NJ: Fábio, nesse momento de coronavírus pelo mundo, a primeira coisa que mudou foi a rotina de gravações das emissoras. No seu caso, que grava com o celular, como foram vistas essas mudanças?
Fábio: A primeira mudança, e mais séria delas, foi de fato descontinuar os quadros que faço. Eles estão suspensos até a situação se normalizar. Ao contrário do jornalismo que nós chamamos de “hardnews”, o entretenimento prevê entrevistas mais longas, contato mais próximo com os entrevistados. Principalmente se fazendo uma entrevista com o celular, onde é preciso praticamente estar com “rosto colado” ao do entrevistado.
NJ: Como foi essa coisa de gravar com o celular para um programa de TV e não para as redes sociais? Você fez um caminho inverso, certo?
Como foi essa coisa de gravar com o celular só que não para redes sociais.
Fábio: Eu diria que um caminho inverso e também cheio de resistências. Desde que os celulares evoluíram, gravar com eles não é mais novidade nenhuma. Entretanto sempre vimos as pessoas gravarem para redes sociais como Instagram, Facebook, etc. Mas usar o celular para gravar conteúdo televisivo é uma outra história. No começo eu tinha até receio que as pessoas achassem que era muita “pobreza“ usar o celular. Algo do tipo: “está faltando equipamento pro Fábio sair para as externas?” Mas com tempo a gente viu que não era assim. O público assimilou bem e percebeu o que eu já imaginava: a linguagem que é do YouTube também pode se adaptar a televisão. É um “cross-mídia” invertido. Ao invés de YouTubers que ficam famosos e migram para TV, eu já era conhecido na TV e fui para o YouTube, até a Record comprar a ideia do projeto. Hoje o “#partiu – com Fábio Ramalho” é um dos quadros mais assistidos aqui na Record do Rio de Janeiro.
NJ: Os mais assistidos e também mais comercializados. Podemos dizer isso?
Fábio: Podemos sim, se levarmos em conta que é um dos únicos quadros da televisão brasileira onde há inserção de merchandising dentro do próprio produto, dentro da reportagem, e não apenas no estúdio, com o apresentador fazendo as ações. De fato, a questão da gravação ser feita com o celular viabiliza muitas coisas. É mais barato gravar quando vou sozinho com o celular na mão do que com uma equipe com um cinegrafista, câmera profissional, iluminador, motorista e operador de áudio. E se esse custo cai para produção, isso significa que cai também para se criar conteúdo de merchandising. E o que o mercado publicitário chama de “conteúdo de marca” atrelado ao conteúdo jornalístico. Por exemplo, se falo sobre provas do ENEM, podemos atrelar uma escola, por exemplo, a este conteúdo. Como estou gravando com o celular, nada mais justo que a primeira patrocinadora fosse uma operadora de telefonia, no caso a TIM. Então, se gravo com o celular, porque não dizer que estou gravando com o modelo tal, e transmitindo as imagens no meu pacote de dados com rede al4.5G por exemplo? Essa é a espinha dorsal deste modelo de “conteúdo + marca”.
NJ: Mas você sempre foi visionário assim? Ou você trouxe essa ideia de algum lugar? Porque você já foi um dos apresentadores mais novos do Brasil em bancada, correto?
Fábio: Sim, e acredito que as duas coisas estão profundamente atreladas. Eu sempre quis fazer as coisas cedo, antes de todo mundo, e pensando no que as pessoas iriam querer ver no ano seguinte. Quando comecei apresentar um jornal de bancada com 20 anos, eu já sabia que ali também não ficaria muito tempo. Eu sempre sentia necessidade de me reinventar. De fazer coisas novas. E acho que a Record TV Rio soube pegar bem essa característica minha e dizer “este é o caminho, siga por aqui que vamos com você nessa”.
NJ: Foi assim que você migrou desse jornalismo “hardnews” para o entretenimento da emissora?
