Armando Babaioff

Armando Babaioff

Armando Babaioff viveu recentemente o elogiado policial Ionan na novela “Segundo Sol”, da Rede Globo e se prepara para mais uma temporada do premiado espetáculo “Tom na Fazenda”. Totalmente apaixonado pela arte de interpretar,  é do tipo que mergulha de cabeça na composição de cada personagem e mostra-se totalmente a vontade no palco. Nasceu em Pernambuco mas morou grande parte da sua vida no Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Acompanhe nosso bate-papo bem- humorado e cheio de revelações espontâneas realizado no Imperator, na capital carioca.

SNJ: Baba, sua empolgação em relação a “Tom na Fazenda” é visível e os seus olhos brilham quando fala desse trabalho. Como conheceu o texto?

Babaioff: Descobri esse texto conversando com um amigo sobre cinema. Ele  falou de um filme chamado “Tom na Fazenda” de Xavier Dolan, um autor canadense.  Em seguida  falou que o filme era baseado em uma peça de teatro. Eu pedi pra ele não me contar nada do filme porque eu iria encontrar a peça. Achei no mesmo dia, li em inglês, traduzi. Naquele instante que eu estava lendo, já estava produzindo a peça. É o mesmo elenco que pensei, o mesmo diretor (Rodrigo Portela, que é um grande amigo). Na verdade isso não é uma produção, é um encontro de grandes amigos em prol de um espetáculo de teatro e isso me dá muito prazer, sobretudo nesse momento porque o espetáculo encontra eco, encontra ouvidos. As pessoas estão precisando ouvir o que a peça fala. Foram três anos produzindo  até leva-la para o palco. É um dos espetáculos mais aplaudidos do ano passado, ganhou vários prêmios. Estamos indo pela primeira vez para São Paulo, que é uma grande praça. já fizemos outras temporadas no Rio e algumas viagens. Já são quase 200 apresentações de uma peça sem patrocínio e isso é raro, sobretudo nesse cenário em que a cultura está sendo tão massacrada. E pra mim é uma felicidade muito grande ser o idealizador disso. É responsabilidade do ator e do produtor levar a arte para o máximo de ouvidos possíveis.

Eu sou grato a tudo que a peça me trouxe. Fui parar na novela por causa dessa peça. A Kelzy Ecard (atriz que fazia a Nice) também. Então, de alguma forma, os Deuses do teatro cobram. Uma peça como essa, tendo a vida que ela está tendo, não pode parar. E eu me sinto na obrigação de levar esse espetáculo adiante. Mas vivemos do público mesmo, da bilheteria.

O autor veio para estreia da peça em março de 2017 e disse que queria que a gente fosse para Montreal para levar esse espetáculo para onde ele foi escrito, seria um retorno à terra. Foi uma das melhores críticas que a gente teve e o título da crítica é justamente esse: “O Retorno à Terra”.

SNJ: Você já havia produzido outras peças?

Babaioff: Já sim, essa é a minha terceira produção.

SNJ: Passar a trabalhar com produção, de alguma forma, modificou a sua visão como ator?

Babaioff: Mudou completamente, hoje sou outra pessoa. Sei exatamente quanto custa cada gota de suor e compreendo a satisfação de um elenco inteiro. Tenho que saber exatamente tudo que diz respeito a peça e observo tudo à minha volta. Por exemplo, incomoda o barulho do ar condicionado se estiver muito alto. Você se torna dono de um projeto, de um produto. Começamos fazendo essa peça em um teatro de 70 lugares. Hoje, fazemos para 700 pessoas. Pensar isso é muito louco.

SNJ: O autor já assistiu a peça?

Babaioff: O autor veio para estreia da peça em março de 2017 e disse que queria que a gente fosse para Montreal para levar esse espetáculo para onde ele foi escrito, seria um retorno à terra. Foi uma das melhores críticas que a gente teve e o título da crítica é justamente esse: “O Retorno à Terra”. Nós fomos para Montreal, passamos dez dias durante a novela, eu consegui liberação. Apresentamos essa peça lá e o público enlouqueceu. Nós não sabíamos, mas estávamos no olho do furacão em um dos maiores festivais da América, do teatro contemporâneo. Saímos de lá com vários convites para apresentar “Tom na Fazenda” em vários lugares do mundo.

