Bate-Papo com o ator Ricardo Duque no Jardim Botânico

Bate-Papo com o ator Ricardo Duque no Jardim Botânico

Ele encontrou sua verdadeira vocação quando  deixou a faculdade de Relações Internacionais para estudar Artes Cênicas e fala da profissão com muita paixão.  Mas o  que realmente  deixa o seu olhar mais brilhante é falar da esposa Ana Paula Guimarães, diretora da novela Alto Astral e das Filhas Maitê e Isadora.

Confira um bate-papo super descontraído no Jardim Botânico do Rio de Janeiro com o ator Ricardo Duque, que conta sobre os seus projetos, o casamento de mais de 20 anos, as lembranças da infância e o seu relacionamento com as filhas.

DMJ:  Quando você decidiu que queria ser ator?

Ricardo: Eu cursava Relações Internacionais e estava acompanhando muito a Ana (Ana Paula Guimarães) no ensaio de uma peça. Saia da faculdade, ia para o ensaio e ficava vendo todo aquele processo. Fui me interessando por aquele universo. Nisso,chegou um semestre na faculdade e eu tinha que palestrar. Pode não parecer, mas eu sou a pessoa mais tímida do mundo, tinha pânico de gente. Então, resolvi fazer um curso de teatro na Gávea com o Roberto Bomtempo. Tive a sorte de encontrar um cara que fala da profissão com muito brilho e amor. Aquilo foi um impacto para mim e eu era infeliz, fazia a faculdade por causa dos meus pais.

DMJ: Como você conseguiu vencer a timidez?

Ricardo: Logo que saí da faculdade, o Alexandre Melo me chamou para ir para o centro da cidade fazer performance na rua. A gente entrava no metrô e fazia. As pessoas paravam e se perguntavam o que era aquilo. Aos poucos fui perdendo o pânico de estar em público. A rua me ensinou bastante. Não é representação, é comunhão com as pessoas.

DMJ: Como a sua família reagiu quando você optou pela carreira artística?

Ricardo: Eu fiz uma coisa errada, peguei o dinheiro da faculdade e fui cursar Artes Cênicas sem os meus pais saberem. Eles achavam que eu fazia uma coisa e eu fazia outra. A frase que o meu pai falou quando eu contei foi: “Meu Deus do Céu, você vai morrer de fome”. Eu nunca esqueço. Eles tinham grande resistência, falaram muito, perdi mesada. Mas um dia, conversei com o meu pai e falei pra ele que tudo que um artista precisa, herdei dele: A sensibilidade, a emoção, a generosidade, a tolerância, tudo veio dele. Então ele não podia me cobrar outra coisa.  Foi o máximo quando ele foi assistir a minha primeira peça: “A Doença da Morte”, ainda nos tempos de faculdade.

DMJ:  Um  personagem bem marcante foi o André de Caras & Bocas, que foi se descobrindo gay ao longo da novela. Como você se preparou para ele  e quais foram seus maiores desafios?

Ricardo: Você acertou, o André foi um personagem incrível. Na verdade, eu não sabia que ele se tornaria gay. Nem o Jorginho (Jorge Fernando) nem o Walcyr (Walcyr Carrasco) me contaram isso. Mas eu tinha uma intuição e investi muito na delicadeza do personagem.

DMJ: O que mais me chamava atenção na construção do André era o jogo  de olhares. Os olhares de vocês dois dizia tudo.

Ricardo: Sim, porque essa era a única ferramenta que podíamos utilizar.Foi a primeira relação homoafetiva em umas novela das 7 e isso não podia ficar explícito, tinha que ser mostrado nas entrelinhas. Por isso o jogo de olhares era tão importante, a coisa ficava subentendida. As pessoas me perguntavam nas ruas se o André era gay e eu já tinha uma resposta pronta: “Ele não é, mas pode ser” rsrs. Foi um personagem maravilhoso e tive a oportunidade de trabalhar com pessoas super talentosas que são minhas amigas até hoje. O Pigossi (Marco Pigossi)  inclusive, é um garoto extremamente generoso e profissional, um grande amigo.

