Miá Mello

Miá Mello

Quem a conhece sabe que Miá Mello tem a alegria no DNA. É daquelas que não economiza sorrisos e faz questão de levar a vida com leveza e otimismo  por mais difícil que seja a situação. Mas como qualquer mãe, em alguns momentos, também fica fora da caixa. E isso é totalmente normal. Conversamos com a atriz sobre o monólogo “Mãe Fora da Caixa” que estreou em São Paulo, no Teatro das Artes,  após uma temporada de sucesso absoluto no Rio de Janeiro.   Acesse o link e confira:

NJ: Miá, você está em cartaz em São Paulo com o espetáculo “Mãe fora da Caixa”. Como define o espetáculo?

Miá: Esse é um espetáculo que trata a maternidade de uma forma bem realista, de uma forma bem empática.

NJ: Como surgiu a ideia de falar sobre a maternidade real?

Miá: Olha que maravilhoso, a ideia surgiu de uma pai, o  Pablo Sanábio. Ele  conheceu o instagram da Thais Vilarinho, que é a “Mãe Fora da Caixa”. Leu o livro, me ligou e falou: “cara, a gente precisa falar sobre isso”. Eu estava no auge do meu “sufocamento materno” porque meu marido tinha vindo trabalhar em São Paulo, eu estava com as duas crianças no Rio, tava ficando maluca porque tinha acabado de ter um filho e achava que ia ser um “pé nas costas”, que o segundo filho seria tudo tranquilo. E não foi. Eu estava sem família perto, muito cansada, exausta, precisando dividir isso sem saber como. E aí esse texto veio como um “chamado” pra falar sobre isso. Eu tenho certeza que de alguma forma eu me curei também, fiz várias reflexões com as pesquisas e estudos que a gente fez sobre o tema. Então, foi uma coisa que veio através de outra pessoa, mas eu entendi como um chamado mesmo, sabe? Eu topei na hora, antes mesmo de ler o livro da Thaís. 

NJ: Conte-nos um pouco sobre o texto.

Miá: O texto é inspirado no livro da Thais Vilarinho  “ Mãe Fora da Caixa” e quem escreveu foi a roteirista Claudia Gomes. A gente teve alguns encontros antes, ela já tinha essa ideia da história se passar dentro do banheiro e eu achei isso muito genial. Ela conseguiu colocar na peça o acolhimento da Thais, a transparência da maternidade, a empatia e o humor. 

NJ: No que mais se identifica com o texto? 

Miá: Eu acho que o que me identifico com o texto é com o fato de estar sempre rindo das situações porque eu sou muito assim, sabe? tem  momentos que considero que a minha vida está um verdadeiro caos, um apocalipse e horas depois eu já estou dando risada da situação. Acho que inclusive isso é o que me ajuda a enfrentar de uma forma mais leve. Essa é uma característica que tenho e que considero muito poderosa, eu amo isso em mim. Acho que o “rir” tira um peso gigantesco das coisas. E acho que esse texto gera uma identificação enorme. Inclusive acho que é esse grande poder de identificação que causa essa emoção e esse boca a boca. 

NJ: Quais são as sensações e reflexões que espera despertar no público através do espetáculo?

Miá: O que eu mais queria despertar no público depois dessa peça é o fato de que nós mulheres temos liberdade de poder falar que estamos cansadas, que tem horas que temos vontade de jogar tudo pra o alto e  isso também cabe ao papel de mãe. Eu tive uma filha há dez anos atrás e agora tive um filho e o cenário é muito diferente. Hoje já se fala sobre a maternidade real. Mas ao mesmo tempo é muito difícil assumir tudo isso, admitir as nossas fraquezas em um papel que pra a gente, é tão importante ser perfeito e que a sociedade espera que sejamos perfeitas. Por mais que hoje em dia isso já seja falado, ainda é muito duro pra a mulher reclamar disso. Então, eu espero que essa peça traga a liberdade pra a mãe para que ela saiba que pode falar de tudo isso, que ela não está sozinha e que todo mundo passa por isso. 

NJ: Quais são os desafios de fazer um monólogo?

Miá: Acho que tem vários desafios de fazer um monólogo. O fato de  estar sozinha em cena, pra começo de conversa, é uma coisa que apavora. Eu, por exemplo, estava acostumada a trocar com o melhor, né? (risos), que é o Fábio Porchat. Então, quando eu comecei a fazer essa peça, eu pensei: “gente, como é que faz sem o Fábio? e quem é que te dá a deixa para a próximo fala?”  Então tudo isso no início foi um grande desafio.  Mas aos poucos, com a ajuda da Joana, da Bruna e de todos da equipe, fui  vencendo os desafios e começando a perceber que iria conseguir. É como eu disse lá no começo, eu sinto que essa peça é um chamado e eu tinha que fazer. Mais do que o trabalho como atriz, eu sinto que estou cumprindo ali alguma função que ainda não sei te falar direito. Mas com toda certeza já posso dizer que essa função é  com as mães. Tem uma relação ali muito forte com a mãe, eu sinto isso. E percebo que cada vez mais esses desafios vão sendo superados e eu sinto um prazer enorme em entrar em cena. Eu tô ali sozinha, mas parece que eu tô brincando com um monte de gente. Então é uma peça muito feliz, eu me sinto muito feliz em cena.