SNJ: E vocês irão? Como estão as negociações?

Babaioff: Estamos nos preparando para em 2020 fazer uma turnê pela Europa e algumas apresentações nos Estados Unidos. Mas quero muito ir também  para outros países e isso tudo é possível com uma peça de teatro brasileira. Também quero fazer outras cidades dentro do Brasil. Inclusive, estou torcendo para sair alguns editais e Salvador está na minha lista. Me aguarde (risos). 

SNJ: No Canadá vocês se apresentaram em português?

Babaioff: Sim, porém com legenda em inglês e francês projetada no fundo do palco.

SNJ: Conte-nos um pouco sobre o texto. Ele mexe muito com as pessoas?

Babaioff: Mexe sim porque elas podem não se identificar com absolutamente nada do texto, com o que a peça trata. Mas se identifica com os personagens, com a relação familiar. É a história de um cara que chega à fazenda para o velório do namorado que morreu em um acidente de moto. Quando ele chega, encontra a mãe do morto que logo pergunta “quem é você?” e ele responde : “eu sou o Tom”, o Tom na Fazenda. E aí ele percebe que ela não faz a menor ideia de quem ele é e que ela não sabia que o filho era gay. A partir dali ele não consegue ir embora, vira refém daquela casa e daquela família. Ele vive o luto dele, mas também vive um processo de descoberta, de conhecimento. Ele quer descobrir porque o namorado foi embora daquela fazenda e nunca falou nada sobre a família. A encenação é forte, é impactante. São 2 horas de espetáculo mas você não sente o tempo passar. Existe uma comunhão entre várias linguagens. A cenografia, o figurino, a iluminação, a trilha sonora, o elenco, tudo se completa. Está tudo muito conectado. A peça parece um corpo só, uma coisa só.

SNJ: Você comentou que está fazendo a peça com amigos queridos e esse entrosamento com certeza é observado e sentido pelo público. Como em todo espetáculo, a resposta é imediata. Isso torna o teatro um desafio maior que o cinema e a TV?

Babaioff: Eu sou cria do teatro, eu venho do teatro. Fiz teatro a minha vida inteira desde os 11 anos de idade. Televisão pra mim que é uma novidade, faço há 12 anos. E sempre achei televisão muito difícil porque é tudo muito rápido, você tem que ser muito disciplinado. Mas essa peça me trouxe muitas coisas que usei na TV com o Ionan. Essa peça mudou muito a minha vida.

O teatro me alimenta, o frescor do teatro me alimenta. Eu levei muita coisa dessa peça para a novela, inclusive, o exercício de viver intensamente cada instante.

SNJ: Como ator ou como produtor?

Babaioff: Ambos. Mudou muito como produtor mas como ator mudou mais ainda. Depois de tê-la feito tantas e tantas vezes, não sei te dizer qual foi a nossa melhor apresentação, não tenho referência de um bom dia, eu simplesmente faço. Não que a gente faça no automático, não é isso. Mas a gente está mais preocupado em viver o presente. 

A sensação que eu tenho é que é uma boa partida de futebol. Eu não entro pra essa partida ganancioso, arrogante, achando que o jogo está vencido. Eu entro atento, prestando atenção em mais um jogo, pois tudo é material de cena. Essa peça tem marcação mas ao mesmo tempo tem uma liberdade muito grande. Até porque a gente convive com o palco que constantemente está molhado, que escorrega. Eu posso cair a qualquer momento e isso já é uma coisa muito forte na peça, tira a gente da zona de segurança, do lugar comum. Por isso não fico nervoso, prefiro usar a minha energia estando atento a qualquer coisa que aconteça na peça porque tudo é material de trabalho. Uso tudo a favor do espetáculo.

