Vera Zimmermann

Vera Zimmermann

Ela ganhou projeção nacional ao interpretar a “divina Magda” ao lado de Guilherme Karam na novela “Meu Bem Meu Mal” da Rede Globo e de lá pra cá coleciona personagens marcantes no currículo. Musa inspiradora de Caetano, foi homenageada pelo poeta na música “Vera Gata”. Está em cartaz em São Paulo com o espetáculo “As Cangaceiras” no Teatro Sesi, da Avenida Paulista. Com muita doçura, suavidade e carinho, Vera Zimmermann abriu as portas da casa onde mora, no Rio de Janeiro para receber a nossa equipe. 

NJ: Vera, quando decidiu que queria ser atriz?

Vera: Eu sempre digo que fui escolhida pelo teatro. Quando eu tinha 17 anos me chamaram pra fazer um teste e eu sempre tive uma ligação muito forte com a arte. Fiz o teste e passei. Já estava no finalzinho do meu colegial quando entrei para o teatro profissional. Aí o “bichinho” do teatro me mordeu, não teve jeito.

NJ: Você está em cartaz com o espetáculo “As Cangaceiras” em São Paulo. Como está sendo a experiência?

Vera: Sim, estamos em cartaz no Teatro Popular do Sesi em São Paulo, na Avenida Paulista. Esse espetáculo está sendo um presente pra mim, me juntar com toda essa turma, contar essa história primorosa escrita por Newton Moreno e ser dirigida pelo talento de Sérgio Módena só me faz agradecer e ter certeza que estou fazendo um dos melhores trabalhos da minha vida. Diante de tanta injustiça que nosso país está vivendo posso dizer que sou uma privilegiada. E estamos tendo uma resposta muito linda do público que sai do teatro encantado com o nosso espetáculo!

NJ: Conte-nos um pouco sobre o texto e sua personagem.

Vera:  Trata-se de uma fábula inspirada nas mulheres que seguiam os bandos nordestinos, que atuavam contra a desigualdade social da região.  O musical,  fica em cartaz até o dia 4 de agosto e conta a história de um grupo de mulheres que se rebelam contra mecanismos de opressão que encontravam dentro do próprio cangaço, e encontram, umas nas outras, a força para seguir. Além de reflexões sobre o conceito de justiça social que o cangaço representava, o espetáculo também reflete sobre as forças do feminino nesse espaço de libertação e sobre a ideia de cidadania e heroísmo. Eu faço uma ex Cangaceira que foge do cangaço quando engravida, depois que a filha já está grande eu me junto a esse bando de mulheres que se rebelam contra o mecanismo de opressão que existia dentro do cangaço.

NJ: Qual foi o momento mais desafiador que enfrentou até hoje na sua profissão?

Vera: É difícil pra mim qualificar qual foi o melhor, o pior, o mais importante. Tudo é desafio porque nada é muito fácil, nada está pronto para mim. Eu fiz teatro uns 10 anos com o Gabriel vilela e ele me chamou pra fazer os Saltimbancos, que é um musical. Cantar em cena pra mim foi um grande desafio porque é uma coisa que não tenho domínio. E fiquei muito feliz com a gata Karina. Esse espetáculo foi muito lindo!! Eu acho que é isso, sabe? Todo trabalho que vou fazer encaro como um grande desafio. Nada vem pronto e sempre  há um longo caminho de trabalho para conseguir chegar onde eu quero.

NJ: Como foi a experiência de participar de “Os Dez Mandamentos?” Quando leu a sinopse, esperava toda a repercussão que a novela teve?

Vera: Não, ninguém esperava. O texto era maravilhoso, eu imaginava que seria um sucesso, mas não na proporção que foi. Eles realmente sabiam o que estava fazendo lá na Record mas é claro que houve um crescimento, eles foram se aprimorando. Avancinni é uma pessoa muito dedicada, tem muito conhecimento, muita técnica. Ele já sabia exatamente o que ia fazer. A Vivian de Oliveira também. Foi uma junção. E é legal a gente ser surpreendido, né?  Eu já estava feliz por estar fazendo e quando a gente viu o resultado, o IBOPE crescendo, pensei “UAU! Foi merecido! 

