Marcelo Médici

Marcelo Médici

Seu papel mais recente na TV foi o Abner de “Órfãos da Terra”, na Rede Globo.  Ele está em cartaz com o espetáculo “Teatro Pra Quem não Gosta”, no Shopping da Gávea e está super empolgado com mais essa possibilidade de mostrar através da comédia, o quanto o teatro é poderoso. Foi com muito bom humor que o ator e produtor Marcelo Médici nos recebeu nos bastidores da peça para uma conversa super animada.

NJ: Marcelo, qual é a importância do teatro pra você?

Marcelo: Quis ser ator muito influenciado pela TV, mas a TV demorou para acontecer… nesse tempo fui fazendo teatro, e casei com ele. Minha relação com o teatro é de um casamento estável e feliz.

NJ: Conte-nos um pouco como foi o início da sua carreira.

Marcelo: Difícil, como todo começo quando que se anseia uma base realmente sólida. Operei som e luz, trabalhei ganhando pouco dinheiro, juntava dinheiro para assistir bons espetáculos com atores que admirava, fazer cursos, aulas, abri mão de muitas coisas focando no objetivo de conhecer cada vez mais o ofício que havia escolhido.

NJ: Você está em cartaz com o espetáculo “Teatro Pra Quem não Gosta” no Shopping da Gávea. Como define o espetáculo?

Marcelo: Uma declaração de amor ao teatro, pelo olhar do humor.

NJ: Quais são as questões levantadas no texto?

Marcelo: Falamos sobre quantas vezes o teatro já esteve a beira da extinção e como sempre ele conseguiu sobreviver. Gente de teatro é carne de pescoço!

NJ: E quando acabar a temporada no Rio? Tem previsão de turnê?

Marcelo: Dia 21 de março estreamos em SP, no Teatro FAAP e ficamos até dia 20 de maio, depois nos apresentaremos em algumas cidades, como Salvador e Recife. Queremos muito ir a Porto Alegre e outras cidades também.

NJ: Como é na prática essa correria de fazer 20 papéis ao longo de 90 minutos de atuação? Como funciona a parceria no palco com Ricardo Rathsam?

Marcelo: É um tour de force realmente! Mas é o que eu digo, o teatro sempre me devolve toda a energia que me tira… não existe cansaço melhor que aquele que tenho depois de fazer uma peça! a parceria com Ricardo Rathsam da muito certo: nos respeitamos, nos admiramos, nos complementamos. Já é nosso quinto trabalho juntos, eu dirigi um espetáculo que ele escreveu e atuou, chamado Enquanto Não Fazemos Novela, depois ele dirigiu e co- escreveu “Cada Um Com Seus Pobrema”, atuamos juntos na comédia “Eu Era Tudo Pra Ela… E Ela Me Deixou”, de Emilio Boechat, depois escrevemos e atuamos em “Cada 2 Com Seus Pobrema”, com direção da Paula Cohen e agora escrevemos, atuamos e nos dirigimos em “Teatro Para Quem Não Gosta”, mas tivemos a supervisão luxuosa de Kleber Montanheiro.

NJ: O que mais o empolga nesse trabalho?

Marcelo: Poder mostrar como o teatro é poderoso fazendo comédia.

NJ: Quais são as sensações que espera despertar no público com o espetáculo?

Marcelo: O amor e o respeito pelo teatro, e a gargalhada, sempre!

NJ: Como funciona a relação entre a alegria e a responsabilidade do teatro lotado para o ator?

Marcelo: Teatro lotado é merecimento, não podemos nunca esperar um sucesso, mas devemos sempre tentar acertar, agradar quem vai nos ver e sermos verdadeiros naquilo que estamos criando. Teatro cheio é uma declaração de amor do público, a imagem de um teatro lotado é o sonho de qualquer ator! Me sinto privilegiado por ter essa imagem registada na mente algumas e tantas vezes!

NJ: Você também foi autor e produtor da comédia” Cada Um Com Seus Pobrema”, grande sucesso de público e crítica, permanecendo mais de 14 anos em cartaz. Qual maior desafio de permanecer tanto tempo em cartaz com o mesmo espetáculo? Foi difícil se despedir?

Marcelo: Eu nunca vou me despedir desse espetáculo, daqui a pouco ele volta… o segredo de acertar tanto, juro que não sei! Se soubesse, acho que dividiria a receita com alguns colegas, pois amaria ver teatros lotados com o mesmo espetáculo por muitos anos.

NJ: Como você enxerga a função social do humor? Ele pode ser revolucionário?