De modo geral, houve uma preocupação muito grande do elenco em relação a essa coisa do sotaque. Houve muito respeito. Tudo era exaustivamente perguntado, era tudo muito cuidadoso. Existia muita cautela para não cair em um clichê “nordestinês”, sabe? A gente queria pegar o sotaque real.

SNJ: Como Vocês conseguem fazer ao mesmo tempo teatro e televisão? Ainda mais no caso dessa peça que exige tanto de você. E Você ainda viajou, passou dez dias fora enquanto a novela estava no ar, imagino a correria na volta! Como conciliar isso tudo?

Babaioff: Eu não separo, é uma coisa só. O teatro me alimenta, o frescor do teatro me alimenta. Eu levei muita coisa dessa peça para a novela, inclusive, o exercício de viver intensamente cada instante. Então, eu chegava aos estúdios Globo e simplesmente, fazia! Se você perguntar pra mim o que é interpretar, eu vou te responder que interpretar é perguntar e responder. A grande questão é o como. Então, se você está atento ao que o outro está te falando e como ele está reagindo, como ele está respondendo, você passa a usar o seu trabalho e o seu próprio corpo em função do jogo. E o jogo é justamente esse, ouvir e responder ao estímulo.

SNJ: Como foi o processo de construção de Ionan Falcão e como conseguiu pegar  o sotaque de forma tão perfeita? Você ficou mais baiano do que eu! (risos)

Babaioff: Que coisa boa de ouvir! (risos). Essa coisa de construção do personagem é tão interessante,né? Para o Ionan peguei muita coisa emprestada de amigos nordestinos que eu tenho contato. Principalmente da forma como pensam, da forma como falam, da forma como articulam uma frase.  No texto do João Emanuel a gente tinha essa liberdade pra criar. Não de mudar a intenção, é claro, mas tinha a liberdade para se apropriar daquilo e falar da melhor forma possível. Através desse personagem,  tive a oportunidade de brincar com o texto e isso pra mim foi uma grande descoberta. Descobri um outro universo e ele era muito rico porque me permitia surfar nas sutilezas de um nordestino e não apenas do baiano, especificamente. Tinha muito ali de um amigo meu cearense, por exemplo. Mas eu falava com a cadência do baiano. De modo geral, houve uma preocupação muito grande do elenco em relação a essa coisa do sotaque. Houve muito respeito. Tudo era exaustivamente perguntado, era tudo muito cuidadoso. Existia muita cautela para não cair em um clichê “nordestinês”, sabe? A gente queria pegar o sotaque real.

SNJ: A gente comentava muito isso entre amigos baianos. Alguns de vocês pareciam baianos natos, com sotaque perfeito. Você era um deles. É isso que me encanta na dramaturgia. Os detalhes na construção de cada personagem.

Babaioff: E o ouvido! Muito ouvido! Cada palavra que eu via escrita no texto, já sabia como seria pronunciada. Eu ficava o tempo inteiro preocupado com as filigranas porque é o detalhe que mostra a construção, é ele que chama a atenção do público.

SNJ: Como foi a experiência de gravar na Bahia?

Babaioff: Ah! Foi massa!! A cena final, então, nem se fala. É uma coisa que só quem vive é quem trabalha com esse tipo de coisa. Nunca pensei em subir em um trio elétrico no farol da Barra com uma multidão de gente assistindo e uma outra multidão trabalhando como figurante.

SNJ:  Você nunca passou o carnaval em Salvador?

Babaioff: Nunca. Eu estive pouquíssimas vezes em Salvador, devo ter ido umas três vezes e por uns dois ou três dias no máximo. Eu nunca vivi Salvador. Já pra o Sul da Bahia costumo ir muito, adoro relaxar naquelas praias maravilhosas.

SNJ: O entrosamento de toda a família Falcão era notório. Como conseguiram isso? Vocês já haviam trabalhado juntos anteriormente?

