Ela deu vida em 1978 a Cuca da primeira versão do Sítio do Pica Pau Amarelo, esteve na Escolinha do Professor Raimundo e no aclamado filme “Central do Brasil”. É uma das mais talentosas atrizes do país e completa em 2020 50 anos de carreira. Foi com muita alegria e carinho que a atriz Stela Freitas abriu as portas do apartamento onde mora, no Rio de Janeiro, para receber a nossa equipe.
NJ: Stela, como começou a sua relação com a dramaturgia?
Stela: Sempre gostei muito de ler. Meus irmãos mais velhos viviam lendo eu me interessei por livros desde muito cedo. Aos 11 anos fui estimulada a ver teatro por uma professora de português. Assisti Paulo Autran ,Walmor Chagas dizendo Fernando Pessoa e me encantei. Aos 14 anos assisti “A Margem da Vida”. Essa peça despertou o meu desejo de ser atriz.
NJ: Como avalia a sua trajetória artística até aqui?
Stela: O meu grande desejo desde que comecei, antes mesmo de estudar teatro na Escola de Arte Dramática, foi viver da minha profissão, apesar de todas as dificuldades. Em 2020 completo 50 anos de profissão em teatro, cinema e televisão.
NJ: O que mais a interessa no processo de construção de uma personagem?
Stela: Descobrir a alma do personagem e todos seus anseios e ter um olhar sem julgamento daquela personalidade. Me divirto ao interpretar. Gosto de fazer teatro, cinema, televisão, gosto de tudo que eu possa brincar de ser outra pessoa, exatamente como as crianças fazem. Por isso costumo dizer que o ator não cresce nunca, está sempre brincando.
NJ: Como está sendo para você fazer a Terezinha de “Bom Sucesso”?
Stela: O mais importante até agora está sendo a novela em sí. Uma novela inclusiva que fala de literatura, sonhos e realização. Um texto muito bom, direção segura o ótimos atores. Estou muito feliz por fazer parte dessa novela.
NJ: Como tem sido a parceria em cena com Romeu Evaristo?
Stela: Romeu é uma ótima pessoa que eu conhecia há muito tempo e que agora estou tendo a oportunidade de conhecer melhor. Nós conversamos muito e temos uma ótima troca. Estou aprendendo muito com ele sobre inclusão, somos um casal multirracial.
NJ: De 78 a 81 você interpretou a Cuca no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Como é a sua relação com o público infantil e quais são as lembranças que guarda desse trabalho?
Stela: As lembranças que guardo são as mais afetivas possíveis. Trabalhei com crianças na adolescência e juventude ( teatro com crianças especiais). O “Sítio” era uma grande família. Vivíamos juntos em um sítio em Barra de Guaratiba gravando todos os dias. Foi muito bom e às vezes muito difícil. O Geraldo Casé, criador da série, foi uma pessoa muito especial, muito querida por todos.
NJ: Você fez vários programas de comédia como a “Escolinha do Professor Raimundo”, “Viva o Gordo” e “Zorra Total”. Você gosta de trabalhar com humor?
Stela: Eu não escolhi o humor é o humor que escolhe a gente.Convivi com os melhores mestres do humor a começar por Chico Anysio, os atores todos da Escolinha, Jô Soares, Tudo isso faz parte da minha formação. Agradeço muito ter convivido e aprendido com eles. Era uma delícia, nunca me sentia trabalhando. Gosto muito de fazer comédia, mas se o personagem é bom, tanto faz, o drama também pode ser muito rico.
NJ: Você se considera uma pessoa engraçada?
Stela: Não. Inclusive, sou uma atriz que tem talento para a comédia, mas não me considero humorista. Minha formação foi no teatro e lá também fiz bastante comédia. É natural pra mim utilizar a linguagem do humor.
NJ: Na “Escolinha do Professor Raimundo” você viveu a Cândida, aluna que respondia corretamente as perguntas sobre outros países, mas chorava quando era questionada sobre o Brasil . Como você enxerga a crise política na qual o país mergulhou?
Stela: Eu teria que ser uma cientista politica para poder entender tudo o que está acontecendo no país. Sempre será um prato cheio para o humor a quantidade de besteiras diárias ditas pelos nossos políticos. O pior de tudo é a volta da censura e a perseguição a cultura, imprensa e as artes. Infelizmente estamos regredindo. É uma situação muito grave.
NJ: O que tem achado da “Nova Escolinha” e da atuação da Maria Clara Gueiros como Cândida?
