Zé Renato

Zé Renato

Zé Renato é um dos fundadores do quarteto vocal e instrumental “Boca Livre”. Com o grupo, que se destacou pelo estilo refinado de fazer música, ganhou projeção nacional e gravou diversos discos, mas não deixou de seguir paralelamente com a carreira solo. Como compositor, participou da criação de canções incríveis que fazem parte da história da música brasileira como “Toada”, “Anima”  e “A hora e a vez”.  Acredita totalmente na liberdade criativa e escolheu “Bebedouro” como título do seu trabalho autoral mais recente.

NJ: Zé, como nasceu a paixão pela música?

Zé Renato: Através dos discos que meu pai trazia para casa. Ele era jornalista,  circulava muito no meio e por conta disso, sempre tive a música muito presente dentro de casa. Em 67 ( com 11 anos), comecei a aprender violão e foi  assim que tudo começou.

NJ: De onde busca inspiração para as suas canções?

Zé Renato: De toda a minha vivência, de situações cotidianas…tudo acaba se incorporando de alguma forma na criação.

NJ: Uma das músicas que mais amo na vida é “A hora e a Vez “, uma parceria sua com Claudio Nucci e Ronaldo Bastos. Qual é a história dessa canção? Sempre tive curiosidade de saber pois ela toca muito meu coração.

Zé Renato: Essa canção foi uma encomenda do Mariozinho Rocha, na época responsável pelas trilhas das novelas da Globo. Foi composta pensando no triângulo amoroso vivido pelos personagens da novela Roque Santeiro, Porcina ( Regina Duarte), Sinhozinho Malta (Lima Duarte) e Roque (José Wilker).

NJ: A autocrítica interfere na criatividade?

Zé Renato: A autocrítica está sempre presente, apesar de que o momento da criação para mim não obedece regras, podendo acontecer de formas variadas. Não importa o lugar nem a hora.

NJ: Sua carreira solo foi construída paralelamente ao seu trabalho com o “Boca Livre”. Como avalia a sua trajetória musical até aqui?

Zé Renato: Acho que consegui o mais importante que é ter construído uma trajetória absolutamente em concordância com a minha visão de vida, trabalhando sempre com liberdade, preservando o prazer e a diversão.

NJ: Quais são as músicas que não podem faltar em nenhum show?

Zé Renato: Nunca deixo de cantar canções que são importantes na minha trajetória como “Toada” (parceria com Cláudio Nucci e Juca Filho) e “Anima” ( parceria com Milton Nascimento).

NJ: Como você se sente tendo consciência de toda sua importância e contribuição para a música popular brasileira?

Zé Renato: Fico imensamente feliz de poder contribuir e desfrutar dessa imensa riqueza musical que existe no Brasil.

NJ: Como enxerga o mercado musical no país e as plataformas digitais como nova realidade de trabalho do artista?

Zé Renato: Temos um público capaz de consumir diversos tipos de música. O que falta, talvez,  seja criar condições para que esse grande painel musical, rico e variado consiga chegar a esse público. As plataformas digitais são importantes, o que precisa é aperfeiçoar o sistema de recolhimento para que haja uma distribuição mais justa dos direitos autorais.

NJ: Você acredita que a música tem, obrigatoriamente, uma função social?

Zé Renato: A música, antes de mais nada, deve ser totalmente livre. E dessa maneira sua atuação na sociedade pode eventualmente servir de veículo para ajudar em causas sociais e políticas sempre, a meu ver, sem abrir mão da liberdade criativa.

NJ: Por que escolheu “Bebedouro” como título do seu álbum autoral mais recente?

Zé Renato: A palavra faz parte de uma letra de Paulo César Pinheiro musicada por mim (Fonte de Rei). Diz respeito às minhas referências, as fontes nas quais me abasteci e continuo me abastecendo.

NJ: Conte-nos um pouco sobre o disco.

Zé Renato: É um trabalho autoral com parceiros diversos, entre eles Joyce Moreno, Moraes Moreira, Paulo Cesar Pinheiro e João Cavalcanti. A produção musical é de Zé Nogueira e arranjos de Cristóvão Bastos. A sonoridade do disco se alinha ao título e  seu significado, ou seja, às minhas principais referências musicais.

