Simone Zucato

Simone Zucato

Simone Zucato é atriz, apaixonada por teatro e possui uma vasta experiência como produtora de peças internacionais, as quais tem comprado os direitos de montagem no Brasil. Seu papel mais recentemente na TV foi a Liliane de “O Sétimo Guardião”, da rede Globo. Conversamos com a atriz sobre o câncer de mama que enfrentou durante as gravações da novela, seus projetos profissionais após a pandemia e sua  participação no clipe do  cantor e compositor Del Feliz , uma belíssima homenagem às mulheres.

NJ: Simone, que mais a interessa no processo de construção teatral?

Simone: Um aperfeiçoamento da Simone atriz. O teatro me ajuda a aprimorar minha inteligência cênica, minhas possibilidades como atriz e ouvir o colega que está em cena comigo. E isso tudo colabora para a qualidade do meu trabalho. O processo de entendimento da curva dramática, das nuances de um personagem, dados, detalhes pertinentes a ele são riquíssimos. O ator se colocar no lugar daquele personagem e tentar entender como ele – o personagem – pensa e age, como caminha, como fala, como ri, como come ou como segura uma taça de vinho, me fascina.

NJ: Você sempre quis ser atriz ou tinha outros planos?

Simone: Nunca nem pensei o que queria ser, não havia outra opção na minha lista. Sempre foi a de ser atriz.

NJ: Você tem uma trajetória no teatro e também de estudos fora do Brasil. Como essas experiências a prepararam para a TV?

Simone: Tudo o que a gente faz no palco nos aprimora como atores. Para mim, a televisão deve ser o resultado de muito trabalho no teatro. Claro que ter estudado e me exercitado com bons orientadores, colegas e professores me ajudou muito e só me acrescentou; mas a experiência prática de estar no palco, nos dá uma maior vivência de certas situações e podemos acessar isso quando estamos fazendo um determinado trabalho.

NJ: Você esteve  em cartaz, recentemente,  em uma temporada de sucesso absoluto com “Sylvia” no teatro PetroRio das Artes. Conte-nos um pouco sobre o texto.

Simone: Sylvia é a história de um engenheiro de meia idade, Greg, que encontra uma cachorra abandonada num parque e decide levá-la para casa. Contudo, sua esposa – Kate – não aceita a cachorra por estar num momento de ascensão na carreira e por estar vivendo uma nova fase (eles acabaram de se mudar, os filhos saíram para a faculdade). Então, Sylvia acaba sendo o motivo de uma grande crise conjugal. É um texto belíssimo que fala sobre o amor em suas diferentes formas, sobre amor incondicional, sobre a síndrome do ninho vazio e sobre a falta de comunicação que temos nos dias de hoje.

NJ: O que mais a empolga nesse trabalho?

Simone: O desafio de interpretar uma cachorra sem que o público veja uma mulher animalizada. Além do desafio físico. São noventa minutos de muita energia gasta e corporalmente é um personagem que exige muito.

NJ: Tudo indica que a peça voltará após a pandemia. Quais são as sensações que espera despertar no público com o espetáculo?

Simone: Amor, amor, amor… e a compreensão da necessidade em ouvirmos e entendermos  aquilo que o outro quer, aquilo que o outro precisa.

NJ: Quais lembranças você guarda da Liliane de “O Sétimo Guardião”?

Simone: Ahhh… só coisas boas e positivas. Mas as que mais guardo são referentes ao clima delicioso entre os colegas de elenco, os ensinamentos e conselhos de colegas a quem eu admiro, que me são referência desde minha infância e da importância de estarmos  prontos e atentos a tudo em um set de filmagem.

NJ: Sua personagem era bastante religiosa.  Como é a sua relação com a fé e a religião?

Simone: Respeito todas as religiões. Minha família é católica, porém eu sou kardecista. Contudo, frequento a igreja, vou à missas, vou ao centro espírita, vou a templos budistas e gosto de aprender sobre as outras religiões. Tenho muita fé e acredito que sem ela o ser humano fica sem um propósito de vida.

NJ: A história se passava na cidade de Serro Azul e a atração do local era a fonte com propriedades curativas e rejuvenescedoras. Você tem medo de envelhecer?

Simone: Não. Aliás, fico assustada em ver pessoas com medo de envelhecer. É algo natural e o envelhecer tem um lado positivo: você adquire mais entendimento, mais sabedoria, mais maturidade. Pode não ser tão bom para o corpo, mesmo que você cuide bem dele, mas é um presente para a alma. E o que somos, senão uma alma, um ponto de luz, vestindo um corpo? Somos eternos. Somos além desse tempo que temos aqui.

