumento. Aprendi a tocar um pouco de pandeiro para a novela. Mas sempre tive uma facilidade para o canto. Eu venho de um grupo de teatro amador da Ilha do Governador que tinha um trabalho musical paralelo e desenvolveu muito esse lado. 

O Nelson  era um cantor de churrascaria vindo de uma banda de rock com o personagem do Vlad. E  eu também tive uma relação com o rock, principalmente nos anos 80: Legião Urbana, Titãs. E eu adoro samba! Sempre fui louco por carnaval! Adoro ir em rodas de samba, chorinho. Adoro cantar! Não sei tocar nada, mas a minha relação é essa: o canto. 

NJ: Já passou carnaval na minha terrinha?

Thelmo: Já sim! adorei! mas já faz muitos anos. Já fui muito pra Salvador a trabalho, mas turistando só dessa vez que passei o carnaval. Fui no ensaio do Malê de Balê e foi lindo! Salvador transpira energia e eu preciso voltar em breve. Levar meu filho, minha esposa que ainda não conhecem a cidade. Tenho muitos amigos baianos! 

NJ: Como enxerga o teatro musical no Brasil?

Thelmo: O teatro musical cresceu muito. Eu comecei a fazer teatro em 1991, quase não tinha mercado. De repente muita coisa começou a ser produzida. Os artistas passaram a se dedicar muito e a enxergar ali uma possibilidade grande de abrir outra forma de mercado, porque tudo sempre foi muito difícil. Mas agora, está mas difícil do que nunca, fazer teatro está muito complicado. Como eu já fiz muito musical e assisto muito também, observo algumas coisas e vejo atores que cantam maravilhosamente bem mas não sabem falar o texto. Isso em parte é culpa da afobação porque a pessoa tende a se preocupar mais com o canto, a performance. Mas em parte é responsabilidade da dramaturgia. Dramaturgias biográficas por exemplo, são muito difíceis.  Gota D’água por exemplo é muito bem escrita, muito bem resolvida. Mas nem todos os textos são assim.

NJ: Como você avalia a cultura no nosso país?

Thelmo: A gente vive um momento muito delicado, sobretudo aqui no Rio de Janeiro. Temos governantes que não estão nem aí para a cultura. Os teatros estão fechando e ninguém faz nada. Não tem incentivo, não tem investimento. Hoje, dez dos maiores teatros do Rio estão no centro da cidade e não existe um polo cultural lá. Inadmissível isso. Não tem nem segurança, as pessoas tem medo de ir. Essa demonização da Lei Rouanet é absurda! Inacreditável! é muita desinformação. As pessoas falam qualquer coisa, compartilham tudo, não checam as fontes. Preferem criar fatos, demonizar e acabar com tudo. O que você coloca em uma rede social, vira verdade, não se apura nada.

NJ: Quais são as melhores lembranças da sua infância e do grupo da tia Elbe?

Thelmo: Muitas lembranças maravilhosas. Fui por incentivo da minha prima Cecília, que é uma querida e também fez escola de teatro junto comigo. Ela contou que estavam abrindo um elenco novo e me chamou pra ir. Fui e tô aqui até hoje (risos). Tia Elbe tem um amor enorme pelo teatro e foi um encontro muito feliz. A dona Fernanda Montenegro fala uma coisa que eu concordo plenamente. Ela diz que pra ser ator tem que ter vocação. Eu fazia faculdade de Informática de manhã, trabalhava à tarde e fazia escola de teatro à noite. Eu queria muito isso. Até 2008 era jornada  dupla, trabalhava na UFRJ e fazia teatro. Mas graças a Deus começou a pintar muita coisa no meu trabalho como ator e pude levar o barco. Mas durante muito tempo foi assim: Eu levava o computador e quando saia do espetáculo ainda ia trabalhar. Era muito cansativo, mas por outro lado, pude ter mais autonomia com a minha carreira. Eu pude escolher o que queria fazer, com quem ia trabalhar, porque tinha a minha garantia de salário no final do mês para pagar as contas. E eu sempre fui muito seletivo.

NJ: Como nasceu a paixão pelo Vasco?

Thelmo: (risos) Ah essa paixão vem de pai pra filho, né? meu pai é vascaíno doente e umas das lembranças mais lindas da minha vida foi a primeira vez que fui ao Maracanã, em 1974.  Eu tinha 8 anos e era final do 2º turno  do campeonato carioca. O jogo era Vasco e América e o Vasco ganhou de 2×0. A partir dali a paixão se consolidou completamente. Engraçado como eu me lembro desse dia! aquela arquibancada cheia…a torcida do Vasco lotada. A torcida do América também estava grande naquele dia mas a do Vasco era linda! lembro bem daquele  gramado verdinho do Maraca! no primeiro jogo já vi o meu time ser campeão carioca! O Vasco tem umas das histórias mais lindas do futebol, a luta do Vasco contra o preconceito, foi o  primeiro time de futebol a aceitar jogadores negros, é uma história linda que precisa ser recontada. Claro que houve algumas lacunas de pessoas ruins, que não foram tão legais, como a história do Eurico Miranda e tal. Mas a história no geral é maravilhosa! E tem uma coisa diferente na torcida do Vasco, é engraçado como me sinto em família quando vou assistir aos jogos em São Januário. Essa é a minha sensação.

NJ: Thelmo, quais são os seus planos profissionais para esse segundo semestre?

