Marieta Severo

Marieta Severo

Ao olharmos a carreira e a vida de Marieta Severo, ficamos maravilhados com tantas realizações. São inúmeros personagens marcantes e produções de grandes espetáculos, além da construção dos Teatros Poeira e Poeirinha, em parceria com a amiga Andréa Beltrão.  É  mãe carinhosa  e avó dedicada para sua amada e grande família, composta por três filhas e sete netos. É estrela do seu lar e dona da sua história.

NJ: Marieta,  você concluiu recentemente mais uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro com  “Incêndios” e agora está viajando com o espetáculo pelo país. Conte-nos um pouco sobre o texto.

Marieta: A peça narra a trajetória de Nawal dos 15  até sua morte, aos 65 anos.  Aos 15, em  uma aldeia do Oriente Médio, analfabeta, ela teve um filho com o namorado, que foi arrancado dela. Seguindo o conselho de sua avó, ignorante mas muito sábia, sai da aldeia e vai aprender a ler, escrever e a pensar. Volta alguns anos depois para resgatar o filho mas o país está em uma guerra civil. Ela, mesmo envolvida com essa guerra, tem como missão de vida, reencontrar esse filho. À partir disso, todas peripécias da peça vão se desenrolando.

 Acho que essa foi a minha maior realização profissional.  Hoje em dia, a minha âncora, o meu esteio e o meu voo são o Teatro Poeira e o Poeirinha. Eu sei que, mesmo eu não estando no palco, eu estou fazendo teatro. Eu estou colocando o meu tijolinho nessa construção da cultura teatral.

NJ: Como você define o espetáculo?

Marieta: À partir de uma história forte, densa e muito bela, o diretor Aderbal Freire Filho  constrói um espetáculo que acredita na força do teatro e na imaginação do espectador. Ele coloca de uma forma clara e poética um texto intrigante, denso e comovente.

NJ: Além de ser um momento para apreciar a arte cênica, com quais sensações o público irá sair do teatro?

Marieta: Incêndios tem uma narrativa moderna e, ao mesmo tempo, uma capacidade muito grande de envolver e tocar o publico. Nesses quase dois anos de temporada,  as pessoas saem muito emocionadas. Mesmo as que já assistiram ao filme antes, dizem que emoção ao vivo, no teatro, é ainda maior.

NJ: Como surgiu a ideia de construir o Teatro Poeira com a Andréa Beltrão?

Marieta: Ter um teatro como o Poeira sempre foi um sonho. Tentei uma vez e não deu  certo, até que a minha parceria com a Andréa Beltrão, que conheci fazendo “A estrela do lar” em 1992, me levou a isso. Numa conversa, falamos em ter um teatro. No dia seguinte Andréa chegou com os classificados e fomos procurar um lugar. Acho que essa foi a minha maior realização profissional.  Hoje em dia, a minha âncora, o meu esteio e o meu voo são o Teatro Poeira e o Poeirinha. Eu sei que, mesmo eu não estando no palco, eu estou fazendo teatro. Eu estou colocando o meu tijolinho nessa construção da cultura teatral.

NJ: No teatro Poeira e no Poeirinha  ocorrem oficinas muito interessantes. O que está acontecendo agora?

Marieta: No momento estão acontecendo as oficinas do Artista Residente, Artista Visitante, Puente e Teatro e Pensamento que esse ano, por exemplo, está com uma programação maravilhosa voltada para comemoração dos 400 anos de morte de Shakespeare.

Eu conhecia tão bem a dona Nenê que, muitas vezes, não precisava nem pensar em como ela reagiria em determinada cena, reagia de uma maneira muito espontânea.

NJ: Qual foi o seu maior desafio como atriz até aqui?

Marieta: Todos os personagens em  televisão, cinema e teatro foram sempre um enorme desafio e o maior desafio é sempre o próximo.

NJ: Durante 14 anos você viveu a estrela do lar, Dona Nenê, de “A Grande Família”, a mais longa série da televisão brasileira e que foi sucesso do primeiro ao último capítulo. Como foi essa experiência?

Marieta: Recebi o convite para fazer “A Grande Família” quando tinha acabado a novela “Laços de Família”. Estava exausta, mas como eram 12 capítulos, eu aceitei. Tive uma preocupação enorme em sair do universo de uma burguesa como a Alma e entrar no mundo suburbano da Nenê. Deu tão certo que foram 14 anos. Se tivessem me perguntado ‘você quer fazer um personagem por 14 anos?’, eu teria dito ‘Deus me livre!’  Mas não me arrependo nem por um segundo de ter feito a Nenê por tanto tempo. Foi uma experiência única e maravilhosa.

NJ: O tempo facilita a intimidade com o personagem?

Marieta: Muito. Eu conhecia tão bem a dona Nenê que, muitas vezes, não precisava nem pensar em como ela reagiria em determinada cena, reagia de uma maneira muito espontânea.

NJ: Como era a relação do elenco nos bastidores?