NJ: O que costuma escutar quando está em casa ou no carro?

Zé Renato: Não costumo escutar nada específico, depende  muito do dia. Ou, às vezes, escuto algo que esteja ligado à algum trabalho que esteja fazendo no momento.

NJ: Você já participou de projetos direcionados ao público infantil. Gosta de trabalhar com crianças?

Zé Renato:  Gosto muito. Já produzi dois projetos premiados: “Samba para as Crianças” e “Forró para Crianças”. Temos outro projeto em execução, mas ainda não posso entrar em detalhes.

NJ: Por falar em crianças, qual é a lembrança musical mais forte da sua infância?

Zé Renato: As lembranças musicais estão relacionadas principalmente ao meu pai, que além de ouvir música, era uma pessoa extremamente divertida e que muitas vezes gostava de cantar em reuniões familiares.

NJ: Quais são as principais mensagens que pretende passar através da sua música?

Zé Renato: Eu, sinceramente, não tenho intenções específicas quando crio. Acho que a melhor maneira de fazer arte é ser fiel aos seus próprios sentimentos e  é assim que eu lido com o trabalho que faço.

NJ: Existe um debate na internet com cobrança de definições políticas por parte dos artistas. O que pensa sobre isso?

Zé Renato: Me posiciono sempre, tudo está bastante claro nas minhas postagens. Não tenho problemas em lidar com pensamentos antagônicos desde que a educação e respeito estejam presentes.

NJ: Quais são as lições que tem aprendido ultimamente e o que gostaria de aprender mais?

Zé Renato: Eu sempre me coloco como aprendiz da vida. Tento aprender diariamente principalmente com os erros.

NJ: Como é a sua relação com a fé a religião?

Zé Renato: Não tenho religião, mas respeito todas as crenças.

NJ: Dentre as inúmeras músicas de sucesso que já gravou, qual trecho melhor retrataria seu momento atual?

Zé Renato: “ Quem tem a viola pra se acompanhar, não vive sozinho, nem pode penar…”

NJ: Infelizmente temos observado um aumento dos mais diversos tipos de intolerância (religiosa, de gênero, ético racial e social). Pra você, como a música pode ajudar a colocar luz em temas importantes? Acredita que ela pode contribuir na luta contra o preconceito?

Zé Renato: Acho que a música é sem duvida um dos caminhos para que se chame atenção de questões como essa. Temos vários exemplos que atravessam o tempo tocando em assuntos como esses já que preconceito e intolerâncias existem há muito tempo.

NJ: Uma frase

Zé Renato:  Vai passar.

NJ: Um sonho

Zé Renato: Seguindo o sonho de Nelson Cavaquinho- “ o amor será eterno novamente”.

NJ: Um lugar

Zé Renato: Brasil.

NJ: Uma música que gostaria de ter escrito

Zé Renato: Carinhoso.

NJ: Uma música que o faz sorrir

Zé Renato: Águas de Março.

NJ: Uma meta

Zé Renato: Viver, em paz de preferência.

NJ: Uma saudade

Zé Renato: Meu pai.

NJ: Zé Renato por Zé Renato

Zé Renato: Um brasileiro eternamente esperançoso.

Galeria:

NJ: Zé, antes de finalizar, gostaria de lhe agradecer muito. Uma das perguntas que fiz em relação a lembrança musical da sua infância teve uma razão muito especial, já que a minha memória musical mais marcante vem dos encontros com meu dindo escutando MBP na casa de voinha. Ele me apresentou ao “Boca Livre”e desde então, nunca parei de escutar  esse grupo maravilhoso que toca fundo meu coração. Guardo com carinho também as lembranças do show que fizeram em Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, que foi uma das apresentações mais lindas que já tive a oportunidade de assistir. Entrevistá-lo hoje me fez recordar memórias lindas que fazem parte da minha história. Muito obrigada por tanto. Estou muito feliz!

Zé Renato: Muito obrigado Luciana. Adorei saber disso, de verdade.  Obrigado por terem vindo nesse domingo de chuva e frio para esse bate-papo tão especial. Beijos carinhosos pra você e pra Nina e um forte abraço para o seu dindo.

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

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