Berta Loran – 90 anos de Humor

Berta Loran – 90 anos de Humor

Nascida na Varsóvia, veio para o Brasil ainda criança, aos 9 anos. Com um currículo cheio de personagens marcantes, recebeu no dia do seu aniversário, uma  linda homenagem do amigo, produtor e escritor João Luiz Azevedo, através do livro com histórias dos seus 90 anos de humor. É com a maravilhosa atriz Berta Loran, nossa eterna Manuela D’Além-Mar, da “Escolinha do Professor Raimundo” e inesquecível Frosina de “Amor com Amor se Paga” que conversamos agora. Confira entrevista exclusiva cheia de carisma e riso solto.

NJ: Você nasceu em Varsóvia, mas mudou-se ainda criança para o Brasil. Quais  são as  lembranças que  guarda da infância?

Berta: Muitas. Eu lembro de tudo, ou quase tudo, desde a festa de casamento do meu irmão mais velho, quando eu tinha 5 anos até os dias atuais. No livro BERTA LORAN: 90 Anos de Humor eu conto situações que passaram comigo e minha família, ainda na Varsóvia, onde nasci e morei até os 9 anos. Tem também varias histórias da época que cheguei ao RJ, já com quase 10 anos. São historias fantásticas que meus fãs irão gostar de saber.

NJ: Um dos seus papéis mais marcantes na TV foi a parceria com o Ary Fontoura em “Amor com  Amor se Paga”, de Ivani Ribeiro. Esperava todo aquele sucesso?

Berta: Não, não esperava. A gente nunca sabe como vai funcionar. Numa novela, nós recebemos os capítulos e estudamos; e vamos entrando no personagem. Foi um prazer trabalhar ao lado do Ary Fontoura, Edson Celulari, Bia Nunes e Narjara Turetta. Eram tantos atores queridos! Até hoje me chamam de Frosina nas ruas. Ainda lembram. E foi em 1984.

NJ: Como era trabalhar com Chico Anysio?

Berta: Inesquecível. O maior comediante de todos os tempos!  Além de seus programas e múltiplos  personagens, ele fez novela, cinema e sempre muito bem. Um amor de pessoa, dadivoso, generoso, uma pessoa maravilhosa. O Chico estará no meu coração eternamente. Como ator, como pessoa e como o pai que eu via que era – maravilhoso. Grande criatura. Deixou-nos cedo demais. Ajudou muita gente. Faz falta e estará sempre em minha memória.

NJ: Como você conseguiu fazer uma portuguesa tão perfeita como a Manuela D’Além-Mar, da “Escolinha do Professor Raimundo”?

Berta: Ah! Pelo seguinte: eu fui pra Portugal, levada por um grande empresário, que levou uma companhia inteira e eu no meio dela. Fui por seis meses e acabei ficando seis anos. Seis anos, para uma pessoa que canta, como eu, é fácil pegar a musicalidade do idioma. Amo o povo português! amo Portugal!

NJ: O que está achando do Bruno Mazzeo interpretando o Professor Raimundo na Nova Escolinha?

Berta: O Bruno é uma pessoa simpática, um belo ator e está muito bem na Nova Escolinha fazendo o personagem que foi do pai. Se eu sempre admirei o trabalho dele, agora, então, nem se fala. Eu desejo sempre tudo de melhor para ele, os irmãos e toda a família do Chico.

NJ: E como foi trabalhar com o Jô?

Berta: Maravilhoso. Trabalhamos juntos por 17 anos e fizemos quadros lindíssimos. O Jô é muito culto, estudou na Suíça,  fala muitos idiomas. Uma vez fui no programa dele, cantei uma música em Polonês e ele cantou outra. Fiquei impressionada!

NJ: Você também fala muitos idiomas, né?

Berta:  Falo  o Iídiche, porque sou judia.  Falo o Português,  o inglês, espanhol e um pouco de Francês. Inclusive me virei bem em Paris.

NJ:“Em Cama de Gato”, sua personagem era a Loló. Como foi voltar a gravar uma novela completa após 25 anos?

Berta: Foi muito bom. O texto daquela dupla maravilhosa Duca Rachid e Thelma Guedes era ótimo, a direção da Amora Mautner era espetacular e contracenar com o meu querido Luis Gustavo era muito bom.  Ficamos amigos, pena que ele mora em SP e eu aqui no RJ, gostaria de ter mantido mais contato com ele.  Foi uma honra ter participado dessa novela com essa equipe genial.

NJ: Um dos seus papéis mais recentes na TV foi a Rainha-mãe Efigênia de Cordel Encantado. Como se preparou para a personagem?

Berta: Fazer a Rainha Mãe em Cordel Encantado também foi muito bom. Foi com a mesma equipe de autoras e diretora de “Cama de Gato”  que adorei fazer. Nessa novela eu contracenava com o Carmo Della Vechia que fazia meu filho, com o querido Marcos Caruso, com a Zezé Polessa, Débora Bloch. Muita gente boa.

