Foto: Vinícius Mochizuki
Fernanda Thurann é atriz e produtora, responsável por várias montagens espetaculares. É uma das fundadoras da BR Produções que já conta no currículo com o longa metragem “Rogéria – Senhor Astolfo Barroso Pinto”, premiado em festivais brasileiros e no Los Angeles Brazilian Film Festival. Na sequência, Fernanda vai filmar, quando a pandemia acabar, o longa “Operação Coyote”, com Leandro Hassum.
NJ: Fernanda, como foi o início da sua carreira?
Fernanda: Ishhh inicio de carreira?! Sabe que nem sei responder direito?!? O trabalho do ator é inerentemente prático e experimental, então, mesmo durante os anos de formação você já está trabalhando, já está na sua carreira, bem ou mal (risos). Então, diria que comecei quando finalizei meus estudos e surgiu a oportunidade fazer um filme (A Kindness Woman). Essa foi minha primeira experiência profissional.
NJ: Você estudou teatro na The Lee Strasberg Theatre & Film Institute, em Nova York. O que mais aprendeu nesse período e que costuma aplicar na sua profissão?
Fernanda: Aprendi muitas coisas e foi um período super rico na minha vida, pois estava estudando numa escola incrível, por onde já passaram grandes nomes. Fora estar em NY que é um caldeirão cultural. Tecnicamente, acho que o mais importante foi trabalhar com a memória emotiva, construir o personagem através dos cinco sentidos. É algo que mesmo sem pensar muito aplico em cada trabalho meu.
NJ: Um dos seus trabalhos mais marcantes foi a peça ‘’ Encantados do Sossego”. Quais são as maiores dificuldades de atuar em um monólogo?
Fernanda: Num monólogo a gestão do ritmo e do tempo é sem duvida um desafio… sem parceiro é muito fácil a gente se perder um pouco mais nos personagens e nas nossas interpretações. Então, sem dúvida, a preparação tem de ser rigorosa e requer disciplina. Nesse caso houve ainda o desafio de encarar como minhas tradições e lendas que não são da minha região natal e foi gostoso experimentar os desafios do regionalismo, sem entrar num absurdo de clichês.
NJ: Como nasceu a BR Produções?
Fernanda: A BR nasceu da junção da Brisa Filmes e Roda Filmes após termos coproduzido o longa “Rogéria- Senhor Astolfo Barroso Pinto” e termos tido imensa sinergia artística. Entendemos que unindo forças e nossas idéias, chegaríamos mais longe.
NJ: Passar a produzir modificou a sua visão como atriz?
Fernanda: Muito! passei a ter uma visão mais ampla e ao mesmo tempo mais detalhada de cada processo que é indispensável para o todo, como atriz envolvida com o personagem não fazia parte da minha vivência.
NJ: Você atuou em “Dogville”como atriz e produtora. A peça fez sucesso absoluto no RJ e SP. Tem planos de voltar após a pandemia?
Fernanda: Temos muitos projetos em andamento e grande vontade de voltar com “Dogville”, essa peça trouxe uma conscientização importante sobre o lado sombrio do ser humano, e que acredito mais importante ainda em meio ao que estamos vivendo.
NJ: Se pudesse modificar uma única coisa no Brasil, o que seria e por quê?
Fernanda: A desigualdade social já tão absurda e extrema, mas, nesse momento tem se revelado ainda mais cruel.
NJ: Como é sua relação com a internet e as redes sociais?
Fernanda: Gosto de compartilhar coisas que me tocam e coisas engraçadas que trazem leveza.
NJ: Quais são as lições que você mais tem aprendido ultimamente e o que gostaria de aprender mais?
Fernanda: Tenho tido a oportunidade de poder olhar mais para dentro e entendido meus processos internos. Venho aprendendo a respeitar mais o meu tempo e acho que mesmo quando esse momento passar, quero continuar tendo esse cuidado, esse olhar para dentro, esse respeito ao meu ritmo. Às vezes vamos num fluxo que não é o nosso, por achar que esse ritmo é o necessário, o ideal. Entendo que nem todos possam ter essa pausa, mas quando ela é possível, é muito benéfica.
NJ: Considera-se uma pessoa religiosa? O que é a fé pra você?
Fernanda: Não me considero religiosa, pois não sigo nenhuma religião, mas trabalho muito minha espiritualidade. Fé para mim está ligada ao amor.
NJ: Quando pensa em Curitiba, do que mais sente saudade?
Fernanda: Sinto saudades dos meus pais que ainda moram lá.
NJ: Como está sendo sua rotina durante a pandemia e qual é a sua opinião acerca das mudanças que teremos no Brasil e no mundo após esse período?
Fernanda: Tenho tido uma rotina tranquila, curtido e brincado muito com meus cachorros, fazendo yoga, meditando para ficar em paz comigo mesma e principalmente me permitindo não ter que fazer nada, não ter que ser útil, não ter que ver todos os filmes, ler todos os livros ou fazer todos os cursos e lives. Estou me permitindo experimentar novos modos de existência.
NJ: Quais são seus planos profissionais mais imediatos quando tudo isso passar?
Fernanda: Tenho alguns projetos bastante interessantes que estão bastante adiantados, o longa metragem “Quero Me Curar de Mim”, que inclusive acredito contribuirá muito para esse momento de transição em que as pessoas estão tendo a chance de olhar mais e de maneira diferente para si. E o longa “Operação Coyote” com o Leandro Hassum, uma comédia que revela uma perspectiva mais leve sobre a questão das fronteiras.
NJ: Uma frase
Fernanda: A arte permite as pessoas olharem aspectos que muitas vezes não se permitem viver.
NJ: Um sonho
Fernanda: Individualmente seria um sonho atuar com a Meryl Streep. Pensando num sonho coletivo, eu sei que é clichê, mas eu realmente gostaria de viver numa sociedade menos desigual.
NJ: Um lugar
Fernanda: Minha casa.
NJ: Uma comida
Fernanda: Açaí.
NJ: Uma música que a faz sorrir
Fernanda: “Flores na cabeça”do Nenhum de Nós.
NJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?
Fernanda: Uma declaração de amor, o público de pé aplaudindo ao fim de uma peça, uma gentileza inesperada, muitas coisas…
NJ: Quais as principais mensagens que pretende passar através da sua arte?
Fernanda: Que as pessoas tenham a oportunidade de perceber outras possibilidades para serem elas mesmas, que se livrem de padrões condicionantes e percebam que o simples tem imenso valor.
NJ: Fernanda Thurann por Fernanda Thurann
Fernanda: Uma pessoa em busca da sua melhor versão.
NJ: Antes de concluir, gostaria de deixar alguma mensagem?
Fernanda: Não é sobre ter ou fazer, é sobre ser.
NJ: Fernanda, muito obrigada por participar da Nossa Janela. Um beijo super carinhoso.
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