O aluguel de imóveis por períodos curtos vem crescendo no país nos últimos anos e teve um salto nos últimos anos por conta da copa de 2014. Fatores como a expansão da internet e a busca de outras fontes de rendas, têm causado significativas mudanças culturais entre os brasileiros que cada vez mais abrem as portas de suas residências para alugueis por temporada.
Inspirado nessa realidade, Matheus Ázaro fundou a Mazaro Flats, empresa especializada em gestão de apartamentos de luxo na Orla do Rio de Janeiro. Confira entrevista exclusiva com o empresário, que apesar da rotina super corrida, nos recebeu com todo carinho em um dos seus empreendimentos na Barra da Tijuca: O Next.
DMJ: Matheus, conte-nos um pouco sobre a sua história. Como tudo começou?
Matheus: Essa história vem de família. Tudo começou em 1962, quando meu avô fundou uma empresa familiar chamada “Nevada Praia Clube”que trabalhava com clubes e hotéis no Brasil inteiro. Em 1980, a gente chegou a 20 hotéis que eram administrados pelo Nevada. Com o passar do tempo, os clubes foram ficando pra trás por causa dos condomínios com piscina e toda a estrutura que os clubes tinham para suprir essa necessidade. Com isso, fomos reformulando a ideia.
DMJ: Então, no início a empresa trabalhava com clubes. Mas nessa época já existiam os hotéis do grupo?
Matheus: Sim, mas os hotéis eram apenas um “plus”. O nosso grande mercado era de clubes.
DMJ: Quando o Next foi construído e inaugurado?
Matheus: Em 1999, o clube aqui da Barra foi destruído para que o residencial “Next” fosse construído e montado. Na época eu ainda não trabalhava na empresa. Nós já tínhamos hotéis em Ubatuba, Cabo Frio, Guarapari, Mangaratiba e Praia do Francês.
DMJ: Como você começou a trabalhar na empresa da família?
Matheus: Em 2007 meu avô faleceu, perdemos a liderança da família e começamos a ter uma gestão de governança com vários gestores. Em 2009 comecei a trabalhar com eles. Eu tinha outros planos, queria ser advogado. Meu pai assumiu o negócio, mas não sabia muita coisa porque meu avô sempre foi muito centralizador e foi aí que eu comecei a ajudar. Comecei a aprender operação administrativa, vendas, muita coisa aprendi sozinho. Fazíamos locação mensal, mas eu trouxe a parte de hotelaria para o serviço. Comecei administrando as unidades da minha família.
DMJ: Mas isso foi muito cedo! Você ganhou muita responsabilidade apesar da pouca idade!
Matheus: Verdade rs. Quando eu comecei a trabalhar com a família, estava saindo do colégio e fui estudar Hotelaria. A faculdade foi fantástica porque eu aprendia na teoria e já colocava na prática. Ia comparando uma coisa com a outra e aprendendo bastante.
DMJ: Seu avô, o Édipo Ázaro, foi um dos pioneiros no turismo social do país…
Matheus: Sim! Ele é muito respeitado por quem conhece a história do Nevada Praia Clube. Foi ele quem proporcionou diárias a RS 1,00 na época de 1990. Ele contribuiu muito para que as pessoas de renda mais baixa pudessem viajar. A minha história está atrelada a história dele. Busco hoje ser a pessoa que ele foi. Ele construiu um grande império que ao longo do tempo foi se desfazendo, mas foi quem deu início a tudo isso. Ele foi e continua sendo muito reconhecido.
DMJ: Como surgiu a Mázaro Flats?
Matheus: Os anos se passaram e vi que muita gente era contra administração de apartamentos de terceiros e aqui sempre teve essa demanda. Tinham as nossas unidades e as unidades dos outros proprietários que ficavam vazias. Em 2011, fundei a Mazaro Flats e através dela comecei a administrar tantos os apartamentos de terceiros, quanto os da minha família. A gente vem fazendo um trabalho bacana, unindo o prédio todo. Hoje são 62 unidades sob a minha administração, só aqui no Next. Mas a gente expandiu para o Royal Plaza no Posto 7, o Pontal Beach no Recreio e o Barra Bela no Posto 6. Então, já são 4 unidades aqui no Rio.
Eu sempre gostei de pensar a frente. Quando você tem uma gestão com muita gente opinando, não consegue avançar. Foi aí que resolvi abrir a minha própria empresa, pra andar do meu jeito. E conforme vai mudando o mercado, a gente tem que ir se atualizando. Hoje o Nevada tem a sua operação e nós temos a nossa com a Mazaro Flats.