Babaioff: Não. Acho que ali ninguém se conhecia. Eu conhecia o Lobianco, mas não tinha intimidade com ele. O nosso processo de criação partiu muito de encontros, com preparação de elenco. Mas efetivamente, o encontro da família se deu no primeiro dia que ficamos juntos em uma pousada em Porto Seguro. Já chegamos para o dia de folga e ficamos o dia inteiro na piscina. Ali, naquele instante, nasceu a família Falcão. A gente foi entendendo como cada um pensa, vendo até onde a gente podia ir, o que poderia ser criado, conhecendo o outro, o que curtia, o que não curtia. Ali a gente foi se entendendo e usando isso em favor da cena. Tudo funcionou tão bem que eu trabalharia pra sempre com a família Falcão: Arlete Sales, José de Abreu, Emílio Dantas, Luis Lobianco e Vladimir Britcha.

SNJ: A doação de sêmen repercutiu muito e foi um dos pontos altos da novela..

Babaioff: Eu acho que repercutiu mais pelo fato de ele não ter comunicado a esposa o que estava fazendo. Muita gente viu aquilo como uma traição. Isso gerou mais polêmica do que a doação em si.

SNJ: Ainda em relação à novela, o que mais deixará saudade?

Babaioff: Os encontros. Eu nunca trabalhei com tanto prazer na minha vida. Eu ia gravar feliz com um sorriso de canto a canto. Nada me estressava, nada me irritava. Estava feliz ,durante as 12, 13 horas por dia que passava gravando.

SNJ: Ionan era torcedor do Bahia…

Babaioff: (risos). Você sabia que essa coisa do Bahia foi invenção minha? Não estava no texto nem na sinopse. Eu que inventei e pedi.E deu super certo!

SNJ: Eu lembro que antes da estreia da novela, vi uma foto da família reunida na sala, sentada no sofá e você estava usando a camisa do Bahia. Confesso que já criei simpatia pela novela e o personagem (risos).

O baiano ficou muito grato porque era uma novela contemporânea que retratava uma nova Bahia e uma nova Salvador. A sensação que tive é que tem um movimento na Bahia de “precisamos valorizar a nossa gente”. Uma sensação do tipo usar a máquina do Estado e da prefeitura para que elas façam essa competição entre si para mostrar serviço para a própria população. E eu sinto que a cidade está voltando a ser para o soteropolitano um lugar de muito orgulho. Claro que ainda falta muito, mas torço muito que as coisas realmente melhorem. A Bahia é linda e o baiano é um povo maravilhoso!

Babaioff: Então! Foi nessa foto! Foi ali que pedi para usar a camisa! Deu super certo, começaram as especulações! O Bahia é um time muito querido, recebi várias mensagens de torcedores. E a maioria das cenas eu inventava, as brincadeiras em cima do “vicetória”, por exemplo. Eu inventava tudo porque não vinham no texto. Eu criava e encaixava de acordo com a cena. E sempre que acontecia, funcionava. Era incrível!

SNJ:  Essa novela sem dúvida nenhuma, foi importante para nós baianos, sobretudo por causa da representatividade. Estamos acostumados a ver as paisagens do Rio de Janeiro nos folhetins, que sem dúvida, são lindas. Eu sou suspeita pra falar do Rio de Janeiro pois é a minha segunda casa e na minha opinião é uma das cidades mais belas do país. Mas ver a nossa própria terra retratada de forma tão respeitosa, reconhecer os lugares por onde passamos diariamente, ouvir nosso sotaque, nossas gírias… não tem preço! Nos sentimos gratos e representados.

Babaioff: Total! Eu senti essa gratidão. O baiano ficou muito grato porque era uma novela contemporânea que retratava uma nova Bahia e uma nova Salvador. A sensação que tive é que tem um movimento na Bahia de “precisamos valorizar a nossa gente”. Uma sensação do tipo usar a máquina do Estado e da prefeitura para que elas façam essa competição entre si para mostrar serviço para a própria população. E eu sinto que a cidade está voltando a ser para o soteropolitano um lugar de muito orgulho. Claro que ainda falta muito, mas torço muito que as coisas realmente melhorem. A Bahia é linda e o baiano é um povo maravilhoso!