DMJ: Como foi assistir Caras & Bocas 5 anos depois no Canal Viva? Como você se viu?

Ricardo: Muito crítico. Sou  tão crítico que não costumo ver meus trabalhos enquanto estou gravando. Só vejo depois para não ficar analisando muito e perder a espontaneidade.

DMJ:  E o cinema? Você tem um filme gravado que deve estrear em 2015.

Ricardo: Sim, tenho. O cinema é uma onda bacana. A gente filmou “ O Crime da Gávea”, que é uma produção independente de Marcílio Moraes. Foi o meu primeiro protagonista.

DMJ: Qual é a história do filme?

Ricardo: É a história de um cara que está com a amante e quando chega em casa, encontra a esposa assassinada e a filhinha dormindo no berço. É um personagem bem forte e para a sua construção busquei registros que foram duros pra mim. É uma obra aberta, que dá margem a vários questionamentos e reflexões. Isso me dá muito prazer.

DMJ: Quem são as suas referências quando pensa em dramaturgia?

Ricardo: Nelson Rodrigues é imbatível. Eu tive a oportunidade de fazer “A Mentira” que era um romance adaptado para o teatro, dirigido por Caco Coelho, o maior estudioso do Nelson Rodrigues do Brasil. Eu acho o universo do Nelson incrível, ele é um grande pesquisador do ser humano.

DMJ: Qual é a sua religião?

Ricardo: Sou espírita. Conheci o espiritismo pela dor. O bacana da vida é que até as coisas mais difíceis tem uma coisa positiva e é nisso que a gente tem que se apegar. Eu acredito muito no espiritismo como uma filosofia. Hoje eu estudo muito, leio o evangelho com as minhas filhas. Me tornei uma pessoa mais humana. Pra mim, a vida é só mais uma etapa.

DMJ: Como é o Ricardo pai?

Ricardo: Eu nasci pra ser pai. Acredito que essa seja a minha missão aqui porque a minha vida melhorou muito em todos os aspectos. Me tornei uma pessoa melhor e as meninas me ensinam a beça todo dia. Sou um pai muito disciplinador, exijo muito delas, cobro bastante. Mas também tenho uma relação de amizade. Acho que o mais bacana é conquistar a cumplicidade. As diferenças acontecem e você vai superando tudo inclusive os desencontros de ideias.

DMJ: Qual é o segredo dos seus 24 anos de casamento com a Ana?

Ricardo: Eu estou relendo um livro que se chama “Terapia de Vidas Passadas” do Brian Weiss. E acredito que tive um reencontro com a Ana. No começo da nossa relação eu falava pra ela que a gente deveria ter se encontrado mais tarde, pois como nos conhecemos bem cedo, achei que não ficaríamos juntos. Mas os dias foram passando e sem forçar a barra, sem cobranças e com muito respeito fomos compartilhando tudo. Ficamos mais fortes quando estamos juntos. A Ana é muito melhor do que eu, é uma pessoa incrível, encantadora. Você olha para a Ana e vê luz.

DMJ: Quais são as suas melhores lembranças de Macaé?

Ricardo: Eu mudei de Brasília aos 2 anos porque a minha irmã era asmática. E Macaé foi a cidade escolhida porque era tranquila, bucólica e sem violência. Fui criado soltando pipa, brincando de pião, fazendo tudo que uma criança deve fazer. Como morava perto do mar, estava sempre na praia, surfando. Tive uma infância muito rica e agradeço a Deus por isso. Tenho grandes amigos lá, amigos que considero irmãos. Tenho fortes laços com a cidade.

DMJ: Uma frase que representa muito você

Ricardo: Vou fazer uma homenagem à Bahia, com nosso grane Gilberto Gil : “Andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar”

DMJ: Qual é o seu lugar no mundo?

Ricardo: Aqui no Jardim Botânico me sinto muito bem, criei as minhas filhas aqui. Mas eu curto muito a minha casa, sou extremamente caseiro. Mas esse lugar pra mim é mágico, a espiritualidade está muito presente aqui.

DMJ: O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?

Ricardo: O melhor programa pra mim é estar em casa com a minha família.