NJ: Como avalia a sua trajetória?

Berta: Tenho certeza que sempre me esforcei ao máximo, sempre dei tudo de mim para desempenhar os personagens que me confiaram da melhor maneira possível.

NJ: Quais são as diferenças que enxerga na dramaturgia de quando começou na Tupi até hoje?

Berta: Hoje em dia a tecnologia ajuda muito. No passado, no tempo do “ao vivo”, não tínhamos o vídeo tape, não tínhamos edições e não tínhamos  tantos bons autores como hoje em dia.

NJ: Você sempre teve essa aptidão para o humor?

Berta: Sempre! Desde criança. Eu era danada (risos).

NJ: O que sente ao fazer os outros rirem?

Berta: Ah é a coisa mais gostosa do mundo! Amo ver as pessoas rindo, gargalhando. Se eu pudesse, todos andariam com um sorriso no rosto.

No Brasil, ninguém pensa nos brasileiros, um povo de 220 milhões de pessoas e ninguém faz nada pelo país. Onde foi parar o patriotismo?

NJ: O que acha da nova geração de comediantes?

Berta: Excelente, Temos ótimos comediantes como o Rodrigo Sant’Anna, Paulo Gustavo, Marcelo Adnet entre muitos outros.

NJ: Você sempre fala do Brasil com muito carinho e emoção. Qual é a importância do país na sua vida?

Berta: Tudo! Esse país maravilhoso me deu tudo! Me deu um idioma, me deu amor.

NJ: Qual é a sua opinião sobre o atual quadro político do nosso país?

Berta: Infelizmente não está bom e por isso prefiro nem comentar. Eu tenho pena do Brasil porque amo o país de paixão. Considero essa terra minha, porque à Varsóvia eu dei adeus há 81 anos. A Polônia era um país lindo e como não há regra sem exceção, muitos poloneses esconderam judeus para salvá-los dos nazistas, mas nós morávamos no gueto, éramos muito maltratados. Agora, no Brasil, ninguém pensa nos brasileiros, um povo de 220 milhões de pessoas e ninguém faz nada pelo país. Onde foi parar o patriotismo?

NJ: E ainda tem as injustiças, os preconceitos…

Berta: Lembro agora da canção de Jonh Lennon, “Imagine”, em que ele diz: “Se o mundo não houvesse divisões, somente uma religião, o mundo seria muito melhor, viveríamos todos em paz” porque todos nós independente de cor, classe social, religião, orientação sexual, somos todos parte da humanidade. E merecemos ser tratados com dignidade.

NJ: Como começou a parceria com João Luiz Azevedo? São amigos há muito tempo?

Berta: Somos amigos há 23 anos, ele produziu meus shows e eu fiz o espetáculo infantil dele “Os Dálmatas – O Musical” que estreamos no teatro Ginástico, em 1997 e ficou em cartaz por quase 8 anos ininterruptos. Eu fazia a malvada “Cruela Cruel” que foi interpretada pela GlenClose nos cinemas, o personagem era ótimo.

NJ: Como se sente comemorando 90 anos recebendo essa homenagem tão linda rodeada de amigos e de tanto amor?

Berta: Estou realmente muito feliz.  Lançar um livro sobre a minha vida e ter a Fernanda Montenegro sendo a primeira a vir me beijar e me pedir um autografo? É muita honra pra mim. Minha família, meus amigos, meus colegas de trabalho, meus fãs lotaram o teatro Oi Casa Grande. Quase mil lugares e o teatro ficou lotado, apesar da chuva que caiu.  Foi tudo muito lindo. Artistas fantásticos se apresentaram em minha homenagem. Eu tenho muito a agradecer.

NJ: Qual é a receita para tanta vitalidade?

Berta: Eu sou uma pessoa disciplinada. Não tomo refrigerantes, não como gordura, não como doces. Só tomo água mineral sem gás e sem gelo. Cigarro? Nem pensar. Doces? De vez em quando, como chocolates diet. E assim mesmo, um por vez. Nunca mais de um por dia. Com 90 anos, ainda tenho um personal trainer, 2 vezes na semana que me faz correr na esteira, em minha casa, até 20 a 30 minutos por vez.

NJ: De onde busca forças para transpor os obstáculos da vida?

