A arte sempre fez parte da vida de Vanessa Gerbelli, já que, além de interpretar e cantar, também costuma expressar emoções através dos pincéis e das tintas. Foi com muita serenidade e alegria que a atriz nos recebeu em seu camarim para um bate-papo cheio de revelações espontâneas.
NJ: Vanessa, Além de atriz e cantora, você é formada em pintura pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. De que forma a arte entrou em sua vida?
Vanessa: A arte sempre fez parte da minha vida desde muito pequena. A minha mãe era pianista, professora de piano, meu tio tocava, meu avô tocava, a minha tia Noemi Gerbelli é atriz. Venho de uma família italiana muito expressiva na arte. Então, sempre me pareceu muito natural cantar e fazer teatro. Além disso eu gostava muito de pintar, o meu tio é um grande ilustrador e eu sempre me inspirei nele.
NJ: Você esteve recentemente em cartaz no Rio de Janeiro com o espetáculo “Fim de Caso”. Conte-nos um pouco sobre a personagem Sarah Miles e sobre o espetáculo.
Vanessa: A história se passa na década de 40 e a Sarah é uma mulher a frente do seu tempo, que se permite ter amantes em uma época que isso era considerado um crime. Uma mulher que se admite certa liberdade mas ao mesmo tempo lida com a culpa que isso gera. É uma mulher em conflito, uma mulher muito feminina, muito questionadora dos valores da época, mas uma mulher que se revela em constante busca, que não se contenta em ver o mundo como a sociedade apresenta pra ela.
NJ: O que mais a interessa no processo de construção teatral?
Vanessa: Tudo me interessa no processo de construção teatral porque o teatro fala sobre a vida e de tudo que há nela. Acho que os artistas nascem com esse desejo de investigação do mundo, de tradução do mundo, de ver novas versões do mundo, de inventar um outro mundo. Então, acho que o processo teatral é um movimento terapêutico para o ator, para o grupo todo e pra quem assiste. Faz pensar, refletir, sentir, é uma coisa muito sofisticada. A filosofia tem o lugar dela pra responder algumas questões, a sociologia também. Cada modalidade intelectual tem a sua função mas a arte vê o mundo de uma maneira que acrescenta ainda mais, acrescenta a sensibilidade, a visão poética de cada um. A arte realmente é redentora.
NJ: O que tem em comum com a Sarah e no que mais difere dela?
Vanessa: Eu acredito que a empatia com o outro ser humano, a religiosidade e os questionamentos do mundo. Naquele momento da história em que ela se apaixona, se permite viver aquele milagre da maneira mais profunda possível. Ela é uma pessoa que se investiga. E isso eu tenho também dentro de mim. Por outro lado eu acho que ela mantém um mistério do início ao fim que eu não consigo, eu sou uma pessoa muito transparente. Quando não gosto de uma coisa eu evidencio, eu digo, eu falo. Não consigo deixar uma questão em suspenso por muito tempo, eu sou ansiosa por resolver as questões e expressar de uma maneira eficiente para resolver qualquer problema.
NJ: Seu primeiro papel na TV foi a Lindinha de “O Cravo e a Rosa”. Como avalia esse trabalho?
Vanessa: A Lindinha do “O Cravo e a Rosa” foi uma surpresa muito deliciosa porque era o meu primeiro papel , eu não sabia nem me colocar diante da câmera, tive que aprender tudo do zero mesmo. E eu me descobri uma atriz de verdade, porque muitos problemas se apresentavam através da minha dificuldade de dominar aquela linguagem. Eu fazia teatro, teatro musical e tive que estudar muito. Eu gravava os capítulos, me assistia, me analisava. Enfim, fui me descobrindo também muito disciplinada e feliz em fazer esse trabalho. Ali realmente me descobri nessa profissão.
NJ: Sua temporada em “Malhação” abordou assuntos polêmicos como a transmissão de HIV de mãe pra filho, gravidez na adolescência e atritos políticos como o fechamento de escolas públicas de São Paulo. Como você enxerga a importância de tratar temas como esses em uma novela voltada para o público adolescente?