DMJ: Quais são os diferenciais da Mazaro Flats?
Matheus: A gente entra no apartamento, faz a reforma, faz todo investimento de móveis planejados para o padrão hoteleiro para atender a demanda. Principalmente agora que o turismo está super aquecido por conta do período olímpico e a gente precisa aproveitar a demanda. Acho até que esse foi o único setor que não parou na crise.
Hoje se tem muitos corretores alugando por temporada, pessoas que de repente moram no mesmo prédio e administram apartamentos, mas não tem uma empresa especializada, com todo esse know-how, com força de venda, central de reservas, toda parte de staff por trás de uma locação. Ganhamos o mercado por causa da segurança que passamos para o proprietário. Em contrato, assumimos toda a responsabilidade por qualquer coisa que aconteça dentro do imóvel. Se o meu cliente danificar uma geladeira, uma mesa ou qualquer outra coisa, a gente repõe sem qualquer custo para a proprietário. E ainda fazemos manutenção preventiva.
DMJ: Antigamente existia um medo muito grande em alugar o próprio imóvel por temporada, mas esse medo vem perdendo cada vez mais espaço. A que você atribui essa mudança na mentalidade do brasileiro?
Matheus: A rentabilidade. O carioca está saindo do próprio apartamento para alugar. Antes da copa chegar, eles entenderam que poderiam alugar por temporada, então esse mercado vem crescendo bastante. Nos últimos três anos triplicou o faturamento de alugueis de temporada na cidade. Claro que ainda existe proprietários que deixam os imóveis parados, mas é uma minoria. A maioria quer rentabilizar o seu apartamento.
DMJ: E quais são exatamente os serviços que o hóspede encontra aqui?
Matheus: Quando o cliente entra em um apartamento residencial nosso, ele encontra todo conforto de hotel. Governanta, restaurante… na verdade, temos um suporte de 24 h. Temos equipe de supervisão própria, de manutenção própria. Temos serviço de enxoval, toalha, reposição de amenities. Tanto é que nossos concorrentes são hotéis.
DMJ: Como está a ocupação de vocês?
Matheus: Em 2015 aumentamos em 1000% a nossa força de venda em relação a 2014, só aqui no Next. Nossa ocupação média está em 86%, uma ocupação muito alta para a Barra da Tijuca, que costuma ter em média 68% de ocupação. A hotelaria regional está reconhecendo a Mazaro Flats como uma grande administradora.
DMJ: Ainda tem o serviço de dia de noiva, não é?
Sim! A Mazaro Flats oferece a noiva um dia especial e inesquecível em nossos flats e apartamentos luxuosos.
DMJ: Vocês trabalham também com locação mensal?
Matheus: O nosso foco não é esse porque trabalhamos com diárias e temos um público corporativo muito forte. Temos operadoras parceiras que trazem clientes multinacionais. Nosso forte é aluguel para períodos pequenos. A média de locação é mais ou menos três diárias por cliente.
DMJ: Todos os empreendimentos tem essa vista espetacular para o mar que estamos vendo aqui no Next?
Sim, todos! Estamos focando na orla da Barra, mas pretendemos entrar na Zona Sul. Esse é um mercado que iremos entrar, com certeza!
DMJ: Qual é a expectativa para as Olimpíadas?
Matheus: Todos os apartamentos já estão alugados para esse período, há mais de um ano.
DMJ: Imagino que a procura aqui na Barra seja maior por causa da proximidade com a Vila Olímpica.
Matheus: Com certeza! Na verdade, a procura aqui é sempre muito grande, principalmente no verão. A Zona Sul é um ícone no turismo, mas a Barra é muito selecionada, muito mais segura.
DMJ: O Rio de Janeiro é um dos destinos mais procurados dentro do país. Você o considera uma cidade turística? Qual é a sua visão em relação a isso?
Matheus: É um dos destinos mais procurados por brasileiros. A demanda de fora é muito pequena. Eu acho que um dos maiores erros do carioca é achar o Rio uma cidade turística. Se você comparar cidades como Las Vegas, Nova York, Cancun… verá que não é. Essas sim, são cidades turísticas, com uma demanda absurda e estrutura perfeita.
DMJ: O que está faltando nesse sentindo?
Matheus: Estrutura.
DMJ: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelo turismo corporativo no Rio de Janeiro?
