Regiane Alves

Regiane Alves

Ela começou a carreira de atriz aos 19 anos e de lá pra cá, praticamente emenda uma novela na outra, colecionando personagens marcantes no currículo. Quem não lembra da Dóris de “Mulheres Apaixonadas” ou da Belinha de “Cabocla”? Atualmente, Regiane Alves, tem emocionado muito o público que assiste  ao longa “Divaldo, o Mensageiro da Paz”, onde interpreta a  mentora espiritual Joanna de Ângelis.

Lu: Regiane, como a arte entrou em sua vida? Como tudo começou?

Regiane: Desde criança eu gostava de participar dos eventos da escola em saraus de poesia, dança… ser artista já nasceu comigo, nunca me vi fazendo outra coisa. Com 13 anos comecei a trabalhar como modelo, fazendo comerciais, capas de revista. Fiz um curso na Globo para atores, um curso de teatro e aos 19 anos , em 1998, fiz a minha estreia na TV numa novela do SBT chamada “Fascinacão”.

Lu: Você interpreta a mentora espiritual Joanna de Ângelis no longa “Divaldo, o Mensageiro da Paz.” O que aprendeu com a Joanna?

Regiane: O aprendizado desse trabalho vai ficar para sempre em minha vida. Aprendi com ela que tudo é regido pelo amor, nas suas escolhas, nas dores, no bem ao próximo, tudo que você faz depende desse sentimento. Foi transformador e ao mesmo tempo gratificante interpretar um ser de luz tão presente na imaginação e na mente dos espíritas.

Lu: Você já tinha contato com o espiritismo antes do filme?

Regiane: Muito pouco, mas sempre recebo algum recado do mundo espiritual, confesso. Como disse Divaldo: ” os artistas têm uma certa mediunidade porque levam a beleza para o público e todos nós precisamos da arte e da beleza na vida”. Somos mensageiros da beleza.

Lu: Como se deu a construção da personagem?

Regiane: Eu tive a sorte e honra de ser escolhida por ele. Ele viu uma foto minha e disse: “ é ela quem tem que fazer o papel”. O papel chegou num momento muito difícil da minha vida pessoal e confesso que esse trabalho me salvou! como atriz, foi muito difícil fazer uma personagem onde sua força está na palavra.  Eu usava um hábito e não podia ter trejeitos, apoio no figurino ou maquiagem. Uma fono, a Leila Lopes, me ajudou muito com os tempos verbais, com as pausas e as aceleradas das falas, Joanna tem muita força e é ao mesmo tempo doce. Li alguns livros psicografados por ela, frequentei o CEJA aqui no Rio e fui visitar a Mansão do Caminho. Foram cinco meses de preparação e três meses de filmagens.

Lu: Como é a sua relação com Divaldo Franco? O que ele achou do filme e da sua personagem?

Regiane: De muita admiração e respeito. O que ele fez e faz é um exemplo do quanto podemos ir mais, olhar o outro e fazer pelo outro. Acho que ele gostou muito, ele ajudou no roteiro também. Parte da renda do filme é direcionada para a Mansão do Caminho. Teve um momento lindo que vivi com ele e que vai ficar eternamente na minha cabeça, tivemos um encontro em um dia que ele veio palestrar aqui no Rio, eu vestida de Joanna, pois durante as filmagens ele não me viu vestida, e quando me viu neste encontro foi uma choradeira só, ele docemente me disse: “minha filha, todos estão emocionados porque ela está aqui com a gente.”

Lu: Apesar do humor, “O Tempo Não Para”  abordou temas importantes como escravidão, feminismo e o preconceito racial. O que mais a empolgou nesse trabalho?

Regiane: Poder falar sobre o antigo e o moderno, o quanto a velocidade da informação e da modernização nos consome e quando menos esperamos estamos inseridos nisso. Fora o prazer de ter um bom texto com bons amigos. Fomos felizes demais fazendo essa novela.

Lu: Em “Cabocla” Você fez a Belinha. Há algum cuidado especial na preparação para uma novela de época?

Regiane: Sim, tem muito trabalho e uma preparação diferente: os modos, a forma de sentar, de se comunicar,  de comer. Falar de uma época e sobre um amor impossível, era quase um Romeu e Julieta. Foi o trabalho que mais gostei de fazer, foi muito prazeroso, se eu pudesse eu voltaria nessa época da minha vida.

Lu: Com a sua personagem Dóris em “Mulheres Apaixonadas” você ganhou bastante notoriedade. Como foi interpretar uma personagem tão cruel, sobretudo com os avós? Chegou a ser criticada nas ruas?