NJ: Como foi a preparação para interpretar uma princesa egípsia?

Vera: Foi uma preparação bem rigorosa. Quando tinha que fazer cena careca demorava bastante. Tem que esconder o cabelo embaixo de uma espécie de touca e depois vai cortando e moldando com a maquiagem. Mais de duas horas para arrumar. E eu usava muito a prótese. Na história eu envelheci, foi um trabalho bem apurado. Lembro que a primeira vez que eu vi, fiquei bem impressionada. Nem sou de tirar muitas fotos, mas tirei várias, fotografei todo o processo. Adorei me ver careca (risos).  Foi muito bacana também viver os “Dez Mandamentos” porque é enriquecedor viver uma realidade tão diferente da nossa. E nesse caso, foi uma realidade bem distante. 1300 A.C. Foi super interessante contar a história do Egito, dos hebreus, dos palácios, reis, rainhas e princesas. e perceber que até hoje acontecem coisas parecidas, coisas que vêm sendo repetidas ao longo dos anos.

NJ: Quais lembranças você guarda da “divina Magda” de Meu Bem Meu Mal e da parceria com o ator Guilherme Karam?

Vera: Ah! Só lembranças boas, maravilhosas! Foi um divisor de águas na minha vida, na minha carreira. Eu era muito jovem e foi um sucesso incrível. A personagem era muito divertida e contracenava com o Karam, ator talentosíssimo. Eu acabei entrando na dele e acabamos decolando juntos. Mas ele teve uma responsabilidade muito grande naquele sucesso todo. A vida é uma batalha, o teatro é uma batalha, às vezes falta dinheiro. Então, fazer uma novela de sucesso dá uma aliviada, sabe? Magda abriu muitas portas, outros trabalhos na TV e muitas campanhas publicitárias. Mas eu tinha a noção de que ainda estava muito despreparada. Mas que bom que eu fiz sucesso com ela apesar de toda a minha inexperiência. E que bom que eu cresci profissionalmente. Mas ainda tenho muito o que aprender e vou aprender pelo resto da minha vida.  Eu sai do anonimato, virei uma celebridade. Aprendi muito com a “divina Magda”. O Karam foi muito generoso. Mas foi uma surpresa! Na sinopse meu personagem não tinha nem nome e cresceu tanto durante a trama que até hoje é lembrada com muito carinho pelo público.

NJ: Como foi o reencontro com a personagem no remake de TiTiTi?

Vera: Foi uma delícia! em TiTiTi a Maria Adelaide fez homenagens às novelas do Cassiano e aos personagens que fizeram sucesso. É claro que foi bem diferente da primeira vez. Ali tive consciência do quanto cresci como atriz.

NJ: Há um provérbio chinês que diz: “Quem quiser chegar à nascente, tem que nadar contra a correnteza”. Em algum momento da vida teve que nadar contra a correnteza? Quais foram às lições aprendidas?

Vera: A minha vida nunca foi um mar de rosas, eu sempre tive que batalhar muito, sempre estive atenta ao que está por vir e ao que eu quero. Mas acredito que isso seja bom porque eu nunca me acomodei.

NJ: Como cuida do corpo e da mente? Você continua linda e com a mesma carinha! Não mudou nada!

Vera: Que exagero! (risos) . Eu me cuido, eu medito. A meditação entrou em minha vida de forma suave. Hoje tento meditar pelo menos 20 min por dia. Meditar me dá prazer, descansa a mente. Me faz entrar em contato comigo mesma, faz bem pra alma e sempre fui muito saudável. Estou há sete anos meditando diariamente, tenho uma alimentação bacana. De certa maneira sou uma pessoa bem tranquila, não tenho essa coisa de stress, de me agitar demais. Isso é meu, sou assim. Eu tenho o meu próprio tempo e ele de uma certa forma é tranquilo. Acho que isso contribui. E não é por querer, é o meu jeito de ser. Fico feliz com pouca coisa então eu acabo não me estressando e stress envelhece. Eu direcionei (e vou direcionar sempre)minha vida para tudo que me deixe em paz. Eu fujo de tudo que tira a minha paz.