Marcelo: O humor pode ser revolucionário, profético, critico, ácido. Eu acho que a função do humor é fazer com que as pessoas se enxerguem em suas fraquezas, defeitos e que também pensem sobre tudo que estão vendo, ouvindo.

NJ: Qual é a importância do espetáculo “Irma Vap” para a sua carreira?

Marcelo: Foi incrível pois tive a honra de estar perto de Marília Pêra, gênio da espécie, uma atriz de possibilidades infinitas! não conheço outra atriz que conseguiria fazer a prostituta de rua em “Pixote” e a dondoca Rafaela da novela “Brega e Chique” com tanta propriedade. Soma-se a isso o fato de Marília cantar e dançar. Estar perto de Marília Pêra foi pós graduação, mestrado, doutorado, sorte.

NJ: Quais lembranças guarda do Artur Tavares, o Tuta de “O Canto da Sereia” , do Joel de “Jóia Rara” e do Fladson Rodrigues de “Belíssima”?

Marcelo: Todas deliciosas! Tuta não era comédia e as pessoas ficaram espantadas em me verem num personagem tão diferente do que estavam acostumadas… Fladson foi minha primeira novela inteira, então existe o carinho por isso, por ter sido uma novela do Silvio de Abreu que sempre fui fã, e o Joel de Joia Rara, foi um baita presente da Duca Rachid e da Thelma Guedes. Acho que nunca me diverti tanto fazendo uma novela pois Joel era completamente amoral, e a diretora Amora Mautner me deixou tão a vontade que a sensação é que ia para o estudio me divertir!

NJ: A novela “Alto Astral” abordou a temática espírita. Você se interessa por esses temas? Como é a sua relação com a religião?

Marcelo: Respeito muito, acho a doutrina espirita muito reconfortante enquanto filosofia, mas como diria Maria Bethânia, eu cá, os espíritos lá (risos). Sou devoto de Santo Antônio, amo a conexão com a natureza das religiões de matizes africanas e me comunico com Deus da minha forma. Não admiro pessoas pelas suas religiões, e sim por suas atitudes.

NJ: Em “Haja Coração”, seu personagem Agilson passou por uma reviravolta, tornando-se o vilão da história. Como foi fazer esse vilão?

Marcelo: “Haja Coracão” era um reboot de “Sassaricando” e eu lembrava da primeira versão, então não foi totalmente surpresa… acho que em Haja Coração o personagem ficou até mais leve.

NJ: Prefere fazer os vilões ou os mocinhos na TV?

Marcelo: O Fladson era mais bom moço, enquanto o Tuta Tavares já era mais ambicioso… o Joel era um enfant terrible! Eu gosto de personagens apimentados (risos).

NJ: Você declarou que no teatro é totalmente despudorado porém na televisão costuma ser mais criterioso. Quais são os seus critérios para aceitar um trabalho na TV?

Marcelo: Novela é obra aberta, então sempre existe o risco de uma reviravolta… procuro entender qual o personagem, com quem vou contracenar, quem vai escrever e quem vai dirigir. Agora, vamos combinar que não existe muito plano de carreira para ator no Brasil (risos). Aqui a gente trabalha por necessidade, muitas vezes por desespero e algumas vezes por prazer. Eu já trabalhei em todas essas situações.

NJ: Integrar o núcleo cômico exige uma dinâmica própria?

Marcelo: Exige porque numa novela o ideal é que núcleo de humor não  descole do resto da trama! você não pode criar uma personagem que viva num mundo absolutamente paralelo porque uma hora ele pode estar na mesa com os protagonistas sérios, e aquilo precisa se encaixar. Na minha opinião, o personagem do núcleo de humor precisar existir de verdade, a partir daí ele pode transitar pela trama.

NJ: Seu papel mais recente na TV foi o Abner de “Órfãos da Terra”. Como se preparou pra viver o personagem e como avalia esse trabalho?

Marcelo: A preparação foi mais no sentido de entender as tradições judaicas, e tivemos o auxilio de uma pessoa sensacional, a Bilba, que é pedagoga de uma escola judaica no Rio e foi muito importante durante todo o tempo das gravações.

NJ: Como tem sido a experiência em “Vai Que Cola”?

Marcelo: Eu amo, é outro playground! Me sinto lisonjeado por estar num elenco de comediantes tão talentosos.

NJ: Além de ator, você também é produtor. Como enxerga a política cultural brasileira e os incentivos destinados a arte no nosso país?

Marcelo: Vivemos um pesadelo mas não é primeira vez que passamos por isso, não será a última, mas o teatro vai sempre resistir. Uma nação que não valoriza a educação e a cultura, vai sempre catar cavaco.