NJ: Você pretende desdobrar a peça em outros projetos assim como aconteceu com “Meu Passado Me Condena” que virou filme e série?

Miá: Sim, já tem  planos pra fazer filme, pra fazer série. Eu não sei se de fato vão acontecer, mas acredito que sim, porque é um tema que tem muito pra se falar. Toda  vez que termina a peça a gente abre pra um debate e eu escuto muito que eu deveria fazer o “Mãe fora da Caixa 2” pra falar sobre adolescentes, por exemplo. E muitos outros temas podem ser abordados.

NJ: Por que será que a gente ainda tem receios de dizer que ser mãe também cansa?

Miá: O papel de mãe é um papel muito cobrado. Espera-se que sejamos perfeitas e isso traz uma angústia muito grande. Existe um manual muito rígido da mãe. E isso é  muito louco, porque o último tema que daria pra fazer um manual seria sobre ser mãe. Cada filho é um individuo diferente, cada família é diferente, cada mãe é diferente.  Então, como tudo isso poderia ser colocado em um manual? Isso tudo traz muita angústia. E  falar que ser mãe cansa, que as vezes dá vontade de não ter tido filhos, parece que você está assinando o seu fracasso. E não é nada disso, tudo mundo passa por isso em determinados momentos. É um papel que desgasta muito.  Educar um ser humano é uma responsabilidade gigantesca, os primeiros anos da criação de um filho são hiper desgastantes. Então, acho que tudo isso faz com que esse papel seja muito superestimado, é muito difícil e angustiante  assumir que no seu papel de maior importância não está sendo nota dez. Eu acho que é tão cruel existirem esses manuais da mãe perfeita. Ter um olhar empático é uma das melhores coisas que a gente pode fazer para uma mãe. 

NJ: Você declarou que “morreria sufocada se não fizesse essa peça”. Por quê?

Miá: Porque eu estava passando por um momento muito intenso de maternidade e não sabia como colocar isso pra fora. Eu estava precisando muito falar sobre isso e não sabia como, estava vivendo isso intensamente 24 h da minha vida, sem falar sobre  e isso realmente estava atravessado na minha garganta. Então, achar um jeito de falar foi muito importante para a minha saúde mental. Tem uma menina que foi nessa peça umas 4 vezes na temporada do Rio, ela foi a primeira vez, foi na sessão de manhã da ‘mamãe e bebê’. Depois encontrei com ela outro dia na brinquedoteca no shopping, ela me chamou e não reconheci logo de cara. Depois ela me mandou uma mensagem dizendo: “lembra aquele dia da brinquedoteca? era eu… eu estava desarrumada, sem dormir, sem maquiagem, meu filho estava nascendo dente. Você jamais ia lembrar de mim, eu queria te dizer que o meu filho estava com dente nascendo porque eu já me sentia íntima, mas você ia me achar uma louca!” Corta pra umas duas semanas depois… ela foi de novo na peça e ela estava linda! E eu nem estou falando da beleza estética. Ela estava arrumada sim, mas acima de tudo ela estava em uma leveza… me abraçou e falou:” eu consegui trazer meu marido, ele está aqui. E eu quero muito te agradecer  porque eu voltei pra a terapia, eu estou me cuidando… ” Eu não consigo nem falar sobre isso porque de fato me emociona. Foi lindo! 

NJ: Como é a Miá mãe do Antônio e da Nina?

Miá: Eu aprendi com a Nina que eu sou uma mãe fora da caixa no sentido de que  eu não sou aquela mãe tradicional que senta, que monta o brinquedinho. Mas ao mesmo tempo eu acho que tenho um valor gigantesco como mãe, me sinto muito competente nesse papel. Claro que tenho as minhas inseguranças, mas no geral, me sinto muito segura como mãe. Eu tenho uma relação de muita transparência com as crianças desde que eles eram pequenininhos. Eu falo tudo da forma mais transparente e clara possível. Vi que com a Nina isso trouxe um efeito muito positivo e já percebo que com o Antônio também. Eu procuro ser coerente com as coisas, procuro dar exemplos. Volta e meia eu chego em casa e dez minutos depois já estou exausta e deixo tudo isso bem claro pra eles: que eu também erro, me canso, as vezes falta paciência. E eles também me ensinam muito. 

NJ: Como foi pra Nina quando Antônio chegou?