NJ: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por quem produz teatro no Brasil?

Simone: Eu vejo e vivencio muitas dificuldades. A primeira coisa é, para quem é produtor e/ou ator, ter que lidar com a realidade que o público brasileiro se interessa mais por peças que tenham atores muito conhecidos em cena. Se não tem ninguém que está na televisão e que seja conhecido, é mais difícil você atrair o público para que ele venha ao teatro, independente se a peça é boa ou muito boa. Você tem o boca a boca, mas sempre vai ter uma plateia maior se tiver um grande nome no elenco. Isso é triste porque as pessoas em sua maioria,  não saem de casa para ver uma história sendo contada por atores e sim alguns atores contando uma história. Quando as pessoas se derem conta que o teatro é importante pelo texto, pela história contada, pela beleza de seu ritual e que essas histórias fazem parte de sua cultura, sua educação enquanto indivíduo, o teatro no Brasil terá resolvido, então, grande parte de seus problemas. Outra coisa que dificulta muito é a falta de interesse de empresas em patrocinar o teatro. E estou me referindo a todos os gêneros, incluindo o drama. Não gosto quando ouço “a vida já está muito difícil, as pessoas não querem sair de casa para assistir um drama”. Sem patrocínio conseguimos fazer teatro, mas com muito mais dificuldades e por um tempo muito menor de temporada.

NJ: Passar a produzir modificou de alguma forma a sua visão como atriz?

Simone: Claro, você  aprende a fazer de tudo. Vê o back stage, como tudo funciona. Você tem um entendimento maior que é apenas uma pecinha num todo e que sozinho um ator não faz nada. Para fazer “Sylvia”, tivemos cerca de quarenta profissionais. O ator assimila essa importância de trabalhar em conjunto mais rapidamente quando produz. Sem falar que você nunca mais reclama de nada para alguém que te empregue. Você entende que estão fazendo sempre o melhor  e que para tudo dar certo, você – ator – tem que entender isso e aceitar as condições. Você vê tudo com mais amor, mais humildade.

NJ: Como funciona o processo de compra dos direitos de um texto? Essa compra é por tempo determinado?

Simone: É trabalhoso. E digo isso tanto para os textos brasileiros quanto para os textos estrangeiros. A compra sempre será por tempo determinado. Geralmente por dois anos.

NJ: Como avalia a política cultural brasileira?

Simone: Estamos vivendo tempos caóticos e perigosíssimos para a nossa cultura. As gerações atuais sofrerão graves consequências no que diz respeito a sua formação, a sua educação. É muito triste o que estamos vivendo e rezo para que tudo isso passe logo e as coisas melhorem.

NJ: Como enxerga o papel social e político da arte nos dias atuais?

Simone: A arte educa. A arte forma opiniões. A arte informa. A arte emociona. Mas hoje em dia está muito difícil fazer arte no Brasil. Muito mesmo. Então, é muito difícil nesse momento falarmos que ela tem um papel, um impacto na nossa sociedade. Estamos sendo colocados no final de uma lista de prioridades de uma nação. Isso é muito preocupante, muito triste.

NJ: Qual (ou quem) é a sua maior fonte  de inspiração?

Simone: Depende: como força, são meus pais. Como produtora é Clint Eastwood, como atriz é Meryl Streep, como mulher é Oprah Winfrey, como beleza é Angelina Jolie. E também amo o senso de humor de Ellen DeGeneres.

NJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?

Simone: Compaixão. Ver pessoas se movendo para fazer  bem materialmente, psicologicamente ou espiritualmente – ao próximo. Isso me emociona. Para mim a felicidade só existe se você ajuda o próximo de alguma forma. Então quando vejo gestos de compaixão, entendo que aquela pessoa entendeu ou está aprendendo o real sentido da vida.

NJ: Com as redes sociais, a relação com público acaba se tornando mais próxima. Como você enxerga essa era digital?

Simone: Acho que ao mesmo tempo que avançamos muito, também  precisamos entender os limites disso. Sou daquelas que torce para que o mundo sofra um apagão e para que possamos viver uma semana que seja sem internet. Seria maravilhoso! já pensou? as pessoas olhariam mais umas nos olhos das outras, teriam que conversar, teriam que entender as emoções e se dariam conta que a vida de verdade é essa… a que a gente se olha, se fala, existe de verdade, sem futilidades, sem filtros…

NJ: Se pudesse modificar uma única coisa no Brasil, o que seria e por quê?