NJ: Como nasceu a Henriqueta, sua empresa de produções?

Marcelo: A parte bonita é que é o nome da minha mãe, o resto é apenas burocrático… acho que todo ator no Brasil precisar ter empresa para emitir nota fiscal sobre seus trabalhos e pagar impostos altíssimos (risos).

NJ: Se pudesse modificar uma única coisa no Brasil, o que seria?

Marcelo: A educação e a cultura seriam priorizadas. O Japão acabou na segunda Guerra, investiu na eduacão e na cultura, e hoje é novamente uma potencia.

NJ: Considera-se uma pessoa engraçada no dia a dia? Conte-nos um pouco sobre os trotes que costumava passar (risos).

Marcelo: Não sou engraçado o tempo todo, mas quando tenho intimidade, gosto de viver com alegria, leveza, olhar para o futuro de forma confiante. Os trotes começaram na infância, chegaram até a fase adulta e devem voltar em breve, na velhice (risos)… molecagem!

NJ: Como lida com a vaidade e o olhar dos outros sobre você?

Marcelo: Sou vaidoso de acordo com o que acho possível. Não quero ter o corpo de um garoto de 20 anos, mas adoraria ter nascido com a cara do Finn Wittrock (risos)… não me preocupo com a forma como me veem, e sim como eu me vejo. Ninguém sera mais severo comigo do que eu mesmo.

NJ: Há um provérbio árabe que diz que “adversidades são grandes oportunidades”. Como costuma lidar com os obstáculos que aparecem no seu caminho?

Marcelo: Seguindo em frente. A profissão de ator de verdade não é o que pessoas veem no instagram. Recebemos muitos nãos, somos julgados, testados, criticados, lidamos com o desemprego do começo ao fim de nossas carreiras, é definitivamente uma profissão para cascas grossas.

NJ: Você é viciado em séries. Quais são as suas preferidas e como avalia a nova possibilidade de trabalho que surgiu através das plataformas de stream?

Marcelo: Dexter, primeira temporada de Damages, Família Soprano, Law and Order SVU e gostei muito de Euphoria. Acho que as novas plataformas permitem trabalhos mais elaborados, em todos os sentidos.

NJ: O que o deixa verdadeiramente emocionado?

Marcelo: A pureza dos animais.

NJ: O que o deixa de mau humor?

Marcelo: Maus tratos a animais, crianças e idosos.

NJ: Uma mania.

Marcelo: Comprar shampoos.

NJ: Uma frase

Marcelo: A melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada… de acabar com ela também. (Oscar Wilde).

NJ:  Um lugar

Marcelo: São Paulo.

NJ: Uma música que o faz sorrir

Marcelo: In The Jungle, do Rei Leão.

NJ: Um filme 

Marcelo: Um? Impossível… os da minha infância, “Grease” e “king Kong” (com Jessica Lange), da adolescência “Pixote”, “O Beijo da Mulher Aranha” e “The Rocky Horror Show”. “Dançando no Escuro” é uma verdadeira obra de arte. “Quanto Mais Quente Melhor” é a maior comédia de todos os tempos, e o último do Almodovar é de uma beleza sem fim: “Dor e Glória”.

NJ: Um sonho:

Marcelo: Ficar bem rico!

NJ: Marcelo Médici por Marcelo Médici

Marcelo:  Sendo quem sou, foi mais difícil… mas foi.

NJ: Marcelo, muito obrigada por nos receber aqui para essa conversa. Foi lindo!

Marcelo: Obrigada vocês, adorei! em breve estaremos em Salvador com a peça.

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

4 Comments

  1. Avatar
    Camila Marinho
    29 de janeiro de 2020 at 09:59 Reply

    Aiii eu gosto tanto desse ator, me acabo de rir com ele. A entrevista ficou ótima.

  2. Avatar
    Marcela Teles
    29 de janeiro de 2020 at 10:06 Reply

    Eu amei a entrevista e mais ainda as fotos. Que clima maravilhoso! Alegria contagiante.

  3. Avatar
    Pedro Aguiar
    29 de janeiro de 2020 at 10:10 Reply

    Gostei muito! Sinceridade acima de tudo (risos).

  4. Avatar
    Denize Oliveira
    30 de janeiro de 2020 at 01:29 Reply

    Amei ❣ Adoro Marcelo Médici! Entrevista deliciosa pra variar! Marcelo: A educação e a cultura seriam priorizadas. O Japão acabou na segunda Guerra, investiu na eduacão e na cultura, e hoje é novamente uma potencia.👏👏👏👏👏👏👏🤗😍✊🏳🙏💪✌

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