“Pode seguir a tua estrela
O teu brinquedo de ‘star’
Fantasiando um segredo
No ponto a onde quer chegar…”
Talento, fama, canções. Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, foi um grande cronista da juventude brasileira dos anos 90, mesmo sem pretender sê-lo.
“Não quero que me imitem, Não quero ninguém atrás de mim Tenho muito medo de tornar-me portador de qualquer coisa”.
Polêmico, irreverente, corajoso e desbocado, virou estrela nacional. Sempre gostei do Cazuza, da sua obra e do seu instinto de liberdade. Embora seja totalmente contra o uso de qualquer tipo de droga, me identifico com algumas passagens da sua vida, principalmente com a sede de viver intensamente cada minuto como se fosse o último, com o exagero e com o perfil contestador.
“Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais
Exagerado…”
Me questionei inúmeras vezes o motivo pelo qual a história do letrista ainda não havia sido contada nos palcos. Mas logo na primeira cena de “Cazuza- Pro dia Nascer Feliz” entendi o motivo. O que estava faltando era justamente o casamento perfeito entre o texto de Aloísio de Abreu e a interpretação de Emílio Dantas. Só assim teríamos um espetáculo a altura do nosso poeta: Inteligente, dinâmico, carismático,envolvente e cheio de verdade.
“Vivo num clip sem nexo
Um pierrô-retrocesso
Meio bossa nova e rock ‘n’ roll”
Emílio está impecável como Cazuza, seja nos trejeitos, no modo de falar ou no tom da voz. Parece até clichê, mas durante toda a peça consegui enxergar, literalmente, o artista na minha frente. E sai muito feliz com o que vi. Além do lado temperamental, rebelde e polêmico, conheci um menino apaixonado, doce e encantador. E pude constatar a mãe dedicada e guerreira que Dona Lucinha Araújo foi pra ele (e continua sendo para todas as crianças e adolescentes da Sociedade Viva Cazuza).
“ Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”
Imprevisível, era capaz dos versos mais ternos e dos piores insultos. Mas conseguiu como ninguém, definir o comportamento de uma geração.
“Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam…”
Ganhou do pai , ao nascer, o apelido de “Cazuza” que significa “moleque”. Viveu intensamente cada minuto da sua vida e não ligava nem um pouco para o que pensavam dele.Faleceu em 1990, no auge da carreira, cinco anos após deixar o Barão Vermelho e estourar com a carreira solo.
“Tudo é questão de obedecer ao instinto.
Que o coração ensina a ter, ensina a ter.
Correr o risco, apostar num sonho de amor
E se por acaso for bom demais
É porque valeu…”
Em 1989 declarou ser soropositivo ( termo usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida- AIDS -no sangue), exatamente na época em que pedia para o Brasil “mostrar a sua cara”. O Momento da declaração (uma reportagem exclusiva para o jornalista Zeca Camargo), foi retratado na peça e é um dos momentos mais marcantes.
“Anota aí, eu tô com AIDS e tô de saco cheio. Só não falei antes por causa do meu público”
A peça é dividida em dois atos. O primeiro fala sobre a vida louca, os tempos do Barão vermelho, as farras, os vícios, a ideologia, a bissexualidade, as amizades e as paixões. Inclusive, ressalta o relacionamento com o cantor Ney Matogrosso e por fim, a descoberta do vírus.
“Eu não sei quanto tempo tenho de vida, mas quero falar sobre a minha geração. Uma geração sem ideologia.”
O segundo ato, retrata o tratamento difícil, a perda do movimento das pernas, o preconceito em uma época em que ainda não se sabia muito sobre a doença, nem se conhecia as formas de contagio. Mostra o apoio e cuidado os pais, as incontáveis viagens para os Estados Unidos e o uso do AZT (o soro da verdade).
“O meu prazer agora é risco de vida
meu sex and drugs não tem nenhum rock’n roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
Agora assiste a tudo em cima do muro”
O espetáculo prende a atenção do público do início ao fim, que ri, torce e se emociona em vários momentos. Impossível não se identificar com algumas passagens.
“Eu sou poeta e não aprendi a amar”
As canções casam perfeitamente com cada passagem, servindo como fio condutor da história e transmitindo exatamente o sentimento de cada momento vivido. Importante destacar a qualidade musical da banda, que é simplesmente, maravilhosa. Todas as músicas são executadas ao vivo.
“Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve…”
Confira o vídeo com algumas passagens da peça em cartaz no Theatro Net Rio:
“ Eu protegi o seu nome por amor”
Importante ressaltar também a exposição no Theatro Net com objetos de Cazuza e fotos da sua carreira:
“É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto”
O artista se foi, mas sua memória será sempre lembrada através das canções, que se tornaram imortais (e continuam tão atuais) e da Sociedade Viva Cazuza, criada e cuidada em sua homenagem, pela sua mãe, com o objetivo de amparar crianças e adolescentes portadores do vírus HIV.
“Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes
O tempo não para
Não para, não, não para…”
Em outubro de 2008, a Revista Rolling Stone promoveu a lista dos cem maiores artistas da música brasileira, cujo resultado colocou Cazuza na 34° posição.
O poeta se foi cedo, mas provocou o país a ver o dia nascer mais feliz.
“Que o dia nasça lindo pra todo mundo amanhã. Com um Brasil novo, com uma rapaziada esperta. Valeu!
“Estamos, meu bem, por um triz
Pro dia nascer feliz…”
Luz!
Lu
#VemProTeatro
SERVIÇO
Cazuza Pro Dia Nascer Feliz, o Musical”
Rua Siqueira Campos, 143, 2º Piso, Copacabana
Telefone: (21) 2147.8060
Look: Painite (clique aqui)
Instagram: @painitemodafeminina
5 Comments
Camile Santos
31 de março de 2014 at 10:04Que texto lindo, Lu! Fiquei com muita vontade de assistir a peça.
Carlos
31 de março de 2014 at 10:07Luciana, linda matéria sobre o espetáculo CAZUZA.
Parabéns e obrigado.
Bjo
Marcela Teles
31 de março de 2014 at 10:08Perfeita a matéria! Agora estou louca pra assistir!
Thiago Bols
31 de março de 2014 at 10:09SHOOOOOOOOOOOW!!!!!!!!
Lúcio Sacramento
31 de março de 2014 at 10:36A Peça é simplesmente linda e emocionante. É uma obrigação vê-la. Parabéns a toda equipe.