SNJ: Uma das minhas melhores amigas é casada com um policial e sempre conta que vive com medo que algo aconteça ao marido. Todos nós sabemos que esse receio tem fundamento pois a segurança pública é um problema sério no nosso país e os policiais, infelizmente, não são valorizados.  O que o Ionan policial trouxe para sua vida?

Baba: Eu acho uma profissão linda. A Polícia Civil é o órgão responsável pela segurança pública: prevenir, repreender e investigar crimes. Aprendi muita coisa com o Ionan policial civil. Eu entendi a sua índole e os desejos que o levaram a escolher a profissão, tentando agir sempre da forma mais correta possível. Mas em relação a realidade brasileira, sem dúvidas, é necessário que haja uma maior valorização dos policiais, afinal, eles arriscam diariamente a vida por todos nós.

SNJ: Sua primeira novela foi “Páginas da Vida”, de Manoel Carlos. Como reagiu ao convite para o seu primeiro trabalho na TV? O que mais o empolgou nesse trabalho?

Babaioff: Eu fui pra lá a convite do Maneco (Manoel Carlos),  fiz o teste e ele que me colocou lá na novela. Eu já tinha feito Oficina de Atores na Globo, já frequentava lá há pelo menos uns seis meses e quando aconteceu o convite, foi uma coisa natural. E foi divertido, era um personagem que fugia um pouco da minha realidade. Eu fazia um pitboy de cabeça raspada, tinha toda uma caracterização. Mas eu era muito novo. Fiz bons personagens na Televisão, mas a minha sensação é que toda a minha trajetória na TV me preparou para viver o Ionan. O trabalho do ator não para e eu estou amadurecendo. Tenho todas as questões, todas as inseguranças que um ator tem.

 Infelizmente, vivemos no país que mais mata travestis no mundo e que ao mesmo tempo é o país que mais consome a hashtag #Travesti em sites de pornografia. Eu acho que o teatro tem esse poder, a arte tem esse poder. E eu acho muito importante ter essa peça nesse momento porque a gente está precisando falar sobre isso. O que passa nos jornais e nos noticiários não é suficiente.

SNJ: Costuma assistir a novela enquanto está gravando?

Babaioff: Adoro assistir! Não tenho esse problema, não. Isso é importante pra mim porque eu corrijo coisas. Não tenho a vaidade excessiva de ficar e assistindo e achando incrível, mas eu gosto de ver e entender como eu posso melhorar o meu trabalho.

SNJ:  Outro personagem seu que fez bastante sucesso foi o Érico de “Sangue Bom”. Quais lembranças guarda desse personagem?

Babaioff: A humanidade dele. Ele se preocupava muito com o outro, era um homem justo e isso eu prezo bastante na vida. Era focado, corria atrás do que queria e nisso ele se parece bastante comigo. Eu tenho um carinho enorme por essa novela. Por ela e pelo remake de TiTiTi.

SNJ: Por falar em Tititi, você fez  um personagem gay.  Acredita que personagens como Thales Salmerón e o Tom da Fazenda ajudam a abrir discussões e educar a população em relação ao preconceito? Acha que a arte ajuda nesse sentido?

Babaioff: Com certeza! A arte está aí porque a vida por si só não é suficiente, né? Nós atores temos a liberdade de viver outras pessoas, de estudar a alma humana porque na verdade a gente se coloca em função disso. A minha trajetória de vida me permite olhar para o texto e dizer “gente, esse é o meu limite”. Esse sou eu emprestando a minha interpretação para dar vida ao personagem e mostrar o que eu entendi do personagem. Eu não sei cantar, não sei pintar. O que sei fazer é dizer o que eu penso do mundo através da interpretação de personagens. 

E essa peça te prende do início ao fim,  tem história. Infelizmente, vivemos no país que mais mata travestis no mundo e que ao mesmo tempo é o país que mais consome a hashtag #Travesti em sites de pornografia. Eu acho que o teatro tem esse poder, a arte tem esse poder. E eu acho muito importante ter essa peça nesse momento porque a gente está precisando falar sobre isso. O que passa nos jornais e nos noticiários não é suficiente.

