A cantora Kamatos acaba de se entregar para um novo projeto solo. Após ser reconhecida no meio musical por conta das suas parcerias com DJ’s renomados e hits eletrônicos em inglês, a cantora reafirma a sua nova fase musical lançando a música “Malícia”.
NJ: Ka, como nasceu a paixão pela música?
Kamatos: Eu canto desde pequena. Minha mãe fala que com dois aninhos eu já cantava cantiga de roda e adorava fazer apresentações pra minha família. A música sempre esteve presente. Tudo ficou mais concreto quando eu ganhei um violão da minha avó, quando tinha 13 anos. E aí comecei a tocar e compor, e a música virou um hobby, eu fui cada dia me apaixonando mais até não conseguir mais sustentar a música somente como hobby, então, decidi correr atrás desse sonho, que é viver de música e compartilhar meu som por aí!
NJ: Conte-nos um pouco sobre o seu novo single “Malícia”?
Kamatos: “Malícia” é aquela música que todo mundo que já passou por uma relação ruim vai se identificar logo de cara. Eu, no contexto relacionamento, já passei algumas vezes por isso… amigas muito próximas minhas também. Como eu falei, acho que todo mundo. Só que dessa vez tem um final feliz e de virada de jogo. Acho que a gente fica cego, sabe? E depois de um tempo a pessoa que te fez tão mal, acaba te ajudando, com a própria malícia, a te fazer enxergar tudo que estava acontecendo. E você supera. Essa é a mensagem dessa música que tenho tanto orgulho e que o público, especialmente mulheres, canta alto comigo nos shows. “Malícia” é uma composição de 2018. E foi a minha grande aposta até então por ter uma letra que mostra empoderamento e a força de uma mulher quando está decidida a virar a página e deixar ir tudo que ficou pra trás. A letra “disca o telefone da patroa” é a parte que eu bato no peito quando canto ao vivo e acho que é nesse momento que me conecto com as pessoas que já passaram pela história contada na música. E além de tudo, tive o prazer de compartilhar parte da composição com o cantor Vitão, que contribuiu lindamente pra essa música se tornar mais forte ainda.
NJ: Como foram as etapas de produção do clipe?
Kamatos: Todas foram maravilhosas e inesquecíveis. Eu tive a oportunidade de realizar um grande sonho meu, de poder gravar um clipe de grande produção e além disso, fora do país. Até hoje, fico sem palavras. Gravamos o clipe em Los Angeles – Califórnia. O clipe foi gravado e dirigido pelo diretor Mess Santos e sua equipe da Movie3. Profissionais incríveis e que respeitaram ao máximo, com todo profissionalismo do mundo, tudo que eu queria passar no clipe e na história contada.
Nós gravamos em um dia só, o dia todo. Na parte da manhã, beeeeem cedinho, nós gravamos no Downtown de Los Angeles, gravamos num loft com características indústrias, com tijolo, concreto e mobiliário diferenciado, com uma varanda lindona. No loft contamos a parte da história em que eu, insatisfeita com o relacionamento e com tudo que estava acontecendo, decido ir embora e levar comigo somente uma mala, cheia de memórias dessa relação. Eu me olho no espelho, decidida, e vou embora no meu carro, em direção ao deserto. E aí entra a segunda parte do clipe.
NJ: Como foi a segunda parte?
Kamatos: Na segunda parte, gravamos após o rápido almoço e fomos em direção ao deserto, uma hora e pouco de distância mais ou menos de onde estávamos na parte da manhã. Gravamos várias cenas no carro, o Mess, diretor, ficava no carro da frente, com a mala aberta e me gravando enquanto eu dirigia. Além de tudo, foi uma aventura! (risos). Foi demais a sensação de dirigir, sentir o vento batendo no rosto. Muito bom! Gravamos a cena principal literalmente no meio do deserto, onde eu fico apoiada no carro cantando e confesso que estava MUITO calor (risos), mas a gente conseguiu gravar tudo perfeitamente e foi uma experiência única.
Para concluir o dia, nós gravamos a cena final no pôr do sol e eu fui abençoada com uma das cenas mais lindas que já vi. De um lado, tínhamos o pôr do sol, intenso e colorido. Do outro, a lua. É a cena final, onde enterro a mala de memórias e a deixo pra trás, assim como o relacionamento. E sigo plena e feliz. Foi muito emocionante esse final. Fizemos uma roda e aplaudimos o dia que foi espetacular e tudo deu certo. Nada poderia ter sido melhor, mesmo!
