Ele vive experiências enriquecedoras trabalhando em diferentes países e culturas, destacando a importância da partilha e troca de percepções, discute seu papel em “Cacau” revelando os desafios e a complexidade de seu personagem Valdemar. Além disso, mostra sua perspectiva sobre o mundo da atuação e oferece conselhos valiosos para jovens atores. É com o ator Vitor Hugo que conversamos agora.
Lu: Vitor Hugo, Você tem uma carreira sólida na televisão, tanto no Brasil quanto em Portugal. Como tem sido a experiência de atuar em diferentes países e culturas?
Vitor Hugo: São sempre enriquecedores os encontros. A partilha e troca de percepções, visões de mundo e modos de sentir é a dádiva da vida. Saber vivenciar isso com escuta, altruísmo e humildade nos alarga, nos faz maior que nós mesmos, mais livres de nossos próprios pré-conceitos e solidão. Assim na vida, como no teatro. Poder viver em outro país e ainda por cima trabalhar com atores e diretores de outras culturas é ainda mais enriquecedor. Cada povo, cada cultura tem suas paletas de cores de paixões, de afetos, de alegrias e dores. E isto revela nossas próprias idiossincrasias como desvela também novas possibilidades de ser e estar. Tem sido incrível.
Lu: “Cacau” marca seu regresso às novelas da TVi e outra vez como um dos protagonistas. Pode compartilhar conosco como foi essa transição da direção de atores para atuação, na casa, e foram os desafios envolvidos?
Vitor Hugo: Sete anos aqui e sete telenovelas. Tem sido uma jornada incrível. E sim, boa pergunta, pois nas duas últimas telenovelas trabalhei por trás das câmeras como Diretor de Atores, uma experiência por demais enriquecedora. Foram quase dois anos contribuindo com meu olhar atento para que os companheiros de cena pudessem se valer de todas os seus sorrisos luminosos e lágrimas sinceras em suas cenas. Agora torno para o palco, para as frentes das câmeras para entregar meus sentimentos ao personagem. O regresso já me era necessário e trago comigo mais experiência e possibilidades pelo tempo de aprendizado mútuo com diversos atores com quem trabalhei anteriormente e a memória de soluções incríveis que os vi apresentar cada qual com sua luz.
Lu: A novela “Quero é Viver”, na qual você foi Diretor de Atores, foi nomeada ao ROSE d’OR, uma prestigiosa premiação suíça. Pode nos contar mais sobre essa conquista e como se sentiu ao receber esse reconhecimento internacional?
Vitor Hugo: “Quero é Viver” foi um projeto incrível com direção geral do Hugo de Souza, texto irretocável da Helena Amaral e com um elenco de imenso, mesmo imenso, talento. O processo de direção, que partilhei com o João Pedreiro e Vanessa Dinger, contou com um tempo de preparação generoso (algo cada vez mais raro) e uma disponibilidade e entrega preciosa do elenco. Meu contributo foi o de buscar estabelecer uma linha arquetípica de cada personagem, instigar os atores a encontrarem as dores, alegrias, traumas e desejos mais fundamentais de cada personagem, num trabalho de mergulho psicológico e filosófico que direcionava todos os personagens para uma necessidade em comum: o amor. Seguimos durante toda a novela acompanhado cada uma das cenas e gentilmente a serviço, com este olhar de fora, para contribuir cada ator nos doasse suas mais belas flores durante todo o processo. O Rose d´Or é um reconhecimento de que a entrega e trabalho em equipe de todos os profissionais ressoaram este amor.
Lu: Ao longo de sua carreira, você interpretou uma variedade de personagens. Pode nos falar um pouco sobre o personagem que desempenhará em “Cacau” e o que mais o atraiu a esse papel?
Vitor Hugo: Chama-se Valdemar e é tio da protagonista “Cacau”, (Matilde Reymão). Teve uma infância difícil sem os pais e cedo alistou-se ao exército para encontrar disciplina, e segurança. Especializou-se em lutas marciais e tornou-se um herói de guerra. Anos depois sua irmã “Regina” (Christiane Fernades), sofre uma violência e tem a vida de sua filha Cacau, recém nascida, ameaçada, pelo que a entrega para adoção e vai à procura do irmão. A trama começa no regresso dos dois a Lisboa, quase 20 anos depois do atentado contra a vida de sua irmã e sobrinha, para reencontrar Cacau e levar a termo uma vingança contra aqueles que lhes fizeram mau. Valdemar é um outsider e que além das cenas de ação e luta, se vale de muitas máscaras. Um personagem que interpreta personagens para desvelar segredos que lhe interessam. Ora é o familiar amoroso, Oora o héroi militar estratega. Oora faz-se de homossexual, e outras vezes de um fino aristocrata barão do Café. Um personagem com muitas máscaras. Um maravilhoso presente da autora Maria João Costa.
Lu: No folhetim você irá reencontrar a atriz Christine Fernandes e o diretor Edgar Miranda, com quem trabalhou no Brasil. Quais são as expectativas para atuar novamente com eles em um ambiente diferente?
