De sorriso fácil e sempre muito determinada, Juliana Caldas quebrou algumas barreiras, tornando-se a primeira atriz com nanismo a ocupar um papel de destaque na televisão brasileira, mostrando todo seu talento em horário nobre da Rede Globo. É com ela que conversamos agora.
NJ: Ju, você sempre quis ser atriz? Como tudo começou?
Juliana: Não, antigamente queria ser veterinária, mas com a perda da minha mãe, acabei perdendo a vontade de seguir. Demorei um pouco para saber o que queria, até começar a trabalhar em um parque de diversões onde comecei a ter contato com a arte. E aí me apaixonei de cara, comecei a trabalhar, saí do banco pra trabalhar com teatro e estou até hoje.
NJ: Como foi para você ter a oportunidade de retratar em horário nobre a rotina e as dificuldades de uma pessoa com nanismo?
Juliana: Foi incrível, uma honra e muita responsabilidade. Foi a primeira vez que o nanismo foi abordado no horário nobre e de uma forma não caricata ou pejorativa. Sou grata ao Walcyr por ter aberto essa porta, esse espaço para as pessoas conhecerem mais sobre esse assunto, saberem todas as nossas dificuldades, entenderem que somos seres humanos e que vivemos normalmente. Poder abordar esse tema de uma forma séria foi muito bom para que as pessoas começassem a nos respeitar e assim lutarmos pelo nosso espaço com respeito. Fiquei muito feliz e satisfeita por contribuir para a visibilidade da nossa condição e ajudar a despertar essa reflexão na sociedade.
NJ: O preconceito ainda é muito forte?
Juliana: Sim, infelizmente. Mas não só com a gente e sim com todos.
NJ: Foi uma conquista ver uma personagem como Estela no núcleo central?
Juliana: Acredito que foi uma conquista ter esse tema abordado com muito respeito tanto pelo autor quanto pelos diretores e pelos atores. Abrir o debate para o preconceito (até mesmo dentro da própria família) foi muito importante.
NJ: O que mudou depois da novela?
Juliana: Depois dessa grande aparição pública, algumas abordagens mudaram, mas acredito que o respeito só será total quando o preconceito acabar. Enquanto isso estaremos sempre lutando contra. Pra mim, o momento é de buscar espaço e quebrar tabus.
NJ: A TV lhe conquistou?
Juliana: Sim, confesso que é muito diferente do teatro e que sofri muito pra entender esse novo mundo, mas foi incrível, aprendi muitas coisas novas que levarei pra vida.
NJ: Estela sofria discriminação dentro de casa, praticada pela própria mãe (Marieta Severo). Sua mãe ao contrário, foi uma pessoa sem qualquer tipo de preconceito e você deve ter muita saudade dela. Quais são as lembranças mais fortes que tem dela e que gostaria de compartilhar com a gente?
Juliana: Todas, literalmente. Éramos muito amigas, conversávamos sobre tudo, saíamos juntas nos divertíamos sempre, difícil escolher uma lembrança…. mas uma que ficou marcante na memória foi o último natal que decidimos passar nós duas juntas apenas, em casa, assistindo um especial do Fábio Jr, dançando e tomando uma champanhe.
NJ: O casamento de Estela com Amaro (Pedro Carvalho) foi um dos mais lindos momentos da novela. Como foi gravar essa seqüência de cenas?
Juliana: Ah foi lindo mesmo, tive uma ansiedade apenas no dia da gravação quando comecei a me arrumar, comecei a sentir aquela euforia de casar, mesmo sem nunca ter casado (risos). Foi linda mesmo a cena, a direção foi de um amor e delicadeza enorme, amei. Mas confesso que casar em novela cansa! (risos). Meus pés, coitados!
NJ: A vingança de Clara (Bianca Bin) foi o fio condutor da trama. Considera-se uma pessoa vingativa?
Juliana: Não.
NJ: “O Outro Lado do Paraíso” foi a sua primeira novela, mas você já havia participado de muitos musicais e produções infantis, inclusive “Peter Pan” e “A Bela e a Fera”. De lá pra cá qual é o seu maior orgulho e qual é a primeira palavra que vem em mente?
Juliana: Gratidão. Todos os trabalhos realizados foram com muito respeito pela minha pessoa e com meu trabalho, por isso não tenho outra palavra que não seja essa.