Berta: Obstáculos? Que obstáculos, Lu?  Eu  sou muito otimista e mesmo quando estou doente  digo: ”eu vou ficar boa!”. E fico boa, graças a Deus! Agora, como eu posso ter algum mau humor? (gargalhadas). Agora mesmo com esse quadro que eu fiz no Fantástico, “O Grande Plano”, as pessoas me agarram, me beijam, dizem: “Berta Loran, você é nossa atriz maravilhosa; estamos adorando o ‘Grande Plano’”. Falam palavras tão lindas para mim que o meu sorriso vai até as costas. Tiro fotos,  converso, uma beleza.  Eu nasci na Varsóvia, fazia um frio de 30 graus abaixo de zero e dormíamos em um quarto com 14 pessoas. Hoje moro no RJ, em Copacabana, em um apartamento lindo que comprei com o fruto do meu trabalho. Não tenho mesmo do que reclamar. Sou amada pela minha família e meus fãs, meus colegas de trabalho me respeitam.  A vida é bela e nós temos que saber vivê-la da melhor forma possível.

NJ: O que é fundamental para a sua qualidade de vida?

Berta: Saúde, família e amigos por perto. Sempre.

NJ: Qual é o papel da música na sua vida? Sempre gostou de cantar?

Berta: Sempre, desde criança já cantava em casa, enquanto arrumava e cozinhava para meus pais e irmãos. Não cantava bem, era pouco afinada, mas fiz aula de canto com uma grande professora, a Maria Helena Betz por 29 anos.

NJ: Se tivesse um único pedido para fazer, o que pediria?

Berta: Um pedido especial, Lu? Vou lhe dizer: Meu pedido é VIVER! Viver bem até o dia que Deus me chamar. E quando esse dia tiver que chegar, desejo morrer em paz e não ter nenhuma doença que me faça depender de alguém, porque não tem nada pior do que perder a autonomia. Eu peço que Deus me dê essa glória, que me chame quando chegar a minha hora, na minha caminha, dormindo, sem sofrimentos e sem despedidas.

NJ: Teatro é…

Berta: O teatro,  como a minha arte, me deu tudo na vida e, em especial, a independência financeira que tanto sonhamos.

NJ: Uma frase  

Berta:  Minha mãe dizia: “Se você dormiu em um lençol limpo, não lhe dói nada, tem um  café da manhã maravilhoso, você tem a obrigação de levantar da cama cantando”. E é isso que procuro fazer todos os dias quando acordo.

NJ: Um lugar

Berta: Copacabana, onde eu moro.

NJ: Uma música  

Berta:“Eu Quero Ter um Milhão de Amigos” do Roberto Carlos

NJ: Uma cena inesquecível na TV:  

Berta: A cena do casamento da “Frosina” com o Seu Nonô na novela “Amor Com Amor Se Paga”. Hilária e emocionante!

NJ: Berta Loran por Berta Loran

Berta: Uma pessoa feliz, realizada, mas mesmo com 90 anos, ainda pretendo fazer uma novela na  Globo, sempre na Globo, em um papel cômico. Eu sei que vou conseguir.

O evento:

Berta Loran, ícone da comédia no Brasil comemorou seus 90 anos lançando o livro com a sua biografia, escrito em parceria com o amigo João Luíz Azevedo.  O evento aconteceu no Teatro Oi Casagrande, no Leblon, onde a dupla recebeu familiares, amigos, colegas de profissão e profissionais da imprensa.

Confira galeria:

NJ: Berta, muito obrigada por participar da nossa Janela. O aniversário é seu, mas o presente é nosso pela oportunidade de participar dessa linda festa. A festa da sua história. Beijo de luz e muita saúde.

Berta: Obrigada você, Lu. Estou realmente muito feliz com tanto carinho e por essa entrevista. Você é muito linda e simpática.

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

2 Comments

  1. Avatar
    Dalia Leal
    27 de abril de 2016 at 11:08 Reply

    Excelente entrevista c Berta Loran, atriz e comediante de alta competência, estou aqui encantada c seu modo de ser, c suas colocações. Importante destacar quando transmite o q sente ao fazer os outros rirem” ah é a coisa mais gostosa do mundo! amo ver as pessoas rindo, gargalhando. Se eu pudesse, todos andariam c um sorriso no rosto”como ela fica feliz em fazer pessoas felizes, isso é mto mto lindo e verdadeiro! gostei mto tbém qndo afirmou: “no Brasil ninguém pensa nos brasileiros, onde foi parar o patriotismo”? importante se faz salientar como ela é grata ao Brasil, aos brasileiros de modo geral, aos amigos, aos colegas e passa grande carinho e amor pela acolhida, Berta é realmente maravilhosa! na verdade gostei, amei toda entrevista! estou sem palavras para expressar todo carinho q tbém sinto p ela!
    Q perfeita matéria de Luciana Leal, pois nos deu a oportunidade de conhecer mais de Berta Loran! parabéns Lu!♥

  2. Avatar
    Acácio
    2 de julho de 2019 at 19:31 Reply

    Berta Loran, adoro essa comediante e suas atuações maravilhosas. A simplicidade das suas respostas e sua perspectiva de vida, me encantaram.
    Lú, tenho certeza que pesquisa muito , daí o sucesso das suas entrevistas.
    Grato pela oportunidade de conhecer detalhe dessa grande Artista.

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