Bruno Ferrão

Bruno Ferrão

Bruno Ferrão é Bacharel em Violão pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem uma trajetória de estudos na França e define a música como o combustível necessário para superar as tensões do cotidiano. Foi com muita alegria e carinho que o músico abriu as portas do seu apartamento no Rio de Janeiro para o nosso bate-papo.

NJ: Bruno, como nasceu a paixão pela música?

Bruno: Acho que o meu interesse pela música teve duas fontes principais: primeiro, o fato de a minha família ser muito musical; e segundo, o fato de eu ter estudado em um colégio que me pôs em contato com a música desde a alfabetização. Meus pais gostam bastante de música, minha mãe adora cantar, então eu cresci ouvindo música em casa. Minhas tias foram muito importantes também, porque foram elas que me apresentaram a artistas como Gilberto Gil e Milton Nascimento, artistas que viriam a se tornar referências para mim e que hoje constituem a minha memória afetiva musical. A partir dos 6, 7 anos, com as aulas de música do Colégio Pedro II, minha relação com a música foi se estreitando, até que em 2004 eu descobri o violão.

NJ: Quais são os instrumentos que você toca e como define o seu estilo musical?

Bruno: O violão é o meu único instrumento. Eu tive toda uma formação em violão clássico, mas hoje não me vejo como violonista clássico, não. Difícil falar em estilo, acho que nem encontrei um ainda. Eu gostaria de levar do violão clássico certa qualidade de som, mas aplicá-la à música popular, levá-la para o âmbito da canção.

NJ: Houve incentivo em casa em relação aos seus estudos musicais?

Bruno: Sim, sempre. Acho que meus pais tiveram dúvidas e receios com relação ao meu futuro profissional – o que é perfeitamente compreensível, em se tratando de Brasil –, mas com o tempo eles foram vendo que era isso mesmo que eu queria para mim, que eu levaria a música a sério e não deixaria de ter consciência dos desafios e incertezas que ela iria me impor. Mas sim, eles sempre me apoiaram, e isso foi fundamental.

NJ: Para você a autocrítica interfere na criatividade?

Bruno: Sim, mas é preciso buscar um equilíbrio. A autocrítica pode ser saudável e te fazer desenvolver um trabalho sério, de qualidade, mas ela não pode te limitar, te tolher.

NJ: Você é Bacharel em Violão pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem uma trajetória de estudos na França. Como essas experiências o prepararam para a sua carreira como músico?

Bruno: Acho que essas experiências me fizeram olhar para a música com certo rigor e disciplina. O que é bom, porque todo trabalho artístico precisa disso para se desenvolver. Por um tempo, eu acho até que exagerei nesses dois quesitos, o que teve consequências na minha vida pessoal, mas hoje eu tento encontrar um equilíbrio. Acho que o período na França (que foi curto, mas intenso) me proporcionou essa tomada de consciência, e também me fez refletir mais detidamente sobre os meus propósitos e expectativas em relação à minha carreira. Além disso, é claro, fazer o Bacharelado em Música me desenvolveu globalmente como músico.

NJ: Como foi a experiência de integrar a Orquestra Violões do Forte de Copacabana?

Bruno: Foi uma etapa importante para mim. Ganhei muita experiência de palco e aprendi muito com as pessoas que encontrei ali. Eu sou muito grato, inclusive, à direção da orquestra, porque fui aceito no projeto mesmo não me enquadrando no público-alvo dele (a orquestra é um projeto social).

NJ: Como avalia o mercado musical no Brasil?

Bruno: Acho que a gente vive uma fase bem ruim. Falta incentivo às artes em geral, não temos mais o Ministério da Cultura, e muita gente anda falando bobagem sobre as leis de incentivo, como a Lei Rouanet. O crowdfunding tem sido uma saída para muitos artistas que querem promover o seu trabalho, mas a gente não pode viver só disso. É preciso retomar espaços, dar oportunidade a mais artistas, diversificar. Os meios de comunicação estão tomados por uma música comercial, então quem propõe um trabalho diferente disso tem que correr atrás do seu próprio público, se autoproduzir.

NJ: Nina Simone costuma dizer que a função de um artista é refletir o seu tempo. Você concorda com Nina que essa é uma das responsabilidades sociais do artista?

Bruno: Concordo. Acho que a música – a arte, como um todo – precisa estar atenta ao seu tempo para poder questionar, pôr em dúvida. Para mim, a música funciona sempre como um estímulo a ouvir e a pensar diferente, a se abrir para novas configurações de mundo. A música tem que mover a gente, nos tirar do lugar.

NJ: Como enxerga as plataformas digitais como nova realidade de trabalho do artista?

Bruno: Acho que elas podem ser um grande aliado, se bem utilizadas. Mais artistas podem divulgar o seu trabalho, e a música pode ir mais longe, alcançar mais gente. Isso tem um lado ruim, porque a concorrência aumenta e a qualidade do que se vê e ouve nem sempre é boa, mas tem um lado bom também. Depende do uso, como eu disse. Da parte do artista, se ele souber atingir e cultivar um público específico, e, da parte do público, se houver alguma curiosidade e abertura para novos sons.

NJ: O que a música significa pra você?

Bruno: Ela é um combustível, e é uma válvula de escape também. Ouvir e fazer música ajuda a esquecer um pouco os problemas e tensões da vida cotidiana… e esse descanso é importante, saudável. Necessário mesmo, eu diria.

NJ: O que está tocando na sua playlist?

Bruno: Mônica Salmaso (sempre) – não me canso de ouvir o CD Noites de gala, samba na rua, só com canções do Chico Buarque; o Concerto Caboclo, para 2 violões (do amigo e grande Paulo Bellinati); Caetano Veloso e Gilberto Gil – gosto especialmente do último CD que eles gravaram juntos, Dois amigos, um século de música. São dois violões e duas vozes, mas o que eles fazem…

NJ: Uma frase

Bruno: “A arte existe porque a vida não basta” (Ferreira Gullar).

NJ: Um sonho

Bruno: Tocar com a Mônica Salmaso, cantora de que eu sou fã.

NJ: Um lugar

Bruno: Paris.

NJ: Uma música que o faz sorrir

Bruno: ‘Andar com fé’, do Gil.

NJ: Uma meta

Bruno: Gravar um CD nos próximos anos.

NJ: Uma saudade

Bruno: Ah, ter uma gato! Ao contrário do que muita gente diz, gatos são uma ótima companhia.

NJ: Um medo

Bruno: Não tenho…

NJ: Bruno Ferrão por Bruno Ferrão

Bruno: Alguém que quer sempre aprender com a vida e que espera poder fazer do mundo um lugar um pouquinho mais justo e amoroso.

NJ: Bruno, antes de concluir, tem mais algum assunto que queira abordar? Algum recado a deixar?

Bruno: Há quem diga que a música brasileira não é mais a mesma, e até que ela não existe mais, mas eu queria dizer que tem muita gente por aí desenvolvendo trabalhos de primeiríssima qualidade. Eu gostaria de citar alguns nomes, de artistas que conheço, gosto de ouvir e admiro, mas eu sei que a lista não se restringe a eles: Luísa Lacerda, Pedro Franco, Carol Panesi, Quarteto Geral, Miguel Rabello, Breno Ruiz, Giovanni Iasi, Pedro Iaco, Victor Ribeiro, Relógio de Dalí, Pietá, Ilessi, Iara Ferreira, Milena Tibúrcio.

Galeria:

NJ: Bruno, muito obrigada por participar da Nossa Janela. Muita música em sua vida, sempre!!

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

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