SNJ: Você já está na sua terceira produção  e já conhece bastante o outro lado da moeda. Qual é a maior dificuldade para quem quer viver de teatro no Brasil?

Babaioff: Falta de patrocínio, de incentivo, falta de iniciativa privada, de iniciativa pública. O Rio de Janeiro não tem nenhum edital no momento. A gente viajou para o exterior com essa peça representando o Brasil. Quando aparece o “Tom na Fazenda, aparece a bandeira brasileira. E eu não consigo acreditar que esse país não está vendo isso. Acho cruel o país não valorizar isso.

SNJ: Se você tivesse o poder de modificar uma única coisa no nosso país, o que seria e por quê?

Babaioff: Nossa, que pergunta difícil! Eu trocaria o salário dos professores pelo salário dos políticos. E vice-versa.

Me emociona uma pessoa sincera de verdade. A pessoa ser sincera e dizer que não sabe fazer alguma coisa, por exemplo. Eu sou capaz de estar muito mais próximo dessa pessoa do que de outra que está me vendendo toda uma sabedoria.

SNJ: Algumas pessoas confundem realidade com ficção. Você já chegou a ser agredido pelo público por causa de algum personagem?

Babaioff: Sim, na época de Páginas da Vida. Aconteceu na Lapa. O personagem era meio babaca e vieram tirar satisfações comigo na rua.

SNJ: Um passarinho me contou que você é bom de culinária. O que mais gosta de cozinhar?

Babaioff: Ah! eu adoro cozinhar! O que tiver na geladeira a gente improvisa (risos). Um dia a gente estava ensaiando a peça lá em casa e eu fiz um salmão com molho de limão que ficou extraordinário! Eu sou bem curioso! Adoro pensar em como fazer para chegar a um resultado. Sem dúvidas cozinhar é uma paixão, mas envolve outros sentimentos, que é compartilhar, se dedicar em torno da refeição. 

SNJ: O que o deixa verdadeiramente emocionado?

Babaioff: A sinceridade. Me emociona uma pessoa sincera de verdade. A pessoa ser sincera e dizer que não sabe fazer alguma coisa, por exemplo. Eu sou capaz de estar muito mais próximo dessa pessoa do que de outra que está me vendendo toda uma sabedoria.

SNJ: Considera-se uma pessoa religiosa?      

Babaioff: Tenho a minha fé, mas não sou religioso.

SNJ: O que mais gosta de fazer com seu tempo livre?

Babaioff: Se for um tempo livre maior, certamente viajar. Se for um tempo livre curto, encontrar os amigos. Gosto de conversar, de conhecer gente.

Meus pais são cariocas e moraram no Nordeste por mais de uma década. Eu e minha irmã nascemos lá. Quando voltamos para o Rio, minha mãe sempre falava de Recife, sempre fez questão que a gente conhecesse os artistas de lá, a arte, a terra. Eu cresci com isso e aprendendo a valorizar cada coisa. Cresci com minha mãe me educando sobre Pernambuco.

SNJ: Como já abordamos, Ionan não escondia de ninguém o seu time do coração. E você? É ligado em futebol?

Babaioff: Eu não sou nada ligado em futebol. Acho divertida a cultura do futebol, as torcidas. Mas não sou nada ligado no esporte (risos)

SNJ: Você saiu de Recife com apenas seis anos, mas fala de lá com muito carinho. Quais são suas principais lembranças de Lá?

Babaioff: Meus pais são cariocas e moraram no Nordeste por mais de uma década. Minha mãe se apaixonou pela região e quando ela engravidou, as amigas de Recife perguntavam se ela teria mesmo os filhos lá e e ela respondia sempre “Aqui é o lugar que me fez mais feliz no mundo e eu quero transmitir essa felicidade para os meus filhos”. Eu e minha irmã nascemos lá. Quando voltamos para o Rio, minha mãe sempre falava de Recife, sempre fez questão que a gente conhecesse os artistas de lá, a arte, a terra. Eu cresci com isso e aprendendo a valorizar cada coisa. Cresci com minha mãe me educando sobre Pernambuco e vou muito pra lá. Inclusive, tenho muitos amigos na região.