Marieta: Trabalhamos juntos por muito tempo e tivemos o privilégio de fazer um programa que abordava assuntos agradáveis. Ia trabalhar sempre com prazer e feliz por encontrar meus companheiros de cena. Éramos uma grande família, nesse sentido.

NJ: Foi difícil se despedir da personagem depois de tanto tempo?

Marieta: Eu fiquei de luto! É muito avassalador fazer um personagem durante 14 anos. A maneira como ele entra e se apossa de você é muito especial! Eu nunca tive uma experiência como essa, e não terei novamente. É única. É algo muito grande na vida profissional da gente. A vivência é muito intensa.

NJ: A que você atribui o sucesso da série?

Marieta: A Grande Família foi acompanhando durante 14 anos a vida brasileira, o desenvolvimento social, o que foi acontecendo também na vida das pessoas. A própria Dona Nenê querer trabalhar fora, sair já que durante anos ela só ficou dentro da casa dela, dona de casa, mãe. Eu acho que o público gostava de se ver nesses personagens, que era um bom espelho.

NJ: É mais difícil fazer comédia no teatro ou na TV?

Marieta: Comédia é sempre muito difícil, é mais fácil fazer chorar do que fazer ir (risos). A comédia tem uma exigência técnica muito grande, é muito precisa. E maravilhosa. Através do humor você pode dizer coisas que não poderia dizer de outra forma.

NJ: O que você não gosta de assistir na TV?

Marieta: Geralmente troco o canal quando vejo humor preconceituoso, humor chulo. Não me sinto bem vendo e não sou capaz de rir assistindo esse tipo de coisa. Não gosto, não me agrada.

NJ: Você trabalhou nos anos 60, 70. uma época de muito criatividade, mas ao mesmo tempo de muita combatividade em relação à arte. 

Marieta: Sim!  Por isso eu digo sempre que qualquer coisa é melhor do que uma ditadura! Eu sempre pensava que estava vivendo os meus melhores anos, os anos de maior garra, maior energia, mas estava embaixo de da censura, de uma ditadura. Foi horrível. 

NJ: Um trabalho inesquecível na TV

Marieta: A Grande Família. Nós tínhamos consciência que era algo muito especial dentro da televisão. Um programa com qualidade e com adesão de público muito grande. O tempo é algo muito poderoso! Eu nunca, nem antes e nem depois, vou ter vivido um personagem e compartilhado com colegas durante tanto tempo.

NJ: O que é fundamental para a sua qualidade de vida?

Marieta: Saúde.

NJ: De onde você busca forças para transpor os obstáculos da vida?

Marieta: Da vida.

NJ: O que a maturidade na profissão trouxe pra você?

Marieta: Ah…a maturidade trouxe a  certeza de que eu posso errar ou acertar, mas  independente de qualquer coisa,  hoje sou uma atriz. 

Quero estar no palco contando e vivendo aquela história, sendo filtro de emoções, de vivências, de experiências, pensamentos. O que me move é a vontade de ter uma experiência rica com a plateia.

NJ: A experiência acalma o“friozinho na barriga” antes de entrar no palco?

Marieta:  De jeito nenhum! (risos). É sempre misterioso se apossar de um personagem, a gente nunca sabe exatamente o que vai conseguir realizar e o  friozinho na barriga permanece sempre. A gente nunca tem sossego, mas eu nunca busquei esse sossego. Então, estou no lugar certo.

NJ: O que o teatro representa pra você?

Marieta:  A possibilidade de contar comigo, com meus colegas e com o público para fazer a mágica teatral acontecer.

NJ: Você foi protagonista do filme “A Dona da História”. Considera-se dona da própria história?  Como avalia a sua trajetória?

 Marieta: Sempre me senti muito livre nas minhas escolhas teatrais. Para estar em cena é preciso um bom motivo, e o motivo principal não é a sua personagem. O principal é ter a ilusão de que aquilo que se diz tem importância para alguém. Quero estar no palco contando e vivendo aquela história, sendo filtro de emoções, de vivências, de experiências, pensamentos. O que me move é a vontade de ter uma experiência rica com a plateia.

NJ: Uma Música

Marieta: Alegria, de Assis Valente

“Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer…”

NJ: Uma frase

Marieta: De Incêndios: “Não há nada mais lindo do que estar junto”.

NJ: Um lugar

Marieta: Minha casa

NJ: Marieta Severo por Marieta Severo

Marieta: Sei lá…

NJ: Marieta, muito obrigada por essa entrevista. Amei passar esse tempo com você. 

Marieta: Obrigada você, Lu. Foi um prazer!

Galeria:

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

1 Comment

  1. Avatar
    Lucia Lima
    16 de abril de 2016 at 09:58 Reply

    Muito especial!!!
    A Marieta é uma referência artística nacional.
    A sua postura, seu potencial intelectual, artístico e o seu carisma nos leva a aprecia-la de forma muito carinhosa.
    O estilo Marieta caracteriza de alguma forma a mulher brasileira.
    Parabéns Lú por mais um trabalho de relevância a serviço dos fãs e admiradores de nossas referências artísticas e culturais.

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