Simone: Daria a cada brasileiro a chance de ter o seu trabalho, o seu suor, valorizado a ponto de todos aqueles que estudam e trabalham, terem uma vida com segurança, saúde, educação, cultura. Contanto que ele – que estudou e trabalha – ajude pelo menos mais três pessoas. Sim, seria uma regra do meu super poder (risos)… a pessoa teria que ajudar uma outra pessoa que não tenha estudado, uma que não esteja trabalhando e uma que não tenha estudado e nem esteja trabalhando.

NJ: Você acredita que uma novela deve obrigatoriamente levar em consideração a responsabilidade social e propor a reflexão?

Simone: Sim, acredito. Não só uma novela. Mas um filme, um seriado, uma peça. Nem que seja sobre um determinado assunto. Esse é o papel da cultura, da arte e dos veículos que atingem as massas.

NJ: O que a levou a escolher o texto de “A Toca do Coelho” para produzir?

Simone: A beleza do texto e a importância do que era falado. A Toca falava de superação, de força, de entendimento sobre aquilo que nos acontece e que não podemos controlar, falava sobre família… isso tudo mexeu muito comigo quando assisti a peça na Broadway. Me apaixonei pela história. É um texto muito realista, verdadeiro…

NJ: Qual é a importância do espetáculo “Trair e Coçar é só Começar” para a sua trajetória artística?

Simone: Nossa! antes de mais nada, me ensinou sobre o talento do Caruso como autor. Sim, porque eu assisti o “Trair” mais de cem vezes e eu morria de rir todas as vezes. Como atriz me ensinou sobre o tempo da comédia, sobre o improviso. Como pessoa, me ensinou sobre colegas talentosíssimos que eu trouxe para a minha vida e que admiro profundamente. Como produtora me ensinou sobre fazer uma peça sem nenhum patrocínio.

NJ: Você participou das montagens de “O Livro de Tatiana” e “As princesas do Castelo Encantado”. Como é a sua relação com o público infantil? Gosta de trabalhar com crianças?

Simone: Adoro trabalhar com crianças. Não me esqueço da minha primeira apresentação como Aurora. Do palco, quando eu entrava vestida de Aurora com uma peruca loira, a Carla Pagani – que interpretava a fada – perguntava para a plateia que na maioria era de crianças vestidas de princesas e príncipes se eles sabiam quem eu era e num coro eles respondiam: “A Barbie!” (risos).  E a primeira vez que eu fui tirar fotos depois do espetáculo com elas, uma garotinha que devia ter seus três anos olhou para mim e eu perguntei seu nome. Ela então virou para a mãe e disse, surpresa e atônita: “Mãe, ela fala!”. Eu me emocionei muito com essas crianças. Era muito bom ver e sentir a importância que eu tinha como participante direta na educação delas.

NJ: Você acredita em destino?

Simone: Sim, acredito. Acredito que podemos mudar os caminhos e os meios de chegarmos até certas situações, mas acredito sim que todos tenhamos um porquê de estarmos aqui e que disso, não poderemos fugir jamais.

NJ: Qual é a lembrança mais forte da sua infância?

Simone: Eu perguntando ao meu pai, quando eu quebrei meu pé e tive que usar um gesso até o joelho, vestidinho de camisola e penhoar de princesa, se ele estava triste porque eu havia ficado feia e ele dizendo que eu estava linda. E da minha mãe enrolando brigadeiros e beijinhos nas festas de criança… e dos meus irmãos fazendo bagunça e das minhas avós fazendo coisas deliciosas para comermos.

NJ: De onde busca forças para transpor os obstáculos da vida?

Simone: Do que vem na sequência deles. Eu sei onde quero chegar, sei o que quero fazer, então ninguém consegue parar uma pessoa  que sabe onde quer ir.

NJ: Você enfrentou o câncer de mama durante a novela “O Sétimo Guardião. Como foi pra você passar por esse processo trabalhando? A novela ajudou a enfrentar a situação com mais leveza?

Simone: Foi uma fase muito difícil, com medos e inseguranças, mas também de entendimento. Procurei entender o porquê disso estar acontecendo na época. Procurei entender o que estava me ensinando. Foi difícil mas eu tinha a novela, que era um sonho. Eu sempre quis trabalhar com o Aguinaldo e com o Rogério Gomes.  Agora, imagina uma novela que tinha os dois juntos! meu coração era só gratidão e alegria. Então, tinham as dificuldades, mas essa alegria, essa gratidão, me deu forças para passar por essa fase com muito mais tranquilidade.