SNJ: Uma mania

Babaioff: Dormir com três travesseiros. Um na cabeça, um entre as pernas e outro abraçado. Se não tiver os três, eu sofro. Pode até ser no chão, desde que tenha os três travesseiros.  (risos)

SNJ: Uma frase

Babaioff: Uma frase que por muito tempo me mobilizou a ponto de eu fazer uma pesquisa é: “Do ponto de vista da morte, a vida é a preparação do cadáver”. É do Giorgio Agamben, um filósofo italiano. Usei essa fase em um trabalho e acho super interessante.

SNJ: Um lugar

Babaioff: Toscana, na Itália.

SNJ: Um livro

Babaioff: “Perto do Coração Selvagem” de Clarice Lispector

SNJ: Um filme

Babaioff: “Feio, Sujos e Malvados”.

SNJ: Uma música

Babaioff: “You Don’t Know me”, do Caetano Veloso.

SNJ: Um sonho

Babaioff: Continuar fazendo teatro pelo resto da minha vida.

SNJ: Dizem que os olhos são o espelho da alma. O que dizem seus olhos?

Babaioff: Curiosidade. Sou muito curioso e quero entender as coisas cada vez mais. Meus olhos são os olhos de compreensão.

SNJ: O que mais o encanta na profissão?

Babaioff: O cheiro do palco, a produção, ver a equipe trabalhando para fazer acontecer, a construção dos personagens e do próprio espetáculo.

SNJ: Armando Babaioff por Armando Babaioff

Babaioff: Impulsivo

SNJ: Baba, posso te agradecer muito? Queria fazer essa entrevista com você há muito tempo e com certeza aconteceu na hora certa. Nesse teatro, fazendo essa peça tão emblemática e logo depois de você fazer um baiano e torcedor  do Bahia na TV (risos).

Babaioff: Ai Lu, também adorei, de verdade! Foi um prazer receber vocês aqui. Até breve e BBMP! (risos)

Galeria

TOM NA FAZENDA – SERVIÇO

RIO DE JANEIRO

20/02 – Arena Carioca Abelardo Barbosa (Chacrinha)

22/02 –  Arena Carioca Carlos Roberto de Oliveira (Dicró)

23/02 – Sesc Nova Iguaçu

09/03- Areninha Carioca Hermeto Pascoal

SÃO PAULO

16/03 – Início da Temporada

 

 

 

Lu Leal

Formada em Comunicação Social, atuou na produção do Programa “A Bahia Que a Gente Gosta”, da Record Bahia, foi apresentadora da TV Salvador e hoje mergulha de cabeça no universo da cultura nordestina como produtora de Del Feliz, artista que leva as riquezas e diversidade do Nordeste para o mundo e de Jairo Barboza, voz influente na preservação e evolução da rica herança musical do Brasil. Baiana, intensa, inquieta e sensível, Lu adora aqueles finais clichês que nos fazem sorrir. Valoriza mais o “ser” do que o “ter”. Deixa qualquer programa para ver o pôr do sol ou apreciar a lua. Não consegue viver sem cachorro e chocolate. Ama música e define a sua vida como uma constante trilha sonora. Ávida por novos desafios, está sempre pronta para mudar. Essa é Lu Leal, uma escorpiana que adora viagens, livros e teatro. Paixões essas, que rendem excelentes pautas. Siga @lulealnews

3 Comments

  1. Avatar
    Igor Romero
    18 de fevereiro de 2019 at 17:26 Reply

    Excelente entrevista 👏👏👏👏👏

  2. Avatar
    Marcela Teles
    19 de fevereiro de 2019 at 10:10 Reply

    Acompanho Babaioff na TV desde Páginas da vida e com fé em Deus em breve terei oportunidade de assisti-lo no teatro. Ator talentoso e inteligente!

  3. Avatar
    Fabiana L M
    13 de março de 2019 at 21:55 Reply

    Tomara que a peça venha pra Salvador! Muito interessante… e Babaioff é demais!

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