Stela: Adoro a Escolinha nova. A escolha dos atores foi perfeita, elenco de primeira. A Maria Clara e ótima atriz e por incrível que pareça ficamos iguaizinhas até nas risadas.
NJ: Como foi fazer parte de “Central do Brasil”, uma produção tão premiada e que mostrou a cara do povo brasileiro?
Central do Brasil foi um filme muito especial, principalmente pela direção de Walter Salles e pelos atores: Fernanda Montenegro, Marilia Pera, Vinícius de Oliveira, Othon Bastos, Mateus Nachtergaele, e muitos outros. Tudo era muito bom: o roteiro, a fotografia, a arte, a produção, tudo isso com a direção segura e inspirada do Walter. Eu adorei fazer, era um papel totalmente diferente pra mim e a Fernanda é uma deusa.
NJ: Outra personagem que não podemos deixar de lembrar é a Cícera de “Senhora do Destino”, trama que bateu todos os records de audiência. Quais são as principais memórias desse trabalho?
Stela: “Senhora do Destino” Foi uma novela incrível, fez muito sucesso e ríamos muito nas gravações. O elenco tinha muito humor. Acho que a Cícera foi a soma de varias empregadas que eu já tinha feito.Ela tinha sabedoria e humor.
NJ: Como funciona o seu processo de concentração antes de entrar em cena?
Stela: Varia muito, depende da peça, da densidade do personagem, do elenco. Na maioria das vezes gosto de me aquecer dançando. Isso me deixa disponível para representar sem tensão.
NJ: Se pudesse se encontrar com a menina que foi no passado, o que diria a ela?
Stela: Valeu sonhar e persistir.
NJ: Quando não está gravando, qual é o seu passatempo preferido?
Stela: Caminhar no Jardim Botânico.
NJ: Como você avalia a atual política cultural brasileira?
Stela: Um desastre, mas tudo passa.
NJ: Como espectadora, qual foi a sua novela preferida e por qual motivo?
Stela: Difícil dizer.Gostei muito de “Que Rei Sou Eu?”, “Sassaricando”, “Senhora do Destino” e ” A Vida da Gente”.
NJ: O que é fundamental para a sua qualidade de vida?
Stela: Saúde física e mental e humor.
NJ: Você é muito aventureira? Conte-nos algumas das suas aventuras (risos).
Stela: Tenho espírito aventureiro (risos), gosto muito de experimentar coisas novas. Trabalhei com um modelo que era Professor de voo livre e uma semana depois já estava voando com ele. Eu sou totalmente aventureira, tudo que é novidade me interessa.
NJ: Há um provérbio árabe que diz : “Adversidades são grandes oportunidades”. Como você costuma reagir aos obstáculos que aparecem no seu caminho?
Stela: Vejo como oportunidade.
NJ: Uma frase
Stela: Caminhante : Não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.
NJ: Um lugar
Stela: Santorini.
NJ: Uma música que a faz sorrir
Stela: Valsinha, Chico Buarque.
NJ: Um livro
O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa.
NJ: Uma mania
Stela: Achar que tenho sempre coisas pra fazer.
NJ: Um sonho
Stela: Viver sem pensar em dinheiro.
NJ: Um medo
Stela: Da censura.
NJ: Stela de Freitas por Stela de Freitas
Stela: Vale a pena tentar.
Galeria:
NJ: Stela, muito obrigada por participar da Nossa Janela. Um beijo com todo meu carinho.
Stela: Eu que agradeço, Lu. Obrigada por ter vindo aqui para esse bate-papo tão gostoso. E que gracinha que é a Nina que também é Stella (risos).
4 Comments
Denize Oliveira
16 de janeiro de 2020 at 11:00Amei!! Lu querida, seu ofício é fantástico! Muito obrigada por tudo que já fez, faz e ainda fará! Amo suas entrevistas! O sitenossajanela.com.br é o MÁXIMO! ❤✊🏳✌🙏👏👏👏👏👏😍🤗😘😘😘 pra vocês!
Dalia Leal
16 de janeiro de 2020 at 19:24Considero Stela Freitas excelente atriz, q já desempenhou importantíssimos personagens! e com D. Terezinha de Bom Sucesso me divirto mto!
Luciana Leal parabéns pela entrevista, bem como pela galeria de fotos!!!👏👏👏🌞🌜🌟
Camila Marinho
29 de janeiro de 2020 at 10:03Grande Stela Freitas! Adorei a entrevista!
Pedro Aguiar
29 de janeiro de 2020 at 10:11Excelente atriz!