Eu agradeci muito e foi realmente um momento único. O Mess é MUITO bom e talentoso, tem muita sensibilidade e é um excelente profissional, assim como todos da equipe. Foi lindo!
NJ: Sua trajetória na música eletrônica teve início em 2016, compondo músicas em inglês e lançou grandes sucessos no cenário nacional e internacional, como a música “Our Way”. Porém, nos anos seguintes, decidiu migrar para composições em português. A que se deve essa mudança?
Kamatos: Ao público e a minha conexão com ele. Eu senti muito a necessidade de começar a compor em português para conseguir me aproximar das pessoas. Português é a língua do Brasil e eu queria conversar diretamente com as pessoas através das minhas músicas. Queria contar minhas histórias através da minha arte e que essa comunicação fosse mais fácil. Além de respeitar toda minha essência que estava pulsando dentro de mim…eu queria seguir mais a minha verdade e estilo, e apesar de gostar bastante de música eletrônica e ter amado todo processo em que vivi nesse nicho, eu senti que precisava ir além e dar mais um passo. Precisei sair total da minha zona de conforto, por já estar no nicho do eletrônico a mais tempo e começar a compor em português. E foi a melhor decisão que tomei. Quando a gente sai da nossa zona de conforto, o cenário parece se expandir. Muita coisa nova aparece. Foi muito mágico e importante esse processo todo.
NJ: Sua carreira tem sido pautada com muitas parcerias com DJ’s renomados. Conte-nos um pouco dessas experiências e a importância desses trabalhos para a sua trajetória artística.
Kamatos: Gratidão. Essa é a palavra. Por tudo que vivi, compartilhei e aprendi no mercado de música eletrônica. Tive oportunidade de gravar com vários dj’s e um deles, foi o FTampa, que hoje, é o meu produtor musical.
Minha primeira experiência na música eletrônica foi com o dj e produtor “BE LION”. Nós fizemos uma música juntos, a “Free Yourself and Fall” e ele a apresentou ao FTampa, que amou o meu vocal. E assim, ele entrou em contato comigo e compusemos a “Our Way” que explodiu nas plataformas e hoje tem a marca de mais de 23 milhões de views. Foi uma loucura pra mim. Uma grande surpresa e felicidade em alcançar esse número. Abriu muitas portas. A maior dela foi a amizade que criei com o FTampa e a parceria que se firmou até hoje. Aprendi demais em todo esse tempo, no total de 2 anos e meio na música eletrônica. Amadureci, cresci como pessoa e profissional. Fiz amigos. Participei de grandes festivais, como o Ultra Music Festival, um dos maiores do mundo. Conheci grandes gravadoras. Enfim, foi realmente uma grande experiência e que me preparou bastante pra tudo que estou vivendo hoje.
NJ: Como avalia o mercado da música eletrônica hoje no Brasil e no mundo?
Kamatos: Hoje em dia, por estar em outro nicho, e vivendo intensamente o cenário do pop nacional atual, não sei se sou a melhor pessoa para poder falar sobre o mercado da música eletrônica hoje. Quando trabalhava nesse nicho, eu ouvia muito eletrônico, e pop-eletrônico para ter as minhas referências, e então, tinha mais o domínio do assunto (risos). Porém, hoje eu acompanho de longe. Vejo que está sempre crescendo e hoje o cenário de música eletrônica do Brasil é um dos mais reconhecidos no mundo, acredito eu. Tanto de consumidor, quando na produção mesmo, temos muitos djs e produtores de alta qualidade. Um dos maiores festivais do mundo de música eletrônica, o Tomorrowland, que acontece na Bélgica todo ano, a cada ano vem abrindo mais portas para artistas brasileiros, e acredito que isso seja por todo crescimento do eletrônico aqui no país. No mais, hoje tenho mais propriedades para falar do nicho que estou, que é o de Pop no Brasil. O que está sendo chamado de Nova MPB e cada vez mais apresentando artistas de muita qualidade. Fico feliz de ver o cenário crescer e ver o público consumindo cada vez mais esse tipo de música.
NJ: Como avalia as plataformas digitais como nova realidade de trabalho do artista?
Kamatos: Eu sempre gostei de música e fico feliz por hoje termos as plataformas digitais como essa nova realidade. Hoje em dia a música faz mais parte das rotinas das pessoas.
NJ: Quais são as reflexões que tem feito durante a quarentena?