Vitor Hugo: Minha estrada ao lado do Edgard Miranda é das mais belas de minha trajetória como ator. Tive a boa sorte de conhece-lo ainda adolescente, no final dos anos 90 e sob sua batuta, já atuei em muitas obras televisivas muitas das quais recebi indicações a prêmios de melhor ator. Nossa relação é de imensa confiança no trabalho um do outro com o acréscimo de minha profunda gratidão por tê-lo como diretor por diversas vezes em minha carreira. Estar ao lado dele outra vez, e ainda com a companhia luxuosa da Chris, pura luz e talento, tem sido maravilhoso como sempre foi. Nossa cumplicidade, respeito, e amizade são tão grandes que o ambiente se fez o mesmo tal qual sempre foi: cheio de sorrisos, leveza, profissionalismo e cenas especiais.
Lu: Com sua vasta experiência, que conselhos você daria a jovens atores que estão começando suas carreiras, especialmente aqueles que desejam explorar oportunidades em diferentes países?
Vitor Hugo: Leiam. Leiam boa literatura, leiam os clássicos, leiam algo todos os dias. Somos contadores de histórias mas boa parte dos que seguem no oficio não têm por hábito ler. As vozes, os ritmos, as melodias de cada personagem surgem como por ato mágico no ato de leitura silenciosa. Saber ouvir o livro é uma experiência solitária e arrebatadora. Nesta sinfonia que se ouve no silêncio descobrimos mistérios. O trabalho do ator se dá depois disto… quando ele têm de com seus instrumentos pessoais, se colocar a serviço da personagem e buscar entoar sua canção. Quanto a aventura em outros países…. como dizia o pórtico do velho oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. Penso que uma resposta sincera à esta emblemática questão pode revelar as chaves das portas que cada um é capaz de, a cada momento, ser capaz de abrir.
Lu: Ao longo dos anos, você se destacou em várias produções, incluindo teatro. Existe alguma experiência teatral que tenha sido particularmente significativa para você e que gostaria de compartilhar?
Vitor Hugo: Minha estreia profissional no teatro no espetáculo “Capitães da Areia”, de Jorge Amado. Foi em 1992, sob a direção de outros mestre e amigo: Roberto Bomtempo. Este espetáculo firmou meus passos na carreira, me fez amar o palco teatral e me abriu todas as demais portas que ingressei depois.
Lu: Quais são seus planos e projetos futuros na atuação e direção e em novelas? Alguma coisa que você gostaria de explorar ou desafios que deseja enfrentar?
Vitor Hugo: Paralelamente às gravações de Cacau inicio um processo de pesquisa e criação de um espetáculo teatral, que marcará minha estreia nos palcos portugueses, com direção artística da atriz e encenadora portuguesa Sara Ribeiro, baseado no livro HUMUS, de um dos autores portugueses mais emblemáticos: Raul Brandão.
Lu: Agora vivendo em Portugal, se pudesse modificar uma única coisa no Brasil o que seria e por quê?
Vitor Hugo: Cada país é inigualável em suas virtudes e vícios. E todos os têm a ambos. Partilho apenas que embora não possa mudar muito do que gostaria que fosse transformado no solo que me nutriu, sempre me empenhei para que estes vícios e defeitos não me modificassem. Sento assim, com a força do que posso ser responsável, refletir de meu Brasil (aqui, aí ou em qualquer parte) o que nós temos de mais luminoso e qualitativo. É um exercício de auto-responsabilização.
Lu: Um sonho
Vitor Hugo: O que persigo e tento pôr em prática a cada aurora: que todos os meus pensamentos, palavras e ações transmitam luz, amor, alegria, fé, doçura, beleza e gentileza.
Lu: Um lugar
Vitor Hugo: Lago di Como, Isola dÉlba
Lu: Um livro
Vitor Hugo: “Ramayana” e Bhagavad Gita; Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell, e pela literatura “Eneida”, de Virgilio, “Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa” e o maior de todos: “DOM QUIXOTE” de Cervantes
Lu: Uma comida
Vitor Hugo: Moqueca capixaba com arroz de côco.
Lu: Uma música que o faz sorrir
Vitor Hugo: As música dos Tincoãs, as de Caymmi (Dorival e Nana), as de Cartola e Gonzaga.
Lu: O que é felicidade pra você?
Vitor Hugo: A simplicidade plena dos sorrisos em família em uma tarde de sol no quintal de casa, entre risadas, boa música e jarras de suco de frutas. O Sol. O mar…
Lu: Por fim, pode nos dar uma prévia do que podemos esperar da novela “Cacau” ?
Vitor Hugo: Uma novela vigorosa, com personagens densos e humanos, demasiadamente humanos, em seus acertos e erros, uma direção segura e criativa, um elenco entusiasmado, talentoso e pronto para contar uma história com todos os elementos para conquistar os corações portugueses e brasileiros, como é mérito da autora Maria João Costa.
Lu: Vitor Hugo, muito obrigada por participar da Nossa Janela.
Vitor Hugo: Lu, que a agradeço a oportunidade de levar minha voz de novo ao meu país. Minha Gratidão.
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