Thelmo: Agora a gente vai dar uma parada com a peça, o Emílio vai gravar uma série na Globo e eu vou fazer o meu primeiro monólogo, estou muito feliz! Eu estreio dia 29 de agosto, aqui no Rio no Sesc Copacabana, no teatro Mezanino e é o primeiro monólogo da minha carreira. É um livro incrível do João Ubaldo Ribeiro, seu conterrâneo , e chama ” Diário do Farol”, uma peça sobre a maldade, aquela maldade que a gente não percebe e que uma pessoa comum, que está ao seu lado pode cometer as maiores atrocidades. Enfim, acho esse texto muito atual e é um privilégio poder hoje falar dessa história. Apesar de todas as dificuldades o Sesc abraçou essa ideia, a gente tá muito feliz. Tem um pequeno patrocínio mas qualquer apoio é bem vindo para a gente poder dar continuidade depois e é isso. Ficaremos em cartaz de quinta a domingo às 20 h do dia 29 de agosto ao dia 22 de setembro. Essa é uma grande novidade!

NJ: Um lugar

Thelmo: Sabe um lugar que eu tenho a maior lembrança gostosa? a praia que minha mãe me levava e hoje já não existe mais. Ela foi aterrada e virou uma comunidade. A gente ia a pé pra a praia e era uma praia mansinha, não tinha onda. Lembro que brincava muito lá. A gente chamava de “Praia do final da rua” .

NJ: Uma frase

Thelmo: Pode ser um poema que eu gosto? É do Bertolt Brecht:

“Falei com muita gente

Escutei, escutei  todo tipo de opinião

Ouvi muito dizer

Isso é inteiramente certo

Mas ao voltarem

Diziam outra coisa completamente 

Diferente do que antes diziam

Aquilo é inteiramente certo

Então, tirei uma conclusão: De todas as coisas certas

A maior certa é a dúvida”

Esse poema diz muito sobre aquilo que estávamos conversando há pouco. Vamos apurar, vamos ter dúvidas, antes de aceitar como certo. 

NJ: O que o deixa verdadeiramente emocionado?

Thelmo: O João, meu filho e as coisas que ele realiza. Na estreia dele no teatro, quase morri (risos). Qualquer coisa que o vejo realizar me emociona demais. Já vivi coisas maravilhosas na minha vida, na minha carreira, que me emocionaram muito, mas nada como ver as conquistas do meu filho. 

NJ: Uma viagem inesquecível

Thelmo: Paris. Amei Paris. Voltaria lá 200 vezes se pudesse. Adoro respirar aquela história, visitar aqueles lugares. Adoro ouvir a língua francesa. Mas adoro Lisboa também. 

NJ: Uma música que o faz sorrir

Thelmo: Eu adoro o Chico Buarque. Amo todas dele e adoro Os Beatles também. Mas uma música que amo ouvir e me deixa feliz é “O Que É , O Que É” do Gonzaguinha. 

NJ: Thelmo Fernandes por Thelmo Fernandes

Thelmo: Me considero agregador, uma pessoa que gosta de juntar as pessoas, de vestir a camisa do que está fazendo. Gosto de juntar, de ver as pessoas bem, felizes. Odeio injustiça, sofro quando vejo alguma coisa errada.  Sofro muito com tudo o que está acontecendo no país. Às vezes, uma leitura do jornal acaba com meu dia, é difícil desligar, sou muito emocional. Sou virgem com lua em gêmeos e ascendente em gêmeos. Então, sou bem isso. Em alguns momentos sou absolutamente pragmático e profundamente emocional no outro. Sou muito afetado pelo que acontece ao meu redor. Ou seja, sou complexo pra caramba! (risos).

NJ: Thelmo, antes da gente concluir, tem alguma coisa que gostaria de acrescentar?

Thelmo: Antes de concluir, Lu, como você me deixou bastante a vontade, eu quero voltar a afirmar pra as pessoas a importância da cultura. É tão ruim o que está sendo feito hoje no país, de uma forma geral. Mas aqui no Rio de Janeiro a gente tem sofrido talvez até mais do que no restante do país. Cultura e educação são coisas primordiais pra o povo, pra a história de uma nação. É a cultura que vai permitir que você lembre do seu passado, que você consiga ter um espaço, ter fala, ter oportunidade de se colocar pra o mundo. E me preocupa muito o rumo que o país está tomando. Vamos pensar junto, vamos tentar pensar em um país mais tolerante, um país que a gente consiga aproximar as pessoas, que a gente consiga trocar. Acho que essa é uma boa palavra: troca. Cada um com sua linha de pensamento, cada um com sua forma de abordagem. Não vamos destruir coisas que dão certo, que funcionam. E vamos apresentar coisas novas, que agreguem. Eu acho que infelizmente o país tem a cultura de não valorizar o que é bom e foi feito anteriormente. Vamos sim tirar o que não funciona, o que é ruim e repensar,  mas sem aniquilar coisas que deram certo, que davam certo. Vamos trocar.

Galeria:

NJ: Thelmo, querido! posso lhe agradecer muito? adorei! adorei! espero poder contar com a sua participação outras vezes nessa Janela que também é sua. E te espero na Bahia. Beijo grande!

Thelmo: Ah, já acabou? Foi uma delícia! amei conhecer vocês e a Nina. Em breve estaremos todos juntos em Salvador. Vou levar minha esposa e meu filho pra conhecerem sua terra.

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

2 Comments

  1. Avatar
    Dalia Leal
    19 de agosto de 2019 at 10:39 Reply

    Sempre maravilhosas entrevistas! amoooo💟💟💟☀️🌜🌟👏

  2. Avatar
    Tácio Mendes
    27 de agosto de 2019 at 17:34 Reply

    “Cultura e educação são coisas primordiais para o povo, para a história de uma nação” Acho que essa, é uma opinião unânime de todo mundo que possui senso crítico. Agora, acho, que se deve construir cultura de qualidade independente da forma, do estilo – a mensagem central é a que vale, ou no caso da Arte, a contemplação.

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