Miá: A Nina tinha 8 anos e 4 dias quando o Antônio nasceu. Ela é tão generosa que  torceu muito pra ele nascer no dia do aniversário dela e eu como mãe torcia pra que isso não acontecesse (risos). E ela desde o início recebeu o irmão muito bem, no primeiro dia ela foi na maternidade, carregou  ele no colo, eu tenho fotos lindas desse momento. Ela cuida super bem dele. Eu lembro que quando levei ele pra casa, nem a gente pegava ele direito no colo, a gente tinha aquelas cadeirinhas que tremem. E eu entrei na sala e ela estava pegando ele da cadeirinha para o colo. Eu nem respirei, porque se eu fizesse qualquer barulho ela podia assustar e derrubar. Então eu aguardei e fui conversar com ela,  que ele era muito pequeno e frágil, que podia se machucar. Mas ela nunca mais deixou de pegar. Eles são muito companheiros, brincam muito juntos, brigam muito pouco, o que me deixa muito feliz e eu espero que isso se mantenha pela vida deles. Acho que vai sim, porque é uma relação muito bacana. 

NJ: Nesse mundo tão machista que a gente vive, há uma dificuldade maior em criar menino?

Miá: Eu confesso que tomei um susto enorme quando descobri que seria mãe de um menino, eu achava que seria menina, já estava acostumada. E aí eu lembrei que tenho os melhores exemplos de homens na minha família. Tenho meu pai e o meu marido que são dois homens que eu admiro muito e são super sensíveis, educados,  feministas, sabem da importância de amar a mulher, de cuidar da mulher, conhecem e valorizam a força da mulher. Então entendi que  essa seria a minha grande  chance de criar um filho para que seja assim, como eles. 

NJ: O que a deixa fora da caixa?

Miá: Aceitar que eu não sou a mãe do manual, a mãe padrão. Ou melhor, aceitar que eu não sou a mulher do manual. 

NJ: Apesar de já ter feito cinema e TV, o teatro ocupa lugar de destaque na sua carreira, especialmente através de montagens de comédia. O que há de tão especial no teatro e na comédia?

Miá: Eu gosto muito de trabalhar em todos os lugares, acho que cada um tem o seu brilho e a sua peculiaridade. O teatro é muito vivo, muito automático, você tem a resposta na hora e isso é maravilhoso pra o artista. O humor é uma bomba de energia. E curiosamente essa peça fala de humor mas ao mesmo tempo é super tocante, uma coisa que eu nunca imaginei que iria conseguir fazer. Na minha cabeça queria fazer uma peça boa, depois vi que podia ser engraçada e ganhei de bônus que ela emociona e isso é muito lindo e muito gratificante. No teatro, a gente tem a recompensa na hora. Fora a troca, a energia. Na hora que ascende a luz, a gente consegue perceber a reação das pessoas, sente a emoção delas. Teatro é lindo! é uma explosão de gratidão pra quem faz.

NJ: Na sua opinião o humorista tem um papel social ou é responsável apenas pela comédia?

Miá: Acho que o humor tem um papel social e político muito grande. De uma forma engraçada,  você consegue levantar uma bola muito séria. Acho que é o  jeito de  tratar de problemas muito espinhosos de uma maneira leve. O  humor usa uma lente de aumento que torna ainda maior a identificação. E ao se identificar você sai de lá refletindo. Refletir é um ato político. E fundamental.

NJ: Como foi a experiência de participar do “Superchef Celebridades”? (risos)

Miá: Eu confesso que não sabia nem fritar ovo. Mas o “Superchef” foi  realmente um divisor de águas, agora faço até massa em casa (risos). Participar do programa foi uma experiência muito enriquecedora.

NJ: Miá, muito obrigada por participar mais uma vez da Nossa Janela. Que alegria tê-la aqui de novo!

Miá: Obrigada você, Lu. Pelo reencontro, pela entrevista e por  ter trazido a sua Nina pra eu conhecer.

Clique AQUI e confira entrevista completa com a diretora Joana Lebreiro.

 

Galeria

SERVIÇO:

Mãe Fora da Caixa- São Paulo

Teatro das Artes

Sextas e sábados às 21:00 e domingos às 18:00

 

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

5 Comments

  1. Avatar
    Dalia Leal
    22 de janeiro de 2020 at 15:06 Reply

    Q maravilha de entrevista em Lu? e q mãe, mulher e guerreira q é a Miá Mello em? parabéns p as duas!
    👏👏👏💋🌞🌜🌟💛💚❤👍👍

  2. Avatar
    Fabiana LS Marques
    24 de janeiro de 2020 at 20:50 Reply

    Adoro a Miá!!! Acho ela fantástica. A entrevista só comprovou isso mais uma vez. Parabens para as duas… super mães, fora da caixa!

  3. Avatar
    Camila Marinho
    29 de janeiro de 2020 at 09:58 Reply

    Muito maravilhoso o tema dessa peça. Tomara que venha para a minha cidade, quero muito ter oportunidade de assistir.

  4. Avatar
    Vanessa Santos
    29 de janeiro de 2020 at 10:12 Reply

    Que linda essa mamãe fora caixa. Já assisti a peça, é muito boa mesmo!

  5. Avatar
    Lucia lima
    12 de fevereiro de 2020 at 16:34 Reply

    O Tema é interessante, já que outras mães podem perceber a repercussão de suas experiências nos relatos de Miá.
    Parabéns !

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