DMJ: Quais são os seus planos para 2015?

Ricardo: Vamos encenar a “A Doença da Morte”, que é um texto da diretora francesa Marguerite Duras. Eu queria fazer esse texto há 18 anos e agora vamos fazer. Já  começamos a estudar e temos estréia prevista para março no Rio, mas a idéia depois é viajar o país. Estou muito feliz com esse projeto.

DMJ: Do que fala esse texto?

Ricardo: O texto fala  aborda a impossibilidade de um homem amar uma mulher diante dos encontros e desencontros da vida. E essa impossibilidade gera a morte em vida e consequentemente a evidência  do abandono.  Fala da falta de amor, da dificuldade de se entregar.

DMJ: Você fala sobre a peça e eu consigo ver a emoção nos seus olhos. Você sente isso?

Ricardo: Bastante. O personagem  é muito intenso. Ele faz uma reflexão, uma reforma íntima porque ele vê a mulher como um objeto e procura tirar todas essas escamas, toda essa capa e se entregar em uma relação afetiva. A linguagem física está muito presente durante todo o tempo. Eu e a Patrícia ( Patrícia Elizardo) vamos dançar o texto que na verdade é uma poesia. Quem nos dirige é o Alexandre Melo.

DMJ: Você obedece a algum ritual antes de entrar no palco?

Ricardo: Eu tenho um poder de concentração muito grande, o que é uma vantagem na minha profissão. E só consigo fazer se estiver muito concentrado. Acredito que essa seja a única forma de entrar em comunhão com aquela energia, com os deuses do teatro. É uma forma de respeito com o público. As pessoas vão lá para te ver absoluto em cena.

DMJ: Ricardo pelo Ricardo?

Ricardo: Ainda estou na metade do caminho. Tenho muitos erros, mas entre erros e acertos vou construindo o meu caminho, tentando ser uma pessoa melhor a cada instante. Estou em alerta com isso.

Ricardo, muito obrigada, por participar desta Janela, vc sempre será super bem vindo aqui.

beijo de luz!

Confira galeria de fotos do bate-papo:

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

10 Comments

  1. Avatar
    Lucas Alves
    5 de janeiro de 2015 at 18:07 Reply

    Orgulho já desde a primeira segunda de 2015. Top demais.

  2. Avatar
    Mari Fernandes
    5 de janeiro de 2015 at 18:10 Reply

    Lu, parabéns pela materia super bacana! espero q em breve tenha uma super matéria com reiiii RICARDO CHAVES!

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    Vania Silva
    5 de janeiro de 2015 at 18:13 Reply

    Luuuuu, que matéria maravilhosa! Amei!

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    Alice Veiga
    5 de janeiro de 2015 at 18:14 Reply

    Adorei a matéria! Começou o ano com o pé direito. Parabéns!!!!

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    Son Izabel
    6 de janeiro de 2015 at 16:32 Reply

    Lu… Amei tudo, vc è show ! Bjo

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    Dalia Leal
    6 de janeiro de 2015 at 17:02 Reply

    Parabéns Lu pela excelente matéria c Ricardo Duque! Ameeeeei !!!! E as fotografias são mto perfeitas!

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    Susane Machado
    8 de janeiro de 2015 at 14:22 Reply

    Orgulho e felicidade em ver como o Ricardo Duque conseguiu conciliar o amor, o trabalho e a família de uma forma tão sublime! Parabéns!!!!

  8. Avatar
    Lenilda Garcia
    8 de janeiro de 2015 at 14:24 Reply

    Parabéns Ricardo Duque!!! Pela matéria, pela carreira, e o mais importante a linda família construída… Que Deus os abençoe cada dia mais.

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    Acácio do Sacramento
    22 de abril de 2015 at 16:52 Reply

    Olha, gostei muito da entrevista. Espetacular!
    Gostei bastante, do antes e o agora do Ricardo Duque. Parabéns!

  10. Avatar
    valdemar
    29 de junho de 2016 at 13:44 Reply

    Parabéns Luciana Leal, adoro teu jeito de entrevistar, deixa todos os artistas confortáveis. Parabéns!!

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