Regiane: Foi a personagem que mais marcou a minha carreira. Manoel Carlos colocou uma neta falando da falta de espaço físico e das diferenças das idades em um mesmo ambiente. Era uma época  em que os idosos estavam ganhando mais tempo de vida e não se falava  muito nisso. O que fazer com eles? dar mais tempo de trabalho? aposentadoria tardia? Dóris vinha e falava tudo que estava entalado. Foi um trabalho que me levou ao senado para pedir políticas a favor dos idosos e foi a primeira vez que fiz uma personagem que tinha uma responsabilidade social. Como ela era  terrível, era difícil sair nas ruas, mas eu entendia que estava fazendo bem o meu papel. Até hoje Dóris está no imaginário popular e já tem 16 anos isso.

Lu: Qual personagem mais deixou saudade e por qual motivo?

Regiane: A Marli da série “Cidade Proibida”. Como foi uma série, ficamos na esperança de ter uma segunda temporada, o que não aconteceu. Mas eu a amava!  ela era uma prostituta romântica que amava muito e resolvia todas as questões do seu amado. Tenho saudade também da novela “Cabocla”, mas matei um pouquinho porque teve reprise no Canal Viva, acho que foi o trabalho mais gostoso de fazer, por tudo!!!

Lu: Como você avalia o papel da arte na formação do indivíduo?

Regiane: Para mim é essencial. É a formação de um cidadão, é a construção, o estímulo e a liberdade para essa pessoa ter escolhas e referências para o futuro. Eu acredito que a arte salva as pessoas, faz pensar, traz transformações, diverte, emociona e nutre. Olha como consumimos streaming agora na quarentena! Como seria se não tivéssemos livros, filmes, músicas?  tudo seria mais triste.  A arte deveria ser tão importante quanto comer, mas quando não temos apoio ou incentivo fica tudo muito difícil. A luta é mais ou menos assim, uma formiguinha contra um elefante, quase impossível ganhar, mas a formiga nunca desiste de fazer o seu formigueiro.

Lu: Como analisa as políticas públicas voltadas para arte no Brasil?

Regiane: Pouco ou quase nada. Estamos vivendo uma fase estranha, sem apoio, sem reconhecimento, somos vistos como vagabundos e distorcem muito o que desejamos. Precisamos nos reinventar, mas confesso que me deixa triste não ter mais tantos teatros  e nem apoio ao nosso cinema nacional. Temos muitos bons atores, temos que valorizar o que é nosso.

Lu: O ator, em cena, muitas vezes precisa abstrair dos seus problemas pessoais para dar tudo de si ao personagem. Esse processo é sempre difícil ou com a prática se torna mais fácil?

Regiane: Acho uma delícia e de muito aprendizado! Você se desprende e vive uma outra vida por alguns minutos ou horas. Eu aprendo tanto, volto para a casa tão leve e feliz! porque faço o que amo.

Lu: Passar a produzir de alguma forma modificou a sua visão como atriz?

Regiane: Muito! responder e retornar uma ligação é uma das coisas que eu mais aprendi, o quanto é importante o retorno e o quanto a espera nos angustia. Eu dei valor a muitas coisas e aprendi que, no fundo, produzir é realizar sonhos.

Lu: Como concilia a carreira e a maternidade?

Regiane: Confesso que é uma verdadeira gincana. Tenho duas funcionárias, meus anjos da guarda, que me ajudam e muito. Como não tenho família aqui no Rio,  fica impossível cuidar deles sozinha. Tento manter a rotina deles e me encaixo nos horários deles, fico com eles sempre que posso.  São a minha prioridade. Ser mãe é uma benção, sou muito grata por ter sido escolhida pelos dois para ser mãe deles.

Lu: Há um provérbio árabe que diz que “adversidades são grandes oportunidades”. Como costuma lidar com os obstáculos que aparecem no seu caminho?

Regiane: Eles fazem parte do meu crescimento. Claro que quando acontece, fico chateada. Mas tento meditar na questão, peço discernimento entre o que é justo ou não, o que é do outro, o que é meu, e  como eu posso lidar com essa adversidade. Muitas vezes, o tempo é o melhor aliado.

Lu: Por falar em tempo, o tempo do teatro é diferente do tempo da TV. Pra você, quais são as principais diferenças entre preparar um personagem para um ou para o outro?

Regiane: O tempo!! no teatro o processo é mais artesanal, há mais tempo na preparação e até mesmo quando estreia uma peça a gente ainda consegue corrigir. Fora produzir, correr atrás de patrocínio, você entra em turnê, vira uma família. Na TV tudo é mais rápido, você tem que ter uma base para a sua personagem e não sabe o que vai acontecer com ela, a não ser que seja uma série, onde você já tem o início, meio e fim. Na TV tem que responder rápido nas gravações, o que é fantástico também, porque você cria uma agilidade para responder as ações. É mais industrial, mas  é onde cresci e é onde me sinto mais a vontade.

