Bernardo Felinto

Bernardo Felinto

Foto: Felipe Barreira

Ele acredita no teatro como o exercício mais natural e artesanal da atuação. Criou o canal “Só 1 Minuto”, o maior canal de humor do Centro-Oeste com mais de 30 milhões de visualizações e 185 mil inscritos no Youtube. Seu papel mais recente foi o Kaara, da novela “Órfãos da Terra” , da Rede Globo. É com o ator e roteirista Bernardo Felinto que conversamos agora.

NJ: Bernardo, O que mais o encanta no teatro?

Bernardo: O que mais me encanta no teatro é o exercício de forma mais artesanal e natural da atuação. Ali, no palco, somos apenas os atores e a plateia. Algo que só acontece naquele momento, não há reprise, não há corte, edição, erro. Não existe o erro no teatro, tudo faz parte do espetáculo. Quando digo que não existe o erro, quero dizer que o erro é inevitável, sempre algo será diferente, a plateia sempre será outra, a energia sempre será de outra forma. Fazer teatro é pular de um abismo sem paraquedas. É se entregar ao momento como uma situação de vida ou morte, não há como dar metade de si, é uma doação integral, de corpo, mente e alma. Não há como fazer teatro de outra forma.

NJ: Como foi a experiência de se formar pela New York Film Academy, em Nova York?

Bernardo: Fazer o curso de acting em NYC foi absolutamente maravilhoso. Não a toa, os americanos são a maior potência do entrenimento mundial. O nível de profissionalismo, estrutura, conhecimento e investimento é algo chocante. A escola que cursei, A NYFA é uma das melhores do mundo, com professores fantásticos e uma estrutura invejável, com várias sedes em diversas cidades pelo mundo, algo que nunca vi no Brasil. Tentei trazer parte disso para o meu curso de teatro, em Brasília. Aprendi muito lá, recomendo muito a todos os artistas que tem a oportunidade de estudar fora.

NJ: Como você avalia o papel social e político da arte?

Bernardo: Discordo quando se diz que a arte tem que ter uma função social. Não vejo como função obrigatória. Claro que faz parte, é um dos seus membros, uma vertente, um caminho, mas não vejo como obrigação. Tudo que se torna obrigação na arte, torna-se mecânico. E sinto a arte como algo emocional, é a expressão do ser humano, do jeito que vier, sem rótulos. Acredito que uma peça de teatro, um livro, uma música tem um poder transformador. Não há como negar o poder da arte e a sua influência. A comédia, por exemplo, gênero que trabalhei durante muitos anos no teatro, sempre teve como arma a crítica, seja política ou social. O papel do artista é o que ele quiser ser. As opiniões dos artistas estão em maior evidência, por isso a cobrança, mas o posicionamento político por exemplo, é algo muito pessoal. Contudo, acredito sim que a arte pode transformar o mundo, mesmo que sem querer. Cada plateia sente aquele recado de um jeito, cada espectador sente ou ouve ou lê aquela obra com a sua sensibilidade, baseada na sua própria vida. Porém, acho lindo quando a obra toca o espectador de verdade, não necessariamente de forma política, mas de forma questionadora ou emocional.

NJ: Após algumas participações na Rede Globo, você atuou em “Jóia Rara”.  Quais são as lembranças mais marcantes desse trabalho?

Bernardo: Eu comecei a fazer participações na Globo em 2012. De lá pra cá, ja fiz pequenas participações em pelo menos 20 obras de dramaturgia e a minha trajetória na emissora foi crescendo aos poucos, degrau por degrau. Demorei alguns anos até pegar o meu primeiro contrato, em 2014, na novela Jóia Rara. Ali, tive a verdadeira experiência de fazer televisão, de estar na Globo quase diariamente gravando. Pra mim, que vim do teatro, foi intimidador chegar na Globo, não conhecia nem de perto aquele universo, fiquei extasiado no início, aos poucos fui ficando mais a vontade, é um processo, gosto do jeito que as coisas aconteceram pra mim, é importante passar por todas as etapas.

NJ: Seu papel mais recente na TV foi o Karaa de “Orfãos da Terra”, da Rede Globo. O que mais o empolgou nesse trabalho?

Bernardo: Eu estava longe da televisão há um tempo. Estava querendo voltar. É importante pro ator transitar em todos os veículos. Fiquei muito ansioso depois do teste, queria muito pegar o papel. Fiquei muito feliz quando recebi a notícia! novamente, foi um papel fixo, de importante relevância pra trama, algo que estava buscando na carreira. O personagem ficou um mês na novela, gravei muitos dias durante esse tempo, conheci de perto todos os diretores da novela, o elenco, produção, locações, foi importante demais ter vivido isso. Fora que atuar com a estrutura que a Globo proporciona é tudo que um ator quer, estrutura e segurança. No teatro, muitas vezes somos mais do que atores, geralmente estamos também na produção, roteiro, cenografia, direção, iluminação e etc. Na Globo, tive a oportunidade de ser só ator e me dedicar apenas a construção do meu personagem e estudo do texto, isso é libertador de certa forma. Eu também sou roteirista, mas gosto de atuar em obras interessantes de outros autores, e achei a novela “Órfãos da Terra” muito bem construída, com uma mensagem super importante e muito bem escrita.