NJ: Como é pra você ser a musa inspiradora da música do Caetano Veloso, Vera Gata?

Vera: Ah! É pra sempre, né? É eterno! Foi um presente que eu ganhei do Caetano. Vou escutar e me emocionar para o resto da vida É uma honra! Que bom que eu peguei essa fase dele, de se inspirar e homenagear pessoas através das canções. Eu tive essa sorte, essa honra de ter inspirado Caetano. E eu sinto muito carinho por ele. Eu sou muito fã dele, tenho uma admiração profunda, acho ele extremamente inteligente, talentoso. Sempre acompanhei e sempre gostei do trabalho dele.

NJ: Como é a sua relação com a Bahia?

Vera:  Eu ia muito para a Bahia e amo os baianos. São alegres, bem humorados. E é isso que eu espero da vida, alegria e bom humor. Eu tirava férias e corria pra lá. Adoro os baianos. Me identifico muito com a cultura e o humor da Bahia.

NJ: Qual é a sua opinião sobre a era digital?

Vera: Eu sempre fui muito discreta mas com o sucesso de “Os Dez Mandamentos” acabei abrindo as minhas redes sociais. Eu não fujo da mídia, mas sou muito reservada. Sou da opinião que a pessoa precisa ter cuidado com o que posta e com o que vê. E se preservar.

NJ: Você acredita que uma novela deve obrigatoriamente levar em consideração a responsabilidade social e propor a reflexão?

Vera: Eu não diria obrigatoriamente, mas com certeza seria muito bom os autores e as emissoras terem essa consciência pois existe uma audiência forte. Então porque não educar, alertar o povo, incentivar a reflexão de assuntos polêmicos e importantes? Acho necessário e importante.

NJ: Como você avalia a política cultural brasileira?

Vera: Estamos vivendo um desmonte, uma retaliação, esse governo não se interessa por cultura e quer eliminá-la. Como disse o ator Wagner Moura: “A arte é sempre um ambiente que te faz pensar. E é por isso que agora, no Brasil, há uma grande campanha contra a arte e a cultura. Contra o pensamento crítico, contra os livros. E se você estudar a história dos governos fascistas pelo mundo, verá que esses são os primeiros sinais, que isso é o vento que antecede a tempestade”. Enfim, é muito triste o que estamos vivendo, mas isso não irá nos destruir, somos muito mais fortes do que isso.

NJ: A legalização do aborto ainda é um tema bastante polêmico no Brasil. O  médico Dráuzio Varela afirmou certa vez: “ O aborto já é livre no Brasil. Proibir é punir quem não tem dinheiro”. Você já escreveu vários textos acerca do debate sobre o assunto. Qual é a sua posição sobre a descriminalização?

Vera: Eu acredito que é fundamental um trabalho de planejamento familiar. É assim que se evita o aborto e não proibindo. Não liberar o aborto é uma hipocrisia, o aborto tem que ser liberado. Não dá pra encarar como uma prática normal que pode ser feita substituindo os métodos contraceptivos. Mas o que deve ser levado em consideração é que tem muita garota novinha , que faz aborto sem apoio nenhum da família. Isso está errado, a mãe precisa se aproximar dos filhos, orientar  sobre sexo, conversar sobre aborto e outros assuntos polêmicos. Além disso, no Brasil aborto é questão de saúde pública, muitas mulheres acabam morrendo porque não têm dinheiro e recorre a métodos perigosos. O que vai mudar é que as mulheres vão ter mais segurança e o índice de morte através da prática vai cair. É assustador o número de mulheres que optam por não ter o filho e acabam morrendo porque abortam de qualquer maneira, em lugares que não são especializados.