Fábio: Exatamente assim. Em 2011 esse estilo “quero mudar de novo” garantiu meu “passaporte”, digamos assim, para o novo “Hoje em Dia”, versão Rio de Janeiro, nas manhãs da RECORD TV RIO. Apelidado de “Puxadinho Carioca”, o programa levou a emissora a liderança no final das manhãs e isso era o que eu precisava sentir para perceber que eu precisava fazer as coisas de um jeito diferente. De lá passei para o “Programa da Tarde” e continuei nesta linha que meus quadros seguem até hoje.
NJ: Esse trabalho o fez passar por situações inusitadas, conhecer gente muito famosa. Como foi a experiência de convidar a Katy Parry para jantar? (risos).
Fábio: Foi algo simplesmente inimaginável. Eu, um mortal jornalista brasileiro, convidando Kate Perry para jantar. Imagina? Mas tudo tem um contexto. Ela estava no Rio de Janeiro para o lançamento de seu filme. No longa ela conta que o homem para conquistá-la tem que ser cuidadoso, chamando primeiro para jantar e tomar um vinho. Daí aproveitei a deixa para perguntar se isso era verdade mesmo. Se um homem bem intencionado, como eu, convidando-a para jantar teria sucesso. O resultado foi sensacional: ela disse que não saberia se tão rápido assim teria êxito, mas que toparia na próxima vez que viesse jantar sim. Foi uma grande brincadeira. Mas valeu muito a pena.
NJ: Depois disso você passou a rodar o mundo mostrando desde experiências inusitadas ao escalar um vulcão, até morar na Rocinha, por 15 dias, para mostrar a vida e as curiosidades da maior favela do Brasil. O que mais tem aprendido com essas experiências e o que gostaria de aprender mais?
Fábio: Esse projeto foi algo muito interessante que aconteceu na minha vida. Eu estava afastado da Record TV, morando na França. Eu havia sido demitido da casa quando o Programa da Tarde terminou e estava fazendo um curso no exterior. Na época, havia firmado uma parceria com o site de turismo chamado Falando de Viagem. Eles tinham interesse em ter alguém rodando o mundo, entretanto o que eles me proviam era a passagem, a alimentação e a hospedagem. Não tinha uma troca financeiro envolvida. Mas eu via do limão uma possibilidade de fazer a limonada. Foi quando comecei a viajar produzindo o conteúdo para o site deles, mas também fazendo um conteúdo alternativo para o meu canal do YouTube e comecei a investir em assuntos que não eram tão comuns. Uma vez em Paris, a matéria sobre como visitar a torre Eiffel ficaria para o site e coisas curiosas que eu encontrasse no meio do caminho iriam para o meu canal. E foi assim que aconteceu. Me lembro que uma vez, estava dentro de uma estação de metrô em Paris quando percebi bicicletas para as pessoas fazerem exercício. Sabe aquelas bicicletas de academia que você pedala e não sai do lugar? Exatamente assim: só que tinha o detalhe de você plugar o seu celular e conseguir recarregar a bateria pedalando. Achei aquela ideia fantástica e resolvi mostrar no canal. O vídeo bombou. Foi quando me caiu a ficha de que as pessoas não queriam ver o trivial, queriam ver coisas diferentes. Não demorou muito para que, felizmente, o conteúdo alternativo que fazia para o meu canal fosse visto pela própria emissora. Foi quando surgiu o convite de voltar e foi criado o nome do quadro, “#Partiu – com Fábio Ramalho.”
NJ: Qual foi a história mais divertida e curiosa que consegue lembrar agora?
Fábio: Sem dúvida nenhuma a mais emblemática pra mim foi subir na cabeça do Cristo Redentor. Na época apenas quatro apresentadores de televisão haviam feito isso. Um deles o Gugu, que na época ainda nem estava na Record. Foi uma situação muito bonita e grata. Pude estar no topo do Rio de Janeiro e abrir os braços – como o próprio Cristo – para agradecer esta cidade que me recebeu tão bem. Me sinto um carioca apesar de ter nascido em Brasília. Costumo dizer que sou “brasioca”, mistura de brasiliense com carioca.
NJ: Fábio, muito obrigada por participar da Nossa Janela.
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