Matheus: Mobilidade. A gente perde muito com isso. O turismo corporativo é muito exigente, a pessoa tem tudo cronometrado e não pode perder tempo, perder um voo, o horário de uma reunião. A gente vem perdendo muitos eventos e congressos porque aqui não há uma mobilidade expressa e essa é uma falha inadmissível para o turismo corporativo. A ABAV, por exemplo, aconteceu no Rio durante anos e está acontecendo em São Paulo pelo 3º ano consecutivo. A gente tem perdido muitos congressos para outras cidades por causa disso e o Rio de Janeiro não está percebendo isso.
DMJ: E os aeroportos?
Matheus: Outro problema sério! A pessoa chega no aeroporto e demora mais de 2 horas para chegar no Rio Centro, um dos maiores centros de convenções da América Latina. Valeria a pena investir no aeroporto de Jacarepaguá pra a gente conseguir fomentar a demanda. A Zona Sul já tem o seu próprio aeroporto que é o Santos Dumont. O turismo da Barra já está quase sendo comparado ao da Zona Sul e ainda não tem o seu próprio aeroporto. O que atende a Barra é o Galeão, na Ilha do Governador. A pessoa tem que atravessar a linha vermelha e a linha amarela para chegar ao aeroporto. Se for em horário de pico, tem que sair com 3, 4 horas de antecedência.Esse tipo de problema não cabe para uma cidade olímpica. Mas acredito que até 2020 muita coisa vai mudar.
DMJ: O que precisa ser feito?
Matheus: É preciso que haja mais investimento porque a Barra da Tijuca hoje é o símbolo do turismo corporativo na região e é esse tipo de turismo que gira o ano inteiro. O turismo de lazer acontece em períodos específicos. A pessoa vem para um evento, uma reunião e se gostar, fatalmente voltará com a família em outra oportunidade. A cidade tem que investir para conseguir manter os hotéis. Com isso, os eventos e congressos irão voltar. A nossa parte com certeza está sendo feita.
DMJ: Qual é o seu planejamento para daqui a 10 anos?
Matheus: Estar nas principais capitais do país e visando Miami. O sonho do meu avô sempre foi ter um hotel lá. Já temos entradas em Flats e apart hoteis para tentar administrar, mas esse é um projeto a longo prazo.
DMJ: Quais são os seus planos para este ano que está começando?
Matheus: Estamos abrindo a Mazaro Viagens , que é a parte da agência de viagem. Vamos vender pacotes, inclusive para outros hoteis. Nosso objetivo é fidelizar os clientes, ainda que não fique nos nossos hotéis, que eles comprem as passagens conosco.
DMJ: Como funciona a parceria com a Mônica Biúde, que cuida do seu planejamento de marketing?
Matheus: Conheci a Mônica no ano passado, conversamos e chegamos a conclusão que seria interessante montar uma imagem minha perante o Rio de Janeiro e a Barra da Tijuca porque nós crescemos muito desde o último ano, quando começamos a expandir para outras unidades. Estamos fazendo um trabalho muito legal, fazendo parceria com alguns artistas e investindo em marketing e mídia digital.Estamos ficando bem conhecidos perante o publico.
DMJ: Um sonho?
Matheus: Muitos. Mas como meu avô, meu maior sonho é poder deixar de trabalhar para fazer filantropia, ajudar as pessoas. Sempre quis ir para a Índia. Tenho um amigo que fez isso, foi para as aldeias indianas para ajudar. Não há nada no mundo que me deixe mais feliz do que ajudar uma pessoa que precise. E falo de ajuda de todas as formas, ajuda financeira, de incentivo a até mesmo através de um sorriso. Isso pra mim é primordial, a base para eu poder trabalhar e seguir em frente.
DMJ: Tem algum arrependimento?
Matheus: Alguns, mas tudo é aprendizado.
DMJ: Uma frase
Matheus: Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é menor (Walt Disney)
DMJ:Com certeza aonde seu avô estiver, está muito orgulhoso de você
Matheus: Mas vai ainda vai ficar muito mais rs
Confira galeria do nosso bate-papo:
DMJ: Matheus, obrigada por participar da nossa janela, conte sempre com nosso espaço!
Matheus: Eu também agradeço, Lu. Foi muito bom o nosso bate-papo.Espero recebê-los aqui em breve.
Conheça o Next, um dos empreendimentos da Mazaro Flats:
3 Comments
Mila Oliveira
8 de janeiro de 2016 at 19:30E eu que jurava que o Rio de Janeiro era uma cidade turística! Nada como uma matéria com quem entende do assunto. Parabéns pela matéria!
José de Abreu
8 de janeiro de 2016 at 19:32Muito bom ver um gestor tão competente apesar da pouca idade. Muito sucesso pra Matheus!
Acácio
10 de janeiro de 2016 at 20:03Espetáculo de reportagem e muito sugestiva.
Parabéns!