NJ: Você acredita em destino?

Vera: Total! Acredito muito! Mas também acredito que você é responsável pelo seu próprio destino porque existe o  livre arbítrio.

NJ: Como é a sua relação com a religião?

Vera: Eu nasci na religião católica, sou batizada, mas não sou praticante. Hoje em dia sou ligada a um Centro de Meditação chamado “ Arte de Viver”. Fiz o curso deles, aprendi uma técnica de meditação e respiração. A gente lê muitos livros, compartilha muitos conhecimentos. A espiritualidade mudou a minha vida! Ela muda a vida aos poucos, através do conhecimento, da meditação e dos encontros. Fez uma grande diferença na minha vida. E você pode ter uma religião e exercitar a espiritualidade, nada impede. Quando você trabalha sua espiritualidade, percebe que Deus está dentro de você, que Deus é amor e tudo é o amor. Aí você sente esse amor dentro de você e a vida fica bem mais leve.

NJ: Você tem medo de envelhecer?

Vera: De forma alguma! A maturidade é uma das melhores coisas. Estou melhor hoje do que há 20 anos, por exemplo. Claro que tomo alguns cuidados. Vou ao dermatologista periodicamente, faço laser, uso filtro solar. Sou absolutamente disciplinada com a minha pele.

NJ: Dizem que os olhos são o espelho da alma. O que dizem os seus olhos?

Vera: Ah! eu acho que eles dizem AMOR.

NJ: O que mais lhe marcou dos tempos de criança?

Vera: Eu tenho uma família muito grande, sou a caçula de sete irmãos. Fui criada em Porto Alegre e tive a infância mais maravilhosa e divertida que alguém pode ter. Tinha uma casa na praia que a gente ia sempre, tenho lembranças incríveis com meus irmãos nessa casa. Meu pai gostava de esquiar e a gente esquiava sempre no Rio Guaíba. Tenho muitas recordações de lá também, do pôr do sol.

NJ: Qual é o cheiro da sua infância?

Vera: Cheiro de gente (risos). Porque era sempre muita gente reunida. Além dos meus seis irmãos, nossos primos também estavam sempre por perto. Em casa era um movimento absurdo!

NJ: Quais são os seus planos profissionais mais imediatos?

Vera: Continuar com o espetáculo “As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão”, até 4 de agosto em São Paulo, depois provavelmente iremos fazer uma pausa até o final do ano e se tudo correr bem, voltaremos em janeiro com o espetáculo. Nessa pausa estarei aberta a novas propostas de trabalho, nada definido ainda. Poderei viajar também.

NJ: Uma frase

Vera: “Deixe as imperfeições dos outros, apenas para eles. Cuide de suas próprias imperfeições. ” (Sri Sri Ravi Shankar)

NJ: Um lugar

Vera: O Rio de Janeiro. Sempre gostei daqui e há alguns anos decidi vir definitivamente.

SNJ: Um sonho

Vera: Continuar trabalhando bem de saúde e de bem com a vida.

NJ: Uma música

Vera:  Ah! são tantas!! A primeira que vem a cabeça agora é a última que acabei de ouvir e é lindíssima: “Super Homem “ do Gilberto Gil.

NJ: Uma característica marcante

Vera: Sou uma pessoa decidida.

NJ: Vera Zimmermann por Vera Zimmermann

Vera: Verdadeira

 

Galeria:

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

2 Comments

  1. Avatar
    Matheus Peleteiro
    12 de agosto de 2019 at 14:55 Reply

    Maravilha de entrevista! Vera foi pontual ao dizer que não deve haver uma obrigação, mas que seria mais admirável se as emissoras voltassem o seu conteúdo para promover reflexões. Espero que o espetáculo em que interpreta a Cangaceira venha a Salvador, será um prazer assisti-lo!

  2. Avatar
    Dalia Leal
    19 de agosto de 2019 at 10:35 Reply

    Perfeita entrevista! amei☀️🌜🌟👏

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