Vanessa: Eu acho Malhação muito atrativa, não é à toa que é uma novela que está aí á mais de 20 anos. Essa forma desmistificada de abordar assuntos importantes nessa idade em que tudo é tabu, tudo é misterioso, tudo é motivo de vergonha, é fundamental para que os adolescentes e pré-adolescentes possam afirmar suas verdades. São janelas que se abrem para a própria forma de eles se expressarem, se colocarem como indivíduos dentro da sociedade. Eu acho que tudo que serve para despertar a consciência é extremamente benéfico.
NJ: Dois personagens bastante marcantes foram: Fernanda de “Mulheres Apaixonadas” e Tancinha/Zuleide de “Da Cor do Pecado”. Quais são as lembranças que guarda dessas personagens e o que mais aprendeu com cada uma delas?
Vanessa: “Mulheres Apaixonadas” foi uma novela que além de todo sucesso da personagem, da comoção entre o público e do ibope gigante, teve uma força enorme na época. Não tinha ninguém que me conhecesse na rua e que não soubesse quem eu era e o que eu estava fazendo (risos). Foi um aprendizado muito grande e do ponto de vista do trabalho, era a primeira vez que eu fazia uma obra em que o autor escrevia contando muito com a interpretação do ator, do intérprete. O Manoel Carlos tem uma coisa muito instigante na escrita dele que parece que ele deseja que você contribua com a sua opinião sobre o personagem, com a sua ideia, sobre o caminho que você quer dar. Claro que isso é de uma maneira absolutamente controlada e genial. Ele aponta um caminho, mas você se sente livre para colocar o seu ponto de vista. E isso era muito estimulante e dava uma qualidade muito especial, muito coesa para a nossa interpretação. Ficava todo mundo muito engajado naquela situação: o ator, o autor e o diretor. Era um trabalho muito estimulante.
A Tancinha de “Da Cor do Pecado” também foi um presente. Foi divertidíssimo o trabalho com o Matheus Nachtergaele e o Arlindo Lopes. A gente ensaiava as nossas cenas fora da TV Globo simplesmente para nos divertir e pra fazer um exercício de soltura para estarmos 100% disponíveis para a comédia. Isso foi muito maravilhoso. Cada novela trouxe mais um tijolinho para compreender melhor a minha profissão.
NJ: Pra você, como atriz, qual foi a importância de atuar em “Novo Mundo”, trama que foi porta-voz de um resgate a nossa própria história?
Vanessa: Eu acho fundamental que a gente conte a história do Brasil de uma forma mais afetiva para que a gente aprenda com os erros do passado e não os repita. A gente precisa se mobilizar, transformar a nossa realidade. Não dá pra ficar refém da nossa situação política.
NJ: No Filme “As Mães de Chico Xavier” você interpretou uma mãe que mantinha contato com o filho por meio de cartas psicografadas. Trazer toda a dor e a falta de racionalização que o sentimento de perda gera não deve ser nada fácil. Como foi a construção de todas essas emoções?
Vanessa: As cenas já eram por si muito emocionantes, e eu me deixei levar por elas. Sou muito emotiva e a morte é um assunto que me toca demais. Foi um envolvimento totalmente emocionado.
NJ: De onde busca inspiração para as suas pinturas?
Vanessa: Eu costumo sempre partir de um tema que me instiga ou me inquieta e tento extrair as possibilidades plásticas daquilo, de acordo com o meu gosto e as minhas experiências.
NJ: Como analisa a política cultural brasileira?
Vanessa: É muito difícil falar da nossa atual situação cultural. Eu nunca havia presenciado uma situação em que os artistas fossem considerados do mal e é o que a gente está vendo agora. Eu vejo um desmonte mesmo, um desmanche. Nós estamos sendo tratados com muito desrespeito, com um certo deboche, até. É uma situação muito violenta, muito agressiva e requer muito equilíbrio, muita resistência. Não podemos deixar que a tristeza nos abata. Porque incentivos estão sendo cortados, peças estão sendo cortadas. Veladamente, mas estão. A gente tem, infelizmente, um presidente que nos trata com muito deboche e isso é pesado. Mas os artistas resistem. Precisamos resistir. Nós viemos para sermos espelhos do ser humano, do mundo. E a gente precisa continuar.