NJ: No cinema, você lançou recentemente o filme o curta-metragem “Me Deixe Não Ser” no qual é autor, ator e produtor.   Qual é o maior desafio de acumular essas três funções em um mesmo projeto?

Bernardo: Esse filme é o projeto artístico que mais me orgulho ao longo desses 20 anos de carreira. Foi de fato, muito trabalhoso, quase 2 anos desde a pré-produção até a finalização, isso se tratando de um curta-metragem. Sou muito orgulhoso desse projeto, mudou minha carreira e me abriu os olhos pro cinema. Hoje, o meu foco principal como ator é no audiovisual. São 20 anos no teatro, chegou a vez de viver esse casamento com o cinema. Foi um desafio ter três funções acumuladas, mas não tinha como ser diferente. Era um filho, tinha que cuidar com muito cuidado, muita atenção e muita concentração e energia. O filme circulou por diversos festivais de cinema no Brasil e no mundo e ganhou dois prêmios de melhor roteiro em festivais nos EUA, foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira até aqui.

NJ: O que o levou a montar o Curso de Teatro Bernardo Felinto?

Bernardo: O curso já existe há 10 anos em Brasília. Hoje temos mais de 190 alunos e várias turmas, nos tornamos o maior curso de teatro da capital federal. Como toda a minha carreira, foi crescendo aos poucos, devagar. Hoje tenho vários professores trabalhando comigo, um espaço maravilhoso pra trabalhar, é gratificante. O que me motivou no início foi ensinar e empreender. Sempre soube que seria interessante ter um viés comercial para a profissão, mas não tinha ideia que o curso iria crescer tanto. O objetivo é continuar o bom trabalho e formar novos artistas.

NJ: Como nasceu o “Canal Só 1 Minuto”?

Bernardo: Quando eu comecei a fazer trabalhos na Globo, me apaixonei pela câmera, queria vivenciar isso. Queria ter um produto de massa para mostrar o meu trabalho. Nessa época, fazia apenas pequenas participações na Globo e queria me tornar mais conhecido. O teatro não consegue chegar de forma natural ao grande público, é outro tipo de visibilidade. No teatro, eu coloco 300 pessoas por dia e geralmente, isso é uma vitória. Eu tenho um vídeo do canal que tem 7 milhões de visualizações, em apenas 1 vídeo! O alcance é muito alto. Mas vale ressaltar, o canal demorou pelo menos dois anos pra atingir números relativamente altos, foi um caminho longo.

NJ: Como você lida com a internet em relação ao seu trabalho?

Bernardo: Eu não tenho uma relação tão boa com as redes sociais, por exemplo, procuro postar coisas relacionadas ao meu trabalho. Como sou muito reservado na minha vida pessoal, aplico isso nas redes sociais também. Mas com relação ao trabalho de fato, uso muito a internet, pra pesquisa, pra leitura, pra ver filmes, séries e etc. Na época que o canal estava muito ativo (estamos parados com o canal agora) acompanhava de perto os comentários dos vídeos, mas aprendi a me desapegar dos comentários negativos depois de um tempo.

NJ: Qual é o  papel da religião em sua vida?

Bernardo: Sou ateu. Meus pais não eram religiosos mas parte da minha família é. Demorei pra me assumir com essa posição, mas hoje é onde me encaixo.

NJ: Em sua opinião, qual é a maior virtude que um homem pode ter?

Bernardo: Caráter e lealdade.

NJ: Uma frase

Bernardo: Tem coisa que só sai da gente por escrito.

NJ: Um sonho

Morar na Austrália.

NJ: Um lugar

Bernardo: Los Angeles.

NJ: Uma música que o faz sorrir

Bernardo: “Naquela Mesa”, Nelson Gonçalves

NJ: O que o deixa verdadeiramente emocionado

Bernardo: A amizade/lealdade.

NJ: Bernardo Felinto por Bernardo Felinto

Bernardo: Um artista intenso, inconstante e obstinado.

NJ: Antes de concluir, gostaria de abordar algum outro assunto ou deixar algum recado? Esse espaço é seu.

Bernardo: Vou terminar com uma citação: ¨Esse tipo de vida que levamos é comum demais: está nos matando.¨ Cartas na Rua – Bukowski

NJ: Bernardo, muito obrigada por participar da Nossa Janela.

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

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