NJ: Você já atuou em várias peças direcionadas para crianças. Como é a sua relação com o público infantil?
Juliana: É incrível como aprendemos com elas. Depois da novela a abordagem das crianças cresceu muito, elas vem com muito carinho e respeito. E mesmo antes, sempre me dei bem com elas, sou aquela pessoa que sempre fica brincando com os filhos dos amigos (risos).
NJ: Como avalia as políticas públicas voltadas para arte no Brasil?
Juliana: A situação é crítica, infelizmente são tempos muito difíceis.
NJ: Qual é a sua principal qualidade e qual é o seu maior defeito?
Juliana: Eita… acredito que minha principal qualidade é a alegria e o pior defeito é a insegurança.
NJ: Desde 2004, toda pessoa com nanismo tem direito a meia-entrada. Essa lei é respeitada?
Juliana: Olha, eu já utilizei esse meu direito pra comprar um ingresso, mas a pessoa que estava vendendo não conhecia a lei, foi meio chato. Acho que falta um pouco de interesse dos estabelecimentos pra atender pessoas com algum tipo de deficiência e ao mesmo tempo boa vontade para aprender sobre as leis. Falta mais atenção e informação.
NJ: Qual é o papel da religião em sua vida?
Juliana: Respeitar o próximo.
NJ: O que não pode faltar na sua geladeira?
Juliana: Comida em geral (risos).
NJ: Você é vaidosa? Como cuida do corpo e da mente?
Juliana: Sim, ultimamente não tenho cuidado muito do corpo e já estou mudando essa ideia (risos). Mas referente a cuidar, procuro sempre fazer algum tipo de exercício para que futuramente eu não tenha nenhum tipo de problema com coluna por ser pequena.
NJ: O que a levou a aceitar o convite para o ensaio sensual?
Juliana: Quando conheci o projeto dos meninos (Bruno e Ma) fiquei encantada, demorei um pouco pra aceitar, conversamos muito e cada vez que eles falavam, ia me apaixonando mais. Trata-se de um projeto lindo feito com respeito, amor, um trabalho de aceitação e amor por você mesma. As fotos são lindas, não tem vulgaridade, pelo contrário, tem muita arte e beleza. Sou exatamente assim, eu me aceito, me amo do jeito que sou e se eu puder passar isso pra frente, vou passar.
NJ: Quais são os seus planos para esse ano de 2020?
Juliana: Quero muito continuar trabalhando e representar papéis cujas tramas não sejam necessariamente relacionadas ao nanismo. Claro que é uma realização trazer visibilidade à causa, mas nosso maior objetivo é que sejamos vistos primeiramente, como profissionais que não precisam de ressalvas por serem pessoas com nanismo.
NJ: O que a deixa verdadeiramente emocionada?
Juliana: Falar da minha mãe.
NJ: Uma mania
Juliana: Comer.
NJ: Uma palavra
Juliana: Respeito.
NJ: Um sonho
Juliana: Montar uma família.
NJ: Uma frase
Juliana: “Ainda vamos rir juntas como era antigamente”.
NJ: Uma viagem inesquecível
Juliana: Argentina e Equador.
NJ: Uma série
Juliana: Friends.
NJ: Um ídolo na arte
Juliana: Impossível escolher só um… tenho vários, ainda mais depois da novela.
NJ: Juliana Caldas por Juliana Caldas
Juliana: Uma pessoa forte
Galeria:
NJ: Ju, muito obrigada por participar da Nossa Janela. Estamos muito felizes pela oportunidade de entrevistar você.
Juliana: Ah, eu que agradeço, Lu. Adorei participar e conhecer vocês.
3 Comments
Dalia Leal
5 de maio de 2020 at 14:54Amei a entrevista c Juliana Caldas! parabéns Luciana Leal, 👏👏👏💋❤🌞🌜🌟
José Júnior
6 de maio de 2020 at 07:28Muito boa,entrevista
Fabiana LS Marques
11 de maio de 2020 at 18:40Ela realmente é forte! Não é fácil ter nanismo. O preconceito ainda é muito grande. E o assunto foi muito bem abordado pela novela. A Estela era incrível e torci muito pra ela mudar o Amaro e pelo final feliz dos dois. Espero ve-la em outros trabalhos na TV em breve.