NJ: Como foi a experiência de participar da dança dos famosos?
Vanessa: Minha experiência na Dança dos Famosos foi breve, eu me machuquei logo, mas me peguei em crise com a competição em si, acho que não sou uma boa competidora desse tipo de prova. Mas foi bacana porque eu apendi a me conhecer melhor e também tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas. E gosto muito do Faustão, acho ele uma figura super carinhosa. Então foi super válido.
NJ: Como cuida da saúde, do corpo e da mente?
Vanessa: Pois é, a meditação foi um grande achado na minha vida. Eu sou até uma “panfletária” em relação a esse assunto (risos) porque realmente mudou muito a minha vida. Eu realmente penso que a meditação, as práticas de silêncio e a prática do ioga são voltadas para o desempenho mental e a sua conexão com a própria essência. Então, a meditação é uma coisa que faz parte da minha vida com força. Eu tenho feito ioga, aulas de circuito, treinamento funcional e também uma coisa muito interessante que chama eletroestimulação. São 20 min por semana com um colete com eletrodos.Você vai fazendo o movimento e recebendo estímulos elétricos de acordo com a sua capacidade muscular e isso vai dando tônus de dentro pra fora. Isso foi uma coisa que eu gostei muito de fazer e a minha fisioterapeuta recomendou porque eu descobri uma hernia de disco há um ano, precisava fortalecer essa região e não estava conseguindo fazer muito exercício por causa da dor. E isso realmente tem me ajudado muito.
NJ: Como avalia a sua trajetória artística até aqui?
Vanessa: Eu acho que a minha trajetória tem sido bastante variada. É uma trajetória em que consegui misturar a televisão, o teatro, o cinema, o teatro musical e a música. Acho que a minha trajetória artística é muito espelhada na minha forma de ver o mundo que é muito diversificada. Gosto de experimentar coisas novas, diferentes. A rotina, apesar de dar segurança não é uma coisa que me seduz muito. Eu acredito que a minha trajetória reflete verdadeiramente essa natureza.
NJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?
Vanessa: Olha, algumas coisas me deixam muito emocionada: Animais, crianças. Uma pessoa dançando livre, uma frase inspiradora muito bem dita, uma verdade muito profunda quando é manifestada de forma extremamente amorosa. Tudo isso me emociona muito.
NJ: Como é a sua relação com a religião?
Vanessa: É uma relação estreita e múltipla (risos). Eu rezo o terço, medito, faço o mantra, tomo banho de ervas (risos). Eu sou muito ecumênica, na verdade.
NJ: Uma frase
Vanessa: “Liberdade, igualdade e fraternidade”
NJ: Um sonho
Vanessa: Deixar de ter medo e que a humanidade toda também deixe de ter medo.
NJ: Um lugar
Vanessa: Capadócia.
NJ: Uma comida
Vanessa: Queijo. Gosto muito de queijos.
NJ: Uma meta
Vanessa: Deixar de ter medo.
NJ: Uma música que a faz sorrir
Vanessa: Eu estava escutando ontem, chama “Everything” cantada pelo Michael Bublé.
NJ: Vanessa Gerbelli por Vanessa Gerbelli
Vanessa: Eu posso abrir aspas e dizer “Estamos trabalhando para melhor atendê-lo” (risos).
Galeria:
NJ: Vanessa, muito obrigada! Que maravilha tê-la na Nossa Janela.
Vanessa: Obrigada você, Lu. Que maravilha nosso bate-papo hoje.
3 Comments
Dalia Leal
14 de abril de 2020 at 12:29Vanessa Gerbelli é excelente atriz!
Amei a entrevista!
Parabéns Lu!
Arrasou na galeria de fotos!
👏👏👏🌞🌜🌟💗
Fatima Veloso
14 de abril de 2020 at 18:07Parabéns as duas, excelente entrevistadora e respostas da artista 👏🏻👏🏿👏🏼👏🏿
Nize Jobim
15 de abril de 2020 at 22:20Maravilhosas: entrevistadora e entrevistada. Parabéns !!! Bjos. 🌻🌻