Kamatos: Acho que o mundo precisava de pausa. Acho que as pessoas precisavam de um momento para olhar para si e se conhecerem mais. Coisa que não acontece muito no dia a dia conturbado e acelerado, onde tudo acontece quase que no modo automático. Vejo um momento de muita dor, perdas e caos. Mas vejo também um momento de muita união, empatia e amor ao próximo. Vejo um momento em que a natureza está nos mostrando a força que ela tem, de regeneração e que precisamos a respeitar mais quando tudo voltar ao normal. O meio ambiente importa. As pessoas importam, tanto. Estamos vivendo um momento histórico, de transição espiritual também, acredito eu. Que a gente precisa ter fé, que a gente precisa orar. Pelo mundo, pelas pessoas. Sabe? ter consciência mesmo de que a vida é passageira e que precisamos fazer a diferença de algum jeito. O mundo parou. E a gente passou a dar mais valor as coisas.
NJ: Como tem sido sua rotina nesse período?
Kamatos: Minha quarentena foi dividida em duas. Passei a primeira parte no Rio de Janeiro e estou aqui em Belo Horizonte há 2 meses. Minha rotina é não ter muita rotina. Eu confesso que não consegui seguir a rotina que tinha na vida fora da quarentena, mas fui me adaptando e também aprendendo a lidar com a minha ansiedade de outras formas. Aprendi a mexer num programa de produção. Escrevi música. Consegui juntamente com minha equipe a fazer um planejamento e lançar um single. Gravei bastante conteúdo e estou feliz por mesmo com tudo parado, conseguir compartilhar meu som e minha arte com as pessoas. O entretenimento, apesar da imensa saudade que eu estou de shows, consegue ser mais que isso e me desdobrando, estou conseguindo entregar um pouquinho do que eu sou ao publico. E sem me cobrar muito, sabe? acho que ninguém precisa se cobrar demais e produzir demais. Tem dia que não sai nada. E tá tudo bem. Acho que essa foi uma grande evolução pra mim, nessa quarentena. Me sentir bem, mesmo as vezes nos dias em que não consigo fazer algo. Estou feliz por isso.
NJ: O que está tocando na sua playlist?
Kamatos: Adorei essa pergunta. Eu tenho uma playlist no Spotify, chamada “As favoritas da Kamatos” e lá tem todas as músicas que eu venho escutando nos últimos tempos. Eu tento sempre colocar o trabalho de algum artista que está começando e valorizar também o trabalho nacional e alguns locais. Na playlist tem alguns artistas cariocas, tem artistas de SP e também de BH. Varia do funk ao Pop Leve (nova mpb), risos, bem eclético. Mas misturando os grandes nomes do cenário brasileiro com os que estão começando e crescendo, como eu.
NJ: Uma frase
Kamatos: Você é um universo de coisas boas.
NJ: Um sonho
Kamatos: Fazer um show fora do país.
NJ: Um lugar
Kamatos: Minha casa.
NJ: Uma música que a faz sorrir
Kamatos: Vou Deixar – Skank.
NJ: Uma meta
Kamatos: Me conectar cada vez mais com o público. Espalhar minha música por aí e trocar energia boa com as pessoas. Fazer o bem, sempre que puder.
NJ: Uma saudade
Kamatos: Minha infância.
NJ: Kamatos por Kamatos
Kamatos: Uma mulher forte e brincalhona. Mulher que valoriza a família e que acredita MUITO que quando as coisas são feitas com amor, elas se realizam, de fato. Uma mulher que ama o que faz. Que quer mudar o mundo com a sua voz e sua música. Que é uma criança gigante e ama sonhar, por acreditar que é possível. Batalhadora. Explosiva e que mostra seu verdadeiro poder em cima dos palcos. Mulher carinhosa e feliz por cada conquista, cada passo dado. Uma mulher que não vê a hora de viajar pelo Brasil e mundo, através da música.
NJ: Antes de concluir, gostaria de deixar algum recado?
Kamatos: Para o momento atual, peço empatia. Que as pessoas olhem para as outras, com amor. Estamos aqui de passagem, então, vamos tentar sempre fazer o melhor. Mesmo que não consigamos, vale ao menos, tentar. Que o momento em que vivemos agora, nos ensine a enxergar outras perspectivas e com o mundo, com outros olhos. Olhar de quem vê o bem. Espero que tudo isso passe, e que mude, pra melhor. Juntos somos sempre mais fortes.
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