Lu: Como foi a experiência de participar da Dança dos Famosos?

Regiane: Foi muito transformadora. Você vai do pânico a superação toda semana, aprendi que se tivermos disciplina, treino, e o principal, a alegria ao dançar,  a gente consegue chegar até as pessoas. Era muito gostoso receber tantas mensagens de apoio, eu me sentia um jogador de futebol com torcida (risos).

Lu: Como costuma cuidar da saúde e da beleza?

Regiane: Faço yoga há 20 anos, pilates, ando de bike, musculação, cada dia faço alguma coisa. Sempre pensando no bem estar físico, emocional e mental. Tenho um médico ortomolecular, porque já passei dos 40 anos (risos), preciso ter saúde! faço massagem também.

Lu: Como está sendo a sua rotina durante a pandemia e qual é a sua opinião acerca das inevitáveis mudanças que teremos no Brasil e no mundo após esse período?

Regiane: Tenho ficado muito em função dos meus filhos, fazendo atividades, brincadeiras, vendo filmes infantis. Acho que para eles deve estar sendo incrível ter uma mãe tão presente e o tempo todo para eles. Tento fazer yoga, alguma atividade ao ar livre e vejo algumas séries nos intervalos. Estamos aprendendo a ver o mundo com outro olhar, o olhar para o outro. Eu me cuido para cuidar de você. Mas infelizmente, iremos pagar um preço alto pela nossa desigualdade social, teremos que cada vez mais ajudar ao outro. Desejo que a ciência nos ajude muito e que todos tenham consciência de suas ações.

Lu: O que a deixa verdadeiramente emocionada?

Regiane: Meus filhos. Eu olho para eles e sempre penso que é Deus conversando comigo.

Lu: Uma frase

Regiane: “O maior desafio da criatura humana é a própria criatura humana”- Joana de Ângelis.

Lu: Um sonho

Regiane: Conhecer o Japão e levar meus filhos para conhecer a Europa quando eles tiverem um pouco maiores.

Lu: Um lugar

Regiane: Fernando de Noronha, a natureza na forma mais rústica e Paris pela cultura e arte que nos oferece.

Lu: Um livro

Regiane: A obra completa do Drummond, sempre bom ter na cabeceira da cama. Ler um poema por dia faz bem para a alma.

Lu: Uma comida

Regiane: Japonesa e italiana.

Lu: Uma meta

Regiane: Melhorar como ser humano.

Lu: Uma música que a faz sorrir

Regiane: “O Que É, o Que É”, do Gonzaguinha.

“Viver

E não ter a vergonha de ser feliz

cantar e cantar e cantar

a beleza de ser um eterno aprendiz…”

Lu: Regiane Alves por Regiane Alves

Regiane: Difícil responder, mas me defino como uma pessoa otimista, persistente nos sonhos, com energia boa e que sempre deseja o bem para o próximo.

Lu: Regiane, muito obrigada! Que maravilha tê-la no nosso site.

Regiane: Obrigada, Lu. Adorei!

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

4 Comments

  1. Avatar
    Fabiana
    4 de junho de 2020 at 18:06 Reply

    “O maior desafio da criatura humana é a própria criatura humana”
    Pura verdade e muito importante para refletir no momento que estamos vivendo.
    Sempre gostei de Regiane e a entrevista foi ótima para conhecê-la um pouco mais

  2. Avatar
    Acácio do Sacramento
    6 de junho de 2020 at 15:18 Reply

    Adorei a Atriz Regiane e conheço seus trabalhos . Espetacular na novela Cabocla ,e, sem falar no merecido filme, Mensageiro da Fé.
    É importante quando gostamos do que fazemos. E isso acontece com a mesma.
    O roteiro foi fantástico.

  3. Avatar
    Dalia Ribeiro
    8 de junho de 2020 at 21:45 Reply

    ” A arte salva as pessoas, faz pensar, traz transformações, diverte, emociona, nutre”
    Considero perfeita essa colocação de Regiane Alves, sabe se posicionar mto bem no palco, na telinha, no cinema; segue brilhando sempre!
    Excelente entrevista de Luciana Leal! 👏👏👏🌞🌜🌟💋❤

  4. Avatar
    Renato Santarém
    2 de julho de 2020 at 17:25 Reply

    Uma honra em ter o contato com Lu desde muito nova e a recente amizade com Regiane, duas pessoas maravilhosas e cheias de talento.
    Sucesso!

Leave a Reply