NJ: Paralelamente a peça “Sylvia”, você tem outras produções teatrais em andamento. Uma delas, aborda o autismo. Como anda esse projeto e como surgiu a ideia de abordar o tema no teatro?

Simone:  Lú, eu trabalho nesse projeto há oito anos. Adquiri os direitos autorais pela primeira vez em 2012 e não gostaria de desistir porque acho que é um projeto que fala sobre um assunto muito importante e o papel da arte é informar, é educar. A incidência do autismo tem aumentado muito mundialmente. Precisamos falar sobre isso, mas infelizmente, no Brasil os patrocinadores preferem peças que sejam do gênero comédia ou musical; é uma história de todos, se trata de um drama com alívio cômico, mas é um drama. Eu decidi produzir e atuar nessa peça assim que a assisti em Nova Iorque, em 2012, quando percebi como a história toca o público e como isso pode ser importante para todos.

NJ: Ao lado de Elba Ramalho, Sylvia Massari, Stela Freitas, Lucinha Lins, Juliana Caldas, Neusa Borges, Edvana Carvalho, Maria Ceiça e Jussara Freire, você é uma das estrelas do clipe “A essência dela”, uma homenagem do cantor e compositor Del Feliz, às mulheres. Como foi pra você fazer parte desse projeto?

Simone:  Foi uma delícia e uma honra ser convidada a fazer parte desse projeto. Achei muito nobre a iniciativa de Del, que além de tocar num assunto tão importante de forma poética e enaltecedora, teve que driblar os tempos de pandemia para fazer o vídeo. Representar, ao lado de colegas que admiro tanto, um tema tão importante para a nossa sociedade nos dias de hoje, embalada pelo ritmo do forró, é bom demais.

NJ: Você acredita que ser voz na luta pelo empoderamento feminino é responsabilidade de toda artista consciente?

Simone: Claro que acredito! é muito importante que nós, que temos um maior alcance ao público, falemos de assuntos que devem ser abordados, que movimentemos as pessoas para conseguirmos o avanço da sociedade. Como eu disse anteriormente, a arte tem o papel de informar, de elucidar, de educar, de conquistar nossos objetivos de uma forma clara, pacificamente.

NJ: Um lugar

Simone: A casa dos meus pais. Nova Iorque para estudar, para me reciclar. E Paris, claro.

NJ: Uma frase

Simone:  “Há sempre algo de ausente que me atormenta.” (Camille Claudel).

NJ: Um sonho

Simone: Contracenar com Tom. (o Hanks, claro). Com um super roteiro, e com direção de Clint Eastwood ou Martin Scorsese. Básico, né? (risos).

NJ: Uma música que a faz sorrir

Simone:” Bendita la Luz”, Maná com Juan Luiz Guerra.

NJ: Simone Zucato por Simone Zucato

Simone: Guerreira! (fiz uma pesquisa com 15 amigos antes de responder isso ,risos)

NJ: Antes de encerrar, você gostaria de abordar algum assunto, deixar alguma mensagem especial?

Simone: Sim. Viemos a esse mundo para ajudarmos ao próximo. Só tem uma coisa que se pararmos para refletir, nos preenche. É amar e trazer alegria a quem quer que seja. Então, todos os dias abrace pelo menos três pessoas por mais de 15 segundos. E ajude pelo menos uma pessoa com o que quer que seja. Faça isso uma semana e você verá que o que eu estou dizendo é verdade. O mundo será um lugar muito melhor se fizermos essa corrente.

NJ: Uma palavra

Simone: AMOR

Galeria:

NJ: Simone, muito obrigada por participar dessa Janela que também é sua. Eu concordo plenamente com o que seus amigos disseram. Você é uma guerreira! Porém, gostaria de acrescentar o quanto é talentosa, atenciosa e inteligente. Meu carinho por você é enorme desde que nos conhecemos em Recife. Tê-la no site é uma alegria pra mim. Beijo de luz!

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

1 Comment

  1. Avatar
    Dalia Leal
    17 de junho de 2020 at 22:32 Reply

    Linda mensagem de Simone Zucato: “Viemos a esse mundo para ajudarmos ao próximo”
    Se cada ser humano assim fizesse, o mundo seria bem melhor!
    Parabéns Luciana Leal pela entrevista e perfeita galeria de fotos!👏👏👏🌞🌜🌟💋❤

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